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segunda-feira, 28 de agosto de 2017
Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 7, Episódio 7: The Dragon and the Wolf
Atenção! Essa postagem é escura e cheia de spoilers!
O episódio da semana passada de Game of Thrones, Beyond the Wall, teve alguns problemas de desenvolvimento por conta da correria do capítulo de enfiar uma grande quantidade de informações em um espaço relativamente exíguo de tempo.
Apesar das piadas sobre Gendry ser aparentado com Usain Bolt, corvos supersônicos e dragões Concorde, porém, Beyond the Wall fora um bom episódio da série, e só não foi excelente por conta da bagunça cronológica que acelerou os acontecimentos para caberem no formato mais exíguo da temporada, encurtada em três episódios na comparação com as anteriores.
Felizmente, o episódio de ontem, season finale dessa sétima temporada, voltou aos melhores momentos de Game of Thrones, entregando um episódio sensacional que se esticou até quase uma hora e vinte minutos de TV de altíssima qualidade.
The Dragon and the Wolf abriu com os exércitos de Daenerys chegando a Porto Real para o encontro com as forças de Cersei. Era o momento que Jon esperava há tempo, de provar aos reinos do sul a existência dos Outros, dos Andarilhos Brancos, do Rei da Noite e tentar conclamar a união dos vivos contra os mortos.
No Fosso dos Dragões, local escolhido para o encontro, tivemos uma das maiores reuniões de personagens desde a primeira temporada, com Jon, Daenerys, Cersei, Jaime, Davos, Jorah, Tyrion, Pod, Qyburn, Varys, Brienne, Bronn, Sandor, Gregor, Missandei, Theon, Euron... Enfim, quase todo mundo que ainda está vivo no sul, gerando um festival de encontros entre pessoas que jamais haviam se visto, especificamente Cersei e Daenerys, além de diversos reencontros, entre Tyrion e vários personagens que ele não via há tempos (Pod, Cersei, Sandor, Bronn...), além de uma prévia do Cleganebowl (o duelo prometido entre o Cão e a Montanha), e o reencontro de Brienne com Jaime e com o Cão de Caça (onde os dois relembram Arya e Sansa).
Enfim, o conclave entre as monarcas foi tão tenso quanto se poderia esperar, a rainha de Westeros não parecia inclinada a cooperar até ver o morto-vivo de além da Muralha.
É a visão da morte rumando para sul que faz com que Cersei aceite a trégua de Daenerys, mas imponha como condição que Jon Snow não assumirá lados quando o conflito pelo trono de ferro recomeçar.
Jon, é óbvio, não aceita a condição. Anunciando em alto e bom som que não pode fazê-lo por já ter aceitado Dany como sua rainha.
É bom ver que Jon mantém a honradez pétrea de Ned e de Robb. Por mais que todos saibamos que essa não é, nem de longe, a forma mais saudável de jogar o jogo dos tronos, quando Jon declara que precisa dizer a verdade, pois se não o fizer a vida se torna uma competição sobre quem conta as mentiras mais agradáveis, isso faz sentido.
Tanto para nós quanto para Daenerys, que se já estava atraída pelo bastardo nortista, fica claramente caidinha por ele depois disso.
A trégua, porém, era o mínimo que Dany e companhia haviam ido buscar em Porto Real, e estavam saindo de mãos vazias até que Tyrion resolveu dar um passo à frente e conversar em particular com a irmã.
É ótima a cena entre os dois (sempre foram, por sinal. Lena Headey e Peter Dinklage são ótimos juntos), com a amargura e o ódio de Cersei pelo caçula, ainda assim, o resultado da conversa pareceu o melhor possível, com Cersei não apenas aceitando a trégua, mas também prometendo lutar lado a lado com as forças de Dany e de Jon contra os exércitos do Rei da Noite.
Seria ainda melhor se não fosse, conforme descobrimos depois, apenas uma arapuca digna de Tywin Lannister. Cersei planejou tudo, de sua negativa inicial à proposta até a promessa de apoio, passando pela aparente deserção de Euron Greyjoy, de forma a ganhar tempo para trazer de Essos a Companhia Dourada, uma das mais poderosas forças mercenárias do mundo, com dezenas de milhares de homens, cavalos e elefantes, conhecidos por jamais ter quebrado um contrato (e que nos livros apoiam outro candidato ao Trono de Ferro...).
Aqui cabe outro parêntese, de que, por mais legal (e óbvio) que fosse termos todos os vivos se unindo contra os mortos, não se pode deixar de fazer sentido para a personagem estar maquinando e tramando pelas costas de seus inimigos. De uma forma distorcida, é mais honesto que Cersei aja dessa forma do que tendo uma grande epifania a respeito da necessidade de união entre todos. Ia parecer fora de lugar.
A traição de Cersei, porém, teve um efeito muito bem-vindo para os fãs da série (ao menos pra mim, certamente foi): Jaime, após tomar conhecimento da traição da irmã e de uma breve conversa com Brienne no encontro no Fosso dos Dragões, resolve desertar de sua rainha, e rumar para o Norte para tomar parte na Grande Guerra conforme prometera.
Bom pra ele.
Jaime é provavelmente o personagem que passa pela maior transformação nos livros, e é comum ver gente dizendo que o odiava no início, mas à certa altura passou a tê-lo como um dos personagens favoritos. Certamente aconteceu comigo, que ainda estou esperando para saber o que o aguarda no covil de Lady Coração de Pedra no próximo livro e reclamava abertamente sobre o desserviço que o seriado vinha prestando ao personagem em comparação com sua jornada na literatura. Vai ser bom ver o Regicida no lado certo de uma luta, pra variar. Quem sabe não é ele o destinado a matar o Viserion zumbi? Seria um tremendo salto ir de "kingslayer" a "dragonslayer".
A metade do episódio se deu em Porto Real, a outra metade, porém, aconteceu em Winterfell.
Eu havia dito alguns episódios atrás do potencial que o confronto entre Petyr Baelish e Arya Stark tinha para acabar mal. O maquinador mestre, afinal de contas, estava sempre dois passos adiante de todos os seus antagonistas, e era, ao lado de Tywin, Varys e Olenna, o melhor jogador da série.
Eu havia, inclusive, dito como era frustrante ver o Mindinho tocando Arya e Sansa ao mesmo tempo, manipulando as irmãs e usando a animosidade que sempre existira entre as duas para dar mais um passo rumo ao Trono de Ferro, seu objetivo máximo, com Sansa a seu lado.
O desfecho de todo o caso foi um bálsamo, especialmente por perverter algumas das regras às quais havíamos nos acostumado na série, por exemplo, a das tramas secretas que a audiência não via, serem aquelas maquinadas pelos vilões.
Nós não vimos Roose Bolton e Tywin Lannister armarem o Casamento Vermelho com Walder Frey, nem vimos Alliser Thorne planejar o assassinato de Jon Snow, ou Cersei ordenar que Lancell dopasse Robert antes da caça ao javali. Nós apenas ficávamos sabendo o que havia ocorrido na hora em que o plano se concretizava e os vilões alcançavam seu intento.
Ver isso acontecer do lado dos mocinhos, pra variar, foi particularmente satisfatório. Saber que, durante todo o tempo em que a tensão entre as duas aumentava, Arya, Sansa e Bran estavam fazendo um pequeno circo para Baelish se sentir confortável foi uma daquelas coisas que fazem a audiência rir alto na sala de casa. Grande parte do mérito da cena, por sinal, passa pelo show de Aidan Gillen, que desfilou um arsenal de reações em breves minutos após perceber que os Stark sabiam tudo o que ele vinha aprontando, afinal, Bran estava ali pra relembrar textualmente, até as coisas que o cafetão mais ambicioso de Westeros dissera antes de cometer suas traições mais vis.
Bran, aliás, não foi útil apenas no julgamento do Mindinho.
Samwell Tarly retornou ao Norte para se juntar aos esforços de guerra de Jon Snow. e lá, ao ouvir do Corvo de Três Olhos que Jon era um Sand, nome dado aos bastardos nascidos em Dorne, Sam lembrou-se de Gilly falando dos diários do septão que celebrou a anulação do casório de Rhaegar Targaryen com Elia Martell, e seu casamento com Lyanna Stark. Bran retornou no tempo para ver o casamento de Rhaegar e Lyanna, e o momento em que sua tia dizia a Ned Stark que o nome do menino era Aegon Targaryen.
Me permitam parar de novo.
Rhaegar já tinha um filho chamado Aegon, com sua esposa dornesa. Foi a criança cuja cabeça Gregor Clegane esmigalhou na parede antes de violar e matar Elia Martell. Esse Aegon morreu dois anos antes do nascimento de Jon, então, Rhaegar, ou gostava muito do nome (há onze Aegon na árvore genealógica Targaryen, fora Jon), ou, sendo obcecado com profecias como quem leu os livros sabe que é o caso, achava que O Príncipe que foi prometido deveria se chamar Aegon.
Outra curiosidade, nos livros, há outro pretendente ao trono chamado Aegon, que clama ser o filho de Rhaegar, que teria sobrevivido ao saque a Porto Real. Teoriza-se porém, que esse Aegon é, na verdade, um Blackfyre, casa derivada dos Targaryen iniciada pelo bastardo Daemon Waters, mas enfim, desculpem o devaneio...
De toda a sorte, a revelação surge de maneira muito bem sacada, com Bran testemunhando o casório, a revelação do nome de seu meio-irmão/primo, e narrando enquanto, em um navio rumo ao Norte, Jon Snow e Daenerys fazem sexo pela primeira vez, que Jon é o herdeiro legítimo ao Trono de Ferro.
É interessante imaginar como essa revelação vai pesar sobre a relação entre Jon e Dany. Não pelo fato de serem tia e sobrinho, essa revelação pode incomodar a audiência, não Dany, os Targaryen, afinal de contas, se casaram entre irmãos por gerações, e ela própria achava que estava destinada a se casar com Viserys antes de ser vendida a Drogo. O impacto pode ser político, já que a pretensão de Jon ao trono seria mais fundamentada do que a de Daenerys.
A expressão de Tyrion ao ver Jon entrando na cabine de Daenerys diz muito sobre as possíveis consequências da relação.
Antes de embarcar rumo ao Norte, porém, Jon teve uma conversa calorosa com Theon Greyjoy.
Uma conversa que colocou o filho castrado de Balon de volta nos trilhos. Deu-lhe uma boa sequência de luta e devolveu-lhe a espinha encaminhando sua jornada para a oitava temporada:
O resgate de Yara, ainda cativa de Euron.
Após passar tanto tempo sendo apenas o sofrenildo na sombra da irmã, ou a vítima das torturas de Ramsey, foi bom ter visto Theon voltar à luz, e mostrar um pouco de decisão e coragem, afinal de contas. Jon deveria ser palestrante motivacional, além de Rei do Norte.
O desfecho do episódio, porém, ainda guardava um grande momento:
Da muralha, Tormund e Beric viram conforme as infinitas forças do Rei da Noite avançavam para fora da mata perfilando-se ante o último obstáculo. Se a coisa já estava ruim com a mera visão do exército de zumbis e Andarilhos Brancos, piorou quando, das nuvens, surgiu o senhor dos mortos montado em Viserion, o dragão de gelo da profecia, que devastou um naco da Muralha, permitindo a passagem de suas forças rumo aos reinos dos homens, e levando consigo a Longa Noite.
Após um episódio acelerado em demasia, Game of Thrones acertadamente pisou no freio e por quase oitenta minutos nos entregou o desfecho do sétimo ano com cenas mais longas e cheias de diálogos, temperadas com revelações, traições e reviravoltas para embalar o que foi, de longe, a melhor temporada de Game of Thrones até aqui, e deixar todo mundo na ponta do sofá após o final com um cliffhanger daqueles.
O negócio agora é torcer para que o oitavo ano da série de fantasia mais sensacional da história da TV não chegue apenas em 2019.
Seria uma espera longa demais para quem ainda está roendo as unhas esperando que George R. R. Martin lance Os Ventos do Inverno.
"-Quando o inverno chega, e sopram os ventos brancos, o lobo solitário irá morrer, mas a alcateia sobreviverá."
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