Pesquisar este blog

quinta-feira, 23 de maio de 2019

Feliz Dia do Orgulho Nerd


Eu me descobri nerd apenas da adolescência, quando já não era um nerd típico. Eu praticava esportes, namorava, me envolvia em brigas e era um sujeito relativamente popular na escola, mesmo que a definição de popular no Brasil seja diferente daquela dos filmes passados no high school norte-americano.
A questão é que eu não me via, nem na tenra infância, gordo como o Gaguinho dos Looney Tunes, usando roupas que haviam pertencido ao meu tio, lendo dois ou três gibis por dia e criando super-heróis como um Stan Lee sob efeito de cocaína (@inda hoje meus favoritos são o Anarkista, Satanyus e o Comando Celta), como um nerd. Minha definição do termo eram os sujeitos da fraternidade tri-lambda, e eu não queria ser um daqueles caras, e nem me achava inteligente o bastante para sê-lo.
Apenas mais tarde, já com quatorze, quinze anos, me dei conta de que os lambda, lambda, lambda eram um hipérbole caricata, e que eu era, sim, um nerd, mesmo que já não fosse tanto.
Mas havia sido.
Havia sido vítima de bullying na infância, fui ridicularizado pela minha paixão por super-heróis, ficção científica e fantasia medieval, tive meu álbum de figurinhas do RoboCop roubado durante uma aula e devolvido apenas após pedir socorro à professora... Eu tinha sempre um gibi ou dois na mochila e preferia me enfurnar na biblioteca e ler livros sobre insetos do que ficar no pátio da escola brincando de pegar.
Quando fiquei mais velho, após descobrir futebol e gurias, meu amor pela cultura nerd foi pro banco do carona, mas ainda estava lá. Eventualmente despertada quando alguém falava algo que eu sabia estar errado e eu me via na obrigação de corrigir, como quando dois sujeitos discutiam em uma livraria se Jim Lee desenhara, ou não, o Justiceiro sem chegar a um acordo, e eu, passando de mãos dadas com a namorada da época, esclareci que Lee desenhara a fase do Justiceiro no Havaí, deixando uma expressão de "Ah, sim!" na cara dos nerds, e de intriga na cara da moça que andava comigo sem saber que eu era um sommelier de revistinha.
O tempo passou, e meu amor por gibis, livros e filmes de temática nerd voltou a aflorar. Eu me flagrei voltando a colecionar super-heróis, desenhá-los e eventualmente até escrever alguma coisa... Voltei não apenas a jogar RPG, mas a mestrar campanhas de D&D e Star Wars e Call of C'thulhu, me peguei colecionando DVDs de filmes e séries e brinquedos do tema, e até a vestir minhas paixões e marcá-las na pele.
E me dei conta que ser nerd deixara de ser algo que marginalizava uma pessoa. Pelo contrário.
Os dias dos idiotas com porta-canetas no bolso da camisa pólo da fraternidade tri-lambda acabaram agora, ser nerd tornara-se maneiro. Descolado, até.
Mesmo pessoas que não eram nerds queriam ser, pensavam ser, tentavam ser, ou ao menos parecer.
O período de trevas se desvanecera, e os nerds haviam herdado a Terra.
Haviam ganhado até um dia para celebrar seu orgulho.
O 25 de maio.
Não os posers, que passam a noite na rede social e se consideram geeks.
Não as gurias que se juntam à comunidade do Homem-Aranha sem saber diferenciar Ditko e Romita Sr.
Não os sujeitos que viram meia dúzia de filmes do MCU no cinema, ou os casais que não tinham o que fazer domingo de noite e resolveram tentar ver Game of Thrones.
Não...
O Dia da Toalha é para aqueles que sabem nomear as seis jóias do Infinito. A formação original dos Vingadores dos quadrinhos. Os três primeiros vilões enfrentados pelo Homem-Aranha na ordem certa. A lista de alvos de Arya Stark. A sociedade do Anel. A companhia de Thorin Escudo-de-Carvalho. Quem está morto e aguarda sonhando. Qual o menor tempo que alguém levou pra fazer a volta de Kessel e ao menos cinco utilidades de uma toalha.
Para vocês, meus preciosos, que sabem tudo isso, eu desejo uma vida longa e próspera, que a Força esteja com vocês, valar morghulis, fthang, grandes poderes trazem grandes responsabilidades, feliz dia do orgulho nerd, e não entrem em pânico.

Nenhum comentário:

Postar um comentário