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sábado, 30 de junho de 2012

Resenha Filme: Homem-Aranha 2


Falta uma semana pra estréia de O Espetacular Homem-Aranha!

A Sony se deu muito bem com o primeiro filme do Homem-Aranha em 2002. O longa dirigido por Sam Raimi e estrelado por Tobey Maguire, Kirsten Dunst e James Franco faturou uma fábula, mais de oitocentos milhões de dólares só em bilheterias, sem contar DVDs e merchandising variado (Nunca mais pararam de chegar às lojas lancheiras, cadernos, mochilas e roupas do filme...).
Obviamente o cabeça de teia não ficaria longe dos cinemas por muito tempo. O segundo filme foi anunciado quase que simultaneamente ao lançamento do primeiro, e foi confirmado que todo o elenco principal retornaria, pois haviam assinado o famigerado contrato para três filmes que virou um tipo de regra em adaptações de quadrinhos.
Claro, como não se faz filmes do Aranha sem um pouco de drama (Durante as gravações do primeiro longa um dublê morreu, e correram processos contra a Sony por conta da alteração digital dos anúncios dos telões de Times Square), chegaram a haver receios de que Tobey Maguire, que lesionara as costas gravando Seabiscuit - Alma de Herói, pudesse não ter condições físicas de envergar a fantasia azul e vermelha novamente, o que levantou a possibilidade de o ator ser substituído pelo seu "irmão perdido" Jake Gyllenhaal, mas ficou apenas na ameaça, e lá estava Maguire novamente no segundo longa que teria um novo vilão: O doutor Octopus.
Levou apenas dois anos pra que a sequência chegasse aos cinemas. Conforme estava no contrato, todo o elenco principal voltou, inclusive os personagens que haviam morrido no primeiro longa deram as caras no filme, que recebeu o reforço de Alfred Molina no papel do vilão, foi bacana terem trazido todos de volta, pois era importante que todo mundo que deu aquele importante passo com o primeiro Homem-Aranha pudesse saborear o espetáculo que seria a volta do herói teioso ao cinema.
Homem-Aranha 2 manteve todas as qualidades do primeiro filme, mas se refinou e melhorou de maneira exponencial. Todo o escopo do primeiro longa foi ampliado graças ao obeso orçamento, estimado em mais de duzentos milhões de dólares, que transformou Homem-Aranha 2 no grande filme de super-herói feito até então.
Homem-Aranha 2 seguia basicamente de onde o primeiro longa havia parado, Peter Parker (Maguire) abdicara de uma vida normal em nome de ser o Homem-Aranha, embalado pelo credo de que grandes poderes trazem grandes responsabilidades ele se tornou o defensor do povo de Nova York, mas viu sua vida civil ser demolida pelas responsabilidades de super-herói. Enquanto Mary Jane (Kirsten Dunst) seguiu com sua carreira de atriz e estrela uma peça e Harry (James Franco) se tornou o homem forte das Indústrias Oscorp, Peter é entregador de pizza e fotógrafo freelancer, incapaz até mesmo de pagar o aluguel do modesto quarto onde vive ou ajudar a tia May (Rosemary Harris), ameaçada de perder a casa onde mora.
Não bastassem os problemas financeiros e pessoais, Peter vai mal na faculdade, onde suas notas e presenças despencam. O trunfo de Peter é entregar um estudo sobre o trabalho do físico Otto Octavius (Alfred Molina), cientista brilhante trabalhando ao lado da Oscorp em busca de uma fonte de energia limpa e autossustentável.
Como desgraça pouca é bobagem, durante uma demonstração de seu projeto, Octavius sofre um violento acidente, e vê o jogo de tentáculos mecânicos que usa para manipular os elementos com que trabalha presos ao seu corpo, e sua mente deteriorada tanto pelo acidente quanto pela inteligência artificial dos construtos, tornando-se o vilão conhecido como Doutor Octopus, obcecado em terminar seu trabalho, mesmo que possa destruir a cidade de Nova York inteira no processo.
A única coisa no caminho de Octopus é o Homem-Aranha, entretanto, Peter, que continua sendo vilipendiado pela imprensa, vê o amor de sua vida prestes a subir ao altar com outro homem, e se torna alvo do ódio de seu melhor amigo, percebe que, talvez, para salvar a própria vida, precise abrir mão das responsabilidades que seu poder trouxe consigo.
Glorioso é a melhor palavra pra definir o espetáculo visual que foi Homem-Aranha 2. Mais importante que isso, o trabalho de uma equipe que conseguiu fazer com que todo aquele espetáculo visual trabalhasse em nome de uma história que tinha coração e não era unicamente som e fúria.
Mas não se engane, ainda que Homem-Aranha 2 tivesse toneladas de coração, o que ficava claro nas sequências de Peter com a tia May, de Mary Jane, e nos flashbacks com o tio Ben, havia muito som, e havia muita fúria. Se dois meses atrás o queixo de todo mundo caiu ao ver no cinema a luta dos Vingadores com o exército Chitauri, oito anos atrás Sam Raimi arrancara mandíbulas ao colocar tudo o que uma briga de super-seres devia ser no confronto em que o Homem-Aranha se engalfinhava com o Doutor Octopus sobre um trem em movimento. Socos, pontapés, quase atropelamentos, agarrões, saltos, estava tudo lá, e, pra terminar, uma cena espetacular e inesquecível onde o herói via-se tendo que parar um trem sem freios.
O elenco continuou segurando a peteca com a mesma desenvoltura de antes, a música, os efeitos visuais, tudo melhorou. Ainda não era o filme perfeito de Homem-Aranha pra quem lera quarenta anos quadrinhos, mas, minha nossa, estava muito perto. Quem sabe no terceiro eles chegassem lá...?

"Homem-Aranha... Nunca mais."

terça-feira, 26 de junho de 2012

Mordaça




Falando a ouvidos moucos o Carlão resolveu inovar
Entraria em silêncio absoluto até se fazer notar
Quieto, silente, amordaçado pela própria decisão
Testemunharia mudo o sucesso de seu curso de ação.
"Todos lamentarão minh'ausência, a falta será percebida"
Alardeava a si próprio, contente pela ideia concebida.
Entretanto, seu plano não logrou o sucesso prometido.
Quieto e sozinho em um canto, Carlão acabou esquecido.

segunda-feira, 25 de junho de 2012

Vá Entender...



Tu exala fragilidade.
Tem delicadeza escrito no corpo.
E é capaz das coisas mais corajosas.
Eu sou tosco até a medula.
Sorumbático, forte e auto-suficiente.
E incapaz de me defender de ti.
Vá entender...

Resenha Cinema: Sombras da Noite



O Tim Burton é um diretor com peso suficiente pra fazer os projetos que o agradem razoavelmente sem se preocupar com interferências de estúdio (Sua "casa" costumeira é a Warner). Posto isso, podemos dizer que, quando as coisas não funcionam nos filmes do cineasta, a culpa é basicamente dele.
O diretor que realizou filmes como Edward - Mãos de Tesoura, Os Fantasmas se Divertem, O Estranho Mundo de Jack e Peixe Grande não vem acertando a mão ultimamente. Mesmo seu bilionário Alice no País das Maravilhas não foi unanimidade entre os fãs e críticos, e Sweeney Todd e A Fantástica Fábrica de Chocolate, então, nem se fala.
Quando saiu a notícia de que o próximo filme de Burton seria uma adaptação da série Sombras da Noite, originalmente exibida pela CBS entre 1966 e 1971 logo todo mundo bocejou pensando "OK, mais uma adaptação de algo que já existia em fórmula de fábula sombria, estrelando Johnny Depp e Helena Bonham Carter, cheia de personagens pálidos e roupas listradas e xadrezes com a música de Danny Elfman.", ou seja: Algo que já vimos diversas vezes na carreira de Burton e que, ultimamente, não tem funcionado.
Ainda assim, o elenco foi ganhando outros e interessantes nomes, juntaram-se aos obrigatórios Depp e Carter Michelle Pfeiffer, Eva Green, Johnny Lee Muller e Chloë Grace Moretz. E os trailers do filme acenavam mais com uma comédia sobrenatural do que com a fábula algo tétrica que Burton costuma entregar. A despeito da quase ausência de divulgação do filme até quase em cima da hora do lançamento, o que geralmente é um mau sinal, Sombras da Noite foi capaz de despertar minha curiosidade, e foi apenas por conta dessa curiosidade e por respeito à obra pretérita do criador de A Noiva Cadáver e A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça que eu me desloquei até o cinema no sábado pra ver o filme.
Sombras da Noite conta a história de Barnabas Collins (Depp), jovem herdeiro de uma proeminente família inglesa que migra para os Estados Unidos e monta um império pesqueiro no estado do Maine, onde ergue a cidade de Collinsport.
Barnabas é um jovem apaixonado e prestes a se casar, até despertar a afeição da bruxa Angelique (Eva Green, ótima). Enfurecida por sua afeição não ser correspondida, Angelique amaldiçoa Barnabas a se tornar um vampiro, e o aprisiona por 196 anos em um caixão sob a terra. Barnabas, porém, acaba sendo acidentalmente libertado, e retorna à mansão Collinwood, onde seus descendentes, hoje uma família disfuncional cheia de alcoólatras, crianças infelizes, adolescentes rebeldes e moral duvidosa passam por sérias dificuldades.
Enquanto se adapta à sua nova realidade, o vampiro Barnabas decide restaurar Collinwood à sua antiga glória, e reconstruir o império dos Collins a qualquer custo.
Sombras da Noite não funciona muito bem, no entanto. Apesar de ter bons momentos cômicos, a maioria deles relacionados ao estranhamento de Barnabas, um aristocrata do século XVIII em meio aos kitsch anos setenta, o filme não se desenvolve como esperado, e resulta em um longa tremendamente irregular que não encontra o tom certo.
Sombras da Noite se perde ao não se ater apenas à comédia, e diluir seu potencial entre inúmeras linhas narrativas paralelas (lobisomens, fantasmas, cleptomaníacos, passados sofridos, a luta pelo monopólio pesqueiro da região...) e entre a comédia de costumes invadida pelo ente sobrenatural e a trama de vingança e romance vitoriano. Essa falta de liga do roteiro de Seth Grahame-Smith fica clara no subaproveitamento de Chloë Moretz e de Bella Heathcote.
Melhor se saem Depp, que faz, talvez, seu personagem mais divertido desde o primeiro Piratas do Caribe, e Eva Green, que rouba a cena como a vingativa e sexy bruxa Angelique.
Sombras da Noite não chega a ser ruim como Alice e A Fantástica Fábrica, mas não empolga nem decola. Resta esperar que Frankenweenie, próxima incursão de Burton ao mundo das animações, onde ele tem se dado melhor, ajude o realizador a recuperar a boa forma, e tirar o gosto ruim dos seus últimos trabalhos da boca.

"-Eu vou lhe fazer uma proposta, Barnabas. Será minha última: Você pode se juntar a mim, ao meu lado, e nós comandaremos Collinsport juntos como parceiros e amantes... Ou eu o colocarei de volta na caixa.
-Eu possuo, já preparada, minha contra-proposta. Lê-se desta forma: Você pode posicionar estrategicamente seus maravilhosos lábios sobre minha parte posterior e beijá-la repetidamente."

sábado, 23 de junho de 2012

Rapidinhas do Capita



Uma lenda da música completou 70 anos nessa semana, mas há também um aniversário célebre relacionado ao cinema nesse ano:
Casablanca completa 70 anos em 2012. O longa lançado em 1942 que mostrava uma trama de guerra, espionagem, drama e romance numa África ocupada pelos nazistas em meio à Segunda Guerra Mundial envelheceu com tanta elegância que ainda hoje é impossível assistir ao filme sem se empolgar quando Victor Laszlo puxa o coral com a Marselhesa para abafar os oficiais nazistas no Café Americano de Ricky Blaine, ou não se emocionar quando Humpfrey Bogard pede que Dooley Wilson toque As Time Goes By, ou sentir o coração ser arrancado do peito quando Ilsa entra no avião e decola indo embora rumo a Lisboa. Quem nunca quis entrar no meio da bruma com Blaine e o capitão Renault e sacolejar o americano perguntando "você ficou louco, homem de Deus?" que atire a primeira pedra.
Parabéns, Casablanca.

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-Sabe o mais engraçado? - Perguntou o Leonardo olhando a foto da Rúbia.
-É um sujeito do meu tamanho, que já brigou e apanhou o que eu já briguei e apanhei na vida ter tanto medo de uma menina pequenininha que nem tu. Medo de ser rejeitado. Medo de tu me pedir que vá embora de novo. Medo de tu devolver os presentes que eu te dei. Medo de tu me dizer que não gosta mais de mim. Medo de te ver triste e saber que é minha culpa. Medo de não me aguentar, te beijar na boca, te dizer que te amo e ter que ir embora depois. Muito medo. Muito, muito, muito medo.
Leonardo segurou firme a foto entre os dedos.
-Incrível, mas eu acho que pra aprender a ter medo, antes eu tive que aprender a ser feliz.
Desligou a luz e se deitou, Mas demorou a dormir.

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Você deve se lembrar disso
Um beijo é apenas um beijo, Um suspiro é apenas um suspiro
As coisas fundamentais se aplicam
Com o passar do tempo

E quando dois amantes se encontram
Eles ainda dizem "eu te amo"
Nisso você pode confiar.
Não importa o que o futuro traga
Com o passar do tempo.

Luar e canções de amor nunca ficam datados
Corações cheios de paixão, ciúmes e ódio
Mulher precisa de homem
Homem deve ter sua parceira
Isso ninguém pode negar

Ainda é a mesma velha história
Uma luta por amor e de glória
Um caso de fazer ou morrer
O mundo sempre dará boas vindas a amantes
Com o passar do tempo.

Resenha DVD: Guerreiro



Há filmes que mesmo tendo certo hype nos seus países de origem passam batidos pelos cinemas do Brasil. Me lembro de que Guerra ao Terror, por exemplo, só deu as caras nos cinemas brasileiros, em circuito reduzido e por um período relâmpago, após levar alguns Oscar em cima de Avatar, franco favorito, isso pra ficar só em um caso e dos mais óbvios.
Outros, porém, não chegam a abocanhar prêmios de grande visibilidade, e por consequência, acabam relegados as prateleiras das locadoras, cada vez mais esquecidas em tempos de download ilegal por todos os cantos, netflixes e serviço de aluguel de vídeo direto pela TV a cabo. Talvez seja o caso desse Guerreiro, filme do diretor Gavin O'connor, que tem de mais significativo no currículo os longas Força Policial e Desafio no Gelo, e que, apesar de ter sido bastante elogiado por quem viu, não foi notado pela crítica e a despeito de algumas indicações a prêmios (Especialmente para Nick Nolte, como melhor ator coadjuvante) como o Oscar de ator coadjuvante e o MTV Movie Awards na categoria Melhor Luta, passou meio que batido pra quase todo mundo.
Mas ontem, depois do futebol, achei que ver um filme e comer uma fatia de pizza com o meu cachorro era uma ideia simpática, pesquei Guerreiro daquela prateleira empoeirada da locadora, e o levei pra casa. Em que se pese que, de fato, não é nenhum Casablanca, Guerreiro é um filme com ótimas qualidades, e merece ser assistido.
Guerreiro começa com Paddy Conlon (Nick Nolte, ótimo.), chegando em casa se deparando com Tommy Riordan, ex-Tommy Conlon (Tom Hardy), seu filho mais moço a quem não via a quase quinze anos. Paddy era um alcoólatra abusivo, e não é particularmente querido por Tommy, ou por seu filho mais velho, Brendan (Joel Edgerton).
O ex-fuzileiro naval Tommy quer que Paddy o treine para um evento de artes marciais mistas que pagará um prêmio de cinco milhões de dólares, e quer Paddy como seu treinador e treinador apenas.
Ao mesmo tempo Brendam vem tendo problemas financeiros. O ex-lutador de UFC e hoje professor de física e pai de família está prestes a perder sua casa para o banco e precisa desesperadamente de dinheiro. Pra isso resolve retornar à antiga academia e voltar a lutar em pequenos eventos. Entretanto, o destino pode acabar cruzando o caminhos dos três no mega evento Sparta, um torneio definitivo organizado para encontrar o lutador mais apto do mundo do MMA e premiá-lo com cinco milhões de dólares.
Ainda que seja previsível como são a maioria dos filmes do gênero, Guerreiro se sobressai tanto por investir no MMA, esporte que mais cresce no mundo hoje, quanto pelas cenas de luta brutais e muito bem coreografadas, quanto pelo bom trabalho do elenco que ainda tem Kevin Dunn, Frank Grillo e Jennifer Morrison (A Cameron de House, esbanjando saúde e sem ser chatinha como era na série).
Tom Hardy cria um atormentado Tommy Riordan, quase um Mike Tyson do MMA com seu físico atarracado, capuz preto e nocautes relâmpago. A certa altura já não se pode mais aguentar o personagem com pose de bad boy traumatizado, e então, quando se pensa que não vai sair nenhum coelho daquele mato, o personagem surpreende com um momento de doçura e calidez que parecia impensável até ali e que graças ao talento de Hardy não soa forçado ou inócuo. Joel Edgerton tem mais com o que trabalhar. O seu Brendan Conlon é o tipo de personagem sofrido que chove em dramas esportivos, e o ator neo-zelandês convence tanto na hora da porradaria no octógono quanto na sala de aula e nos momentos de doçura familiar. A grande atuação do filme, porém, é de Nick Nolte. Mesmo sabendo que seu personagem era um bêbado violento é difícil não sentir pena dele graças a interpretação de Nolte. O ator é o dono de todas as suas cenas, e as suas interações com os filhos são de aplaudir em pé.
Não deixe Guerreiro ficar mofando na prateleira da sua locadora. Vá até lá, alugue e aprecie. Mesmo não tendo absolutamente nada de revolucionário, é um ótimo drama esportivo, e merece duas horas e pouco de atenção. Não tem arrependimentos.

"-Eu gostava mais de você quando você era um bêbado."

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Resenha Filme: Homem-Aranha



Agora que faltam apenas duas semanas pro lançamento de O Espetacular Homem-Aranha no cinema me pareceu que seria bacana relembrar o caminho percorrido pelo cabeça de teia de Homem-Aranha até este reinício. Bora lá, então, pro primeiro dos três reviews da trilogia aracnídea de Sam Raimi:
O ano era 2002, a Marvel parecia haver encontrado um caminho pra mostrar seus personagens ao grande público alguns anos antes com Blade e os X-Men em filmes que tinham feito carreiras decentes nas bilheterias e que tinham sido até bem recebidos pela crítica. A fórmula de emprestar os personagens à produtoras havia funcionado com a New Line do Caçador de Vampiros vivido por Wesley Snipes e com a Fox dos mutantes de Bryan Singer, a Marvel levava alguma grana pelos direitos, mostrava os heróis ao mundo, alavancando a venda de gibis e não corria riscos como o grupo Time-Warner, dono da DC que bancava eventuais fracassos de bilheteria por conta própria.
Em que se pese que Blade era uma aventura bacana e que Singer transformara os X-Men em uma ficção científica respeitada a Marvel ainda não mostrara, de fato, o que tinha de melhor. O personagem mais popular da Casa das Ideias já tinha tido inúmeras animações, uma tosca série de TV e havia estado muito perto de virar filme pelas mãos de James Cameron em meados de 1995, mas não saíra da ameaça. Finalmente, porém, os produtores Avi Arad e Laura Ziskin e a Columbia, braço ocidental da Sony, perceberam que havia uma mina de ouro trajando vermelho e azul nas páginas dos quadrinhos Marvel, e resolveram levar o Homem-Aranha ao cinema.
Resolver que o Aranha viraria filme, porém, seria apenas o começo da conversa. Era necessário encontrar um diretor capaz de capitanear a adaptação, um roteiro que traduzisse a emoção dos gibis do cabeça de teia às telonas e um elenco que convencesse a audiência.
O diretor escolhido pra brincadeira foi Sam Raimi, papa de filmes de horror de baixo orçamento, como a série Evil Dead, mas que tinha no currículo o ótimo Um Plano Simples e o meia boca Darkman - Vingança Sem Rosto, aventura estrelada por Liam Neeson que mesmo sendo outro filme de baixo orçamento e visto por quase ninguém, tinha uma tremenda cara de gibi. Raimi bateu diretores como David Fincher e Chris Columbus pra pegar a cadeira de diretor do longa e transformar em filme o roteiro escrito por David Koepp, autor dos scripts de Missão: Impossível e Jurassic Park.
No elenco, que na época de Cameron tinha Leonardo Di Caprio no papel principal surgiram nomes muito interessantes. O vilão Norman Osborn, o Duende Verde seria vivido por Willem Dafoe, Mary Jane Watson, interesse romântico do herói seria interpretada pela bonitinha Kirsten Dunst, e fechando os três papéis principais, entrou Tobey Maguire. O ator que havia estado em Tempestade de Gelo, A Vida em Preto e Branco, Cavalgada com o Diabo e matado a pau em Regras da Vida iria vestir o colante do herói superando Wes Bentley, Heath Ledger e James Franco, que acabou ganhando o papel de Harry Osborn. Com o tabuleiro montado, o lance era ver se o filme, depois de acabado, iria segurar as pontas.
E segurou.
Eu ainda sou capaz de me lembrar de como fugi mais cedo de uma aula noturna e corri pro shopping pra encontrar meu irmão e ver o filme. Me lembro de como fiquei fulo da vida por ele ter resolvido me esperar fora da fila, o que me obrigou a sentar na segunda fileira, oblíqua, pra assistir ao filme. Me lembro da pequena encenação de um assalto frustrado pelo Homem-Aranha que o cinema realizou antes da sessão começar, e me lembro de como tudo o que estava chato até aquele momento se desvaneceu já nos créditos de abertura ao som do tema de Danny Elfman.
Homem-Aranha contava a história de Peter Parker, um jovem e tímido estudante, órfão de pai e mãe criado pelos tios, e de como ele via sua vida mudar radicalmente após ser picado por uma aranha geneticamente alterada (não radioativa como nos quadrinhos), e ganhar super-poderes.
Como qualquer jovem pobre faria, Peter resolve tentar lucrar com suas novas habilidades, e pra isso, se envolve com luta livre. Após vencer uma luta que oferecia três mil dólares de bolsa e ser enganado pelo empresário, Peter vê o sujeito ser assaltado, mas mesmo podendo facilmente segurar o ladrão, prefere não se envolver por vingança. Ao sair do ginásio e encontrar seu tio Ben (Cliff Robertson) baleado, Peter sai em perseguição ao bandido, o encurrala e descobre, em choque, que se tratava do mesmo larápio que ele deixara escapar pouco antes.
Ali, Peter aprende que grandes poderes trazem grandes responsabilidades, e se torna o super-herói Homem-Aranha, ao mesmo tempo em que Norman Osborn, pai do melhor amigo de Peter, Harry, sofre um terrível acidente ao testar um soro de aprimoramento humano e desenvolve a personalidade psicótica do Duende Verde. Agora, Peter tem tanto que aprender a levar sua vida dividindo-se entre as obrigações de vigilante mascarado e de estudante enquanto trilha um caminho que inevitavelmente se cruzará com o de Norman.
Homem-Aranha, ao ser revisto hoje em dia tem lá seus defeitos, eu nunca gostei dos lançadores de teia orgânicos e nem do fato de Mary Jane ser o primeiro amor de Peter Parker, mas são poucos os defeitos naquele filme. Mesmo Tobey Maguire, que mais tarde já não me convenceria com sua interpretação de nerd/super-herói mandou bem no primeiro longa, cujo final acenava com um amadurecimento do personagem que acabou não se concretizando nas sequências. O roteiro desenvolvia bem Peter Parker e Norman Osborn sem negligenciar Mary Jane e Harry, criava uma relação de pai e filho entre herói e vilão, evidenciava um resquício de inveja entre Harry e seu melhor amigo, tratando todos os personagens egressos do gibi com respeito e carinho. O elenco, que ainda tinha Rosemary Harris como tia May, J. K. Simmons como um impagável J. Jonah Jameson, Bill Nunn como Joe Robertson e Elizabeth Banks como Betty Brant segurava bonito a peteca sob a direção de Sam Raimi, um fã declarado do Homem-Aranha, que talvez tenha realizado o maior trabalho de sua carreira ao fazer um filme de fã pra fãs. E quem não se arrepia na sequência final quando o tema do filme soa e o espetacular Homem-Aranha que todos os fãs de gibi sempre quiseram ver salta entre automóveis e edifícios provavelmente não teve infância.

"Grandes poderes trazem grandes responsabilidades. Essa é minha dádiva e minha maldição. Quem sou eu? Eu sou o Homem-Aranha."

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Fúria



Ódio.
Foi ódio o que sentiu o Firmino naquele dia de manhã. Uma raiva profunda, enraizada, submarina de tão profunda. Um ódio que deixou suas bochechas vermelhas e esquentou suas orelhas e o deixou de olhos ardendo até marejarem. Por um instante, Firmino sentiu os nós dos dedos brancos, e uma ira torpe que o cegou por um breve momento.
Tivesse sido bombardeado por raios gama em algum momento de sua vida, Firmino teria sentido suas roupas se rasgarem conforme seus músculos inchavam, seus ossos se estiravam, sua pele se tornava verde e ele sairia destruindo a cidade até que a fadiga o transformasse em uma pessoa de tamanho normal sem roupa em meio a escombros.
Por sorte Firmino jamais fora bombardeado por raios gama em sua vida. Ainda assim, ele chegou a pensar em apanhar o teclado do computador a sua frente e batê-lo com toda a força do mundo na mesa. Chegou a imaginar se a fúria que o tomou cessaria de imediato, enquanto as teclas com as letras ainda voavam pelo ar ou se ele bateria o teclado na mesa mais uma ou duas vezes.
Firmino também pensou que, na sua juventude, teria esbravejado. Teria gritado, esmurrado a mesa, talvez chutado a CPU do computador? Provavelmente. Alguns anos antes Firmino teria tido o que, hoje, ele chamava de chilique, e julgava que não ficava bem em ninguém, em especial em homens adultos.
Pro sorte Firmino amadurecera. Aprendera a aceitar que certas coisas fogem-lhe ao controle, e que não adianta fustigar móveis e objetos para descarregar sua frustração.
Firmino estava longe de ser um monge zen-budista, ainda era, vez que outra, dominado por certas emoções, mas aprendera a filtrar, se não o que sentia, o que deixava transparecer.
Por um breve instante, de maneira privada e contida, amaldiçoou a si mesmo. A própria falta de jeito, o próprio medo e a própria pressa. Esbravejou mentalmente contra a vida e pensou em meia dúzia de palavrões que poderiam fazer roteirista de pornochanchada dos anos setenta corar de vergonha.
Amaldiçoou a ela. As palavras dela, ao significado oculto que elas sugeriam e à interpretação que elas deixavam em aberto.
Sentiu sua cabeça esquentar como se fosse verão e estivesse calor. E então, respirou fundo e engoliu tudo aquilo.
Não era culpa dela. Era dele, e dele sozinho. Foram as falhas de Firmino que o levaram até onde estava, e ele que arcasse com as responsabilidades de seus atos. Não era capaz de odiá-la ou sentir raiva dela por mais do que uma fração de segundo. A amava demais pra isso.
Talvez tivesse úlcera, talvez acordasse uma manhã e se transformasse em um herdeiro de D-Fens Foster e surtasse, mas achava que nem uma coisa e nem outra. Por via das dúvidas, abriu a boca como quem grita sem emitir nenhum som, e esmurrou a mão direita com tanta força que a machucou. Melhor uma mão enfaixada por alguns dias que uma úlcera, afinal de contas.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

Rapidinhas do Capita



Passado, finalmente, o frenesi causado por Os Vingadores, filme que me levou nada menos do que cinco vezes ao cinema, começa a contagem regressiva para o lançamento do reboot do Homem-Aranha nos cinemas. Estamos no momento mais violento da divulgação de videos, trailers e imagens do filme, que já teve até sessões no Japão, e estreará aqui no Brasil no dia seis de julho. Em que se pese que já teve gente dizendo que é "Crepúsculo de colante" e que "isso é um elogio" não posso deixar de sentir coceira nas mãos e vontade de correr pro cinema pra garantir meu ingresso cada vez que aparece uma imagem nova do filme. Esse é um longa metragem que pode me decepcionar, pois minhas expectativas são estratosféricas.

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Outro filme que tem começado a ser divulgado de forma mais veemente e que pode me decepcionar ainda mais que O Espetacular Homem-Aranha é Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge. Tirando a ideia idiota da adaptação do título original, The Dark Knight Rises, é um filme que tem tudo no mundo pra dar muito certo. Ele só vai superar as minhas expectativas se for o filme mais sensacional da história da humanidade, pois tem um tremendo diretor, um baita elenco, e é a sequência de um filme maneiraço e de outro que era apenas a melhor adaptação de quadrinhos já feita. Christopher Nolan e Christian Bale caminham em um terreno perigoso, mas têm competência de sobra pra sair limpos dessa e acabar com a "Maldição da Terceira Parte".

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Nessa semana, mais precisamente no dia dezoito, segunda-feira, Paul McCartney, completou setenta anos de idade. O velhinho que continua cantando rock da melhor qualidade e fazendo shows pelo mundo afora merece todas as celebrações de todos os universos conhecidos, e mais setenta anos de música excepcional. Feliz aniversário, Macca.

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Uma Super-Mulher Pra Chamar De Sua



Estavam ela e ele, sentados no sofá, aninhados um no outro assistindo TV. Ao lado deles, no chão, copos d'Os Vingadores cheios de Coca-Cola e Fanta. Na TV passava um documentário sobre a Guerra do Vietnã que ele assistia atento, ela olhava um pouco pra tela, outro pouco pras unhas, e vez que outra bocejava. Finalmente se remexeu, inquieta, e ergueu a cabeça lançando-lhe um olhar de ponta cabeça:
-E se nós fôssemos super-heróis? Tu e eu? Como seriam nossos uniformes?- Ela perguntou, casualmente, aninhada entre as pernas dele e recostada no seu peito. Ele suspirou pensativo sem tirar os olhos da tela e repetiu:
-Super-heróis... De filme ou de gibi? - Inquiriu.
-De gibi - Ela respondeu após uma fração de segundo. -De gibi é mais maneiro.
-OK - ele disse fechando um olho. -O teu, obviamente teria que ter salto alto e as pernas de fora. As pernas de fora por razões estéticas, afinal de contas, as super-heroínas uniformizadas usam trajes provocantes e reveladores, e tuas pernas, meu amor, são mais do que de parar o trânsito, são de parar naves em hiperespaço, então, pernas de fora, claro. O salto alto seria tanto por razões estéticas quanto por razões práticas, tu fica bem de salto alto, e com a tua altura, sem aditivos, não ia meter medo em ninguém.
Ela ergueu o rosto e o encarou fazendo uma doce expressão de brabeza, e ganhou um beijo estalado nos lábios emulando Tobey Maguire e Kirsten Dunst. Ele continuou:
-Acho que tu deveria usar uma máscara ao estilo Mulher-Aranha, que deixasse os cabelos de fora. Já te disse que sempre que vejo a Mulher-Aranha me lembro de ti? Adoro o teu estilo Jessica Drew... Podia ser algo tipo um maiô, sabe? Mas com mangas. Acho estranho uma mulher pensar em como vai se vestir pra combater o mal e vestir um maiô, e depois colocar botas até a altura das coxas e luvas que vão até acima do cotovelo... Não faz sentido. Então o teu podia ser um maiô com mangas longas, e tuas botas não deviam ultrapassar a altura dos joelhos, uma máscara que parecesse fazer parte do uniforme mas deixando os cabelos de fora, não sei se dessas máscaras com lentes, tipo a do Homem-Aranha. Acho que preferiria com olhos vazados, que nem a do Capitão-América. Sem capa, tu é pequena, e podia acabar pisando na capa, ou se enrolar com ela, pois tu é meio estabanada e imagina que horror se tu acabasse morrendo que nem o Dollar Bill? Credo, não... Sem capa. Acho que seria assim. Eu acharia maneiro se fosse vermelho e branco. Com mais vermelho, alguns detalhes em branco, tipo a inicial do teu super-nome, as luvas e as botas... - Ele parou de falar, pois percebeu que ela havia pegado no sono ouvindo ele falar.
Sorriu e se moveu de leve, tirando o braço que a envolvia, e desligou a TV. Com muito cuidado, se ajeitou no sofá, de modo a deixar um dos pés tocar no chão, então, passou um braço por baixo das pernas dela, e o outro por trás de sua nuca, certificando-se de não puxar-lhe os cabelos, e se levantou de leve, carregando ela no colo. Quando deu o primeiro passo, desviando-se dos copos no chão, ela suspirou profundamente e, de olhos fechados, perguntou:
-E qual ia ser meu nome?
Ele riu e sussurrou:
-Sleepy Girl. Em inglês, mesmo, e teria uma letra "S" estilizada no teu peito, no formato daqueles "Z" que têm em gibis representando roncos.
Continuou andando pro quarto e a pousou delicadamente na cama, então a cobriu com um edredom que lhe dera de presente tempos antes. Enquanto a cobria, ela, ainda sem abrir os olhos cheios de rímel perguntou:
-E qual ia ser o meu poder?
Ele acariciou-lhe o rosto e lhe beijou os lábios enquanto dizia:
-Nunca desistir, Menina Sem Medo. Teu poder seria nunca desistir.

Resenha Cinema: Deus da Carnificina



Sábado à noite, em meio à chuva fina que resfriava Porto Alegre resolvi encarar uma sessão de cinema. A escolha óbvia era Prometheus, de Ridley Scott, mas a verdade é que eu não estava com paciência pro óbvio, e então, ao invés de me deslocar até um mega cineplex gigante de shopping, preferi um cinema pequeno e um modesto centro comercial onde me abanquei confortável pra assistir a esse Deus da Carnificina, adaptação do oscarizado Roman Polanski da peça de teatro de mesmo título de Yasmina Reza, que assina o roteiro junto com o diretor.
Mesmo levando-se em conta que Polanski é um cineasta que merece uma conferida quase sempre, vou confessar que, mais do que o nome dele na cadeira de diretor, e infinitamente mais do que qualquer referência à peça de que jamais havia ouvido falar, foi o elenco que me levou ao cinema. Os quatro nomes no pôster do filme são de atores acima da média. Jodie Foster, Christoph Waltz, Kate Winslet e John C. Reilly, todos cobras.
No filme, os casais Penelope e Michael Longstreet(Foster e Reilly) e Nancy e Alan Cowan(Winslet e Waltz) se encontram no apartamento dos primeiros para resolver uma pequena querela: O filho de Alan e Nancy agrediu o rebento de Penelope e Michael numa briga que resultou na perda de dois incisivos do moleque.
Inicialmente cordatos e gentis, os quatro adultos estão apenas resolvendo detalhes sobre o tratamento dentário e como fazer com que as crianças façam as pazes, entretanto, ao passarem mais tempo juntos, essa relação vai se tornando menos cordial conforme as diferentes personalidades e backgrounds dos quatro, feitos para não se bicarem até pela "luta de classes" que se desenha entre os Longstreet, um casal classe média liberal e os Cowan, dois engravatados, vêm à tona e as discussões afloram.
Entre a engajada editora de livros Penelope, o simpático vendedor de ferragens Michael, o cínico advogado corporativo Alan e a elegante corretora Nancy, todos têm um momento de chegar ao limite, perder as estribeiras e mostrar quem são de verdade na hora de lavar a roupa suja. E, no frigir dos ovos o filme pinta um divertido e acurado retrato de uma fatia considerável da sociedade atual.
O elencaço faz bonito, e mesmo no fim do filme, quando as interpretações se tornam mais teatrais e exageradas, todos mandam muito bem. Destaque, claro, para Waltz, monstruoso como Alan Cowan, o sarcástico advogado envolvido em um processo contra uma indústria farmacêutica e cujo celular não para de tocar, mas ninguém fica muito atrás do austríaco, não.
Deus da Carnificina é um divertido e palatável produto sobre boas maneiras, ou a falta delas, e se tem algum defeito grave, provavelmente é a curta duração.

"Moralmente nós devemos superar nossos impulsos, mas há vezes em que não queremos superá-los."

sexta-feira, 15 de junho de 2012

A Maneira Certa



Existe uma forma certa e uma errada de fazer qualquer coisa. O Telmo sempre fora capaz de vislumbrar as duas. Desde muito jovem, ele sempre tivera noção de certo e de errado, provavelmente reflexo tanto de sua criação quanto do tempo que passara lendo gibis, aquele universo ao mesmo tempo colorido e preto no branco onde o que é certo a se fazer e o que é errado está sempre bem explicitado.
E o Telmo cresceu com essa noção perfeitamente funcional de certo e de errado. Já nos tenros anos da pré-escola Telmo sabia como as coisas deviam ser feitas, e sempre as fazia da forma que considerava correta, direita, reta.
Não era nenhum super-herói o Telmo, era apenas um fedelho que lera muitos gibis e assistira muitos filmes de ficção e fantasia, embora tivesse ganho uma fantasia de Capitão-América aos cinco, seis anos de idade, e aos dez tivesse recebido uma salva de palmas pedida por um professor após tirar um galho de outro moleque que incomodava as gurias na fila depois do recreio, não tinha nenhum super poder, apenas muitas boas intenções.
Na adolescência, porém, Telmo viu suas noções de certo e errado bastante nubladas, e fez muitas coisas de que não se orgulhava. Não cometera nenhum crime hediondo, nada disso, mas certamente fizera tanto coisas moralmente reprováveis quanto deve ter quebrado a lei em algumas ocasiões. Dera as costas a muitas coisas que considerava importantes, e à certa altura, percebeu-se uma pessoa de quem não gostava.
Ainda hoje Telmo era capaz de lembrar da sensação de perceber que não gostava de quem era.
Lembrava-se de tudo o que fizera para mudar aquele panorama. Das coisas que deixara de fazer, dos amigos que parou de ver. E das coisas que foi buscar até sentir-se, novamente, uma pessoa de quem podia se orgulhar e com quem gostaria de se relacionar.
Desde então, Telmo manteve-se dentro da linha que delimitara para si mesmo. Ás vezes o acusavam de ser chato. Em outras lhe diziam que era reprimido. Mas Telmo não ligava. Ele não podia ligar menos. O importante pro Telmo era fazer as coisas da maneira certa e estar em paz com sua consciência.
Hoje, porém, o Telmo se flagrou querendo não ter noções tão claras de certo e de errado. Querendo ser capaz de agir sem pensar em termos de preto no branco e trafegar em meio ao cinza. Hoje, o Telmo percebeu que pode ter escolhido agir certo entre agir certo e ser feliz.
E pra isso ele não sabe se pode fazer ouvidos moucos.

quinta-feira, 14 de junho de 2012

Todas as Coca-Colas



-Tu sabe qual é o sentido da vida, Pê Erre? - Foi o que perguntou o Everaldo, empilhando bolachas de chope em uma torre diante de si.
-Vindo de ti? Não... - Respondeu o Paulo Roberto, bebendo um gole de Coca-Cola, e concluindo: - Mas tenho certeza de que tu vai me iluminar a respeito.
-Pra puta que te pariu, tu e a tua ironia de farmácia, Pê Erre. - Protestou Everaldo, erguendo brevemente os olhos da sua frágil obra de engenharia. - O sentido da vida, Pê Erre, é não se arrepender das coisas, irmão. Não tem nenhuma outra merda que foda a vida de um sujeito como arrependimentos. O arrependimento é uma âncora, Pê Erre, e só se tu souber te livrar dele, é que tu vai ser capaz de ser feliz. E ser feliz é a porra do sentido da merda da vida.
-Lindo. Em que se pese o quanto é estranho ouvir isso de um maníaco depressivo que nem tu, Everaldo.
-Tomar no teu cu. Eu não sou depressivo, porra nenhuma, eu sou realista. - Protestou Everaldo.
-Arram, sei. - Disse Paulo Roberto, bebendo mais um gole de refrigerante.
Ficaram os dois em silêncio. O Paulo Roberto comeu uma castanha da cesta de plástico no meio da mesa. Everaldo acrescentou mais um par de bolachas de chope à sua torre, cada vez mais parecida com a torre de Pisa. Finalmente parou e encarou Paulo Roberto enquanto bebia um gole de chope enquanto o inquiria:
-E aí?
-E aí o quê? - Não entendeu, Paulo Roberto.
-Por que que eu sou depressivo, filho da puta?
Paulo Roberto riu.
-Tu não é depressivo, Everaldo. Eu me expressei mal. Mas tu há de convir que... - Ia continuar mas deteve-se. Disse apenas:
-Deixa pra lá. Esquece. Tu não é depressivo.
-Esquece é o caralho, eu hei de convir com o quê? Desembucha aí, Porra, não fode.
Paulo Roberto pensou em tergiversar, mas sabia que não funcionaria. Suspirou olhando pra cima, imaginava o quão longe aquela conversa iria:
-Tu há de convir que é estranho tu dar receitas sobre o sentido da vida ser felicidade.
Everaldo desviou os olhos da torre de bolachas:
-Hmmm... Por que? Porque eu sou um sujeito mais retraído, mais pé no chão?
-É uma forma de colocar as coisas - Ponderou Paulo Roberto. -Outra, mais apropriada, seria dizer que tu é um sujeito miserável e ensimesmado...
Everaldo ergueu os olhos e encarou Paulo Roberto. O amigo ergueu as mãos:
-Não adianta me olhar assim, velho. Olha, Everaldo. Não faz muito tempo, nessa mesma mesa tu me perguntou se eu era feliz, me acossou até eu dizer que não, e, ficou implícito naquela conversa que tu também não é feliz, velhinho, ou tu vai me dizer que tu só é sorumbático e carrancudo quando tá comigo, e que na verdade tu é um sujeito alegre e pra cima?
Everaldo sorriu:
-Bom... Eu ter a porra da receita não significa que eu saiba como prepará-la, Pê Erre. Eu acreditar que a merda do sentido da vida é ser feliz, não quer dizer que eu saiba como alcançar essa porra ou que eu possa.
-Então - Raciocinou Paulo Roberto -Tu escolheu um sentido pra vida, felicidade, e uma forma de alcançá-lo, sem arrependimentos, apenas como maneira a não precisar, de fato, concretizá-lo... Talvez pra se eximir de responsabilidade de dar sentido pra tua vida além de trabalhar, vir por bar comigo e sofrer com aquele teu time mequetrefe de segunda divisão.
-Vai tomar no olho desse teu cu cheio de felpa, vai Pê Erre?
Os dois riram. Everaldo bebeu de um só gole o conteúdo do seu copo e fez sinal pro garçom. Paulo Roberto balançou sua garrafa de refrigerante e suspirou:
-Mas quer um alento, irmão?
-Qual, Pê Erre?
-Eu acho que tu tá enganado e ainda não precisa esperar por uma morte lenta e solitária entregue à neurose. O sentido da vida não é não guardar arrependimentos. Pra não se arrepender de nada neguinho teria que, ou acertar sempre, ou ser desprovido de consciência e senso crítico. Talvez até seja ser feliz o sentido da vida, mas acho que isso a gente consegue de outras formas...
-Por exemplo? - Quis saber o Everaldo entregando o copo de chope vazio ao garçom mas retendo a bolacha.
-É ter alguém especial com quem dividir as suas coisas, manja? No teu caso, niilismo, neurose, misantropia...
E no teu caso, palhaço? - Provocou Everaldo.
-Um pouco disso, também, claro... - Respondeu Paulo Roberto. -Mas mais coisas. Como referências, preferências e todas as Coca-Colas que eu for tomar daqui até o dia da minha morte.

Ele Não Sabia



-Eu amo você. - ela disse, cabelos negros caídos por cima de um dos olhos cheios de rímel.
Ele não disse nada. Ficou incapaz de responder, apenas olhando pro chão e sentindo uma vontade imensa de que uma fenda se abrisse sob seus pés e o engolisse até o núcleo ígneo do planeta.
Ela foi embora após não ouvir nada dele. Ela saiu andando cabisbaixa e não olhou pra trás. Lutaria para esquecê-lo, e eventualmente conseguiria, afinal, ele não era particularmente memorável.
Ele continuou ali, imóvel. Incapaz de se mover. De dizer qualquer coisa.
O mais estranho?
O medo dele não era por não amá-la de volta. Era exatamente pela razão oposta. Pra ele, que nunca amara a ninguém, que estava acostumado à frieza e distanciamento, aquele sentimento que o preenchia com calor era tremendamente assustador, tremendamente dolorido, e ele não sabia o que fazer.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Rapidinhas do Capita



O Eriberto e a Bebel terminaram um relacionamento de seis anos. Muita gente estranhou, e não porque eles parecessem felizes juntos, mas sim porque o Eriberto aguentava tanta coisa da Bebel que parecia que nada o faria desistir dela...
Mas algo fez.
Ninguém soube o que era, e os amigos do casal comentavam à boca pequena que alguma coisa muito grave tinha acontecido, mas fora alcovitices e especulações sem sentido, ninguém sabia dizer o que era.
Quando lhe perguntavam o que havia sido, a Bebel dizia que não queria falar a respeito, e os amigos do casal, na verdade todos amigos da Bebel, não viram mais o Eriberto depois do rompimento, e ele era a única pessoa, fora a Bebel, que podia, de fato, dizer porque eles haviam terminado.
Não fora o fato de a Bebel ser autoritária. Nem o fato de ela ser mandona. Também não era porque ela não gostava de nada do que o Eriberto fazia, nem de ela ser extremamente ranzinza. Não foi por ela amar ter os amigos dela por perto e detestar os amigos dele, e nem porque ela não gostava de esportes e não se dava bem com a família dele.
Não... Não... Eles terminaram porque ela dormiu assistindo Star Wars - episódio V: O Império Contra-ataca.

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Muita coisa acontece em um dia... Governos são derrubados em uma semana. Países deixam de existir em um mês. Um ano, então... Um ano é quase uma era geológica nesse tempo de atualizações minuto a minuto em que vivemos. Em um ano tudo se supera. Em um ano as coisas mudam totalmente de figura. Um ano é tempo que não acaba mais.
Um ano... Passa voando...

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Essa é do final de Os Imperdoáveis:
"(...)E não havia nada para explicar a Sra. Feathers porque sua única filha havia se casado com William Munny, um conhecido ladrão e assassino, um homem notoriamente mau, e de disposição severa."
Ás vezes ele se via tão confuso quanto a senhora Feathers com relação ao que ela parecia sentir por ele. Era natural que ele a amasse. Mas ela? Ela não tinha nenhuma razão pra sequer gostar dele.

domingo, 10 de junho de 2012

Tambor



O Luan achava muitas coisas lindas na Roberta. Os cabelos. As pernas. Os olhos. As mãos, os pés, os lábios, as orelhas, braços, ombros...Ele achava a Roberta toda linda. Do começo da unha do dedo mínimo do pé esquerdo até o último fio de cabelo do topo da cabeça dela. Toda linda.
Achava coisas lindas na história que partilhavam, também. Como tudo aconteceu.Como começou, quase ao acaso. E como ganhou proporção, peso, relevância... Achava linda a forma como ela fizera tudo acontecer, sem se deixar abater nem pelas forças da natureza... Mas uma coisa em especial, que ele só percebeu quando colocara tudo a perder...
Ele sempre achou lindo o fato de, ao abraçá-la, sentir o coração dela batendo bem forte e bem alto, quase como um tambor. E ele ficava sentindo aquilo, o coração dela, batendo junto ao próprio peito, e era tão... Era... Ele odiava a breguice daquilo. Mas era como se eles partilhassem um coração só.
E ele, mesmo sendo meio bruto, tosco, mal acabado. Por alguma razão, era capaz de reconhecer a beleza daquilo. De entender a significância daqueles momentos tão caros que eles partilhavam abraçados.
E foi tão estranho pra ele se dar conta, quando a encontrou ao acaso na rua.
Pensou se devia falar ou não com ela. Passou por trás dela com pés macios, apenas para sentir o perfume que ela exalava. Mas sendo ela quem era, tendo ela o poder de lhe tirar com um olhar todos os "olá" e de emudecer todos os "adeus", ele não soube se conter, e precisou cumprimentá-la. Ouvir a sua voz em um lugar que não fosse um podcast, ver seu sorriso ao vivo, direcionado pra si e não em uma foto. Então, mesmo contrariando um pedido direto dela, Luan se aproximou, a cumprimentou, e a abraçou com vontade, como se jamais fosse soltá-la. E só então ele viu, quase ao acaso. Que o coração dele também batia forte, alto, rápido, como um tambor.
Virou e seguiu seu caminho sem se despedir.Apenas afagou-lhe o cabelo e dirigiu-lhe um sorriso. Sentou-se, sem conseguir respirar no cordão da calçada, e amaldiçoou uma vida onde sabia exatamente onde estava sua alma gêmea, mas não podia tê-la em seus Braços. Em seus lábios. Em sua cama. Em seu peito.

sábado, 9 de junho de 2012

Rapidinhas do Capita



Provavelmente uma das coisas mais doloridas que pode acontecer à uma pessoa é perceber que, talvez, seja impossível consertar as coisas que se quebraram pelo caminho até determinado ponto. É chegar àquele momento em que se descobre que os esforços empregados na realização de uma tarefa poderão se tornar fúteis, e entender que o caminho até essa encruzilhada foi pavimentado com as bobagens que tu mesmo cometeu.
Estar ciente de que o que tu faz ou diz não tem mais implicações de nenhuma espécie, não será visto, ouvido ou assimilado e será em vão, pois a distância que tu abriu é demasiado vasta.
Ainda assim...
Ainda assim... É impossível não se apegar a um fiapo de esperança, e torcer, mesmo contra todos os teus instintos, pra que, quem sabe, o que tu sente seja capaz de reparar o que parece quebrado pra todo o sempre.

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Momento D-Fens Foster da semana:

Sexta-Feira de outono com temperatura de inverno. Andando na rua, frio sob o sol, cachorro voltando do banho na guia, música nos ouvidos, óculos escuros, distração enquanto pensa na vida e nela. O cachorro, grande, felpudo, animado com a temperatura baixa se afasta um pouco e passa bem perto de um casal em um dos lado da calçada, batendo com sua cauda nas pernas do sujeito que leva um susto.
Educadamente tu sorri, e se desculpa enquanto puxa o cão pra perto. O vivente, em meio a um inexplicável ataque de pelanca recrimina:
-Te liga, meu. Encurta a coleira desse bicho ou ele pode acabar se machucando.
D-Fens Foster toma conta:
-Eu vou repassar essa recomendação pra tua mulher com relação a ti, palhaço.

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Ele sempre se lembra de tudo. Tudo. Sem esquecer detalhe. Mas por alguma razão, quando está frio, ele lembra com mais frequência, e de maneira mais vívida. Nuvem de poeira. Desencontros. Pânico. Encontro. Conversando e andando às margens da Redenção. Lanche na República. Táxi até o shopping. Beijo junto à janela. Beijo na cama. Nuvem de poeira. Beijo na bilheteria do cinema. Mãos dadas no cinema. Beijos resfolegantes de precisar fazer "Ahm" entre um e outro. Lingerie preta. Castelinho. Crimes da rua do Arvoredo. Barulho da fivela do cinto. Música no meu colo. Vampiros genéricos. Love Blue. Meninão. Mestre Yoda. Matar aula. Vandalismo. "Tupamara". Rocky Balboa. Homem-Aranha. CD da Sade. McDonald's. X-Men. Flutuar pela rua num domingo de manhã até chegar em casa com o cabelo todo bagunçado bebendo suco de uva. Acordar congelado, atrasado pro serviço e feliz de não caber em si, na segunda. Ele se lembra de tudo. Tudo...

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Construir


Já tinham se recolhido os dois, cada um a seu modo. Foi ela quem quebrou o silêncio entrecortado de televisores, automóveis, conversas e sons urbanos de toda a sorte e suspirou antes de olhar pra baixo projetando levemente o queixo para a frente.
-O que tu quer da vida? - Perguntou, meiga, enquanto se aninhava na cama do outro lado da cidade.
-Tu - Ele respondeu de pronto, olhando pra TV com uma coberta em cima das pernas e uma caneca de Toddy na mão.
Lá de onde estava ela suspirou sorrindo:
-Não, guri... Tô falando nm plano maior...
-Como assim? - Ele perguntou.
-Ah... O que tu quer da vida tipo... Profissionalmente. Ou em termos de... Sei lá... Realizações pessoais, materiais... O que tu quer que a vida te dê? - Ela explicou, ajeitando o travesseiro sob a cabeça.
Ele ficou em silêncio enquanto caminhava até a cozinha e lavava a caneca na água glacial que jorrava da torneira. Ao pendurá-la pela asa no escorredor de louça suspirou e respondeu, sério:
-Nada... Eu não quero que a vida me dê nada.
-Nada?- Ela perguntou quando ouviu o relógio despertar e se levantou encolhida indo para o banho.
-Nada. - Ele confirmou enquanto escovava os dentes ao mesmo tempo em que calçava os tênis que usava desamarrados.
-Mas por que? - Ela perguntou enquanto andava em direção à parada de ônibus.
-Sei lá... - Ele respondeu enquanto andava em direção à uma rua adjacente à da sua casa fugindo do vento frio que soprava na avenida. -... Acho que é porque eu nunca ganhei muita coisa... Nunca tive esse tipo de vida. Eu prefiro conseguir as minhas coisas sozinho,por modestas que elas sejam, sabe...
-Sei.- Ela respondeu enquanto almoçava. -Senhor "self made man"... - Ela riu.
Ele também riu enquanto apanhava um hambúrguer congelado no freezer do mercado:
-Não... Só não quero abusar da sorte.Não sou de ficar esperando nada. Só isso.
-Tá bem- Ela suspirou quando foi vestir o casaco no vestiário no final do expediente. -Então o que tu quer construir pra tua vida?
-Construir?- Ele perguntou enquanto tirava a guia do cachorro depois do passeio. - Ah...Essa é fácil. Mas eu não conseguiria construir o que eu quero sozinho...
-Não? - Ela perguntou enquanto tentava alcançar um gibi numa estante bem alta na livraria. -Por que? O que é?
-É o futuro que tu descreveu pra gente uma vez.- Ele respondeu enquanto apanhava o gibi e entregava pra ela ao mesmo tempo em que a abraçava por trás como se jamais fosse largá-la de novo.

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Resenha Cinema: Homens de Preto III



Não há feriado glacial o suficiente pra me segurar em casa o dia inteiro (Mentira.). Toda a vez que eu acho que está frio demais, e me convenço que que é mais legal ficar em casa jogando video game embaixo do edredon com o meu cachorro eu me lembro de fevereiro, e das temperaturas de quarenta e três graus à sombra, e aí, aí eu saio e nem coloco cachecol (verdade.). Foi o que eu fiz hoje. Por volta de dez pras oito da noite comecei a pensar em usar aquele ingresso grátis de cinema que ganhei do GNC depois de eles interromperem a sessão de Os Vingadores na inauguração do cinema por três vezes e nem sequer passarem a cena pós créditos do filme. Eu a teria usado pra ver Os Vingadores na sexta passada, mas, apesar de o filme que eles não me deixaram ver de maneira completa ser em 3-D, o ingresso cortesia deles era válido apenas para sessões em 2-D tradicional. Então, não me restou muita alternativa exceto me deslocar a passos rápidos até o shopping Praia de Belas e assistir a esse Homens de Preto III que, confesso, não estava na lista de filmes que eu mais queria ver no ano.
Não por causa do primeiro filme, lá do distante ano de 1997, que adaptava um quadrinho obscuro, se não me falha a memória da Malibu Comics, e misturava de maneira muito palatável comédia, ficção científica e aventura colocando lado a lado os astros Will Smith e Tommy Lee Jones como os agentes J e K da agência hiper secreta que protegia a Terra da escória alienígena do universo sob a direção de Barry Sonnenfeld.
Não... Definitivamente não era por causa do divertidíssimo MIB que eu estava reticente com essa terceira parte. O problema era a sequência de 2002, MIIB, ou Homens de Preto 2, equivocada aventura espacial que reunia os agentes do primeiro longa numa história que era, grosso modo, a repetição do primeiro filmes apenas alterando os papéis de pupilo e mentor entre um desmemoriado K e J.
O filme de amarga lembrança não tinha um roteiro decente pra justificar a sucessão de efeitos visuais de causar convulsão em moleque japonês, e nem mesmo se dignificava a ser uma Sessão da Tarde decente.
Esse era meu medo com relação à terceira incursão dos Homens de Preto ao celuloide.
Por sorte esse terceiro longa não incorre novamente nos erros do antecessor, e, mesmo sem ser um grande filme (Looooonge disso), ao menos soa mais honesto do que MIIB.
Na trama, com roteiro de Etan Cohen (Não o irmão do Joel, Ethan Cohen, outro Etan Cohen, roteirista de Beavis & Butt-Head, King of The Hill, e dos ótimos Idiocracia e Trovão Tropical) e dirigida novamente por Barry Sonenfeld, um alienígena preso por K em 1969 após uma tentativa frustrada de invadir a Terra escapa da prisão e quer vingança.
Após a fuga, Boris O Animal (Jemaine Clement, sinistramente irreconhecível sob uma ótima maquiagem do papa Rick Baker) vem à Terra e volta no tempo até 69 para matar K antes que ele possa prendê-lo e frustrar seus planos. Ao fazer isso, Boris cria uma fratura no tempo, percebida unicamente por J, que se vê obrigado a perseguir Boris até 1969 e impedí-lo de matar seu futuro parceiro e destruir o planeta.
E aí está o grande fator "refresh" do filme. Em 1969 (Uma ambientação repleta de aliens retrô e com direito até a participação especial de Andy Warhol, o Agente W interpretado por Bill Hader) J se vê obrigado a trabalhar junto com uma versão mais jovem de K (Josh Brolin) para impedir os planos de Boris enquanto salva seu mentor.
Will Smith não é um super astro à toa, ele consegue segurar um filme nas costas na base do carisma e talento, Tommy Lee Jones, nesse filme mais coadjuvante do que nunca, sempre é competente (Menos em Batman Eternamente), mas quem rouba a cena é Brolin. O ator recria os trejeitos a voz e o jeito de falar de Tommy Lee Jones com tanta perfeição que a (ótima) maquiagem que altera suas feições para torná-lo mais parecido com o K titular vira acessório de luxo. Outra adição maneira ao elenco é a agente O, interpretada por Emma Thompson (gatona)na versão 2012, e por Alice Eve (Gatinha) na versão 1969.
MIB³, porém, não não é um filme que vá permanecer na memória da audiência, embora não seja esquecível como seu megalomaníaco antecessor, carece de qualidades pra ser lembrado como foi o primeiro filme da franquia, ainda assim, embora tenha um final excessivamente emotivo, funciona, e, se não vingar como grande produto cinematográfico, ao menos será uma Sessão da Tarde bem maneira.

"Eu te prometi os segredos do universo, nada mais."

Ausência



-Será- Perguntou o Edson - Que tu estava se despedindo de mim?
Ele não estava olhando pra Viviane olhos nos olhos, olhava uma foto dea que tinha no telefone celular, e que aparecia quando ela ligava pra ele. Pensou com alguma tristeza que jamais vira aquela foto acompanhada da música que estava ligada àquela foto e ao número dela, "Moonriver" e prenunciando ouví-la ao telefone... Sorriu tristemente.
-É claro que estava - Respondeu a si próprio. -Tu te despediu de mim naquela vez em que me pediu que não te procurasse mais. Em que me tirou da tua vida... Será que tu está feliz? - Quis saber. -Será que já tem uma pessoa no lugar que podia ser meu se eu não fosse um idiota? Será que ele te trata bem como tu merece? Será que ele te deu umas cobertas novas pra te proteger desse frio polar que tá fazendo? Será que ele aprende coisas contigo como eu aprendi? Será que ele pensa em ti tanto quanto eu? Claro que sim... A menos que ele seja um completo imbecil, é óbvio que sim... É claro que sim... É natural.
Fez menção de guardar o telefone, mas estava se especializando em tortura chinesa, auto flagelo, de modo que anes de fazer isso, apertou uma tecla no telefone, e ouviu enquanto ecoavam as primeiras notas da canção de Henry Mancini.E morreu mais um pouquinho por dentro.

quarta-feira, 6 de junho de 2012

Sem Sentido



Acordou-se em cima de um ganso enorme. Enorme mesmo, maior do que uma cama. Sentou-se sobressaltado ao perceber aquela ave imensa onde jazia. O pássaro o olhou de volta e apontou para uma porta em pé no meio de uma névoa cinza. Ele se levantou com dificuldade e calçou um par de coturnos roxos e uma camiseta do time de basquete Orlando Magic. Não vestiu calças, continuou apenas com a cueca samba-canção do Homem-Aranha. Andou pensando no ridículo da sua veste até a porta apontada pelo ganso e a abriu. Do outro lado havia uma sala escura exceto pela luz fraca que entrava pelas frestas das tábuas que cobriam a única janela do ambiente. Por alguma razão aquela sala parecia familiar... Ele não sabia o porquê... Havia em um canto um pufe em forma de demônio e no outro uma TV onde passava um jogo de futebol. O jogo parecia a final da Copa do Mundo de 90, entre Argentina e Alemanha, mas ao invés da narração estava tocando em alto e bom som o tema do Programa Sílvio Santos... "Agora é hora, de alegria, vamos sorrir e cantar, do Mundo nada se leva...", mas estava errado... Não era o ritmo certo, e não era "do mundo não se leva nada"?... Ouviu um rádio onde o presidente João Batista Figueiredo discursava em coreano... Ele nem sabia que o Figueiredo falava coreano. Era criança demais quando Figueiredo foi presidente... Arrancou uma das tábuas da janela e olhou pra rua, um leviatã flutuava entre os prédios anunciando uma promoção de sorvete caseiro e ele estava atrasado pra jantar com o conde...
Acordou-se novamente, agora em sua própria cama, encolhido de frio pois sua coberta deslizara e caíra no chão. Lembrou-se da última vez em que havia despertado assim, cm tanto frio e descoberto. Havia sido ao lado dela. Ela não apenas o havia deixado praticamente nu sem cobertor como também dormia com o ventilador ligado no inverno. Ele lembrava de ter despertado com as mãos dormentes de tanto frio. Lembrava-se também de não ter ficado bravo nem ofendido. Achou graça... Achou que valia a pena a ameaça de hipotermia... Ao lado dela tudo fazia sentido. E longe dela, era como o sonho do qual ele havia despertado e a imagem da postagem:
Sem significado algum.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Resenha Cinema: Branca de Neve e o Caçador




Não há mais espaço para princesas na cultura pop de hoje em dia. O feminismo, que como certa feita explicou a Chiquinha ao Chaves consiste em as mulheres saírem para trabalhar e os homens terem os filhos, eliminou a figura da mulher dócil e feminina que precisa de auxílio masculino. A realeza perdeu o valor, e nenhuma menina sonha com príncipes encantados. Embora muitas comédias românticas e Stephanie Meyer e sua Saga Crepúsculo ainda acenem com essa figura da mulher submissa e dependente que vive pra amar o seu homem (Ou vampiro emo de aparência sexualmente ambígua), a real é que em quase todas as partes, essa expressão da mulher como figura submissa e sem vida própria exceto em nome do amor é um conceito que vem sendo abandonado por todas as expressões culturais recentes em nome das mulheres fortes e que são capazes de descascar um pepino (no bom sentido, é claro) sem precisar pedir socorro a homem nenhum. Tá aí a Viúva Negra de Os Vingadores, a Mulher Gato do vindouro Batman, a Selena de Anjos da Noite, a Lady Marion do último Robin Hood e até a Anne de Missão Madrinha de Casamento pra provar.
Esse Branca de Neve e o Caçador tenta se perfilar nessa nova onda das mulheres fortes. Não deixa de ser irônico que a protagonista seja justamente a Bella de Crepúsculo que na franquia dos vampiremos só vive pra amar seu morto-vivo. De qualquer forma, esse Branca de Neve e o Caçador afirma se voltar à origem da história baseada na tradição oral européia dos irmãos Grimm, e mostra uma versão bem mais sombria (Uh, uma versão sombria de uma história consagrada? Que original!) do conto que vimos na primeira animação em longa metragem da Disney, mas conta, a grosso modo, a mesma história:
Branca de Neve (Kristen Stewart) é uma princesa linda e gentil, filha órfã de mãe de um rei bom e justo. Esse rei enlutado acaba reencontrando o amor ao conhecer Ravenna (Charlize Theron, linda.), mas essa se prova uma má ideia.
Ravenna mata o rei e prende a pequena Branca de Neve em uma torre do castelo onde a mantém por anos enquanto sua magia negra e maldade transformam o outrora belo reino em um abjeto reflexo enegrecido do que havia sido.
Eventualmente Branca de Neve consegue escapar do cativeiro, e fugir para a Floresta das Trevas onde os homens da rainha não são capazes de seguí-la. É onde entra em cena o caçador (Chris Hemsworth, o Thor), único homem capaz de trafegar pela floresta assombrada. Ele é incumbido de encontrar Branca de Neve e devolvê-la à rainha, que deseja matá-la, mas, tocado pela beleza e pureza da jovem, muda de ideia e passa a protegê-la para que ela reúna os inimigos da rainha e retome o trono que lhe é de direito.
O filme tem lá suas qualidades. A maioria delas é visual, o filme tem uma fotografia muito maneira e uma produção caprichada que tenta emular outros épicos de fantasia sombrios (Sem pensar muito, o filme tenta ter cara de O Senhor dos Anéis, A Lenda, As Crônicas de Nárnia e Stardust...). Isso até deixa algumas cenas de batalha com um aspecto interessante mas a verdade é que o longa não tem novidades ou qualidades suficientes pra se manter na memória do espectador até a saída do shopping. Kristen Stewart é uma atriz menos que limitada. Ela tem duas expressões faciais o filme inteiro, e está em cena praticamente o tempo todo. Chris Hemsworth tem carisma é boa-pinta e manda bem nas cenas de ação, mas como esse é um filme sobre "girl power" ele não tem muito o que fazer e Sam Claifin, que interpreta o príncipe William, praticamente não faz nada exceto a cara de brabo em algumas cenas e de coitado em outras, repetindo sua performance chocha de Piratas do Caribe - Navegando Em Águas Misteriosas.
Melhores estão os oito (e não sete) anões, interpretados por bons atores britânicos (Bob Hoskins, Ian McShane, Toby Jones, Nick Frost, Brian Gleeson, Eddie Marsan, Nick Frost e Ray Winstone) como uma gangue de arruaceiros briguentos em miniatura, mas quem manda no filme é Charlize Theron e sua rainha Ravenna. A atriz sul-africana aproveita o background que a personagem recebe do roteiro e torna sua perversa personagem quase simpática, ou ao menos compreensível à audiência. Isso somado ao fato de ela ser, disparado, a melhor intérprete do elenco (e ser linda de morrer) ajuda Branca de Neve e o Caçador a ser um filme menos descartável, mas ainda descartável, afinal de contas, quem é que vai levar a sério um filme onde a Charlize Theron pergunta "existe alguém mais bela do que eu?" e o espelho míope responde que existe e é a Kristen Stewart?
Fala sério, se ainda fosse a Megan Fox...

"Espelho, espelho meu, existe alguém mais bela do que eu?"

domingo, 3 de junho de 2012

Rapidinhas do Capita


E Os Vingadores desbancaram o Harold Potter e a segunda parte das suas relíquias da morte e alcançaram o terceiro posto na lista das dez maiores bilheterias da História do cinema (sem correção inflacionária) atrás apenas dos aparentemente imbatíveis Titanic e Avatar, filmes que só devem ser superados na próxima incursão de James Cameron na cadeira de diretor. Os maiores heróis da Terra merecem, vá...

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O Ivar andou com seu cachorro pelo parque até o coitado ficar com a língua de fora. Levou ele pra tomar agua, então cruzou o parque até um banco, e sentou com o felpudo animal ao seu lado. Enquanto olhava em volta, flagrou-se sendo capaz de ver a loja onde ela trabalhava. Pensou em passar casualmente em frente à loja. Olhar lá pra dentro. Talvez sorrir pra ela... Pesnava tanto no que faria para encontrá-la casualmente que suspirou ao perceber que não saberia agir se de fato a encontrasse. Ficaria tímido, assustado, sem ação? A beijaria no rosto meio sem jeito, tentaria evitar que ela o visse, ou seguiria seus instintos naturais e a abraçaria como se não quisesse largá-la nunca mais?
Ivar não sabia.
Sentado ouvindo a respiração arfante e compassada de seu cachorro ao seu lado, Ivar esquadrinhou a entrada da loja, a escada, a vitrine, e a imaginou lá dentro. Sorrindo, cabelos jogados por cima de um dos ombros desejando boa tarde a um freguês. Lamentou não ter os supersentidos de um Demolidor para poder "vê-la".
Se perguntou se ela saberia... Se ela faria ideia de o quanto ele pensava nela. De o quanto sentia falta dela. De como lhe acalentava receber qualquer notícia, qualquer fagulha, qualquer sopro dela. Se perguntou se ela pensava nele tanto quanto ele pensava nela.
E Ivar sabia que era era impossível.
Tudo o que ele via, tudo o que ele tinha, tudo o que ele era sempre levava sua mente de volta pra ela. Era o jeito de ser das coisas. Era o jeito como as coisas deviam ser.
Levantou do banco, e saguiu seu caminho com o cachorro puxando a guia. Olhou pra porta da loja, seis pistas distante, e sussurrou:
-Até a próxima, meu amor. Bom trabalho, bom resto do dia, durma bem e baita dia, amanhã.

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...E como se já não bastassem todas as qualidades que ele já sabia que ela tinha, ela ainda era telepata... Estranhamente parecia a única explicação plausível.

sábado, 2 de junho de 2012

Rapidinhas do Capita

Assisti a Os Vingadores pela quarta vez, hoje.
Ontem... Sexta-feira, enfim. Levei minha irmã e minha mãe. Filme em 3-D, que nenhuma das duas havia assistido, ainda. A despeito de ter ouvido mais comentários do que gostaria sobre o bíceps do Thor, os olhos do Robert Downey Jr. e a bunda do Capitão América, me diverti outra vez. E superei um recorde pessoal:
O máximo de vezes que havia assistido a um filme no cinema haviam sido 3, com o Homem-Aranha em 2002.
Valeu cada um dos ingressos em cada uma das vezes...

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Em que se pese as mazelas da vida.
Um novo dia sempre vai raiar.
Terá um novo amanhecer.
E basta seguir andando.
Ainda que pareça impossível.
Mesmo que a dor pareça insuportável.
O segredo é não se deixar abater.
Tentar manter as coisas funcionando.
Assistir bons filmes.
Não se deixar levar.
Tocar em frente.
Ouvir os bons conselhos.
E ignorar os maus.
Sorrir quando te desejarem bom dia.
Irritar os amigos gremistas.
Neutralizar as preocupações.
Tolher os maus pendores.
Ordenar as ideias.
Tratar mais um resfriado.
Andar na linha.
Nadar de novo?
Trabalhar duro...
Obedecer as leis.
Aquecer os músculos antes de jogar bola.
Transpirar muito.
Uivar pra lua? Melhor não...
Arejar os casacos de inverno.
Flexionar os joelhos ao erguer peso.
Acreditar em alguma coisa?
Ler bons gibis.
Tratar bem a minha avó.
Ah... E não ler na vertical.

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O Capitão América manda a Viúva Negra fechar o portal aberto pelo Tesseract. O Homem de Ferro pede que ele espere.
"Tony" Grita o Capitão, "Essas coisas continuam saindo!".
"Tem uma bomba vindo em nossa direção", responde Stark, "E eu sei exatamente onde botá-la.".
"Botá-la".
Pois é... O Homem de Ferro também fala "botar". Mas sem charme.