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quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Resenha Game: FIFA 15


Eu não nasci FIFeiro, já disse por aqui, antes. Houve um tempo em que cuspia na cara da franquia da EA Sports e jogava faceiro Superstar Soccer da japonesa Konami com um sorriso no rosto. Apenas quando me vi órfão da franquia futebolística com um Nintendo Game Cube foi que me vi forçado a migrar, e muito, mas muito a contragosto, lá em meados de 2002.
Levei tempo pra me acostumar, e mais ainda pra gostar do jogo, mas a verdade é que, passado o choque inicial, fica fácil se afeiçoar à série FIFA, especialmente porque eu acompanhei de perto o maior salto evolucionário da qualidade da série.
Entre 2008 e 2014, FIFA sapateou em cima de PES de maneira quase absoluta, tanto que, hoje em dia, só quem segue bradando aos quatro ventos que Pro Evolution Soccer é melhor, são os fãs decanos da série, que passaram os últimos anos aprendendo as sequências de botões que fazem os dribles e se afeiçoaram à velocidade supersônica de atacantes imparáveis e a goleiros com graves problemas de labirinto.
A supremacia de FIFA é tão absoluta que em mais de uma oportunidade nos últimos anos, PES chegou a abrir mão de seu perfil arcade tentando abraçar mais características de simulador à exemplo da série da EA Canadá, em games que não funcionaram emulando a realidade do jogo como FIFA e ainda desagradaram os fãs de longa data da série, enquanto FIFA continuava reinando soberano no mundo inteiro.
Dois dias atrás comprei via PSN a versão mais recente da série da Eletronic Arts, FIFA 15, e após duas madrugadas de intensa jogatina, já tenho como fazer um review do game.
A ele.
FIFA 15 é, a exemplo do que vem acontecido nos últimos anos, pouco mais do que uma versão sensivelmente atualizada do game do ano anterior. Sem ter jogado a versão de PS3, não posso afirmar quanto do disparate visual do jogo é efeito unicamente do engine gráfico turbinado do PS4 e quanto é novidade a ser sentida por todos os jogadores de FIFA 15 em qualquer plataforma. A parte gráfica, por sinal, é um absurdo. Os uniformes nunca foram tão vivos, os jogadores nunca foram tão reativos e cheios de expressão, quando se puxa a camiseta do atacante, ela estica, quando o goleiro rola no chão, ele se suja, e, ao rolar de novo alguns minutos depois, ele se suja mais.
Se todos os jogadores estão com uma movimentação mais suave e verdadeira, com centros de gravidade diferentes de um atleta para o outro, e com seu peso influenciando sua capacidade de driblar ou vencer uma disputa corpo-a-corpo, os goleiros são um capítulo à parte.
Todos os arqueiros do game ganharam um vasto rol de movimentos belíssimos e extremamente verossímeis. Esqueça as pontes mecânicas dos últimos anos, quando, independente do tipo de chute ou de onde o goleiro estava posicionado, ele simplesmente mergulhava para um lado. Os goleiros estão tremendamente vivos, dão saltos, mergulhos ou pontes diferentes para cada tipo de finalização, são surpreendidos por chutes à queima-roupa, ou traídos por bolas desviadas, mas reagem a esses percalços com movimentos brilhantemente animados num festival de defesas pra ver em câmera lenta.
Aí, por sinal, pode estar o primeiro problema de FIFA 15.
Os replays...
Obviamente a parte gráfica do jogo foi feita com esmero. Movimentos, caretas, cumprimentos dos jogadores... Tudo isso está perfeito, e os desenvolvedores parecem se orgulhar tanto disso, que encheram o jogo com animações. Antes da cobrança de escanteio, antes da batida de falta, na hora das substituições, até na hora de bater o tiro de meta... Tudo tem uma bela animação antes de acontecer, com o jogador ajeitando a bola, pisando no chão diante dela, sinalizando pra quem recebe... TUDO. E, por mais bonito que o game seja, à certa altura isso enche um pouco o saco à medida em que tira o dinamismo do jogo.
Quando tu está vencendo o Sheffield Wednesday por 5 x 0 pela copa da liga inglesa, tu até pode se dar ao luxo de olhar todas as animações, mas perdendo por 3 x 2 pro Chelsea num jogo encardido da Premier League, tu quer mais é fazer a bola correr e furar o ônibus estacionado na frente do gol do adversário.
Por sinal, a "inteligência emocional" é outro atrativo para a nova versão. Os jogadores sentem a pressão do jogo, e os mais verdes se tornam propensos a cometer erros grosseiros, como errar o domínio, ou perder a passada perto da linha lateral, mas em momentos de grande pressão, até mesmo goleiros experientes podem frangar feio quando o jogo está por um fio e o adversário promove uma blitz no teu campo defensivo, faceta do game que deixou claro, ao menos pra mim, que eu não me defendo tão bem quanto imaginava...
As blitzes, aliás, se tornam frequentes de parte a parte conforme todos os times naturalmente se encolhem quando têm o placar a seu favor, resultando em viradas costumeiras no apagar das luzes pra quem sabe explorar os eventuais espaços, ou consegue furar os bloqueios defensivos, com dez defensores dentro da área adversária se atirando na frente da bola de tudo quanto é jeito num exercício de paciência pra quem se acostumou a ter um atacante ou meia veloz, jogar na frente e sair pro abraço já que, na nova versão, o tempo do drible, e a habilidade de executá-lo em espaço curto, acaba se tornando tão ou mais crucial do que a velocidade dos homens de frente.
Igualmente crucial é manter a posse da bola, fazendo coro com o que dizem todos os treinadores do Brasil, com a bola no pé, tu não é (muito) acossado pelo adversário, e, se tu está no comando de um time que sabe jogar, é até prazeroso acompanhar a troca de passes entre os teus jogadores. Ao perder a bola, porém, o bicho pega, e não é raro ver a tua defesa toda desarrumada não importa o quanto tu te esforce pra mantê-la na linha.
O modo Carreira, meu favorito, continua muito bom, sem grandes alterações com relação à versão passada. Ultimate Team, o preferido dos fãs pelo mundo, ganhou a possibilidade de emprestar jogadores, o que pode ser útil pra quem não tem grana pra comprar um Messi da vida, mas acha que tê-lo no time por um curto período pode fazer a diferença. Em ambas a parte tática foi aprimorada, o adendo mais interessante é a possibilidade de deixar diversas formações de time "engatilhadas", e mudá-las rapidamente durante o jogo, uma mão na roda comparado à versão anterior, onde era necessário preparar os planos de jogo antes de cada partida.
Outra opção maneira é o Match Day Live, que dá notícias e números do time favorito do jogador, deixando todo mundo ainda mais enojado com a decisão da EA (e a ausência de uma liga por aqui pra negociar os acordos) de cortar times brasileiros do game.
Em termos de som, a narração de Martin Tyler e os comentários de Allan Smith seguem ótimos, jogar a Premier League ouvindo a dupla é uma aula de História do futebol inglês, tamanha a variedade de comentários e histórias que os dois partilham, mas isso também ocorre (em muito menor escala) nas demais grandes ligas europeias, pra quem tem paciência de Jó, o animador de auditório Thiago Leifert narra com companhia de Caio Ribeiro na versão em português, e mesmo os dois xaropões têm algumas historinhas pra contar sobre o futebol europeu. Os cantos da torcida são de fazer chorar de tão vívidos, e, diga-se de passagem, a torcida também ganhou um tapa visual espertíssimo, deixando de ser um bloco de bonecos que sentam e levantam para ganhar profundidade, caras e formas novas, tudo muito bonito.
Em suma, FIFA 15 é ótimo, mas não é perfeito, e, por enqanto, segue sendo o melhor simulador/game de futebol do mercado.
Como o DEMO de PES ainda não deu as caras, e o game só será lançado mais adiante no ano, fica a dúvida se a Konami vai cumprir a promessa e entregar um game de futebol com o qual ninguém será capaz de competir, até lá, FIFA ainda é dono do caneco.

"Sinta o jogo"

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