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quinta-feira, 5 de novembro de 2015
Vácuo Moral
Estava sentado casualmente atrás de sua escrivaninha lendo o jornal do dia quando percebeu, de esguelha, a aproximação de clientes junto à porta da loja. Automaticamente, levantou-se, chave em punho, para abrir as portas aos clientes em potencial.
Ao erguer a cabeça com um sorriso contido, algo forçado, tendo em vista que a manhã era jovem e ele dormira pouco assistindo episódios consecutivos de House of Cards na noite anterior, ele não teve certeza se de fato o fez, mas seu primeiro reflexo era parar e fazer cara de pavor.
Assomava junto à porta um homem alto, quase de sua altura, cabelos grisalhos, vestindo camiseta polo amarelo-clara, uma calça cáqui e tênis adventure. Tinha óculos sobre o nariz e uma expressão jovial, estava de mãos dadas com uma mulher, pouco mais baixa que ele. Era uma mulher de seus cinquenta e poucos anos, cabelo louro platinado até o meio das costas. Usava uma blusa de lã mesclada de cinza e preto de ajuste preciso ao seu corpo magro atlético. Calças jeans pretas e botas de couro, também pretas. Trazia à tiracolo uma bolsa de couro escuro e usava óculos escuros tipo aviador.
Ele de imediato reconheceu a mulher.
Era a mesma coroa lasciva que o convidara de maneira imperativa à uma sessão breve, porém intensa de cunilíngua no provador da loja em meados de setembro, e fora embora na maior desfaçatez prometendo voltar com o marido no final de semana.
Se ele efetivamente não parou estaqueado de pavor quando a viu ao lado do sujeito, certamente fez uma expressão de quem queria ter parado estaqueado, pois a sentiu, na periferia de suas percepções, engolir o sorriso falso que construíra para atender.
"Eu falei que voltava.", ela disse com um meio sorriso casual.
Ele não respondeu, apenas recriou o sorriso o mais brevemente possível, e abriu a porta. O sujeito, afável, estendeu-lhe a mão espalmada.
"Jorge, como vai?". Ele se apresentou de volta, retribuindo o cumprimento, e fazendo sinal para que entrassem. A loira parou no meio do primeiro ambiente, segurando a própria bolsa com as duas mãos enquanto olhava em volta.
Era tão estranha ao ambiente quanto uma arara azul seria no Pólo Norte.
"Tu tens as calças-bermuda, né?", perguntou ao vendedor, que assentiu com um desconfortável maneio de cabeça. "O Jorge tá precisando de umas.".
O Jorge confirmou, animado, que precisava de calças-bermuda. Alguma coisa sobre viagens de pesca para o Pantanal Mato-grossense e um recém descoberto amor por caminhadas ao ar-livre. Era uma história à qual o vendedor já estava acostumado. Pra ele, chamava-se crise de meia-idade, mas ele estava demasiado desconfortável para tecer seus costumeiros pensamentos críticos. Apenas sorriu um sorriso afável enquanto conduzia o sujeito ao setor das calças-bermuda.
Jorge se empolgava com tudo o que via. Encorajado pela mulher, apanhou quatro modelos diferentes de calças, dois deles, em mais de um tamanho. Blusas segunda-pele, e um agasalho. "Vou alugar tua cabina!", brincou enquanto se encaminhava à sala convertida em provador com a pilha de rupas nos braços.
Entrou e fechou a porta, deixando o vendedor e a loira sozinhos no ambiente principal.
Ela olhava com desinteresse algumas mochilas junto à parede. Ele evitava olhá-la diretamente como se ela fosse a própria medusa da mitologia. Jorge parecia um bom sujeito. Pinta de tiozão esportista. Desencanado. Não merecia ser feito de palhaço por aquela esposa troféu malévola.
"Essa mochila..." Ela disse, apontando para uma peça escolhida ao acaso, sem terminar a frase, um óbvio embuste para atraí-lo para perto, ele pressentiu, mas aproximou-se mesmo assim.
"Qual?", perguntou em seu papel de vendedor. Ela baixou os óculos, mostrando os olhos esmeradamente maquiados. "Me leva pro estoque.". Disse, como antes, sem deixar margem para negativas.
"Quê?", ele perguntou, em um surrado jab verbal. Não era uma negativa, mas o ajudaria a ganhar tempo para que, quem sabe, o Jorge pudesse terminar de experimentar o calhamaço de roupas que levara para o provador e impedi-la de fazer o que quer que fosse.
Ela não se repetiu, chegou perto dele, agarrando-lhe o pênis por sobre as calças jeans. Só então ele notou que estava parcialmente ereto. O perigo, e as lembranças, óbvio, o estavam excitando acima de suas noções de certo e errado, embotando-lhe os sentidos com a luxúria do gosto da intimidade da loira.
"Tu pensou em mim.", ela disse entre os dentes, enquanto o apalpava com vontade, e lambeu-lhe os lábios da esquerda para a direita. Ele fechou os olhos, inebriado pelo ineditismo da situação. Ela o puxou,usando seu pau à meia-bomba como se fosse uma coleira, e o conduziu até o estoque. Abriu a porta repleta de posteres e ajoelhou-se diante dele enquanto posicionava os óculos escuros sobre a cabeça como se fossem uma tiara.
"Fecha a porta." sussurrou lasciva.
Ele obedeceu, ainda que só conseguisse pensar no coitado do Jorge, a exatamente uma parede de distância. Antes que pudesse articular um protesto, ela estava lhe abrindo as calças, abaixou a parte da frente da peça, e abocanhou-lhe o membro por cima das cuecas de algodão pretas, arrancando um gemido mudo de sua boca aberta.
Mordiscou-lhe um par de vezes, ainda por cima da peça, cheirou, e deu-lhe um sorriso, como que aprovando sua higiene.
Se ele já estava intumescido ante a perspectiva de chupar a boceta dela novamente, àquela altura, ele já não cabia dentro da roupa íntima, que se esticava evidentemente nas mãos dela. Ela puxou a perna esquerda da cueca boxer ligeiramente para cima com a mão livre, enquanto, com a outra, direcionou seu pau pela abertura. A tensão do tecido somada à pétrea ereção deixou-lhe com o membro esticado e lustroso, empinando-se ligeiramente em direção ao rosto dela.
Ela dedilhou as unhas pintadas de bordô sobre as veias que saltavam no pau ereto. O cheirou e passou na face direita, deu dois beijos, e o ergueu, passando a língua do saco até a base da glande, e então, o virou, e seguiu o movimento da fenda peniana até os pelos do púbis.
Ela poderia ter-lhe tomado a pulsação pelos movimentos involuntários que o órgão fazia entre suas mãos e lábios. Sorrindo, colheu-o e levou à boca, acomodando-o quase inteiro. Começou a fazer movimentos de vai e vem com a cabeça enquanto movia a língua dentro da boca sob a parte de baixo do pau. Por duas vezes fez movimentos bruscos com a cabeça fazendo com que o pau lhe escapasse da boca e emitindo um barulho alto de estalo que deixou o vendedor alarmado pela possibilidade de alertar o Jorge, do outro lado da parede, mas ela parecia não ligar, continuou aplicada em seu ofício, aumentando a velocidade e, por consequência, o ruído, de modo que a preocupação começou a suplantar a excitação dele.
Minutos já haviam transcorrido, e ele estava cada vez mais certo que a saída de Jorge do provador era iminente. Ela parecia se regalar da preocupação dele, fazendo movimentos mais elaborados e sensuais cada vez que ele olhava de soslaio pela fresta da porta.
"Tu só sai daqui quando eu ver leite.", sentenciou enquanto beijava de boca entreaberta a lateral de seu pênis.
Aquilo o preocupou muito mais do que excitou, ele não se via gozando sob pressão. Mas ela não ligava, parecia particularmente efusiva coordenando o jogo pérfido que executava ali, de joelhos no espaço exíguo entre as estantes de mercadorias, humilhando o marido na sala contígua à revelia de seu conhecimento.
Ainda assim, mesmo para a lascívia dela, parecia haver limites, e como outros tantos minutos haviam se passado sem que ele desse pistas de estar sequer perto de gozar e tampouco sua ereção arrefecesse, ela cuspiu na palma da mão direita, e se pôs a masturbá-lo com decisão enquanto massageava-lhe os testículos com a mão esquerda.
Ainda que fosse deveras agradável, a tensão não o deixava mergulhar de maneira apropriada no erotismo da situação, e ela percebeu.
Largou-o de supetão, com descaso, limpando a mão nas calças dele e pondo-se de pé. Andou decidida pra fora do estoque até o provador, bateu à porta, "Jorge, em que pé estamos?". O Jorge resmungou lá de dentro que não podia levar roupas sem experimentar, e aconselhou que ela desse uma olhada na loja.
O vendedor ainda estava no estoque se recompondo quando ela voltou. "Ele vai demorar.", disse, "Recém está na terceira calça e prova tudo duas vezes.", falou enquanto abria as próprias calças "É uma mulher." completou com doloroso desdém.
Ele sentiu o sangue gelar, e ainda assim, preencher-lhe ligeiro os corpos cavernosos, inchando-lhe dentro das calças.
Ela abaixou o jeans preto até pouco acima das coxas, e repetiu o gesto com as calcinhas de renda brancas.
"Mete.", disse, enquanto se apoiava numa estante adjacente e empinava o traseiro firme, "Mete rápido.", completou.
Ele obedeceu. Pois o tom dela seguia não dando margem a negativas.
Abriu o zíper da calça, pôs o pau pra fora, e se acomodou entre as nádegas dela em busca da entrada da boceta. Não foi difícil encontrá-la. Estava ensopada.
Deslizou pra dentro dela e começou a se movimentar com estocadas fortes e profundas. Um cheiro forte, almiscarado, se fez sentir enquanto ela mexia o quadril sutilmente.
Ele esticou o braço e alcançou-lhe o púbis com pretensão de estimular-lhe o clitóris, mas ela o deteve agarrando-lhe o pulso, "Não.", disse. "Só goza. Goza ligeiro.".
Ele obedeceu. Diminuiu a força e a profundidade das enfiadas, mas manteve a velocidade. Em poucos minutos, sentia a iminência do orgasmo.
"Vou gozar.", anunciou.
"Goza.", ela disse. "Me dá meu leite.".
As palavras dela foram o estopim de uma farta ejaculação, ele sentiu as pernas bambearem e a vista nublar enquanto se despejava dentro dela, que, maquiavélica, rebolou a bunda de encontro a seu púbis, fazendo-o experimentar uma sensação de choque elétrico na glande que o fez grunhir. Ele deu dois passos cambaleantes para trás, escorando-se no frigobar, o pau já voltando à posição de repouso, molhado e avermelhado.
Ela, antes de subir a calcinha e o jeans, passou a mão espalmada entre as pernas, e mostrou-lhe a palma úmida. "Falei que só sairíamos depois de eu ver leite.". Limpou a mão na camiseta dele, no lado direito do peito. Inconscientemente ele flexionou os músculos peitorais, e sentiu alguma lisonja quando ela se deteve brevemente com a mão sobre eles.
Ela não disse nada. Fechou o botão da calça, subiu o zíper e recolocou os óculos no rosto.
Quando ele saiu do estoque, após lavar as mãos, o rosto, e o pau na pia que deveria servir apenas à primeira função, a encontrou passando batom usando um espelhinho na tampa da maquiagem. Jorge saía do provador naquele momento, com algumas peças na mão esquerda e quase todas as outras na mão direita.
"Não tinha a lilás?", ela perguntou ao vendedor antes que Jorge pudesse dizer qualquer coisa. O rapaz, sem saber a que ela se referia, resolveu ir na onda, "Não. Só verde-musgo ou preta. Quer dar uma olhada?", perguntou, sentindo o rosto enrubescer diante da mentira e da presença do Jorge. "Não." Ela respondeu com pouco caso. "Queria só a lilás.".
"O quê tu quer lilás, Ludmila?", perguntou o Jorge, revelando o nome da coroa lasciva. "Uma mochila.", ela respondeu. "Pra levar pra academia.".
Jorge fez um ruído indefinido. Falou quais peças levaria.
Eram as da mão direita. O vendedor somou o valor das mercadorias, ouviu a piadinha do "se eu fosse pagar, quanto daria?", fingiu um sorriso, fez a nota, passou o cartão. Embrulhou o material, e levou o casal até a porta, tudo isso envergonhado da farsa de que tornara-se pivô.
Quando se despedia de ambos, Ludmila se virou, "Tu vais receber a mochila lilás?".
Ele engoliu em seco.
"É possível.", disse.
"Quando?", perguntou Jorge, incauto.
Ele pensou por uma fração de segundo, lembrando-se do cheiro que se desprendia de Ludmila minutos antes, e mandou todo o escrúpulo lá pra casa do capita.
"A gente recebe encomendas toda a semana.".
Ludmila sorriu com escárnio enquanto Jorge dizia "Volta aí pra ver semana que vem, Mila.". Ela, ainda sorrindo, olhou pro vendedor e assentiu.
"É..." Disse. "Acho que vou voltar.".
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