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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Resenha DVD: Divertida Mente


É a Pixar.
E eu poderia encerrar essa resenha por aqui, provavelmente tendo te convencido a ver o filme.
Porque mesmo quando a Pixar é menos do que pode ser, ainda faz coisas divertidas como Universidade dos Monstros, Valente e Os Incríveis, e mesmo quando é ainda menos, faz sucessos que agradam ao menos as crianças, como Carros e Aviões. Mas quando a Pixar é tudo o que pode ser, produz coisas como Toy Story, como Wall-E, e como Up- Altas Aventuras.
A única coisa que me impediu de ir assistir Divertida Mente no cinema, foi a ausência de cópias legendadas. Se UP acertou na mosca ao escalar Chico Anísio na voz de Carl Fredricksen, já nos trailers de Divertidamente deu pra ver que Miá Mello, Dani Calabresa, Otaviano Costa e Léo Jaime não chegariam nem perto do trabalho do veterano, e nem dos dubladores originais norte-americanos, de modo que, antes de ouvir cantores, pseudo-humoristas e apresentadores de programas de variedades dando voz aos personagens do longa, preferi sentar e esperar o lançamento do filme em home-video.
Nesta madrugada, fiz sessão dupla, primeiro o duvidoso Pixels, e depois a aposta mais segura, Divertida Mente.
Segura?
Não. Não segura:
Certeira.
Divertida Mente se passa dentro da mente da menina Riley. Desde o nascimento, ao ouvir pela primeira vez a voz de sua mãe, ela conheceu a Alegria (Amy Poehler, de Parks & Recreation). Imediatamente após conhecer a Alegria, Riley foi apresentada à Tristeza (Phyllis Smith, de The Office).
Conforme crescia, Riley ia ganhando novas emoções, Medo (Bill Hader, de Superbad), Nojinho (Mindy Kaling, outra egressa de The Office), e Raiva (Lewis Black, e eu recomendo fortemente o stand-up do homem, Black-out on Broadway, é sensacional).
Essas cinco emoções comandam as ações e memórias de Riley através de um painel de controle dentro da mente da menina onde comandam suas ações e criam as memórias dela, armazenadas em esferas translúcidas da mesma cor que a emoção em que foram baseadas (amarelo para alegria, azul para tristeza, vermelho para raiva, roxo para medo e verde para nojo), essas memórias viajam pelocérebro de Riley através de tubos de sucção que ligam as diferentes localidades da mente da menina e guardadas em imensos arquivos que circundam a sala de controle onde as emoções "pilotam" Riley cada uma de uma vez, e as ilhas de personalidade, cinco centros com cara de parque temático que contém tudo o que Riley ama e é.
Quando Riley chega aos onze anos de idade (com a voz de Kaitlin Diaz), Alegria se orgulha de que a maioria das memórias dela sejam felizes.
Entretanto, a decisão do pai (Kyle McLachlan) e da mãe (Diane Lane) de Riley de se mudar de Minnesota para São Francisco pode alterar isso.
Ao deixar para trás a casa, a escola e os amigos que ama, Riley e suas emoções passam por um grande estresse. Ao chegar a São Francisco, Alegria se esforça para manter as coisas sempre positivas a cada percalço durante a problemática mudança, ainda assim, as tudo começa a dar errado quando, no primeiro dia de aula de Riley na nova escola, uma lembrança feliz muda de cor ao ser tocada pela Tristeza, fazendo a menina chorar diante dos colegas.
Uma altercação entre Tristeza e Alegria faz com que Memórias Centrais, as lembranças mais importantes de Riley, caiam de seus contêineres e sejam apanhadas pelo sistema de sucção, lançando-as junto com as duas emoções em zonas periféricas da mente da menina.
Daí em diante, acompanhamos Alegria e Tristeza tentando voltar ao centro de comando enquanto Nojinho, Medo e Raiva lutam para manter as coisas na melhor ordem possível até que as Memórias Centrais sejam recolocadas antes que a personalidade de Riley se desintegre.
É brilhante.
Divertida Mente é outro desses clássicos instantâneos da Pixar que continuam na nossa cabeça mesmo após o final dos créditos.
O modo como a psicologia é tratada pelo diretor Pete Docter (O mesmo de UP.) que bolou a história junto com Ronnie Del Carmen (que trabalhou no departamento de arte e desenvolvimento de Up, Procurando Nemo, Ratatouille entre outros e co-dirige Divertida Mente.) é tão honesto e relacionável que é virtualmente impossível não traçar paralelos entre o que se passa no filme e alguma experiência pessoal passada ou presente. Um excelente exemplo é a forma como a depressão de Riley (que nunca é tratada nominalmente como "depressão") é descrita.
Mesmo as mais felizes de suas memórias se tornam tristes à medida em que a melancolia da saudade dá a tudo outros matizes, e a audiência é levada junto pela torrente de emoções da menina conforme a história se desenrola. Um exemplo disso é a participação de Bing Bong (Richard Kind).
Bing Bong foi o amigo imaginário de Riley na sua tenra infância, e com o passar dos anos foi sendo deixado de lado. Bing Bong é uma mistura de elefante, gato e golfinho com corpo de algodão doce vestido feito um mendigo que chora balas e tem um carrinho voador movido a música. Ele é uma criatura de imaginação que apenas deseja que Riley seja feliz, e é divertido e engraçado à primeira vista, mas seu segmento na história, ainda que tenha momentos hilários, tem um desfecho de cortar o coração.
O roteiro de Meg LeFauve e Josh Cooley tem aquela qualidade intrínseca dos filmes da Pixar, de fazer rir e chorar com intervalos mínimos, e falar à audiências de todas as idades conseguindo que pessoas de faixas-etárias absolutamente distintas riam de uma mesma cena por razões completamente diferentes.
Jogando com metalinguagem (O lugar onde os sonhos e pesadelos são "gravados", ou o abismo do esquecimento, ou a masmorra do subconsciente), fazendo homenagens à estilos de arte e animações (A passagem pelo Pensamento Abstrato) e satirizando coisas que passam batidos pros bem pequenininhos mas que na hora arrancam uma risada dos adultos (a piada com relação a opiniões e fatos, ou a utilidade de certas memórias são os exemplos mais óbvios desse tipo de humor) ou o pastelão puro e simples, Divertida Mente lança um olhar cálido e genial sobre o que é amadurecer, e como nossas emoções se tornam mais complexas conforme crescemos não é apenas outra das grandes animações da Pixar, é um dos melhores filmes do ano, se perfilando a Up - Altas Aventuras como o supra-sumo do que o estúdio é capaz de realizar.
Alugue sem pensar duas vezes, mas tenha o lenço à mão.
É a Pixar.

"Leve-a até a lua por mim, Ok?"

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