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quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Desculpe a Frieza...


Ele se sentou na cadeira. Se encostou brevemente, então se remexeu uma vez. Duas, três, até parecer ter encontrado uma posição. Olhou pra frente, tomou fôlego:
-Eu não sou uma pessoa fácil. - Disse ele. -Nunca disse que era. Nunca fingi ser. Sempre assumi de antemão que sou, sim, cheio de manias, de defeitos, de falhas de caráter... Eu erro. Eu piso na bola. E ajo mal que nem todo mundo. Talvez um pouco mais do que a maioria, mas enfim... É do jogo. São mazelas de ser humano, por mais que eu quisesse ser alguma outra coisa. Quando isso acontece, quando eu faço uma basteira, quando eu ferro tudo, eu reconheço, peço desculpas, e é tudo o que eu posso fazer além de me policiar para não errar mais no futuro, ou, pelo menos, não errar igual. Não é lá muito reconfortante, admito, mas é o que a casa oferece, conforme eu deixo bastante explícito desde sempre.
Se ajeitou na cadeira. Descruzou a perna, apoiou os cotovelos sobre as coxas. Continuou:
-Eu imagino que não é fácil. Imagino que deva ser complicado conviver, ainda que pouco, com alguém assim. Deve ser uma coleção variada de frustrações e decepções consideráveis, e por isso, eu lamento. Lamento porque sou um sujeito de disposições tortas. Lamento porque sou uma criatura excessivamente transparente nos meus maus humores e opaco em demasia nos meus bons momentos. Lamento porque tenho uma tendência severa a deixar pra lá tudo aquilo que considero de pouca importância e levar à ponta de faca as coisas que considero essenciais. E aqui, abro um parêntese pra te fazer um elogio. Toda a vez que eu me indisponho ou me magoo contigo, é um temporal. E isso mostra o quanto eu te considero importante. Sei, claro, que isso não arrefece os desgostos pelos quais te fiz passar. Sei, também, que foram muitos e muito pesados, reconheço.
Endireitou-se, deixando as costas retas. Espalmou as mãos sobre os joelhos:
-Eu reconheço meus defeitos. Todos eles. Mas é assim que é. Quando eu estou triste, me emburro. Quando estou magoado, não sei parecer bem. Não sei fingir sorrisos quando estou com raiva ou triste, lamento. Da mesma forma, quando sou tratado com frieza ou com distância, me afasto. Dou espaço, dou tempo, saio de perto. Meus sentimentos não são repletos de variação. Se eu amei ontem, te garanto que ainda amo hoje e que continuarei amando amanhã, e talvez, por isso, mesmo, eu não entenda a inconstância. Eu não sei como agir quando sou destratado num dia, e acariciado no outro, levo um tempo para me adequar às mudanças climáticas, por assim dizer.
Então, me desculpe a frieza, não é falta de apreço, apenas de compreensão.

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