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segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Aniversários, Serenata e Darth Vader


Estavam sentados, os dois na soleira da porta do prédio. Sorriam, satisfeitos, dizendo bobagem após bobagem. Não se viam a meses, mas eram bons amigos. Muito bons amigos. Daqueles de abrir o coração, dividir todos os temores, vexames, desventuras, aventuras, aspirações e pensamentos.
Foi numa dessas que o Wellington disse:
-Tô a fim de surpreender a nega véia, tá ligado?
-Ah, é? - Quis saber o Rafael. -Qual é a ocasião?
-Nosso aniversário. Tô querendo fazer um negócio legal pra ela, sabe? Tava pensando em dar um presente bem foda pra ela, levar ela pra jantar num lugar bem legal... Se bobear ir a um motel show, depois... - Desenvolveu Wellington, olhando ao longe.
-Nunca fui a motel... - Confessou Rafael.
-Nunca?
-Não... Bom, não motel, motel, mesmo... Desses que são temáticos e tal, feitos pra sacanagem... Já estive em motel de raiz, só.
-Motel de raiz? Que é isso?
-Bueno... Motel é a junção das palavras "motor" e Hotel", em inglês... São hotéis em beira de estrada, feitos só pra pernoitar durante viagens e tal. Nesses eu já estive. Mas em motel, com cama redonda, espelho no teto, hidromassagem, balanço erótico, pista de dança, pau-de-arara e sistema de roldana, não. Nunca fui.
Os dois riram. O Wellington continuou:
-Eu já fui algumas vezes, por isso que tava na pilha de levar a Rubia... É bacana, até, sabe?
-Deve ser... Eu já tive vontade de ir... Queria ir num daqueles malucos, com suíte temática e tal. Queria ir e levar acessórios, até... - Conjecturou o Rafael.
-Acessórios? Mas olha... O que tu ia levar? Corda, vela e chantili?
-Não... Um elmo do Darth Vader... - Confessou o Rafael, baixando a voz.
-Ah, ah, ah, ah, ah, mas que barbaridade, tu queria te fantasiar de Darth Vader e comer tua guria?
Ele ruborizou:
-Não... Na verdade o elmo era pra ela...
-Mas hein?
-Nem me pergunta, tchê, a fantasia é dela, não minha...
Riram bastante. Depois disso ficaram em silêncio mais um tempo. O Wellington puxou o celular e deu uma olhada na internet em preços de joias, restaurantes e motéis.
Suspirou:
-Bah... Vou ter que escolher entre o presente, o restaurante e o motel...
-Só um deles ou dois de três? - Perguntou o Rafael.
Wellington fez um rápido cálculo e respondeu:
-Dependendo de como for, dois de três...
-Então motel e jantar. - Disparou o Rafael.
-Sério? - Quis saber o Wellington, gostando da ideia.
-Claro. - Confirmou o outro. -Um presente maneiro pra ela seria ótimo, mas é o aniversário de vocês, o presente deve ser pra vocês dois. No aniversário dela aí tu dá um presente irado só pra ela. No aniversário de vocês é mais maneiro que vocês dois se divirtam igualmente... - Explicou.
-Hmmm... - Fez Wellington, entendendo. -Tem razão. Se bem que, na merdinha que eu ando, periga eu me divertir muito mais que ela no motel.
-Então tenha certeza de que vai levar ela num restaurante que ela goste muito. - Aconselhou Rafael, arrancando risadas do amigo.
-Já sei! - Disse Wellington, erguendo a mão à cabeça -Vou fazer uma serenata pra ela, é mais barato que comprar joia, roupa ou outra bobagem, e é um mimo só pra ela.
Rafael riu:
-O que tu vai cantar? A música do automobile?
-Não... - Respondeu Wellington, rindo ao lembrar da versão pobre de La Dona E Mobile, que eles cantavam imitando os três tenores na rua quando eram adolescentes -...Tinha que ser uma música que ela gostasse... E que eu pudesse cantar fazendo segunda voz com alguém que soubesse cantar de verdade... E tocar, também...
-Muito trabalho... - Disse Rafael, cenho franzido. -E a sombra do fiasco paira perigosamente sobre essa ideia, jovem padawan.
-Nah... Nada a ver. O que é que tu sabe de serenata, rapá?
-Eu já fiz serenata... Bom, mais ou menos...
-Tu já fez serenata? - Perguntou Wellington, incrédulo.
-Quem aqui, né, amigo? Nunca fez seresta pro amor de sua vida...
Wellington riu.
-Como foi?
-Não... Não foi nada de produzido... Nem sei se dá pra chamar de serenata. Ela não tava na janela e eu na rua cantando, nem nada. Estávamos os dois deitados um do lado do outro, eu cantarolei pra ela uma música.
-Que música? - Quis saber o Wellington, curioso.
-Eye of The Tiger - Respondeu Rafael, tímido.
Wellington gargalhou:
-Putz, velho, tu e essa guria são muito estranhos.
Rafael sorriu, e em silêncio pensou:
É... Somos, mesmo.

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