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segunda-feira, 6 de maio de 2019
Resenha Série: Game of Thrones, Temporada 8, Episódio 4: The Last Of The Starks
Atenção!
Spoilers abaixo!
Não é de hoje que Game of Thrones tem apresentado problemas de ritmo e desenvolvimento consideráveis em sua narrativa. Não é difícil mapear esses problemas em sua forma mais grave ao momento em que a série ultrapassou seu material fonte, no caso, as Crônicas de Gelo e Fogo de George R. R. Martin, onde Jon continua morto, Daenerys acaba de decolar pra fora de Astapor (eu acho...) sem nunca ter conhecido Tyrion Lannister, Cersei está sendo mantida cativa pelo Alto Pardal, Arya está na Casa do Preto e do Branco e Jaime está indo ao encontro de Lady Coração de Pedra nas Terras Fluviais, e me desculpem se eu errei a cronologia dos acontecimentos, faz alguns anos que li A Dança dos Dragões, último dos livros lançados por Martin, mas isso serve para situar aos espectadores que jamais leram os livros sobre o quanto Game of Thrones avançou por sua própria conta para além d'As Crônicas, e, tendo lido os livros, é difícil não perceber o quanto a série enfraquece quando anda com as próprias pernas por mais que Benioff e Weiss tenham dito em diversas ocasiões que estão seguindo as direções dadas por Martin.
O ponto é que eu entendo perfeitamente quem não está gostando de elementos das últimas temporadas de Game of Thrones porque eu não tenho gostado de elementos da série desde que li os livros, mas em se tratando de adaptações, especialmente as bem-intencionadas como é o caso do épico de fantasia da HBO, eu aprendi a abraçar os pequenos pontos altos e nesse sentido, The Last Of The Starks foi um ponto alto ao retomar uma das facetas da história que sempre me agradou mais:
A intriga palaciana.
Após a Batalha de Winterfell os sobreviventes do embate que impediu a Longa Noite honram seus mortos e celebram sua vitória.
Nem tudo são flores, porém. A descoberta da verdadeira linhagem de Jon Snow deixou Daenerys apreensiva. A rainha dragão não parece nem um pouco satisfeita de ver o seu sobrinho receber loas e ovações sucessivas de nortenhos e selvagens sem cessar, e a despeito de espertamente ter tornado Gendry Rivers Gendry Baratheon, senhor de Ponta Tempestade, Dany praticamente usa esse episódio inteiro pra mostrar que não está nem um pouco segura de si em Westeros, e isso não passa batido para os Stark remanescentes, em especial Arya e Sansa.
Se Arya (que tem uma cena genial com Gendry) ainda é capaz de relativizar as escolhas que Jon fez para vencer a guerra contra o Rei da Noite, Sansa não é capaz de ver absolutamente nada de positivo na aliança de seu irmão com Daenerys.
Aqui cabe dizer que, em The Last Of The Starks nós tivemos um vislumbre dolorosamente óbvio que o quanto a redução no número de episódios na temporada final está sendo danosa para a série.
Os setenta e nove minutos do episódio não são nem remotamente suficientes para entregar a contento tudo o que o capítulo se propõe a mostrar, de modo que é difícil não ter a sensação de que estar vendo um compacto do que deveriam ter sido facilmente uns três episódios.
Quando Jon divide com suas irmãs o segredo de sua linhagem, e minutos depois Sansa divide esse segredo com Tyrion, precisamos ter muita boa vontade para não pensar que a ruivona é simplesmente uma fofoqueira.
A correria do capítulo nos deixa com a impressão de que Sansa está agindo por egoísmo ou despeito, embora haja uma sugestão de que ela apenas se preocupa com Jon e teme que Daenerys possa se tornar uma tirana...
Dany, por sinal, é outra personagem que não sai bem da correria do episódio. Eu sou perfeitamente capaz de compreender a derrocada da mãe dos dragões, realmente sou. Desde que chegou a Westeros Daenerys tem sofrido perda em cima de perda, e agora mesmo o trono que ela julga ter nascido para ocupar parece pertencer a outra pessoa. O orgulho ferido e a morte das pessoas que lhe eram mais caras funciona pra mim como o combustível para Daenerys despirocar, a questão é que, novamente, isso deveria acontecer de forma gradual para ser uma transição convincente e não um chilique. É especialmente frustrante porque não estamos falando de batalhas campais massivas ou grandes cenas cheias de dragões e zumbis, mas de algo que Game of Thrones usava com maestria em suas temporadas iniciais que era o desenvolvimento dos personagens através das relações entre eles. Mais duas horas de cenas de diálogos poderiam resolver ou ao menos minimizar o problema, e o mesmo vale para um dos meus momentos preferidos no episódio que terminou em um balde de água fria:
Brienne e Jaime.
Todo mundo estava querendo que os dois fossem um casal desde a terceira temporada da série, e nós finalmente tivemos nossa paciência recompensada com uma sequência de boas cenas que culminaram com os dois finalmente dividindo a cama e resolvendo permanecer juntos apenas para, dali a alguns minutos, Jaime resolver voltar para Porto Real e Cersei foi um tremendo pontapé nas gônadas...
Eu francamente espero que o Regicida esteja indo para Porto Real para cumprir a profecia do Valonqar, e espero francamente que ele saiba disso. Jaime tem um arco de redenção ímpar entre personagens de ficção, e por mais que eu ache que, em um conto moral, ele deveria morrer para obter expiação de seus muitos pecados, me parece desonesto para com o personagem enviá-lo de volta para Cersei após tudo pelo que ele passou.
O que nada tem de desonesto são as disposições de Jon Snow.
Ele pode ser filho de Rhaegar Targaryen, mas foi criado por Ned Stark. Por mais que pareça irritante vê-lo continuar colocando a honradez acima do jogo de cintura, o personagem tem sido assim desde sempre. O Jon Snow que se recusa a guardar segredo de suas irmãs é o mesmo que foi a Pedra do Dragão pedir ajuda a Daenerys e conseguiu convencê-la a lutar sua guerra. Se ele fizesse qualquer coisa de diferente do que fez, ele não seria o personagem que conhecemos e aprendemos a amar, provavelmente o único paladino de Westeros, junto com Brienne.
As celebrações e lutos se encerram com os remanescentes dos exércitos de Daenerys partindo rapidamente rumo ao sul para confrontar Cersei, enquanto Sandor Clegane e Arya fazem o mesmo juntos, e ainda há tempo para retornarmos a Porto Real, tomarmos conhecimento dos planos de Cersei de usar o povo da cidade como escudo humano, uma emboscada de Euron contra a frota Targaryen (aquele momento onde a nossa suspensão de descrença é levada além do limite num seriado onde há dragões e mortos-vivos), e a morte de mais um personagem importante preparando terreno para o que deve ser outra batalha decisiva na semana que vem.
The Last Of The Starks foi um bom episódio de Game of Thrones que pagou um preço amargo pela compressão. Ao inflar menos de oitenta minutos de episódio com trama para umas três horas, os produtores sacrificaram o andamento da história e o desenvolvimento dos personagens. À essa altura fica difícil não ter a sensação de que Weiss e Benioff querem acabar logo a série pra se dedicar ao seu Star Wars e é uma pena.
Game of Thrones ainda é uma série acima da média em seus momentos menos inspirados, e tem tudo o que precisa para voltar a ser a série que fora em suas três primeiras temporadas, quando não precisávamos de batalhas campais pirotécnicas e shows de efeitos visuais pra retornar domingo após domingo, um puta material-fonte e um elenco de primeira. Metade do episódio de ontem nos mostrou que os produtores e roteiristas ainda sabem fazer isso, é pena que decidiram não fazê-lo, resta a torcida para que os dois últimos episódios entreguem um desfecho digno ao que, mesmo com seus percalços, é a maior produção da história da TV.
"Não se torne aquilo que sempre lutou para derrotar."
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