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segunda-feira, 6 de outubro de 2014
Resenha DVD: Oldboy - Dias de Vingança
Eu não assisti ao Oldboy original.
Confesso. Não assisti. Apesar de ter lido e ouvido críticas positivas, apesar de ter visto o filme passando na TV a cabo em mais de uma ocasião, jamais levei adiante a ideia de assistir ao longa metragem.
O Oldboy original é uma trama de vingança adaptada de um manga, a fita sul-coreana dirigida por Chan-Wook Park fez grande sucesso, inclusive se transformando em uma trilogia que contava ainda com Mr. Vingança e Lady Vingança, e, novamente, não assisti a nenhum deles. É bobagem da minha parte, mas a verdade é que, depois de assistir a O Hospedeiro, eu comecei a olhar todos os elogios que o cinema sul-coreano recebia com alguma displicência, e até desconfiança.
Logo, devo admitir que não foi o hype do filme original que me fez assistir ao remake norte-americano (Ainda falei disso um tempo atrás, na resenha de D-13. Americanos são preguiçosos e xenófobos. Não assistem filmes estrangeiros e odeiam legendas, por isso existem tantos remakes americanos de filmes europeus e asiáticos) de Oldboy.
Foram os nomes de Spike Lee, um diretor cujo trabalho eu admiro muito, especialmente quando deixa a questão racial menos evidente e se concentra em simplesmente fazer filmes (que o diga o divertidíssimo Um Plano Perfeito), Josh Brolin e Sharlto Copley, dois atores que, na minha opinião, são vastamente subestimados.
Foi com os nomes desses três sujeitos em mente que eu aluguei Oldboy - Dias de Vingança na minha locadora preferida, e fui reparar o fato de não ter conseguido ver o filme quando de sua curtíssima passagem pelo cinema.
Oldboy - Dias de Vingança mostra a história de Joe Doucett (Brolin). O ano é 1993, e Doucett, um publicitário de uma firma que passa por um momento delicado, é encarregado de conseguir a conta que pode salvar a empresa.
Em poucos minutos nós sabemos que Joe sofre de um alcoolismo grave, divorciou-se recentemente, é um pai ausente para a filha de três anos de idade e é um escroto de marca maior.
Faltando à festa da filha para jantar com o cliente salvador, Joe consegue ofender o sujeito e perder a conta. Ciente da magnitude da cagada que acabou de aprontar, Joe enche a cara e perambula por Nova York até ser abordado por uma mulher. Horas mais tarde, Joe acorda no que parece ser um quarto de motel, mas logo revela-se um confinamento solitário onde ele é isolado.
Preso, Joe tem como única companhia uma TV onde recebe, horrorizado, a notícia do brutal estupro e assassinato de sua ex-esposa, um crime do qual é o principal e único suspeito.
Conforme o tempo passa, sem que Joe entenda o porquê de seu aprisionamento, ele é confrontado pelo televisor com notícias eventuais de sua filha, Mia, e é por ela que Joe, após uma malfadada tentativa de suicídio, decide viver.
Submetendo-se a um rigoroso regime de exercícios, o inchado Joe se torna um matador esguio e musculoso impelido unicamente pelo desejo de reencontrar sua filha e ser o pai de que ela precisa, e escapar de seu aprisionamento sem sentido limpar seu nome e vingar-se de seu misterioso algoz.
Entretanto, antes de Joe possa escapar, ele é inexplicavelmente libertado após vinte anos em cativeiro, começando uma corrida para descobrir quem o prendeu e por que, um caminho sangrento que vai afundando esse homem alquebrado em uma intrincada trama de intriga e tormento ardilosamente arquitetada pela mente de um louco, o sádico milionário vivido por Copley (caprichando na afetação).
Francamente... Eu não sei porque a crítica especializada pichou tão ferozmente Oldboy - Dias de Vingança, mas suponho que deva ser por causa da qualidade do original coreano, e, nesse caso, o Oldboy original entrou de vez na minha lista de filmes que eu preciso assistir com urgência.
Digo isso porque achei o remake um ótimo filme. Talvez o filme mais bacana e bem arquitetado de Lee desde o já mencionado O Plano Perfeito, e com a melhor atuação de um protagonista desde o samba de Edward Norton em A Última Noite.
Lee ambienta seu filme em uma Nova York vagamente reconhecível que transforma em um cenário algo onírico. Alguns cenários são vagamente reconhecíveis, outros, absolutamente genéricos, e nós nunca sabemos como os personagens chegaram lá. A câmera frequentemente é posicionada de maneira improvável, mostrando os personagens de ângulos inesperados, a fotografia é escura e as cores supersaturadas, nada em Oldboy - Dias de Vingança parece acenar com realismo, exceto a atuação do casal protagonista, Brolin e Elizabeth Olsen, que vive a ex-viciada, agora voluntária de uma clínica móvel, Marie Sebastian. O fato de ambos (e mais Michael Imperioli) atuarem como pessoas de verdade em meio a vilões que parecem saídos de filmes de James Bond (Copley e mais Samuel L. Jackson), torna toda a experiência mais perturbadora.
Josh Brolin ruleia no papel de Joe Doucett, incrivelmente convincente tanto como o bêbado barrigudo e desagradável do início do filme quanto como o obstinado matador de martelo e estilete em punho da segunda metade do longa, o ator deixa claro que merecia mais e melhores papeis principais no cinema. Elizabeth Olsen também vai muito bem no papel da desorientada Marie, e Jackson e Copley dão seu recado cada um à sua maneira, mas ambas plenamente satisfatórias.
No final das contas, Oldboy - Dias de Vingança não vai agradar à todas as audiências simplesmente porque não é história pra agradar audiência alguma. O pesado conto de vingança e danação engendrado por Garon Tsuchiya e Nobuaki Minegishi, autores do mangá que deu origem aos dois filmes, é exatamente o oposto, um conto perturbador e opressivo regado a sangue e pecado, e foi exatamente assim que Spike Lee o filmou.
Ao menos de minha parte, recomendadíssimo.
"-Merda, talvez você queira pensar no que está fazendo aqui.
-Eu tenho pensado nisso pelos últimos vinte anos."
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