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domingo, 10 de junho de 2012

Tambor



O Luan achava muitas coisas lindas na Roberta. Os cabelos. As pernas. Os olhos. As mãos, os pés, os lábios, as orelhas, braços, ombros...Ele achava a Roberta toda linda. Do começo da unha do dedo mínimo do pé esquerdo até o último fio de cabelo do topo da cabeça dela. Toda linda.
Achava coisas lindas na história que partilhavam, também. Como tudo aconteceu.Como começou, quase ao acaso. E como ganhou proporção, peso, relevância... Achava linda a forma como ela fizera tudo acontecer, sem se deixar abater nem pelas forças da natureza... Mas uma coisa em especial, que ele só percebeu quando colocara tudo a perder...
Ele sempre achou lindo o fato de, ao abraçá-la, sentir o coração dela batendo bem forte e bem alto, quase como um tambor. E ele ficava sentindo aquilo, o coração dela, batendo junto ao próprio peito, e era tão... Era... Ele odiava a breguice daquilo. Mas era como se eles partilhassem um coração só.
E ele, mesmo sendo meio bruto, tosco, mal acabado. Por alguma razão, era capaz de reconhecer a beleza daquilo. De entender a significância daqueles momentos tão caros que eles partilhavam abraçados.
E foi tão estranho pra ele se dar conta, quando a encontrou ao acaso na rua.
Pensou se devia falar ou não com ela. Passou por trás dela com pés macios, apenas para sentir o perfume que ela exalava. Mas sendo ela quem era, tendo ela o poder de lhe tirar com um olhar todos os "olá" e de emudecer todos os "adeus", ele não soube se conter, e precisou cumprimentá-la. Ouvir a sua voz em um lugar que não fosse um podcast, ver seu sorriso ao vivo, direcionado pra si e não em uma foto. Então, mesmo contrariando um pedido direto dela, Luan se aproximou, a cumprimentou, e a abraçou com vontade, como se jamais fosse soltá-la. E só então ele viu, quase ao acaso. Que o coração dele também batia forte, alto, rápido, como um tambor.
Virou e seguiu seu caminho sem se despedir.Apenas afagou-lhe o cabelo e dirigiu-lhe um sorriso. Sentou-se, sem conseguir respirar no cordão da calçada, e amaldiçoou uma vida onde sabia exatamente onde estava sua alma gêmea, mas não podia tê-la em seus Braços. Em seus lábios. Em sua cama. Em seu peito.

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