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sábado, 27 de setembro de 2014

Resenha DVD: O Teorema Zer0


Graças a Odin existe Terry Gilliam. Se não fosse o ex-Monty Python norte-americano, provavelmente nenhum outro diretor/roteirista/produtor teria tido coragem de tirar do papel coisas como Brazil - O Filme, O Pescador de Ilusões, Os 12 Macacos... Gilliam é tão acima da média que perdoamos até mesmo suas escorregadas, ou seus filmes que o destino tratou de avacalhar, como Irmãos Grimm (que sofreu com a mão pesada dos irmãos Weinstein na produção após perder o financiamento da MGM), O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus, totalmente modificado pela morte do protagonista Heath Ledger, e, talvez o mais famoso testemunho do azar de Gilliam, O Homem que Matou Dom Quixote, atrasado em anos por conta de um furacão quando começava a tomar forma(e que agora deve, finalmente, ver a luz do dia...).
Então, esse diretor mezzo cineasta, mezzo cientista louco, continua, meio aos trancos e barrancos, fazendo seus filmes que, volta e meia, o público não tem paciência pra tentar entender, o que provavelmente será o caso desse O Teorema Zer0.
O longa se passa em um futuro não especificado, numa Londres cyberpunk onde Qohen Leth (Christoph Waltz, ótimo como sempre...), funcionário de uma empresa de processamento de dados e recluso antissocial em potencial, leva sua vida de casa (a igreja abandonada onde mora) para seu cubículo na Mancom.
Qohen não está feliz. Trabalhando com um supervisor que parece nem mesmo saber seu nome, o trabalho obriga Qohen a sair de casa, e apenas em casa Qohen pode receber a ligação pela qual anseia. O telefonema de uma esfera superior que lhe dirá qual é o sentido da vida.
Temendo perder esse telefonema fundamental, Qohen tenta, sem sucesso, trabalhar em casa por deficiência, mas seu pedido é indeferido pela (hilária) junta médica.
Resta a Qohen levar seu pedido à Gerência em pessoa, o que ele consegue em uma festa de seu supervisor Joby (David Thewlis, que parece ter nascido pra fazer parte do Monty Python). A Gerência (Matt Damon), inicialmente parece não levar o pedido de Qohen em consideração, taxando-o de insano, mas acaba por lhe passar uma incumbência que ele poderá realizar em casa:
A conclusão do teorema Zero do título.
Uma equação que comprovará que toda a vida é acidental e sem sentido.
Para auxiliar Qohen a não enlouquecer em sua busca pela resolução do teorema, surgem a bela Bainsley (Mélanie Thierry, exalando uma sensualidade de pin-up), e o jovem Bob (Lucas Hedges), filho da Gerência.
Enquanto luta contra seus próprios fantasmas utilizando o programa psiquiátrico (uma hilária e quase irreconhecível Tilda Swinton), Qohen vê sua vida mudar conforme é obrigado a socializar, ao mesmo tempo em que seu trabalho o força a tentar provar seu maior medo.
Não vou mentir.
O Teorema Zer0 não é filme pra todas as audiências, o que, diga-se de passagem, é meio que regra pra filmografia de Gilliam inteira, mas ainda assim, funciona.
Ao mesmo tempo em que brinca com seus tradicionais fetiches, que vão do cenário perdido entre o futurista e o retrô, ao tema da vigilância do Estado sobre o cidadão, e a luta solitária do ente desajustado contra a "máquina estabelecida", Gilliam acrescenta à sua mistura o isolamento que a interconectividade sem intervalos cria (na festa de Joby os convidados dançam e andam pra lá e pra cá sempre carregando tablets, e a bela Bainsley não faz sexo, exceto se for virtual), e piadas ligeiras com ícones pop como Matrix e a Igreja do Batman Redentor, Gilliam conta com um elenco engajado pra mostrar que ainda que a humanidade anseie por isolamento, o faz porque tem a certeza de ser especial e fazer parte de algo maior, exatamente como faz Qohen, que deseja ser absolutamente sozinho enquanto espera um recado de Deus lhe dizendo o sentido da vida, e refere-se a si próprio no plural.
Com mais um trabalho muito acima da média de Waltz, fácil, um dos melhores atores em atividade no cinema, Gilliam pode não ter reencontrado sua melhor forma, ainda, mas certamente deu mais um passo na direção certa.
Quem sabe com O Homem que Matou Dom Quixote?

"Esperando A Ligação. Que outra razão existe para atender o telefone?"

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Resenha Cinema: O Protetor


Chlöe Grace Mortez é um bom motivo pra ver um filme. Ela é jovem, bonita e talentosa, três qualidades que, ultimamente, andam difíceis de encontrar numa mesma pessoa, e é por essas e outras que fui assistir Se Eu Ficar duas semanas atrás.
Dito isso, vou confessar que não foi o nome da Hit-Girl quem me fez ir ao cinema assistir a adaptação da série The Equalizer (que o pai do Jordan Belfort adorava em O Lobo de Wall Street), O Protetor.
Não...
O motivo pra eu ir ao cinema foi Denzel Washington. E não apenas por que Denzel é baita ator, nomeado a Oscars e parece ser um sujeito gente-boa. Nada disso.
Foi porque Denzel é um dos poucos sujeitos do cinema que sabe interpretar um sujeito fodelão sem perder a ternura ou deixar de ser convincente. Nego tem que passar muita segurança pra andar tranquilamente pra longe de uma explosão de proporções cataclísmicas sem parecer ridículo, e Denzel Washington consegue passar isso à audiência.
Em O Protetor, que reúne Washington e Antoine Fuqua dupla do premiado Dia de Treinamento, Denzel vive Robert McCall, um sujeito tranquilo e modesto que tenta levar uma vida normal trabalhando em uma loja Home Mart, ajudando seus colegas, como o gordinho que sonha em se tornar guarda-de-segurança Ralphie (Johnny Skourtis), e gosta de ler livros tarde da noite bebendo chá em uma lanchonete que funciona 24 horas.
É nessa lanchonete que Robert conhece e inicia uma amizade distante com a jovem prostituta Teri (Chlöe Grace). Teri, na verdade se chama Alina, e se prostitui apesar da pouca idade para um serviço de acompanhantes comandado pelo russo Slavi (David Meunier).
Slavi não é um patrão dos mais compreensivos, e após Alina ter uma altercação com um cliente particularmente repulsivo, ele e seus capangas a espancam violentamente, colocando-a no hospital.
O brutal ataque à jovem, faz com que Robert reviva seu misterioso passado como um operativo da CIA, e use seus conhecimentos e habilidades para, primeiro negociar a liberdade de Alina, e, quando isso falha, obtê-la à força.
O que McCall não sabia é que Slavi e seu serviço de scort eram apenas um ramo do vasto império criminosos de Vladimir Pushkin (Vladimir Kulich), um chefão russo que lucra com toda a variedade de crime nos Estados Unidos, que envia o perverso Teddy (Marton Csokas), um sádico e obstinado ex-operativo Spetsnaz, para descobrir o que houve com Slavi e seus capangas, colocando Robert na mira de toda a máfia russa.
É divertidíssimo.
Embora tenha alguns longos momentos com ritmo excessivamente lento, O Protetor se redime nos momentos em que efetivamente há ação. Além disso, mesmo com ritmo lento é bacana ver Washington atuando, especialmente quando divide a cena com Chlöe Grace Moretz, cuja participação é curta, mas mais longa que as de Bill Pullman e Melissa Leo, que fazem pontas ligeirinhas. Ainda que seu Robert McCall seja basicamente o mesmo personagem que Denzel interpretou em Chamas da Vingança, Protegendo o Inimigo e Dose Dupla, que diabos, o homem tem quase 60 anos e manja, então, deixa ele repetir o papel quantas vezes quiser...
Além da atuação (meio preguiçosa) de Washington, pode-se destacar Marton Csokas, achando um tom bacana para seu vilão mau e horrível, também parecendo se divertir com a afetação do psicopata, mas sem o exagero de seu Ashley Kafka em O Espetacular Homem-Aranha 2.
Juntando Denzel, uma bandidagem escrota pra ele usar como pano-de-chão, um saca-rolhas e um martelo pneumático (oh, oh, oh, oh...), O Prptetor não tem erro. É diversão garantida, e dinheiro do ingresso muitíssimo bem empregado.
Assista no cinema.

"Quando você olha pra mim, o que você vê?"

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Resenha Game: FIFA 15


Eu não nasci FIFeiro, já disse por aqui, antes. Houve um tempo em que cuspia na cara da franquia da EA Sports e jogava faceiro Superstar Soccer da japonesa Konami com um sorriso no rosto. Apenas quando me vi órfão da franquia futebolística com um Nintendo Game Cube foi que me vi forçado a migrar, e muito, mas muito a contragosto, lá em meados de 2002.
Levei tempo pra me acostumar, e mais ainda pra gostar do jogo, mas a verdade é que, passado o choque inicial, fica fácil se afeiçoar à série FIFA, especialmente porque eu acompanhei de perto o maior salto evolucionário da qualidade da série.
Entre 2008 e 2014, FIFA sapateou em cima de PES de maneira quase absoluta, tanto que, hoje em dia, só quem segue bradando aos quatro ventos que Pro Evolution Soccer é melhor, são os fãs decanos da série, que passaram os últimos anos aprendendo as sequências de botões que fazem os dribles e se afeiçoaram à velocidade supersônica de atacantes imparáveis e a goleiros com graves problemas de labirinto.
A supremacia de FIFA é tão absoluta que em mais de uma oportunidade nos últimos anos, PES chegou a abrir mão de seu perfil arcade tentando abraçar mais características de simulador à exemplo da série da EA Canadá, em games que não funcionaram emulando a realidade do jogo como FIFA e ainda desagradaram os fãs de longa data da série, enquanto FIFA continuava reinando soberano no mundo inteiro.
Dois dias atrás comprei via PSN a versão mais recente da série da Eletronic Arts, FIFA 15, e após duas madrugadas de intensa jogatina, já tenho como fazer um review do game.
A ele.
FIFA 15 é, a exemplo do que vem acontecido nos últimos anos, pouco mais do que uma versão sensivelmente atualizada do game do ano anterior. Sem ter jogado a versão de PS3, não posso afirmar quanto do disparate visual do jogo é efeito unicamente do engine gráfico turbinado do PS4 e quanto é novidade a ser sentida por todos os jogadores de FIFA 15 em qualquer plataforma. A parte gráfica, por sinal, é um absurdo. Os uniformes nunca foram tão vivos, os jogadores nunca foram tão reativos e cheios de expressão, quando se puxa a camiseta do atacante, ela estica, quando o goleiro rola no chão, ele se suja, e, ao rolar de novo alguns minutos depois, ele se suja mais.
Se todos os jogadores estão com uma movimentação mais suave e verdadeira, com centros de gravidade diferentes de um atleta para o outro, e com seu peso influenciando sua capacidade de driblar ou vencer uma disputa corpo-a-corpo, os goleiros são um capítulo à parte.
Todos os arqueiros do game ganharam um vasto rol de movimentos belíssimos e extremamente verossímeis. Esqueça as pontes mecânicas dos últimos anos, quando, independente do tipo de chute ou de onde o goleiro estava posicionado, ele simplesmente mergulhava para um lado. Os goleiros estão tremendamente vivos, dão saltos, mergulhos ou pontes diferentes para cada tipo de finalização, são surpreendidos por chutes à queima-roupa, ou traídos por bolas desviadas, mas reagem a esses percalços com movimentos brilhantemente animados num festival de defesas pra ver em câmera lenta.
Aí, por sinal, pode estar o primeiro problema de FIFA 15.
Os replays...
Obviamente a parte gráfica do jogo foi feita com esmero. Movimentos, caretas, cumprimentos dos jogadores... Tudo isso está perfeito, e os desenvolvedores parecem se orgulhar tanto disso, que encheram o jogo com animações. Antes da cobrança de escanteio, antes da batida de falta, na hora das substituições, até na hora de bater o tiro de meta... Tudo tem uma bela animação antes de acontecer, com o jogador ajeitando a bola, pisando no chão diante dela, sinalizando pra quem recebe... TUDO. E, por mais bonito que o game seja, à certa altura isso enche um pouco o saco à medida em que tira o dinamismo do jogo.
Quando tu está vencendo o Sheffield Wednesday por 5 x 0 pela copa da liga inglesa, tu até pode se dar ao luxo de olhar todas as animações, mas perdendo por 3 x 2 pro Chelsea num jogo encardido da Premier League, tu quer mais é fazer a bola correr e furar o ônibus estacionado na frente do gol do adversário.
Por sinal, a "inteligência emocional" é outro atrativo para a nova versão. Os jogadores sentem a pressão do jogo, e os mais verdes se tornam propensos a cometer erros grosseiros, como errar o domínio, ou perder a passada perto da linha lateral, mas em momentos de grande pressão, até mesmo goleiros experientes podem frangar feio quando o jogo está por um fio e o adversário promove uma blitz no teu campo defensivo, faceta do game que deixou claro, ao menos pra mim, que eu não me defendo tão bem quanto imaginava...
As blitzes, aliás, se tornam frequentes de parte a parte conforme todos os times naturalmente se encolhem quando têm o placar a seu favor, resultando em viradas costumeiras no apagar das luzes pra quem sabe explorar os eventuais espaços, ou consegue furar os bloqueios defensivos, com dez defensores dentro da área adversária se atirando na frente da bola de tudo quanto é jeito num exercício de paciência pra quem se acostumou a ter um atacante ou meia veloz, jogar na frente e sair pro abraço já que, na nova versão, o tempo do drible, e a habilidade de executá-lo em espaço curto, acaba se tornando tão ou mais crucial do que a velocidade dos homens de frente.
Igualmente crucial é manter a posse da bola, fazendo coro com o que dizem todos os treinadores do Brasil, com a bola no pé, tu não é (muito) acossado pelo adversário, e, se tu está no comando de um time que sabe jogar, é até prazeroso acompanhar a troca de passes entre os teus jogadores. Ao perder a bola, porém, o bicho pega, e não é raro ver a tua defesa toda desarrumada não importa o quanto tu te esforce pra mantê-la na linha.
O modo Carreira, meu favorito, continua muito bom, sem grandes alterações com relação à versão passada. Ultimate Team, o preferido dos fãs pelo mundo, ganhou a possibilidade de emprestar jogadores, o que pode ser útil pra quem não tem grana pra comprar um Messi da vida, mas acha que tê-lo no time por um curto período pode fazer a diferença. Em ambas a parte tática foi aprimorada, o adendo mais interessante é a possibilidade de deixar diversas formações de time "engatilhadas", e mudá-las rapidamente durante o jogo, uma mão na roda comparado à versão anterior, onde era necessário preparar os planos de jogo antes de cada partida.
Outra opção maneira é o Match Day Live, que dá notícias e números do time favorito do jogador, deixando todo mundo ainda mais enojado com a decisão da EA (e a ausência de uma liga por aqui pra negociar os acordos) de cortar times brasileiros do game.
Em termos de som, a narração de Martin Tyler e os comentários de Allan Smith seguem ótimos, jogar a Premier League ouvindo a dupla é uma aula de História do futebol inglês, tamanha a variedade de comentários e histórias que os dois partilham, mas isso também ocorre (em muito menor escala) nas demais grandes ligas europeias, pra quem tem paciência de Jó, o animador de auditório Thiago Leifert narra com companhia de Caio Ribeiro na versão em português, e mesmo os dois xaropões têm algumas historinhas pra contar sobre o futebol europeu. Os cantos da torcida são de fazer chorar de tão vívidos, e, diga-se de passagem, a torcida também ganhou um tapa visual espertíssimo, deixando de ser um bloco de bonecos que sentam e levantam para ganhar profundidade, caras e formas novas, tudo muito bonito.
Em suma, FIFA 15 é ótimo, mas não é perfeito, e, por enqanto, segue sendo o melhor simulador/game de futebol do mercado.
Como o DEMO de PES ainda não deu as caras, e o game só será lançado mais adiante no ano, fica a dúvida se a Konami vai cumprir a promessa e entregar um game de futebol com o qual ninguém será capaz de competir, até lá, FIFA ainda é dono do caneco.

"Sinta o jogo"

terça-feira, 23 de setembro de 2014

"Ela" ou "Nós"?


-Mas e aí? - Ela perguntou esticando os braços pra frente. -Como é que tu passou o final de semana?
-Passei bem, e tu? - Ele respondeu, dando um abraço bem apertado nela.
-Bem, também. Fui pra Two Brothers. - Ela respondeu sorrindo e se desvencilhando do abraço dele.
Ele riu. Ela e ele faziam isso. Chamavam todas as cidades do interior por versões traduzidas de seus nomes. As vezes muito mal traduzidas, como Carazinho, que virava "Little Guy", e Espumoso, que virava "Foamy".
Ele continuou a conversa:
-E como estava a parentada?
-Ah... Aquela coisa toda de sempre. Mas bem bom. Eu sinto falta... Tu sabe...
-Zin, Zin, Zalabina... - Ele respondeu enquanto estendia a mão fazendo sinal para ela entrar no do restaurante.
-E tu? - Ela perguntou, após consultá-lo com os olhos a respeito da mesa em que deveriam sentar.
-Tudo na paz. Joguei RPG, videogame e futebol. - Ele respondeu enquanto puxava a cadeira dela. -Não necessariamente nessa ordem. - Acrescentou.
O garçom assomou sorridente, entregando os cardápios a ambos. Ela, de pronto, disse que queria um temaki, ele observou as figuras na folha plastificada por alguns segundos até se decidir por um combinado de salmão médio, escolhido mais pelo tamanho que tornava possível comer o prato em cerca de meia hora, o que garantia que a refeição coubesse no horário de almoço exíguo dele, do que por qualquer outra coisa.
Pediram as bebidas, ela Pepsi, ele Soda Limonada, e se puseram a esperar que os pedidos fossem atendidos.
-Tu tá muito bem... - Ele disse, cenho franzido, após olhar pra ela longamente.
Ela não respondeu. Deu um meio sorriso e fez uma careta de quem achou estranho.
-Sério. - Ele insistiu. -Tu tá muito bem... Tá bonita...
-Ah, normalmente eu sou feia? - Ela perguntou caindo na gargalhada.
-Não, besta... Mas tá diferente... Quase excessivo...
Ela riu.
-Tu não é lá muito bom nisso, mas obrigada pelo elogio. - Ela respondeu com pouco caso enquanto enchia o copo de refrigerante até a borda e pousava o nariz brevemente em cima dele.
Ele continuava olhando pra ela.
-Ai, para, "hôme" bobo! Tá me deixando angustiada... - Ela protestou.
-Tá, desculpa... Mas tu realmente tá muito bonita... Tá... Sei lá... Vistosa. Com um... Viço. Não sei... Tu... Tu tá apaixonada? Tá namorando...?
Ela se incomodou com a pergunta:
-Eu só fico viçosa e bonita quando tô namorando?
-Não... Não... É só... Sei lá. Normalmente quando tu tá apaixonada ou... Enfim... Tu fica mais radiante. Só isso.
-Então - Ela disse, baixando o copo sobre a mesa -Tu quer saber se eu dei pra alguém? É isso?
-Não. - Ele respondeu muito sério. -Não é da minha conta.
Ficaram os dois em silêncio por algum tempo. Ela, sabendo que quando ele se emburrava a coisa ia longe, resolveu ser a melhor pessoa e quebrar o gelo:
-Porque eu não dei...
-Quê? - Ele perguntou, fingindo não ter entendido, mas sabendo exatamente do que ela estava falando.
-Eu não saí com ninguém. Nem tô apaixonada. Nem nada do tipo... Esse viço e essa qualidade radiante devem ser fruto do meu final de semana em família... Não fui pra lá pra encontrar ex-namorados. Isso eu faço aqui. Nem procurar um novo...
-Isso tu faz onde? - Ele perguntou sorrindo, tentando deixar claro que era brincadeira, uma tentativa de deixar a conversa mais leve.
-Eu não faço. - Ela disse. -Não agora. Não tô no pique. Fiquei namorando pelas razões erradas por muito tempo. Não preciso disso. Me viro sozinha. "Eu me basto", como me disse, certa vez, o nerd meia-boca mais autoconfiante do mundo.
Ele sorriu ao reconhecer a frase.
-Bom... Pelo menos quando tu diz que se basta faz sentido...
Ela sorriu. Puxou uma perna pra cima da cadeira e poiou o queixo no joelho.
-É engraçado, não é? A gente fala e faz tanta coisa... Acho que todo mundo, no fundo, acredita que tem um grande amor pra viver por aí... Mas a real é que o amor da nossa vida, no final das contas, é a gente mesmo e só...
O garçom assomou, colocando o cone de algas e peixe cru diante dela, e uma pequena bandeja preta repleta de sushis variados diante dele. As duas tigelinhas para o shoyu, os hashis, e se retirou.
Ele abriu o envelope de plástico dentro da qual estavam os palitinhos, mas parou:
-Sabe... -Eu acho que o senso de auto-preservação é muito forte na gente... E acredito que, pra maioria de nós... Ele fala mais alto. Mas... Sabe... Hoje mesmo, eu vi a notícia de um moleque que entrou na jaula de um tigre na Índia, e acabou sendo comido pelo bicho. Isso, por si só, comprova que nem todo mundo tem esse senso de auto proteção tão desenvolvido... De uma forma ou de outra... A questão que eu quero te expôr é que... Sabe, eu não acho que o amor da tua vida possa ser tu mesmo... Pra mim, o amor da nossa vida, é aquela pessoa que nos encoraja a abrir mão da auto-preservação. É a pessoa que te encoraja a fazer o possível e o impossível pra fazer ela feliz. Que te incita a mover mundos e fundos pra estar com ela, e ser tudo o que ela precisa. Isso é o amor da tua vida.
Ela o encarou.
-Entendi... - Ela mordeu o lábio inferior. -Mas... Deixa eu te perguntar uma coisa: E se o amor da tua vida faz tudo isso... O quê explicaria tu mandar ela embora? Tu ser o amor da vida dela, e ela não ser o da tua?
Ele fechou a cara num bico... As sobrancelhas denunciando o desgosto. Engoliu em seco enquanto pegava os hashis com a mão esquerda e apanhava uma fatia de sashimi. Enquanto levava a peça à boca, deteve-se:
-Talvez tu soubesse que ela era o amor da tua vida, mas ao mesmo tempo entendesse que não era a pessoa de quem ela precisava. Aí, tu faz o sacrifício. Tu entra na cova dos leões, e abre mão da tua felicidade em nome da dela. Tu sabe que ela é o amor da tua vida, quando "ela" é mais importante que "nós".
Ela não disse nada. Ficou séria olhando o temaki. Mas ele não queria deixá-la triste, então ergueu o copo e propôs um brinde "à essa merda toda.".
Ao que ela correspondeu erguendo o copo e sorrindo.
No final das contas, sobreviveriam os dois. Eram bons nisso.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Resenha Cinema: Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola


A comédia, ao contrário do drama, não é um estilo universal. Se no drama, qualquer ser humano que não seja um psicopata se sente tocado pela dor alheia e é capaz de chorar por conta da empatia com outra criatura viva, a comédia é muito mais subjetiva e particular.
O que faz uma pessoa rir, não vai necessariamente fazer outra. A prova mais cabal disso é que Zorra Total continua no ar a uns bons quinze anos, e não está na grade de sábado à noite da Globobo de graça. Alguém efetivamente assiste aquilo, e acha engraçado.
Eu acho Marcelo Adnet e Danilo Gentili absolutamente sem graça, mas os dois são comediantes de sucesso. E o mesmo vale para todos os caras do CQC, do Pânico e do A Praça é Nossa.
Eu achava Chico Anysio muito engraçado, os textos cômicos de Luís Fernando Veríssimo, a comédia boba de Jim Carrey, Will Ferrel, Steve Carrell, Jack Black, Jerry Seinfeld, acho todos hilários, mas Adam Sandler e Leandro Hassum me irritam muito mais do que me fazem rir... E por aí nós percebemos como humor é algo particular.
Isso talvez explique o fato de nem todo mundo gostar de Uma Família da Pesada e American Dad, duas séries animadas que me fazem chorar de rir num dia bom e apenas rir em qualquer dia.
O humor de Seth McFarlane, produtor das séries, não é dos mais amigáveis. É, na maior parte do tempo, escatológico e ofensivo, mas também recheado de referências à cultura pop em geral, e à cultura nerd em particular, de modo que não fala à todas as audiências.
Isso talvez explique o atraso do último filme de McFarlane (Que além de produtor de séries animadas é dublador, roteirista e diretor, sendo o responsável pela boa comédia Ted, do ursinho de pelúcia maconheiro) para chegar ao Brasil.
Um Milhão de Maneiras de Pegar na Pistola (um dos títulos brasileiros mais imbecis, estúpidos, idiotas e fedorentos da história do cinema) conta a história de Albert Stark (McFarlane), um pastor de ovelhas do velho oeste conhecido por sua covardia.
Após pagar para escapar de um duelo, Albert é abandonado por sua namorada, Louise (Amanda Seifired), que, apesar de pedir um tempo para ficar sozinha, imediatamente começa a ser cortejada por Foy (Neil Patrick Harris de Ho I Met Your Mother), dono da loja de bigodes local.
Desiludido, Albert confessa a seus melhores amigos, o sapateiro Edward (Giovanni Ribisi) e a prostituta Ruth (Sarah Silverman), que pretende se mudar para São Francisco e começar uma vida nova longe dos perigos do oeste selvagem, onde, em cada esquina há algo tentando matá-lo.
Sua decisão, porém, é adiada pela chegada da misteriosa Anna (Charlize Theron), uma bela mulher com um passado sombrio e dona de uma improvável habilidade com armas.
Anna reconhece em Albert um pouco da própria inquietação com o estilo de vida da fronteira, e se dispõe a ajudá-lo a reconquistar Louise.
Pbviamente, as duas almas inquietas começam a se apaixonar durante o processo, que pode acabar muito mal para Albert, já que Anna, na verdade, é esposa do notório pistoleiro e fora-da-lei Clinch (Liam Neeson), que está chegando à cidade.
O filme é hilário.
Muito mais próximo do estilo de McFarlane na TV do que o comedido Ted, Um Milhão de Maneiras de Morrer no Oeste é um prato cheio dos elementos que fazem a alegria dos fãs de McFarlane.
As referências (De De Volta Para o Futuro III a Django Livre) estão espalhadas por todo o filme, os momentos escatológicos são tão engraçados quanto ofensivos, e todo o elenco tem chance de fazer graça, inclusive comediantes improváveis como Charlize Theron e Liam Neeson.
O roteiro de Weslleley Wild, Alec Sulkin e do próprio McFarlane é uma metralhadora giratória de piadas, o que significa que nem todas acertam o alvo, mas com a quantidade, faz seu estrago ao apanhar uma história absolutamente banal de amor entre análogos (e a velha utopia nerd do sujeito que é chutado pela megera para encontrar o amor da menina mais legal do universo logo na sequência), situá-la no oeste selvagem, e transformar isso numa comédia de absurdos com direito a números musicais e ovelhas falando com a voz de Patrick Stewart.
Eu diria que é impossível não rir. Mas, como eu disse lá em cima, humor é muito subjetivo. Na dúvida, vá ao cinema, assista e tire suas conclusões, mas, pra mim, o humor de McFarlane é sempre tiro certo.

"-Eu não sou um herói. Eu sou o cara na multidão tirando sarro da camisa do herói, esse sou eu!"

Resenha DVD: A Culpa é das Estrelas


Foi uma semana de encolher as gônadas.
Sábado assisti Se Eu Ficar, e ontem, A Culpa é das Estrelas... Poderia ser um experimento científico visando descobrir quantas histórias de adolescentes moribundas um heterossexual convicto consegue assistir antes de começar a guardar meio nutry pra mais tarde e beber caipifruta na balada, mas não... Foi mera coincidência.
E, a verdade, é que em se tratando dos filmes enquanto filmes, eu achei A Culpa é das Estrelas mais competente do que Se Eu Ficar...
Na história conhecemos Hazel Grace Lancaster (Shailene Woodley), uma adolescente de dezesseis anos que sofre de câncer nível 4 na tireoide com metástase se formando nos pulmões, mas, graças a um tratamento experimental que funciona em uma pequena parcela de pacientes, foi capaz de sobreviver, e seguir sua vida com algumas limitações, sendo a principal delas, a baixa capacidade pulmonar que a força a andar carregando um tanque de oxigênio onde quer que vá.
A pedido de seus pais, Frannie e Michael (Laura Dern e Sam Trammell), que a julgam deprimida, Hazel começa a frequentar um grupo de apoio a doentes de câncer. É lá que conhece Augustus Waters (Ansel Elgort), jovem nerd de dezoito anos sobrevivente de um câncer que lhe custou parte da perna, e que, imediatamente, começa a arrastar a asa para cima dela.
Inicialmente reticente com a ideia, Hazel acaba cedendo à insistência do moleque, e eles se tornam bons amigos, ainda que Augustus queira mais.
Conforme passam os dias trocando preferências, jogando videogame, lendo livros e assistindo filmes, Augustus começa a encontrar o caminho ao coração de Hazel, que continua resistindo a medida em que teme o que sua morte vá causar nas pessoas próximas, de modo que o amor inevitavelmente floresce entre os dois pombinhos, mesmo à sombra da doença.
Vou confessar que eu gostei.
O diretor Josh Boone (de Ligados Pelo Amor, que eu não vi...) trabalha bem com o roteiro de Scott Neustadter e Michael Webber adaptando o livro de John Green, equilibrando o romance e o drama inevitáveis com um lado mais leve e cômico que cai muito bem pra equilibrar o dramalhão.
O elenco é ótimo, Shailene Woodley é ótima, e uma gracinha com aqueles olhões castanho-esverdeados, Ansel Elgort tira de letra o moleque que transpira segurança apesar de, no fundo, também ter seus temores, Laura Dern e Sam Trammell mandam bem como os pais de Hazel, com mais destaque para a primeira, que tem mais espaço para trabalhar. Ainda vale destacar Nat Wolff, como o impagável Isaac, amigo de Gus, Willem Dafoe, como o escritor Peter Van Houten, e Lotte Verbeek, como a assistente de Van Houten, Lidewij, que não tem lá um papel muito expressivo mas é muito, muito linda...
No final das contas, A Culpa é das Estrelas funciona ao conseguir equilibrar o drama obviamente feito pra causar choro com um romance adolescente honesto que aborda algumas questões indigestas com alguma leveza, o mínimo necessário pra não fazer os mais sensíveis cortarem os pulsos.
É bacana. Alugue o DVD, certamente vale os seis reais.

"-Nós provavelmente deveríamos ir dormir.
-OK.
-OK.
-OK.
-OK.
-Talvez "OK" se torne o nosso "Sempre".
-OK."

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

O Homem do Momento


Quando a Flávia disse pro Alfredo que queria fazer um lance diferente naquela noite, ele já estava soltando fogos de artifício achando que ela iria querer usar uma lingerie diferente, transar de salto alto, ou, quem sabe, ver um pornozinho antes de deitar, mas, quando ela disse que estava a fim de tentar uma sessão de sexo a três com eles dois e mais a Jussara, do trabalho, ele ficou perplexo.
Não no mau sentido. Oh, não... Longe disso.
O Alfredo ficou perplexo, mas de exultação. Ele flutuou, ficou encantado. Mesmo sem conhecer a Jussara, do trabalho, sem saber se ela estava mais pra Xuxa ou pra Marlene Mattos, ele estava felicíssimo com a ideia de ter, não uma, mas duas mulheres na cama consigo.
Ele nem raciocinou, mas já sabia que, na pior das hipóteses, ele veria uma fantasia lésbica ao vivo, in loco, e participando nem que fosse dizendo baixaria enquanto assistia e passava a mão, senão na Jussara, do trabalho, na Flávia, com quem ele já tinha bastante intimidade.
O Alfredo não racionalizou as coisas, não procurou pelo em ovo. Não ficou pensando que a Flávia, que nunca tivera nenhum relance de homossexualidade, de repente querer mais uma mulher no quarto com eles, podia ser sinal de que ela sentia falta de alguma coisa.
Ele não ficou imaginando que aquela extravagância sexual poderia culminar com a destruição do relacionamento dos dois, que bastaria um toque ou um suspiro diferente dele enquanto estivesse engajado com a Jussara, do trabalho, e a Flávia poderia desmoronar em lágrimas e toda a relação dos dois colapsaria ante o peso inenarrável da luxúria.
O Alfredo nem mesmo se preocupou que, aceitar de maneira tão alegre aquele ménage feminino, poderia colocá-lo em posição de, no futuro, ter que aceitar um mènage masculino, com, sei lá, o Torquato, do trabalho. Não... O Alfredo não pensou em nada disso. Toda a sua energia, daquele momento em diante, estava direcionada em imaginar elaborados cenários sensuais envolvendo a Flávia e um vasto catálogo de mulheres imaginárias que iam da Megan Fox à Wilza Carla, e se preparar para aproveitar todos e cada um desses cenários, aclimatar-se a eles, para que, na hora da verdade, ele pudesse usufruir o momento sem decepção.
O Alfredo era assim. Inconsequente.
Sempre fora. Era homem de momento. De aproveitar as oportunidades que se apresentassem fossem quais fossem, e sem se preocupar com o que viria depois.
Funcionava pra ele.
O Alfredo raramente, pra não dizer nunca, se decepcionava com nada. Estava sempre curtindo sem racionalizar, mastigar, esmiuçar cada segudo da vida e cada evento, por ínfimo que fosse.
...Que inveja do Alfredo...

Rapidinhas do Capita


E a crise pegou, a Universal abriu o cofre e estaria em tratativas adiantadas para que Matt Damon e Paul Greengrass retornem à série Bourne, coisa que os dois haviam dito que não voltariam a fazer...
Segundo o site Deadline os dois estão desde agosto em negociações com o estúdio para produzir o longa que estrearia na metade de 2016, data originalmente reservada à sequência de O Legado Bourne, série derivada com Jeremy Renner no papel principal.

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O Retorno de Damon e Greengrass não acabaria, no entanto, com as aventuras de Aaron Cross na franquia co-irmã que teve uma recepção morna da crítica e do público nas bilheterias, que segue em produção. Na verdade, já havia sido aventado que, na eventualidade do retorno de Damon, Bourne e Cross poderiam co-estrelar uma aventura conjunta, numa ideia bastante boba.
O próximo filme centrado em Cross será dirigido por Justin Lin, da série Velozes & Furiosos.

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A série Bourne, uma das melhores franquias de ação do novo milênio, é baseada nos livros de Robert Ludlum em uma série literária iniciada em 1980 com A Identidade Bourne, que virou telefilme em 1988, estrelado por Richard Chamberlain.
Em 2002, o mesmo livro se tornou filme nos cinemas estrelado por Matt Damon e dirigido por Doug Liman. Nos dois filmes subsequentes estrelados por Damon, Liman foi produtor, cedendo a cadeira de diretor a Paul Greengrass, que aumentou exponencialmente a qualidade dos filmes.
O quarto filme da franquia, O Legado Bourne, foi dirigido por Tony Gilroy, roteirista dos três filmes originais.

sábado, 13 de setembro de 2014

Resenha Cinema: Se Eu Ficar


OK... Vou confessar pra todos os dois ou três leitores do blog... Eu só fui ver Se Eu Ficar por causa da Chlöe Grace Moretz.
Sério... Se o filme fosse estrelado por qualquer outra cocota púbere, eu muito provavelmente o teria ignorado solenemente como fiz com A Culpa É das Estrelas, ou aquele outro filme de adolescente moribunda com a Dakota Fanning... Talvez acabasse assistindo na TV a cabo em alguma noite insone, mas essa seria a máxima deferência que o filme receberia de mim, fosse ele estrelado por qualquer "9inha" além da Hit-Girl.
O lance é que, das jovens atrizes dessa faixa etária, eu ainda estou decidindo de a melhor é Abigail Breslin, a eterna Pequena Miss Sunshine, ou Chlöe Grace, e se ainda não fui capaz de estabelecer juízo definitivo a respeito de qual é minha atriz adolescente preferida, devo dizer que acho que a carreira da jovem senhorita Moretz, ao menos parece melhor encaminhada, já que, mesmo seus projetos mau-escolhidos, como o remake de Carrie - A Estranha, lhe dão a possibilidade de ser protagonista e tentar coisas novas.
Em Se Eu Ficar, Chlöe certamente é a protagonista.
Na trama conhecemos a jovem Mia Hall (Moretz), uma garota-prodígio e violoncelista de mão cheia que surgiu e floresceu feito um fungo alimentado com música clássica à sombra dos pais roqueiros.
Apesar de se sentir, nas próprias palavras, uma marciana no seu antro familiar, que ainda inclui o irmão mais novo Teddy (Jakob Davies), Mia ama e é amada pelo ex-baterista de banda punk Danny (Joshua Leonard) e pela ex-roqueira porra-louca Kat (Mireille Enos).
Enquanto aguarda a resposta da conceituada escola de música Juilliard à sua audição de ingresso, em uma manhã de nevasca que se torna um feriado Mia e sua família decidem ir à casa de amigos, mas no caminho sofrem um gravíssimo acidente que altera absolutamente tudo em um piscar de olhos.
Presa entre a vida e a morte, Mia precisa decidir se vai lutar para se agarrar à uma vida que pode não ter absolutamente nada a ver com a realidade à qual ela se habituou, ou se desiste, e abraça o fim.
Enquanto toma essa decisão definitiva, Mia passa um dia relembrando os momentos mais marcantes de sua vida, sua relação com sua família, com o namorado roqueiro Adam (Jamie Blackley), com a melhor amiga Kim (Liana Liberato, conseguindo não ser uma melhor amiga imbecil, o que é uma tremenda vitória pessoal nesse tipo de filme), e com a música, sua verdadeira paixão.
Nota-se em quase todo o filme a vontade pétrea do diretor R. J. Cutler em seu primeiro longa metragem de ficção para o cinema, de tentar fazer de Se Eu Ficar mais do que o drama aborrescente típico sem fugir da estrutura narrativa do livro de Gayle Forman, com suas idas e vindas no tempo, e, por esse lado, o roteiro de Shauna Cross é bem sucedido, embora toda a "prisão etérea" da comatosa Mia seja um pouco bobinha quando a gente vê a gatinha andando descalça pra lá e pra cá por dentro do hospital sendo ignorada por todos...
Entre as coisas que funcionam, o típico romance adolescente de Mia e Adam tem química, nada que justifique o alarde, porém. Muito mais bacanas são os pais roqueiros de Mia, Danny, o baterista que virou professor de inglês e Kat, a agente de viagens meio-período super-mãe pé no chão em tempo integral ruleiam. São o tipo de pais que não existem, que conseguiram amadurecer sem perder o senso de cool, outro destaque é o avô interpretado por um surpreendentemente doce Stacy Keatch, dono do momento que mais se aproximou de me arrancar lágrimas durante a sessão.
Se Eu Ficar, porém, não é a experiência que poderia ter sido. Não é um divisor de águas para os dramas adolescentes ou para os dramas de além-vida, não é o melhor trabalho da carreira de Chlöe Grace Moretz, se apega em demasia àquela mensagem fajuta de que o amor supera à tudo, e ainda tem alguns clichês bem chatões como a grande luz branca no fim do túnel...
Longe de ser mau filme, não vale a visita ao cinema se a tua idade mental for maior do que 16 anos, se for o caso, espere o DVD.

"-Ela não devia ter medo de andar com esses caras. Eles são nós.
-Exatamente."

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Resenha Cinema: Anjos da Lei 2


Foi em maio de 2012 que eu escrevi nesse mesmo espaço que a versão comédia de Anjos da Lei, série que transformou Johnny Depp em ídolo adolescente, havia funcionado muito bem pra mim. O roteiro de Michael Bacall e de Jonah Hill colocava Hill como Schmidt ao lado de Jenko (Channing Tatum), dois jovens policiais que se uniam ao programa Jump Street, onde tiras com a capacidade (discutível) de se passar por adolescentes eram infiltrados em escolas para realizar investigações que policiais comuns não poderiam fazer.
Era uma longa piada de 109 minutos dirigida por Chris Miller e Phil Lord que brincava com todos os clichês de filmes policiais de maneira grosseira, excessiva e divertida, e, tanto deu certo, que pouco mais de dois anos depois, aqui estamos para falar de Anjos da Lei 2.
Na trama, novamente escrita por Bacall e Hill e dirigida por Lord e Miller, Jenko e Schmidt continuam investigando crimes como tiras disfarçados. Após deixarem um famoso contrabandista conhecido como Fantasma (Peter Stormare) escapar, Schmidt e Jenko são chamados para se reunir ao grupo da rua Jump, que infelizmente foi forçado a se mudar da Igreja do Jesus coreano no número 21, e passar para o outro lado da rua, na igreja do Jesus vietnamita, convenientemente no número 22.
Lá, os dois recebem do capitão Dickson (Ice Cube reprisando o papel e tão engraçado quanto antes) a missão de se infiltrar na universidade, onde uma nova droga chamada WhyFhy causou uma morte e pode inundar universidades do país inteiro se não for contida de imediato (numa trama que é, como frequentemente lembram os personagens, exatamente igual à do primeiro filme).
Schmidt e Jenko recebem, inclusive, os mesmos disfarces do primeiro longa, e encarnam novamente irmãos conforme se infiltram na faculdade para tentar descobrir a origem da nova droga e cortar o mal pela raiz.
Mas, conforme se aprofundam no mundo universitário, com Jenko encontrando seu melhor amigo ideal no quarter back Zook (Wyatt Russell), e Schmidt se aproximando da jovem estudante de arte Maya (Amber Stevens), os amigos podem acabar vendo essa como a última investigação que farão juntos...
É hilário. Bastante superior ao primeiro filme, essa continuação tem uma qualidade bem explorada de se reconhecer como um filme (piadas recorrentes sobre continuações piores que a primeira parte, orçamentos, sem contar a insistência com o fato de que a trama é absolutamente idêntica à do filme original) que é muito bacana, embora não seja o ponto mais alto do filme.
A grande graça de Anjos da Lei 2 é o bromance anabolizado de Schmidt e Jenko, que excede todos os limites conhecidos do homoerotismo dos buddy cops e filmes de ação em geral, numa versão descarada e mais afetada da relação Holmes Watson dos filmes de Guy Ritchie, com os parceiros trocando declarações de amor, discutindo a relação e até fazendo terapia de casal quando Jenko e Zook começam a se dar bem demais preocupando Schmidt, que é claramente a "mulher do casal" (Ele chega, até mesmo, a fazer o caminho do dormitório de Maya até o seu próprio carregando os tênis como se fossem saltos altos após uma noite de sexo que termina com ela dizendo que não quer nada sério), numa série de sacadas e piadas que deixam a gente em dúvida se o filme é absolutamente desprovido de preconceitos, ou preconceituoso pra danar de maneira velada. Não que faça diferença, o humor de Anjos da Lei 2 é desencanado demais pra alguém realmente se ofender com as zoações por mais grosseiras que possam ser, além disso, assume os próprios absurdos e os integra à trama (A colega de quarto de Maya frequentemente lembra Hill de que ele é velho demais para a faculdade, e um outro personagem chega a dizer que ele tem pés-de-galinha nos olhos).
Nessa toada, Miller e Lord fazem um Buddy Cop movie descontraído e desconstrutivista na medida, sem afetações ou pretensões, mas ciente das próprias idiossincrasias, e rindo à valer de todas elas.
Que mais se pode exigir de uma comédia porra-louca?
Assista, vale a pena, os créditos de encerramento são hilários, e tem uma ceninha extra no final.

"-Fiquei sabendo que tem WhyPhy em toda a faculdade, 24 horas por dia!
-...Mas é WhyPhy ou wi-fi?
-... Puta merda, você é uma porra de um gênio."

quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Quadrinhos: Demolidor 5


Há mazelas e benesses no formato escolhido pela Panini para a publicação de Demolidor no Brasil.
A benesse é que o formato trimestral permite ao leitor ter um gibi com uma boa quantidade de histórias, acabamento mais caprichado que o dos quadrinhos mensais, e acaba economizando uma grana já que lê histórias apenas do personagem título, sem os quase obrigatórios mixes das revistas que pingam todo o mês nas bancas.
A mazela óbvia é ter que esperar três meses entre uma edição e outra, ou mais, dependendo do estado onde mora.
A mazela em questão é depoimento definitivo em favor da série Demolidor, escrita por Mark Waid e que eu não me canso de elogiar feito um fanboy histérico após cada edição.
É inevitável. Enquanto folhar as páginas de qualquer série mensal tanto da Marvel quanto da DC é um exercício de paciência e desapego (nenhum quadrinhos de hoje me lembra sequer vagamente dos grandes gibis que eu já li no passado, de modo que não reconheço mais os personagens como "meus heróis".), ler Demolidor é uma experiência saborosa e prazerosa que é degustada com voracidade à medida em que o hiato de três meses entre uma e outra nos deixa à beira de uma crise de abstinência.
Demolidor 5 começa de onde a última edição parou. Matt se recupera da brutal surra que levou de Ikari, e com Foggy no hospital, precisa se dividir entre os cuidados ao amigo e o pânico com a promessa de morte iminente feita pelo seu misterioso algoz. Essa dupla jornada não faz nenhum bem ao diabo da guarda de Hell's Kitchen, que se vê, de nodo, à beira de um ataque de nervos.
Na história seguinte, Esmurrando o Câncer, Foggy Nelson é levado à ala do câncer infantil do hospital Memorial Sloan-Kettering para interagir brevemente com as crianças doentes, todas ansiosas por ouvir histórias do sujeito que que já trabalhou ao lado do Quarteto Fantástico, Namor e outros super-heróis, pelo menos até a chegada do Homem de Ferro.
Essa breve visita ajuda Foggy a encarar sua doença com um pouco mais de leveza e otimismo.
A terceira história mostra o confronto do Demolidor com seu inimigo oculto. Com sua identidade revelada o vilão obriga Matt a enfrentar Ikari em um duelo que pode acabar muito mal para o homem sem medo.
A história a seguir mostra Matt Murdock recebendo a visita de Nate Hackett, um "amigo de infância".
Nate, um dos valentões que atormentavam o pequeno Matt na escola agora deseja ser representado pelo advogado em um caso de prisão indevida. Ainda que cheio de rancor quanto a Nate, Matt acaba aceitando preparar sua defesa, mas as coisas não vão conforme o esperado no tribunal quando os Filhos da Serpente entram em cena.
Na sequência, Matt precisa garantir a sobrevivência de Nate enquanto tenta descobrir até onde se estende o controle do grupo racista nas instituições de Nova York.
A seguir, enquanto tenta se habituar à sua nova parceira de escritório, Matt recebe a visita de um estranhíssimo cliente em potencial que faz com que seu caminho se cruze com o de Norrin Raad, o ex-arauto de Galactus conhecido como Surfista Prateado.
Todas essas histórias, compilam as edições 26 a 30 da série Daredevil, e têm roteiros de Mark Waid e arte de Chris Samnee e Javier Rodriguez.
Completando o volume há um par de histórias de Demolidor Preto & Branco. A primeira se chama Segunda Vista, e mostra Matt Murdock considerando a possibilidade de fazer um tratamento experimental que poderia lhe devolver a visão. O roteiro é de Peter Milligan e a arte de Jason Latour.
Na seguinte, não tão inspirada, descobrimos como Wilson Fisk, o Rei do Crime, lida com seus segredos.
Em suma:
Baita edição do melhor quadrinho mainstream em série publicado no Brasil hoje, R$18,90, 148 páginas, capa cartão e papel WTC no miolo, vale DEMAIS a pena.

"-(...)Algo que não faço desde criança... Ele pisca de medo."

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Eu Explico, Rafael Moura


Rafael Moura, centroavante do Internacional, divulgou ontem uma longa nota à imprensa.
O atacante disse em seu elaborado texto, que entende o descontentamento da torcida, que ninguém no grupo do Internacional está satisfeito com os últimos reveses do time no brasileirão, mas que não é capaz de compreender as vaias do torcedor ainda durante o andamento da partida, dizendo que as vaias prejudicam os jogadores mais jovens, e que não sabe porque é vaiado antes do encerramento do jogo quando é o quinto maior artilheiro do futebol brasileiro entre os 20 clubes da série A.
Bom...
Deixa eu te explicar umas coisas, Rafael Moura... A torcida vaia, tu especificamente, não o time, ainda durante a partida, que é pra averiguar qual o limite da inexplicável paixão do técnico Abel Braga por ti.
A torcida vaia a plenos pulmões com a bola rolando, que é pra deixar bem claro pra ti e para o treinador do Inter, que não existe ninguém (além do Abel, aparentemente) satisfeito com o teu desempenho e a manutenção do teu lugar cativo no comando de ataque do Inter, um setor do time que, diga-se de passagem, anda igual a Zona Fantasma, dada a forma como suga todas as (raras) jogadas e as faz desaparecer.
A torcida não vai vaiar depois da partida, quando todos se evadem rapidamente do campo de jogo para a segurança do vestiário, porque essa vaia é inócua, não encontra o ouvido daqueles a quem é direcionada, no caso jogadores e comissão técnica.
Quanto a vaia prejudicar os jogadores mais jovens, até concordo. Jogador inexperiente provavelmente sente mais do que o milionário de "psicológico forte" que não se abala de perder gol sem goleiro, por sorte, as oportunidades que a atual comissão técnica dá aos jogadores da base são raras, e enquanto a nação colorada uivava para o teu desempenho de peladeiro como se este fosse a lua gigante de Cosmo Castorini, não havia nem sequer um único jovem atleta da base Colorada em campo, então, não há com o que se preocupar.
Quanto ao fato de tu ser o "quinto maior artilheiro do futebol brasileiro entre os 20 clubes da série A", vou te dizer que essas distorções estatísticas que volta e meia saem ou da tua cabeça ou da cabeça da tua assessoria de imprensa não aliviam teu lado. Muito antes pelo contrário, se tu fosse humilde e simplesmente assumisse que não está jogando nem bolinha de gude e prometesse esforço e comprometimento, talvez desse pra aliviar.
Mas quando o cara surge com um pedaço de papel recheado de delírios matemáticos onde soma gols marcados no gauchão e na Copa do Brasil e divide por minutos jogados no brasileirão para criar uma média que, mesmo generosa é risível, dá um pouco de nojo.
Espero que essa breve explanação explique o porquê das vaias, Rafael Moura.
Mas não se preocupe. Tu, apesar de ser o alvo das vaias e aparentemente ser o sujeito que se abala com elas, não é o alvo principal do descontentamento da massa alvirrubra, esse é o imbecil, inepto, acéfalo, demente, lesado que pagou quatro milhões de euros pelo teu passe, e te paga mais de 400 mil reais mensais num contrato de quatro anos.

Rapidinhas do Capita


Com as filmagens de Batman v Superman - Dawn of Justice a pleno vapor em Detroit, Michigan, após várias fotos de Henry Cavill devidamente parapetado com o uniforme novo de Superman no set de filmagens, quem apareceu nas filmagens agora foi o novo Batmóvel. Se em um primeiro momento o novo batcarro estava com mais cara de corrida do que de tanque de guerra, sugerindo que os dias do Tumblr de O Cavaleiro das Trevas haviam terminado, as novas imagens sugerem um veículo que mistura bastante o visual de carro de combate e bólido de corrida, mas pende mais para o primeiro.


Batman v Superman - Dawn of Justice, filme que deverá iniciar um universo cinematográfico DC à exemplo do que a Marvel já tem nas telonas estréia em março de 2016 e será dirigido por Zack Snyder, o mesmo de O Homem de Aço.

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Por falar em universo cinematográfico, surgiu na rede uma imagem conceitual usada como referência na produção de brinquedos que entregou o visual do sintozoide Visão em Os Vingadores - A Era de Ultron.
O robô será interpretado por Paul Bettany, que deu voz ao computador J.A.R.V.I.S. em Os Vingadores e nos três filmes da série Homem de Ferro.


Vale lembrar que foi aventada a possibilidade de, a exemplo do vilão Ultron, Visão também ter mais de um visual ao longo da trama.
Os Vingadores - A Era de Ultron, novamente dirigido por Joss Whedon estréia em 30 de abril de 2015.

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Qual dos dois filmes despertam mais a tua curiosidade?
Vou confessar que estou bem mais interessado em ver o Batman v Superman, não por preferência, mas porque de Os Vingadores, eu sei exatamente o que esperar para o bem ou para o mal, já o primeiro tijolo do universo cinemático DC é um completa incógnita...

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Resenha DVD: Amante a Domicílio


Após ver e rever o trailer de Amante a Domicílio no cinema e em DVDs e Blu-Rays que aluguei recentemente, vou confessar que apenas uma coisa me fez efetivamente assistir ao filme:
Woody Allen.
Não que eu seja um desses devotos fãs de Allen. Não sou. Embora goste de muitos de seus filmes, nem sempre os assisto, e se vi Magia ao Luar na estréia, não é menos verdade que ainda não assisti Para Roma, Com Amor... Mas a verdade é que Allen, no trailer do filme de John Turturro, num dos seus raros trabalhos em um longa que não escreveu/dirigiu, parecia muito engraçado. Leve. À vontade... Então, ao me deparar com o filme na locadora pensei:
Por quê, não?
E lá fui eu.
Amante a Domicílio mostra Fioravante (Turturro), um florista do Brooklyn, que é convencido por seu amigo Murray (Allen) a aceitar um emprego de meio período como garoto de programa após Murray ouvir de sua dermatologista doutora Parker (Sharon Stone, ainda batendo um bolão), que ela gostaria de fazer sexo a três com sua amiga Selima (Sofía Vergara) e um estranho.
Murray diz ter imediatamente pensado em Fioravante, que sempre se deu bem com as mulheres, tem sex-appeal e coragem de sujar as mãos.
Reticente de início, Fioravante acaba sucumbindo à pressão de Murray, que promete agenciar o amigo em troca de uma parcela dos lucros, e vai a um encontro inicial com a doutora Parker, sozinha, para que ela o avalie.
Daí em diante, Fioravante e Murray, agora atendendo com os nomes artísticos de Virgil Howard e Dan Bongo, passam a espalhar a satisfação entre as mulheres solitárias de Nova York por um preço módico.
As coisas começam a se complicar quando Murray recomenda Fioravante para Avigal (Vanessa Paradis), uma solitária mãe de seis filhos viúva de um rabino hassídico, que, inicialmente resistente a tentar o "tratamento" do prostituto iniciante, acaba por encontrar nele o contato humano de que desesperadamente necessitava, um contato que não passa despercebido a Dovi (Liev Schreiber), Shomrim vigilante do bairro de Avigal, e apaixonado pela viúva, que não gosta nada, nada da ideia de ela flertar com um sujeito de fora da comunidade.
Tem muita coisa errada em Amante a Domicílio desde a premissa, basicamente uma fantasia masculina das mais básicas (que não gostaria de ser pago pra comer Sharon Stone e Sofía Vergara ao mesmo tempo, mesmo não sendo um sujeito bonito?), passando pelo evento que coloca a trama em movimento (alguém tem alguma relação médico/paciente em que o doutor externe suas fantasias sexuais durante aquele rápido papo após a consulta?), até o julgamento hassídico pelo qual Murray passa com a ajuda de seu advogado Sol (Bob Balaban).
Nada faz lá muito sentido, nem mesmo o porquê de Murray pensar que Fioravante aceitaria ser garoto de programa de repente, ou de onde vem a ideia de que o florista daria conta do recado...
Ainda assim, mesmo longe de sua forma em Romance e Cigarros, Turturro consegue equilibrar doçura e acidez no que poderia ser descrito como uma comédia romântica para adultos. E se a trama eventualmente soa demasiado insólita, sempre há a presença de Allen, ponto alto do filme no que é definitivamente em um de seus melhores papéis em anos como o livreiro falido Murray, se virando como pode pra dar uma vida melhor à esposa Othella (Tonya Pinkins e seus três filhos Cefus, Coco e Cirus, num improvável casamento inter-racial do Allen judeu até a espinha com a negona que promete cair feito Michael Corleone se alguém ferir um fio de cabelo do amado.
No fim das contas, mesmo com seus desvios de rota e problemas de desenvolvimento, Amante a Domicílio ainda vale tranquilamente a locação, e em seus pouco mais de 90 minutos, arranca algumas risadas, e deixa um agradável sorriso residual.

"-Então é oficial. Eu sou seu puto.
-Bom... É a profissão mais antiga do mundo..."

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Tens Que Perder Essa Mania


-Tu tem que perder essa mania... - Ela disse, logo após limpar a boca com o guardanapo, olhando pra ele, inclinada pra frente, com a cabeça meio abaixada de modo que precisava mover os olhos pra cima para encará-lo.
Estavam sentados um de frente para o outro no restaurante, ele, sentado com as costas bem eretas e os ombros alinhados, ela, encolhida de uma maneira surpreendente pra uma pessoa tão alta.
Ele olhou em volta, procurando em si mesmo algo que a tivesse feito tecer tal comentário. Não tendo encontrado nada, viu-se obrigado a perguntar:
-O quê? Que mania? Que foi que eu fiz?
Ela riu:
-Erguer os dedos mínimos quando come.
Ele protestou:
-Mas eu não ergo! Eu erguia, mesmo... Era um lance natural... Faltava espaço no cabo dos talheres e eu ficava com os mingos no ar, aí esticava eles... Mas não faço mais isso.
Ela balançou a cabeça enquanto tomava um gole generoso de Pepsi:
-Tu não faz mais quando segura os talheres... mas tu sempre faz quando vira o prato, e principalmente, empinando o copo.
Ele repassou brevemente os próprios movimentos durante o almoço. Até virou o prato, como fazia quando queria alterar a configuração da comida diante de si. E de fato, seus dois dedos mínimos se espicharam instintivamente.
Ele riu:
-Ah... Isso não conta, ninguém percebe...
-E o copo? - Ela inquiriu. -Ninguém percebe esse mingo espetado pra cima, também?
-Isso é a reprodução do gesto típico de beber, lôura. É um ato de ironia contra a sociedade estabelecida e de cumplicidade com os garçons, é por isso que a gente é sempre tão bem atendido em restaurantes. - Ele se defendeu, repetindo o gesto de fingir que bebe com a mão em posição de "hang loose" como se o polegar fosse um gargalo.
Ela riu uma gargalhada gostosa:
-Mas que barbaridade, quase me engasguei... - Disse, contendo o riso e limpando uma lágrima.
Quase imediatamente, um garçom assomou, e, olhando pra ele perguntou:
-Mais uma Fanta, chefe?
Ele, confirmou com um "Arram", enquanto a encarava com um sorriso cínico que a fez, novamente, explodir em risadas.
Enquanto o garçom se afastava sem entender a risada dela, ele disse, ainda com aquele sorriso pretensioso:
-Não falei?
-Não... Fala sério... Que barbaridade... - Ela disse tomando mais um gole de refrigerante do copo e respirando fundo. -Se vocês tivessem combinado não dava tão certinho...
-Até eu me assustei quando ele apareceu aqui perguntando se eu queria outro refresco... - Ele admitiu, rindo.
-De qualquer forma... - Ela continuou, mudando de tom. -Tu precisa, mesmo, parar de esticar o mindinho quando come.
-Vou me policiar, madame. - Ele garantiu. -Nem que tenha que prender os mingos com durex, ou desenvolver a doença aquela que o Bill Nighy tem nas mãos...
-Quê doença? Que é Bill Nairri? - Ela perguntou.
-Bill Nighi... - Ele corrigiu com uma afetada imitação de pronúncia britânica. -É o ator inglês, aquele... Fez o pirata com cara de polvo no Piratas do Caribe 2 e 3...
-Me lembro do bicho, não do ator... - Ela disse, fazendo uma expressa adorável de desentendimento.
-Ele é o roqueiro Billy Mack no Simplesmente Amor... O pai do cara ruivo em Questão de Tempo... - Ele testou.
-Ah, tá, tá, tá, tá, tá... Eu sei quem é! Adoro ele... - Ela disse, animando-se. -Adorei esse filme... Tu assistiu?
-Questão de Tempo? - Ele perguntou, e continuou sem esperar resposta. -Assisti, sim. Foi uma experiência de quase-morte. Senti meu coração ser arrancado do peito mais de uma vez durante o filme. Chorei de soluçar, foi horrível. - Ele admitiu.
Ela sorriu olhando pra ele. Parecia enternecida.
-Isso é engraçado... Tu é uma da pessoas mais frias que eu conheço...
-Obrigado - Ele disse. -Eu me esforço. Meus modelos masculinos são Batman, Clint Eastwood e o Rambo. Todos reconhecidos pela frieza psicopata.
-Ai, cala a boca. - Ela disse, rindo forçado. -Tô falando sério. Sério, mesmo... Conheço pouca gente com mais dificuldade de demonstrar sentimentos que tu. Até quando tu te abre e fala o que tá sentindo, fica uma ponta de dúvida, por causa da tua distância... Eu já te vi chorando... Sei que tu chora, mas... Não sei, volta e meia eu tenho a impressão de que as tuas lágrimas em certas situações são solidárias... Tu chora com quem tá chorando contigo...
Ele não disse nada. Tinha um par de ocasiões como as mencionadas por ela bem frescas na memória.
Ela continuou:
-Mas ainda assim... Tu é, certamente o homem que mais chora vendo filme que eu conheci na minha vida inteira!
Ele riu, mas ela continuou:
-Sério! Eu me lembro uma vez, aaaaaaanos atrás, que meus pais viajaram e tu foi dormir comigo, e a gente tava vendo filme e comendo... O quê, meu Deus... Amendoim carapinha!
-Amendoim carapinha branco... Minha vó tinha feito... Tão bom aquilo... - Ele lembrou.
-Muito! - Ela concordou. -Mas aí, tu tinha levado um filme pra gente ver no DVD, e era um filme velho, preto e branco... Com o Clark Gable?
-Gregory Peck. - Ele corrigiu. -Era O Sol É para Todos, com Gregory Peck. O meu filme preferido em todos os tempos, e ainda me magoa tu ter dormido...
-Pois então! - Ela disse sem ligar para a recriminação dele. -Eu dormi no teu colo, e acordei quando o filme já tinha acabado, e tu tinha lágrimas no rosto! Os olhos vermelhos... Fungando...
Ele riu:
-Tem filmes que eu sempre choro assistindo. Não adianta...
-E tu sabe? Aquilo foi logo depois daquele lance com o César na faculdade...
-Ah, a briga... - Ele admitiu envergonhado.
-Briga, não... Tu te botou nele... Acho que a orelha dele nunca mais foi a mesma...
-Ele por acaso era pirata ou cigano pra andar de brinco por aí?
Ela riu brevemente, mas conteve-se:
-Não... Não, Ned... Aquilo não se faz...
Ele riu, olhando pra cima como quem se lembra:
-É... Foi uma boa briga... De qualquer forma, aquele cara falou coisas que não se diz pra outro homem sem esperar apanhar um pouco...
-Não importa - Ela disse. -Não era o meu ponto. O lance é que foi logo depois de tu bater no César-
-Brigar com o César. - Ele corrigiu. -O escroto do César não tava amarrado numa cadeira, era do mesmo tamanho que eu e revidou. Foi uma briga.
-Tá... Foi logo depois da briga com o César... E eu tinha ficado com uma ideia tua... De que... Sabe? Tu era um desses... Desses caras brigões... Que se impõe pela força e tal. Eu tava crente nisso. E eu confesso que, naquele momento, eu fiquei com dúvidas quanto à gente. Porque eu pensei "cara, que futuro eu vou ter com um ignorante desses?"... E aí, a gente viu o filme, e tu chorou vendo... Sozinho. Não reagindo às minhas lágrimas ou às lágrimas de ninguém. Tu chorou porque tu te emocionou com alguma coisa, e eu vi que tu não era só um bruto... Que dava pra ficar contigo.
O garçom chegou e serviu a Fanta dele. Marcou o refrigerante na comanda, ao que ele agradeceu com um "obrigado" baixo. Quando o sujeito se afastou, ele tomou um gole do refrigerante. Olhou pra ela e perguntou com um meio sorriso:
-E por que tu foi embora?
Ela olhou pra ele com uma expressão triste. Ele sorriu:
-Se tu tivesse achado que eu era um bruto brigão, tu teria ficado nem que fosse por medo de eu te bater?
Ela abanou a cabeça em um sinal negativo indiscernível entre "não" e "larguei de mão".
Ele pegou a mão dela por cima da mesa:
-Eu tô brincando.
-Eu sei. - Ela disse. -Eu tava falando exatamente disso. Dessa tua dificuldade patológica pra demonstrar sentimentos...
-Verbalmente conta? - Ele perguntou.
Ela o encarou brevemente e assentiu com um maneio de cabeça.
-Tu é, fácil, uma das minhas pessoas preferidas no mundo. E eu adoro te ter na minha vida, seja da maneira que for.
Ela olhou pra ele apertando os olhos como quem está desconfiada, e ele continuou:
-E se tu precisa de lágrimas pra legitimar, deixa eu trazer uma pinça e arrancar uns pelos das coxas por dentro do bolso da calça enquanto repito o que acabei de dizer.
Ela finalmente riu de verdade outra vez. Se desvirou toda de maneira ligeira e lépida, e passou a mão no rosto dele.
Ele olhou o relógio e disse:
-Bah, olha a hora... Vamos indo?
Ela concordou. Ele tomou todo o refrigerante do copo num gole só. Ela ria quando ele baixou o copo.
-Quê? - Ele perguntou.
-Tu tem que perder essa mania... - Ela disse enquanto pegava a bolsa.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Rapidinhas do Capita


E saiu um novo pôster de Jogos Vorazes - A Esperança.
Na arte podemos ver Katniss Everdeen posando de costas com seu indefectível arco.


O encerramento da saga será dividido em duas partes, a primeira delas estréia em 21 de novembro de 2014, e a segunda no dia 20 de novembro do ano que vem. Novamente estrelado por Jennifer Lawrence (que desde domingo tem visto bem mais do que as suas belas costas exibidas na Internet), Woody Harrelson e Josh Hutcherson, Jogos Vorazes - A Esperança não deve ser afetado pela morte de Phillip Seymour Hoffman, que terá sua participação no longa garantida por computação gráfica e truques de câmera (Como Ridley Scott fez com Oliver Reed em Gladiador).

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Enquanto isso, Dwayne The Rock Johnson confirmou qual será seu papel em filmes de super-herói:
O fortão estará em Shazam, mas não no papel do herói. Ele será o antagonista Adão Negro.
Nos quadrinhos, Adão Negro era Toth Adam, filho do faraó Ramsés II, e foi um dos primeiros mortais a receber o poder dos deuses do mago Shazam.
Seduzido pelo poder, Adam foi exilado e permaneceu em outra dimensão até que Shazam passasse os poderes a Billy Batson.
Comenta-se que, no longa, ainda sem diretor, roteirista, protagonista, ou data de estréia definidos (embora especule-se que Darren Lemke possa escrever o script), Adão Negro será um tipo de anti-herói, e não um vilão típico.
É esperar pra ver.

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E por falar em vilões da DC, Jesse Eisenberg, que viverá o vilão Lex Luthor em Batman V Superman - Dawn of Justice, apareceu no set de filmagens do longa metragem em Detroit com a cabeça coberta por um lenço e, aparentemente, sem sobrancelhas.
Muita gente havia chiado pela descrição do vilão com cabelos ruivos longos e esvoaçantes, esquecendo que em Superman - O Filme, de 78. Gene Hackamn apareceu careca em apenas uma cena...
De qualquer forma, aí está uma foto do flagra. Eisenberg é o sujeito de calças azuis, camisa branca e perfil de velha húngara.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Casa do Capita - Filme Imaginário: The Last of Us

Por melhores que tenham sido GTA V e Assassin's Creed IV - Black Flagg, pra mim, o grande game de 2013 foi The Last of Us.
Espetacular realização da Naughty Dog, The Last of Us criou uma experiência que vai muito além do mero survival horror, muito além de apertar botões para matar zumbis e explorar cenários sombrios à medida em que gerou um fenômeno em que é impossível ser apenas um jogador na história de sobrevivência de Joel e Ellie em um mundo devastado pela pandemia do cordyceps, uma história que torna cada um de nós testemunha, vítima e sobrevivente na luta da dupla para cruzar o que restou dos Estados Unidos graças à excelência de um esforço coletivo que resultou em um triunfo técnico e narrativo que torna impossível não se preocupar com cada um dos personagens que aparecem durante a trama.
Ainda que desnecessário, o filme com produção de Sam Raimi, da trilogia Homem-Aranha, só não deixou de ser imaginário ainda por questão de tempo.
Já se comenta até que Maisie Willians, a Aria Stark de Game of Thrones, foi procurada para o papel de Ellie, mas enquanto as informações oficiais não aparecem, vamos extrapolar e escolher o que seria o elenco ideal para traduzir às telonas o game mais cinematográfico dos últimos anos.
Aliás, Sam Raimi, se tu ler isso, demando aquele crédito esperto de produtor e alguns milhões de dólares.
O diretor do meu The Last of Us seria Robert Zemeckis. O diretor já deu repetidas amostras de sua capacidade de equilibrar drama humano com efeitos visuais e sequências empolgantes, credenciais mais do que recomendadas para o comando da adaptação.
E o elenco contaria com:

Joel


O homem que perdeu tudo logo no início da pandemia de cordyceps e a partir de então se tornou a epítome do sobrevivente implacável ao abandonar todas as fronteiras morais em nome da subsistência só poderia ser vivido por Josh Brolin.
O ex-Goonie tem o sotaque, a cara e a compleição física de Joel. Sabe ser implacável e duro, mas também é talentoso o suficiente para retratar a ternura crescente de seu laço indelével com Ellie, a menina que ele tem a chance de salvar.


Ellie


Se Ellie nasceu com a cara de Ellen Page, ela logo passou por uma senhora recauchutada pra ganhar feições mais próximas às de Ashley Johnson, dona do (espetacular) trabalho de dublagem e captura de movimento da personagem no game.
Para interpretar essa menina nascida e criada após o apocalipse com sua vasta gama de emoções, talento nato para praguejar, presença de espírito ímpar e língua afiadíssima a escolha óbvia é Chloë Grace Moretz.
A Hit-Girl é uma lindeza, sabe chutar bundas e não tem medo de falar palavrões. Além disso, com a cor de cabelo certa e um pouco de sujeira no rosto, tem a aparência e a idade ideais para o papel.


Tess


A mulher que partilha a filosofia de vida dura de Joel, além dos negócios de contrabando dentro da zona militarizada de Boston e, supõe-se, algo mais, é a parceira ideal para o protagonista. Esperta, forte, uma sobrevivente natural, Tess só poderia embarcar numa canoa furada como a condução de Ellie em nome do lucro, mas até mesmo essa mulher de ferro encontra seu limite no momento do desespero.
Para interpretá-la que tal Anne Heche?
A ex-senhora Ellen Degeneres é bonita, durona, e com uma escurecida no cabelo tem todas as ferramentas para encarnar a personagem.


Marlene


A "Rainha Vaga-Lume", guardiã de Ellie e de seu segredo é quem coloca a jovem sob a guarda de Joel e Tess no início de The Last of Us.
Uma idealista batalhadora, Marlene acredita que a humanidade merece uma segunda chance, e está disposta a qualquer coisa para obtê-la.
Quem melhor do que a lindona Paula Patton para dar voz, cara e formas à líder da milícia anti-militar de The Last of Us?


Tommy


O irmão mais jovem de Joel, que se afastou dele após não suportar mais mastigar os ossos da vida em nome da sobrevivência foi um Vaga-Lume, mas também abandonou a causa de Marlene. Tentando começar uma vida nova, ele pode ser a chave para que Ellie chegue a seu destino, se estiver disposto a arriscar tudo aquilo que construiu.
Martin Henderson é a cara do personagem do jogo, e poderia perfeitamente interpretar o papel na telona.


Bill


Paranoico de carteirinha e talvez, por isso mesmo, um sobrevivente exemplar, Bill vive sozinho em "sua" cidade, onde vasculha cada prédio em busca de coisas que possa repassar para Joel e Tess contrabandearem para dentro da zona militarizada de Boston.
Cheio de manias, falando sozinho, e dono de diversos arsenais, casas seguras e armadilhas letais espalhados pela pequena Lincoln, Bill é parada obrigatória no caminho de Joel e Ellie.
Bruce McGill é a cara do personagem, tem talento e voz para interpretá-lo com sobras.


Robert


O negociante de armas rival de Tess e Joel que inadvertidamente começa toda a trama de The Last of Us é tão a cara de Jerome Flynn que nem tem graça elencá-lo no papel, mas ainda assim, seria um desperdício não fazê-lo.


Henry


O jovem Henry tenta sobreviver e cuidar de seu irmão caçula quando seu caminho se cruza com o de Joel e Ellie.
Um dos bonzinhos, Henry também lembra de como era a vida antes do apocalipse fúngico, e partilha com Joel essas memórias e a vontade pétrea de proteger alguém que lhe é caro.
Para o papel, que tal uma chance dramática a Tyler James Willians, o Chris de Everybody Hates Chris?


Sam


O irmão mais novo de Henry, e único personagem com idade aproximada à de Ellie, o jovem Sam ainda tenta concatenar as regras desse perigoso mundo onde vive com seu irmão. Um bom menino, Sam tem duras lições por aprender.
Quem tal o jovem Scotty Noyd Jr. para interpretá-lo? Com idade e aparência certas além de experiência em cinema, o jovem se encaixa que é uma beleza no papel.


David


O líder do grupo de caçadores com hábitos alimentares duvidosos que encontra Ellie sozinha durante o inverno é um homem muito mais perigoso do que a aparência amigável e a voz calma sugerem.
Para interpretá-lo, quem melhor do que o fera Gary Oldman? Com suas reconhecidas capacidades dramáticas e habilidade toda especial de perder as estribeiras o britânico cairia feito uma luva no papel.


Chaga


Não tinha, ainda, comentado sobre o caso de racismo flagrado na Arena durante o jogo entre grêmio e Santos na semana passada...
Não o havia feito por uma única e triste razão:
A verdade é que casos de racismo por parte das torcidas organizadas do tricolor sem teto são reincidentes e quase habituais, ao menos aqui no Rio Grande do Sul, onde a complacência de certos veículos de imprensa quanto às repetidas manifestações de preconceito por parte da torcida azul dá uma sensação de doentia normalidade quando, por exemplo, o zagueiro Paulão, ex-grêmio, hoje no Inter, é chamado de macaco ao deixar o campo de jogo.
Acontece que o goleiro Aranha não é gaúcho. Não é colorado ou gremista, não cresceu ouvindo, assistindo e lendo os veículos de comunicação da aldeia, de modo que jamais viu como inofensivo, aceitável ou normal ser diminuído e hostilizado por conta da cor de sua pele.
Foi por isso que ele reagiu ao ser ofendido pela torcida posicionada atrás de si durante a partida. Por isso ele, após ser ignorado pelo árbitro, levou sua indignação à imprensa. E por isso, após ser orientado pelo departamento jurídico do seu clube, foi à delegacia prestar queixa.
Porque não é normal, inofensivo nem aceitável ser ofendido por conta da sua cor, ainda que, por essas bandas, volta e meia se julgue dessa forma.
Ontem, o ex-presidente do grêmio Cacalo, disse em sua participação no programa Sala de Redação, que o que Aranha fez foi um "teatrinho", uma "reação desproporcional", e que a ofensa racista é parte do "folclore" do futebol, arraigada na cultura do esporte a anos.
Deve ser muito fácil para um branco de vida mansa julgar como teatral e desproporcional a reação de um negro vitimado por injúria racial, mas quanto ao racismo ser parte do folclore do futebol, quanto à ofensa racial ser normal e vir de tempos, talvez seja verdade...
Houve um tempo, infelizmente não muito distante, em que os jogadores negros deviam jogar em ligas separadas dos atletas brancos. Todos os clubes eram racistas, incluindo aí o Internacional.
Mas até pouco tempo atrás as mulheres não podiam votar...
Até pouco tempo atrás crianças cumpriam turnos de trabalho de doze horas em minas de carvão...
Até pouco tempo atrás as pessoas morriam de gripe...
E nenhuma dessas coisas, e tantas outras facetas negativas da nossa História deixaram saudade e são celebradas como folclóricas, e duvido que uma reação forte contra qualquer uma delas fosse classificada como "teatral" ou "desproporcional" hoje em dia.
Não vamos dar ao racismo tratamento diferenciado por estar "arraigado à cultura do esporte".
Que os racistas sejam encontrados e punidos. E não apenas a moça flagrada pelas câmeras da ESPN berrando "macaco" a plenos pulmões atrás do Aranha. Ela é apenas uma cabeça oca no meio de milhares de outros cabeças ocas, não deve ser demonizada, e muito menos punida sozinha.
Que se castigue e corrija pela força da lei a todos os racistas, torcedores de qualquer clube, ocupando qualquer degrau da escada social. Apenas assim se arranca mais uma chaga dolorida da carne castigada dessa nossa sociedade tão humana e desprezível.