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segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Resenha Game: Terra-Média: Sombra de Mordor


Pra ser cem por cento honesto, eu vinha ignorando solenemente todas as notícias referentes à Terra Média: Sombra de Mordor desde que o game começou a ser anunciado em novembro do ano passado.
Pode parecer estranho pra um nerd convicto ignorar qualquer coisa relacionada ao universo d'O Senhor dos Anéis, mas a verdade é que, pelo título, eu tinha a impressão de que Terra Média: Sombra de Mordor era um RPG ou um game de estratégia, e eu não jogo RPGs eletrônicos e nem jogos de estratégia.
Não tenho paciência para nenhum dos dois tipos. A simples ideia dos combates divididos por turno dos RPGs e games de estratégia de computadores e consoles me causa bocejos, eu curto a urgência do combate em tempo real, RPG, pra mim, tem obrigatoriamente que envolver uma mesa cercada de nerds repleta de dados poliédricos e fichas de papel.
Era por isso que não fazia nem ideia de que se tratava Sombra de Mordor.
Mas a verdade é que tendo recém comprado um Playstation 4 e sendo proprietário de apenas três jogos, na semana passada eu já estava a dois passos de desenvolver urticária, tamanha minha vontade de variar além de FIFA, Injustice e The Last of Us Remastered.
Os games que eu realmente queria jogar quado comprei o PS4, Uncharted: A Thief's End, Batman: Arkham Knight, Assassin's Creed Unity e a sequência de The Last of Us, ainda demorariam um pouco a ser lançados, e eu me via flertando com Sherlock Holmes - Crime and Punishment quando resolvi dar uma espiada nas notícias a respeito de Sombra de Mordor e ao descobrir que, apesar de possuir algumas características de RPG o game era mais um RPA (ou Role-Playing Action, mais ou menos ao estilo Zelda), fui fisgado.
É exatamente o tipo de jogo de que eu mais gosto, de modo que as aventuras do detetive mais famoso da literatura acabaram sendo deixadas pro mês que vem, e eu fui passar um final de semana em Mordor.
No game o jogador já começa como o falecido guardião do Portão Negro de Mordor, Talion, em um estado fantasmagórico semelhante ao dos espectros do Um Anel relembrando os eventos de seu assassinato, quando um grande contingente de Uruks ataca de surpresa os gondorianos encarregados de defender o Morannon.
Talion tenta defender sua esposa Loreth e seu filho Dirhael, mas os dois são mortos diante dele pela trinca de vilões do game, três capitães de Sauron, númenórianos negros de lealdade inabalável e poder imenso que preparam Mordor para o retorno de seu mestre em um horripilante assassinato ritual.
Talion é degolado logo após ver a morte de sua esposa e filho, os três são sacrificados para invocar o espírito de Celebrimbor, o artífice élfico responsável pela confecção dos anéis de poder de Sauron.
O espectro de Celebrimbor, porém, sofre de amnésia devido ao seu estado de espectro, e ao invés de atender ao chamado da Mão Negra de Sauron, se une a Talion, trazendo-o de volta ao mundo dos vivos.
Celebrimbor e Talion se fundem parcialmente, de modo a ajudarem um ao outro. Talion ajudará o espectro élfico a descobrir sua verdadeira identidade, e Celebimbror ajudará o guardião a vingar sua família.
Assim, os dois começam a vagar por Mordor, então repleta de assentamentos Orcs e de refugiados de Gondor, visando juntar peças para desvelar o passado esquecido de Celebrimbor e também, levar a vingança do guardião à Mão de Sauron, uma trilha que faz com que seus caminhos se cruzem com Orcs que desejam aumentar seus rankings nas forças de Mordor, como o hilário Rathbag, renegados como o desertor Hirgon, e criaturas a muito esquecidas como o esquivo Gollum...
É um baita jogo.
Se graficamente Terra-Média: Sombra de Mordor não chega a ser nenhum prodígio (embora seja muito, muito bonito), tem uma jogabilidade esperta unindo a liberdade do sandbox com um sistema de combate bacanudo, seguindo o modelo de contra-golpes da série Batman Arkham, e várias características de RPG (como as árvores de melhoria, que podem ser usadas tanto para ampliar a capacidade de Talion, quanto as de Celembrimbor), num mundo aberto com um mapa enorme, repleto de itens a serem encontrados e atividades secundárias muito além da história principal, tudo isso escorado na robustez da criação de J. R. R. Tokien (embora cheio de liberdades criativas que farão fãs xiitas se morderem e odiarem o game) e explorando um hiato pronto para ser preenchido entre O Hobbit e O Senhor dos Anéis.
Com um visual bacana, seguindo o modelo de Terra-Média estabelecido pela Weta Workshop de Peter Jackson, Sombra de Mordor dá ao jogador a possibilidade de vivenciar o poder de um guerreiro fodelão ao melhor estilo de Legolas, Aragorn ou Gimli, mas sem remover da equação a possibilidade de derrota, levando o game muito além do mero esmaga-botões.
Duas características em particular são muito maneiras, a primeira é a hierarquia de inimigos, muito bem sacada, tornando cada combate diferente do anterior, algo muito bem vindo à medida em que os combates são um dos pontos mais altos do game e seria um pecado se eles fossem cansativos ou repetitivos.
O sistema de hierarquia faz com que uruks sejam promovidos conforme o jogador elimina capitães e chefes-de-guerra, esses inimigos são dinâmicos e têm características singulares entre si, com fraquezas e pontos-fortes distintos, fazendo com que nem todos possam ser mortos da mesma maneira, algo que torna alguns combates verdadeiros quebra-cabeças e exercícios de paciência.
A outra boa sacada é o sistema "nêmese", que faz com que o resultado dos combates tenha sempre consequências futuras, com inimigos vencidos que retornam em busca de vingança com suas carrancas cobertas de cicatrizes, e inimigos que eventualmente derrotam Talion, sendo promovidos e tirando uma onda do herói quando vocês se reencontram.
Esse talvez seja o grande diferencial de Terra-Média: Sombra de Mordor, se a história em si não tem lá grandes novidades, sendo apenas um bom jogo de aventura, a produtora Monolith tirou de letra os aspectos mais livres do Sandbox, levando o game a outro patamar na hora de preencher o mapa com atividades secundárias extremamente bem sacadas (além dos chefes guerreiros, capitães e hordas errantes de orcs e uruks, há a possibilidade de caçar e domar criaturas e procurar por relíquias) que garantem diversão muito além das cerca de doze horas de jogo para concluir a história principal escrita por Christian Cantamessa, o mesmo que escreveu o espetacular Red Dead Redemption.
O game, como praticamente todos da atual geração, pode ser jogado dublado em português, a dublagem é OK, melhor do que as atrozes versões brasileiras de The Last of Us e Call of Duty Ghosts, mas inferior à de Batman - Arkham Origins e Injustice: Gods Among Us, eu preferi jogar em inglês, mesmo, já que, na verão original, Talion é dublado por Troy Baker, o Joel de The Last of Us, e a Mão Negra de Sauron tem voz de Nolan North, o papa das vozes de games, responsável, entre outras, pela inspiradíssima dublagem de Nathan Drake na série Uncharted.
Com jogabilidade esperta, capaz de unir um sistema de combate ágil e eficiente com um modo de progressão que atinge, não apenas ao protagonista, mas aos seus inimigos, em um jogo bonito, divertido, e bem-intencionado, a Warner Interactive mostra que pegou o espírito da coisa com sua série Batman Arkham, e que agora pode tirar outros coelhos da cartola.

"-Nem todo o vagante é vadio."

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