Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
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sábado, 2 de fevereiro de 2019
Rapidinhas do Capita
-E se... E se for tudo um elaborado estratagema de vingança?
-Ganhar de volta a tua confiança... Reencontrar o caminho até o teu coração... Armar acampamento... Tomar posse... E então dinamitar tudo?
-Sabe? Num desses momentos de triunfo definitivo ela vai estar gargalhando em meio aos escombros e chamas do que outrora foram teus sentimentos?
O que é que tu vai fazer?
-hã... Provavelmente ser uma pilha de escombros e chamas, porque, francamente, se for um estratagema de vingança, funcionou.
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O Roberto acordou no quarto branco de um hospital sentindo dores em todo o corpo e sem nem sequer a mais remota ideia de como fora parar naquele leito.
Quando o médico apareceu para examina-lo e ele perguntou o que havia acontecido, o médico devolveu outra pergunta, querendo saber do que Roberto lembrava.
A verdade é que Roberto não lembrava de quase nada. Lembrava-se de ter acordado em casa na... Sexta-feira? Ele achava.
O bom doutor disse que os exames neurológicos estavam bons, mas que essa amnésia de um dia inteiro preocupava. Roberto concordou e reforçou seu questionamento, para ouvir, incrédulo a narrativa a respeito de uma briga.
-Uma briga? - Perguntou sem entender.
-Sim. - Confirmou o plantonista. Contando na sequência a história de como Roberto entrara em uma altercação com um sujeito no bar onde estava, os dois chegaram às vias de fato, e, sem que Roberto tivesse notado, outros dois sujeitos, provavelmente amigos do adversário de Roberto, juntaram-se à contenda, e agrediram-no covardemente, causando o dano que ali estava.
Não fazia sentido para Roberto.
Ele podia não lembrar do que ocorrera no dia anterior, mas sabia quem era. Não era sujeito de brigar em bares... Mal era de frequentar bares. Lembrava-se de haver uma conversa sobre celebrar o aniversário de um colega naquela sexta. Mas por que brigaria com um desconhecido?
-Uma moça. - Lhe diria, mais tarde, o amigo aniversariante, durante uma visita.
-Eu briguei por causa de uma moça? -Roberto seguia incrédulo. Não tinha namorada. Estava solteiro há meses. Porque diabos engajaria-se em uma troca de pancadas com um desconhecido por causa de mulher?
O aniversariante não sabia. A coisa toda ocorrera em um breve período de tempo com Roberto no balcão do bar, afastado dos demais. Mas no bar, enquanto a segurança aguardava a chegada da polícia para os agressores e da ambulância para Roberto, parecia que ele tomara as dores de uma jovem que fora assediada por um homem no balcão do bar, chamando a atenção do inconveniente, o que levou a uma discussão e eventualmente à luta.
Seguia não fazendo nenhum sentido.
Roberto era um homem centrado. Não era de se deixar levar pelo momento. E tinha um senso de auto-preservação totalmente funcional, jamais começara uma briga em sua vida. Tomava cuidado para atravessar a rua sempre na faixa de pedestre, se achava que ia esfriar levava um casaquinho e se fosse pego desprevenido pela chuva, tomava um Cebion ao chegar em casa...
Não era de seu feitio se envolver em pugilato com alguém em nome de uma mulher que sequer conhecia.
Havia algo faltando.
A peça que permanecia fora do quebra-cabeça apresentou-se no segundo dia de Roberto no hospital, quando uma jovem delicada de cabelos negros, feições adoráveis e pernas de parar o trânsito adentrou o quarto apresentando-se como Lídia, e trazendo flores como forma de agradecimento.
-Agradecimento...? - Roberto não entendeu.
Lídia era o pivô do desentendimento que terminara com Roberto hospitalizado com uma concussão, uma lesão no pulso e duas costelas quebradas.
Enquanto Lídia falava, tudo fazia sentido para Roberto. Vendo os lábios dela se moverem, o sorriso largo iluminar-lhe o rosto, as mais pequenas gesticulando discretamente, ele entendeu tudo.
Por alguém como Lídia, mesmo o mais sensato dos homens era capaz de abrir mão de qualquer coisa. Até do senso de auto-preservação.
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Com ela em sua vida não existia parnasianismo. Não havia arte pela arte. Narrativa pela narrativa... Toda a prosa queria ser verso e todo o verso queria ser de amor.
Ela não lhe cabia somente no coração, na mente, na alma. Escorria-lhe pelos olhos, pema língua e pelas mãos, entranhando-se em tudo o que ele fazia.
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