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segunda-feira, 3 de junho de 2019
Todo o Lugar, Todo o Momento
-Das palavras, as mais simples, das mais simples, a mais curta. - Disse o professor, citando Winston Churchill durante a aula de revisão pré-prova.
Ele reconheceu a citação.
Era um fã declarado de Churchill, mesmo que nem sempre concordasse com o mestre da retórica. Lembrou-se de como fora forçado a tergiversar de maneira descarada para encher três laudas traçando comparativos entre o modelo de educação jesuíta e a Base Nacional Comum Curricular para um relatório, não fazia duas semanas.
De imediato lembrou-se dela, lhe suplicando que não tivesse dormido lendo a respeito dos Jesuítas uma noite após ele ter feito justamente isso: Pegado no sono lendo artigos a respeito do Ratio Studiorum para seu trabalho de História da Educação.
Sorriu. Lembrar dela sempre colocava um sorriso em seu rosto. E quase tudo o fazia lembrar dela. Ele se lembrava dela até fazendo coisas que jamais haviam feito juntos.
Naquela mesma manhã sorrira ao jogar a mochila sobre o ombro pensando no momento em que sairia para o trabalho após beijá-la nos lábios macios e dizer "até mais tarde, amor da minha vida", com a certeza de que realmente se veriam ao final do expediente...
Não havia paralelo para o tamanho do peso da ausência daquela criatura delicada em seus dia, exceto pelo peso da sugestão de sua presença em seus dias vindouros.
Não havia nada que lhe fosse dito que não o fizesse lembrar dela e sorrir.
Não havia nada que visse, que não o fizesse pensar nela e sorrir.
Não havia nada fizesse, que não quisesse fazer com ela e sorrir.
Se assistia a um filme, de imediato sorria e via-se sentado lado a lado com ela no cinema, a mão apoiada em sua coxa, as narinas invadidas por seu cheiro doce... Se ouvia uma música, havia duas alternativas: Ou encontrava alusões a ela na letra, ou a imaginava dançando... Ou as duas coisas como naquela manhã em que ouvira You Can Leave Your Hat On de Joe Cocker, e sorriu pois como na letra, ela lhe dava uma razão para viver, e ele não conseguiu não imaginá-la serpenteando e tirando a cinta-liga bem devagarinho... Almoçava imaginando-se dividindo a mesa com ela, não um de cada lado, se encarando para conversar como duas pessoas comuns, mas ambos do mesmo lado da mesa, para ele poder tocá-la e beijá-la a qualquer minuto da refeição... Trabalhava sendo assaltado por sua memória toda a vez que sentia um cheiro que pudesse ser confundido com uma iguaria doce, apenas para imediatamente sorrir ao dar-se conta de que não havia no mundo iguaria doce como o beijo dela... Voltava para casa no final das tardes imaginando-se voltando pra ela. Imaginando-se chegando em casa e escorando-se ao lado dela, sapecando-lhe beijos e conversando antes de tomar banho para dividirem a noite um com o outro, fosse assistindo televisão, lendo, jogando videogame ou apenas sentados aninhados um no outro para que ele apenas provasse para si mesmo que aquele não era mais um dos sonhos que ele frequentemente sonhava onde estava com ela.
Quando a campainha soou, porém, ele foi sacado de suas elucubrações e seu sorriso se desmanchou. Guardou seu caderno e sua caneta na mochila, e começava a se levantar quando o professor bradou suas últimas recomendações:
-Estudem, façam os simulados online, leiam e escrevam bem, como alunos de academia! De ensino superior! Nossa língua merece repeito! Não esqueçam: Façam bom uso da língua!
Sorriu sozinho de novo.
Subitamente só conseguia pensar em um uso para sua língua.
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