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segunda-feira, 27 de maio de 2019

Resenha DVD: Homem-Aranha no Aranhaverso


Não foi por mais senão a ausência de cópias legendadas em salas e/ou horários compatíveis com minha agenda que eu não fui ao cinema assistir Homem-Aranha no Aranhaverso. Cheguei a fazer propósito de assistir o filme em meados de janeiro, mas acabei vencido pelos obstáculos já mencionados, o que empurrou o filme pra baixo, bem pra baixo, na minha lista de prioridades cinematográficas do ano (então encabeçada por alguns filmes indicados ao Oscar e Ultimato, claro).
Sábado, após alguns finais de semana inteiramente dedicados a estudo, Masterchef e Game of Thrones, não necessariamente nessa ordem, passei pela locadora do incansável guerreiro Paulo, que mantém um espaço físico para a locação de filmes em mídia física paga com dinheiro de papel como um Don Quixote enfrentando moinhos de vento, e me deparei com o filme na estante dos lançamentos em meio a outros longas que queria ter assistido e por A ou B acabei deixando passar.
Sendo o Homem-Aranha, e tendo sido o vencedor de um Oscar de melhor animação, acabei não resistindo ao apelo do meu super-herói preferido, e levei os Homens-Aranha para passar o final de semana comigo, e ontem, durante meu almoço, me acomodei em meu sofá para assistir ao longa alardeado como "o melhor filme do Homem-Aranha já realizado".
Em Homem-Aranha no Aranhaverso conhecemos Peter Parker (voz de Chris Pine), que foi picado por uma Aranha radioativa no ensino médio e, por dez anos, vem sendo o único e inigualável Homem-Aranha. Ele salvou um monte de gente, se apaixonou, salvou a cidade, e salvou a cidade de novo, e de novo, e de novo, e encontrou até tempo para dançar feito um emo por Nova York entre uma coisa e a outra.
Mas essa não é a história desse Homem-Aranha. Ou não é a história desse Homem-Aranha, apenas.
Nós logo somos levados à companhia de Miles Morales (voz de Shameik Moore), um adolescente de quinze anos lutando para se ajustar à escola interna para super-dotados onde conseguiu uma bolsa de estudos.
Se dependesse de Miles ele seguiria estudando em sua velha escola no Brooklyn com seus antigos colegas, mas isso é simplesmente impensável para seu pai, o policial Jefferson Davis (Brian Tyree Henry) e sua mãe, a enfermeira Rio Morales (Luna Lauren Velez).
Sem conseguir fazer amigos em sua nova escola, Miles busca conforto na companhia de seu tio Aaron (Mahershala Ali), que apesar de distante da família, parece ser a única pessoa com quem Miles é capaz de se relacionar.
É num passeio noturno para grafitar nos túneis do metrô junto com seu tio que Miles acaba sendo picado por uma aranha, e, após começar a desenvolver uma estranha reação à interação com o inseto, vê seu caminho se cruzar com o do Homem-Aranha, a quem vê lutando contra o monstruoso Dunede Verde, o ardiloso Gatuno, e o massivo Wilson Fisk, o Rei do Crime (Liev Schreiber) em um colisor de hádrons construído em segredo nas fundações da Torre Fisk.
Quando o impossível acontece e o herói aracnídeo é derrotado por seus inimigos, Miles se vê potencialmente como a única força defensora do bem na cidade de Nova York, mas para assumir esse papel, Miles precisa encontrar uma forma de controlar suas habilidades, algo que ele simplesmente não consegue fazer sozinho.
Para sua sorte, o colisor de partículas de Fisk acabou atraindo para sua realidade outro Homem-Aranha. Peter B. Parker (Jake Johnson), um Homem-Aranha de 42 anos que foi vencido pela depressão, está grisalho e barrigudo, mas que pode ser o professor de que Miles precisa para aprender a usar suas novas habilidades e cumprir a promessa que fez ao Homem-Aranha que o antecedeu.
A missão dos dois peixes-fora-d'água é facilitada porque Peter B. Parker não foi o único Homem-Aranha interdimensional arrastado para a realidade de Miles. Gwen Stacy (Heilee Stanfeld), a Mulher-Aranha de sua dimensão, foi outra heroína aracnídea afetada pelos experimentos de Fisk, assim como o Peter Parker dos anos 1930, o Homem-Aranha Noir (Nicolas Cage), Penny Parker (Kimiko Glenn), uma adolescente que luta contra o crime pilotando um robô-aranha construído por seu pai e movido por uma aranha radioativa, e Peter Porker, o Presunto-Aranha (John Mulaney), uma aranha falante que após ser mordida por um porco radioativo desenvolveu habilidades únicas, juntos, esse grupo diverso de pessoas-aranha unirá forças para tentar ajudar Miles a salvar sua dimensão e todas as demais e encontrar seu Homem-Aranha interior.
Não.
Homem-Aranha no Aranhaverso não é o melhor filme do Homem-Aranha já feito. Este segue sendo O Espetacular Homem-Aranha (Eu sei, Homem-Aranha 2 é considerado um filme superior, mas acredite, eu tenho meus motivos pra preferir Espetacular). Nem sequer tem o melhor Homem-Aranha do cinema, este segue sendo Andrew Garfield com tanta folga sobre Maguire e Holland que nem dá pra começar a falar a respeito.
A aventura criada por Rodney Rothman e Phil Lord (co-autor de Uma Aventura Lego) e co-dirigida por Peter Ramsey, Bob Persichetti e o próprio Rothman é uma declaração de amor ao personagem e aos quadrinhos onde ele nasceu desde sua extravagante animação, ao mesmo tempo realista e caricata, onde o movimento fluido dos personagens em cena é contrabalanceado por onomatopeias e balões de diálogo e pensamento e quebras de "página", até suas milhares de referências, auto-referências, quebras de quarta-parede e humor caótico, mas tem, em seu coração, a vontade de dar vazão a algo dito por Stan Lee certa feita, sobre como qualquer pessoa pode estar sob a máscara.
A meia-dúzia de Homens-Aranha em cena são absolutamente distintos, nenhum deles é ou tenta ser o Homem-Aranha dos quadrinhos, seja o Aranha 616, seja o Ultimate, ou a versão de qualquer um dos filmes ou animações... Eles são avatares para que qualquer espectador seja capaz de imaginar como seria se ele fosse o Homem-Aranha.
Da descolada e graciosa Gwen ao amargurado e sarcástico Peter B., não há versão do herói em cena que não seja capaz de dialogar com alguém da audiência em algum nível, e esse diálogo é travado de maneira hora hilariante, hora tocante sem perder o ritmo ou escorregar em todo o conteúdo que joga no espectador embalado por personagens com quem simplesmente não conseguimos evitar de nos importar seja pela forma bem sacada como são escritos, seja pelo elenco de vozes escalado além da perfeição (e que ainda inclui Kathryn Hahn, Lilly Tomlin, Zoë Kravitz, Joaquín Cosio, Marvin Jones III, Stan Lee, é claro, Lake Bell e uma hilária ponta de Oscar Isaac).
Homem-Aranha no Aranhaverso usa o herói mais relacionável que os quadrinhos já pariram para contar uma divertida história sobre encontrar aquilo que nos conecta a pessoas diferentes, a coragem que ainda não sabemos ter, e nosso lugar no mundo.
Homem-Aranha no Aranhaverso não é, nem de longe, o melhor filme do Homem-Aranha já feito, mas é o melhor filme já feito sobre ser o Homem-Aranha.
Programaço para qualquer ser humano com um coração e um cérebro funcionais, obrigatório para fãs do Homem-Aranha.

"-... Quando eu me sinto sozinho, como se se ninguém entendesse pelo que eu estou passando, eu me lembro dos meus amigos que entendem. Eu nunca imaginei que eu seria capaz de fazer nenhuma dessas coisas. Mas eu sou. Qualquer um pode usar a máscara. Você pode usar a máscara. Se você não sabia disso antes, eu espero que saiba agora. Porque eu sou o Homem-Aranha. E não sou o único. Nem de longe."

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