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sábado, 31 de outubro de 2020

Adeus, Duplo Zero Sete

 


Hoje deu-se a passagem de um dos grandes ícones do cinema no Século XX e XXI.
Sean Connery, ator escocês que, antes de se aventurar na dramaturgia foi leiteiro, motorista de caminhão, marinheiro, jogador de futebol e fisiculturista morreu aos 90 anos em Nassau, nas Bahamas.
Connery, após alguns trabalhos menores no teatro e televisão alcançaria fama mundial ao se tornar James Bond no primeiro filme da longeva franquia, 007 contra o Satânico Dr. No.
Connery ainda viveria o agente menos secreto da MI6 em outros seis filmes, Moscou Contra 007, 007 contra Goldfinger, 007 contra a Chantagem Atômica, Com 007 Só se Vive Duas Vezes e 007 Os Diamantes são Eternos, além do não-oficial para efeitos de franquia 007 Nunca Mais Outra Vez.
O estrelato continuaria após ele passar as chaves do Aston Martin e a Walter PPK a Roger Moore, embora o ator nem sempre tenha feito as escolhas corretas em sua carreira, participando de filmes importantes como Assassinato no Expresso do Oriente, O Homem que Queria ser Rei, O Nome da Rosa, Indiana Jones e a Última Cruzada e Os Intocáveis, que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, mas também dispensando os papéis de Morpheus em Matrix e de Gandalf em O Senhor dos Anéis, e embarcando em algumas canoas furadas como A Espada do Valente, Highlander 2, Os Vingadores e A Liga Extraordinária, além de ter usado um dos figurinos mais estrambóticos da história do cinema em Zardoz...
Independente de suas escolhas estranhas, porém, Connery seguiu sendo um dos atores da prateleira de cima do cinema Hollywoodiano até se aposentar da atuação em 2003, um retiro que ele quebraria brevemente em 2012, para participar de dois filmes, Sir Bill e Ever to Excell atuando apenas com voz.
Além do Oscar, Connery venceu o Globo de Ouro, e o BAFTA, e também foi honrado com o Cecil B. DeMille e o Henrietta awards da Imprensa Estrangeira de Hollywood.
Sean Connery viveu uma vida longa e próspera, e embora não esteja mais conosco, seguirá eternamente vivo nos corações e mentes de todos os fãs de cinema que ouviram "shua vosh" em alguns dos clássicos e não tão clássicos de que ele participou ao longo de sua longeva e bem sucedida carreira.
Deshcanche em pash, sir Connery.


Resenha Série: O Mandaloriano, Temporada 2, Episódio 1: O Xerife


 
A Disney comprou Star Wars em meados de 2012, e passou os quatro anos seguintes mostrando que não sabia muito bem o que fazer com a franquia. Entre uma trilogia sequência horrorosa, com três filmes que não conseguiam dialogar entre si, um filme para o qual ninguém ligou, e um filme OK, salvo do fracasso na sala de edição por um diretor salva-vidas, os Star Wars da Disney eram tão ruins que faziam a trilogia prequel parecer um trabalho de Dennis Villeneuve.
Era óbvio que comprar a propriedade intelectual e jogá-la no cinema sem um plano concreto de que direção seguir só não havia sido um tiro no pé completo porque fãs são meio masoquistas, e parecem estar sempre dispostos a levar mais um tabefe no meio da cara, garantindo o lucro à casa do Mickey.
Seja como for, enquanto Star Wars era brutalmente vilipendiado pela Lucas Film com seus filmes comandados por Jar Jar Abrams, Rian Johnson e seja quem for o responsável pelo produto final de Solo, nos bastidores da Disney havia alguém disposto a tentar salvar ao menos uma fração da alma da franquia.
Jon Favreau.
Unindo-se a Dave Filoni, a cabeça por trás das animações de Clone Wars e trouxe à luz O Mandaloriano, o seriado que mostrou aos fãs que o Star Wars da Disney não precisava ser sempre uma bosta, e à Disney, que esse era o caminho.
Após uma excelente primeira temporada de oito episódios com a cara e o jeito de Star Wars, ontem eu estava sentado para assistir ao primeiro episódio da nova temporada (ainda pirateando enquanto a Disney+ não chega oficialmente ao Brasil).
O Xerife abre com Mando (Pedro Pascal) tentando levar a cabo a incumbência que lhe fora dada pela Armeira, e reunir a criança aos demais de sua espécie.
Para encontrar esse grupo de "magos", porém, Mando precisará da ajuda de outros de sua própria estirpe, uma tarefa complicada à medida em que o reduto dos mandalorianos em Nevarro foi devastado pelo restolho do Império a serviço de Moff Gideon (Giancarlo Esposito).
Mando começa a vasculhar a orla exterior da galáxia em busca de informações, e, bem a seu modo, eventualmente descobre que parece haver um mandaloriano em Tatooine.
A bordo da Razor Crest, Mando e a criança chegam a Mos Eisley (onde reencontram a Peli Motto de Amy Sedaris) e partem rumo a Mos Pelgo, o assentamento de mineração no meio do grande oceano de areia.
Lá, Mando conhece o xerife local, Cobb Vanth (Timothy Olyphant), e descobre que as aparências podem ser enganosas, entretanto, antes que os dois possam resolver quaisquer desavenças, ou que Mando possa encontrar o paradeiro do mandaloriano que busca, o surgimento de um dragão Krayt coloca os planos de Mando em pausa, conforme ele aceita ajudar os residentes de Mos Pelgo.
Muita gente torce o nariz para o formato procedural que O Mandaloriano adotou em partes de sua temporada passada, mas eu, francamente, sempre gostei desse tipo de série de TV, com a missão ou o monstro da semana. The Marshall é um ótimo exemplar desse tipo de formato, com uma história auto contida o suficiente para que nós possamos aproveitar um episódio com começo, meio e fim, e ao mesmo tempo acenar com o quadro mais amplo, tanto ao mostrar à audiência o que vem pela frente, quanto com pequenas piscadelas em forma de easter egg ao longo do capítulo.
O episódio, escrito e dirigido por Favreau, volta a caprichar na pegada de faroeste que sempre esteve nos melhores momentos de Star Wars, tem condução acertada, bons personagens, ação divertida e mantém os efeitos visuais surpreendentemente competentes para uma série de TV.
Foi bom voltar à essa galáxia bem, bem distante, conduzido pelas mãos certas, que o restante da nova temporada de O Mandaloriano mantenha o ritmo, e continue nos mostrando que Star Wars ainda respira.

"-Isso não é lugar pra uma criança, sabe?
-Aonde quer que eu vá, ele vai."

 



segunda-feira, 26 de outubro de 2020

Resenha Cinema: Os Novos Mutantes


Algum tempo atrás, ao fazer a resenha de X-Men: Fênix Negra, eu mencionei como os filmes dos mutantes da Marvel realizados pela Fox eram semelhantes a um relacionamento abusivo, onde os fãs eram a vítima que, a despeito de ser frequentemente destratados, eventualmente voltavam a se colocar em uma posição de risco pensando nos bons momentos que haviam passado juntos.
Nas mãos da 20° Century Fox, os X-Men alcançaram píncaros de qualidade dramática como Logan, momentos de diversão que pareciam extraídos das páginas de gibis, como Deadpool, X-Men 2, X-Men Primeira Classe e Dias de Um Futuro Esquecido, chegaram às profundezas da bazófia com coisas como X-Men III, Wolverine Imortal, e X-Men Origens: Wolverine, e flutuaram por águas de cândida indiferença "nhé" com Fênix Negra, Apocalypse, Deadpool 2 e X-Men: O Filme, que a despeito de sua importância e qualidades, tem o mesmo nível de investimento de um piloto do Syfy...
Seja como for, após quase duas décadas explorando os mutantes criados por Lee e Kirby no distante ano de 1963, a Fox foi comprada pela Disney, tornando-se parte do pecúlio do MCU e deixando fãs ansiosos pela possibilidade de ver os alunos do professor Xavier fazerem parte do multi bilionário universo cinematográfico da Marvel.
Tudo parecia muito bem encaminhado, exceto por um detalhe:
Em suas tentativas de tornar os mutantes, sua grande fatia do mercado super-heróico, mais rentável, a Fox resolvera experimentar com os filmes.
A raposa havia dado sinal verde para filmes até então impensáveis, como o melodramático faroeste de estrada de Logan, e a anárquica comédia de ação censura +18 de Deadpool, ambos sucessos de público e crítica, e, ao mesmo tempo, liberara o diretor Josh Boone (de A Culpa é das Estrelas) e o roteirista Knate Lee para fazer o primeiro filme de horror estrelado por mutantes, esse Os Novos Mutantes.
O longa, teve seu primeiro e interessante trailer divulgado há mais de três anos, em treze de outubro de 2017, com lançamento programado para abril de 2018, mas aí, com a compra da Fox pela Disney, Os Novos Mutantes entraram em um limbo.
Ao contrário dos outros lançamentos mutantes de 2018, o longa não era mais um capítulo de uma série, casos de Fênix Negra e Deadpool 2, mas a tentativa de emplacar uma nova franquia.
Com atmosfera de filme de horror, e escopo diminuto na comparação com outros filmes de super-herói, Os Novos Mutantes foi sendo empurrado com a barriga pela Disney, sofrendo sucessivos adiamentos e chegando até a namorar com um lançamento direto na plataforma Disney + até que, em meio à reabertura parcial dos cinemas em ano de Covid-19, o estúdio do Mickey resolveu apostar com o longa, jogando-o nos cinemas em um momento onde ninguém pode julgar um fracasso de bilheteria.
Ontem, eu era uma das cerca de doze pessoas na sala de cinema para conferir o longa...
Os Novos Mutantes abre com a jovem Danielle Moonstar (Blu Hunt) sendo despertada por seu pai (Adam Beach) em meio ao que parece ser um tornado ou alguma catástrofe natural de grandes proporções. Dani foge, se separa de seu pai, perde a consciência, e quando desperta, está algemada à uma cama em um hospital. Eventualmente a doutora Cecilia Reyes (Alice Braga) surge para explicar à jovem que ela está em uma instalação psiquiátrica que tem por função abrigar jovens mutantes cujos dons representam um risco à segurança deles mesmos, e de outros e ensiná-los a controlar suas habilidades.
Há apenas outros quatro pacientes no local, Sam Guthrie (Charlie Heaton), um jovem sulista que causou um acidente em uma mina com seu poder se se ejetar em altas velocidades como um míssil, Rahne Sinclair (Maisie Willians), uma transmorfa escocesa capaz de assumir forma lupina, Roberto da Costa (Henry Zaga), um playboy brasileiro que se inflama e alcança temperaturas comparáveis a uma mancha solar, e Illyana Rasputin (Anya Taylor-Joy), uma jovem russa com a habilidade de transitar para uma realidade paralela de onde é capaz de drenar magia...
Esses cinco adolescentes estão encarcerados com Reyes porque, em algum momento, causaram a morte de alguém, e não estão aptos ao convívio com outras pessoas. Se encarcerar adolescentes que, além dos hormônios comuns à idade, ainda têm habilidades super humanas já não parece uma ideia das mais tranquilas, as coisas começam a ficar ainda mais perigosas conforme a chegada de Danielle desencadeia uma série de eventos sinistros, e todos os internos passam a ser confrontados pelos seus piores temores enquanto questionam quem está, de fato, por trás de seu cativeiro...
Olha, podem me julgar, mas eu gostei do filme.
Eu francamente não entendo porque a Fox enterrou Os Novos Mutantes e lançou Fênix Negra. O filme de Josh Boone pode não ser uma grande maravilha, mas dentro de sua proposta e escopo, ele funciona bem o suficiente para distrair por uma hora e trinta e quatro minutos de maneira muito mais competente do que outras inchadas e equivocadas incursões do universo X nas telonas.
Grande parte do que faz o longa funcionar é justamente a ideia de que o longa existe em um cantinho do X-Verso e está perfeitamente confortável ali, contando uma história centrada nesses cinco jovens estranhos.
Eu gosto de uma história a respeito de párias, do pessoal que senta no fundão da sala de aula não porque é descolado demais pra sentar na primeira fileira, mas porque não sabe se encaixar na ribalta, e Os Novos Mutantes é uma boa trama para esses tipos.
O elenco é bastante interessante, em especial Maisie Willians, que entrega uma atuação terna e honesta para Rahne (eu lia os gibis dos Novos Mutantes e achava que a pronúncia era "rãne", fiquei chocado ao descobrir que era "wrein".), e especialmente a magnética Anya Taylor-Joy como a agressiva e marrenta Illyana (que, quando conjura sua armadura mística interdimensional, recebe o mesmo efeito sonoro da transformação de Colossus nos primeiros longas da série, numa piscadela sutil aos fãs que conhecem a relação dos dois personagens nos quadrinhos.), mas estão todos bem em seus papéis. 
Nem tudo são flores, e o longa tem uma série de idiossincrasias e pequenos furos, mas nada que o torne a bomba inassistível que o período na prateleira da Fox pode levar a crer. A aura de filme de terror claustrofóbico ajuda a justificar a escala reduzida, os efeitos visuais são OK, e as relações entre os protagonistas são bem construídas o suficiente para que a audiência se importe com todos eles muito mais do que com alguns dos antigos personagens dos X-Filmes. Se a primeira metade do filme é excessivamente formulaica, em seu segundo ato o longa abraça a estranheza inerente de sua proposta e entrega uma interessante e bem-intencionada fita de gênero.
Talvez seja efeito do longo período de abstinência, mas eu gostei da experiência de ver Os Novos Mutantes no cinema, e não tenho pudores em dizer que, a despeito das eventuais falhas, valeu o preço do ingresso.

"Isso não é um hospital, Pocahontas, é uma jaula."

sábado, 24 de outubro de 2020

Resenha Filme: Borat: Filme Subsequente

 



Foi no distante ano de 2006 que Sacha Baron Cohen, um comediante já reconhecido na Grã-Bretanha pelos personagens extravagantes que criara para o The 11 O'Clock Show ganhou o mundo ao transformar uma de suas criações em filme.
O sucesso que lhe fora sonegado ao fazer a mesma coisa com o rapper Ali G quatro anos antes foi alcançado com folgas pelo segundo melhor repórter do Cazaquistão, Borat Sagdyev e sua jornada pelos Estados Unidos e América buscando o enriquecimento cultural de sua própria nação.
O longa, com seu humor anárquico e por vezes escatológico que não abria mão da crítica social, foi um grande sucesso de público e crítica, rendendo até mesmo um Globo de Ouro (e um hilário discurso de aceitação) a Cohen.
Quase uma década e meia mais tarde, Cohen, agora um ator que mostrou possuir mais talentos além da capacidade de desaparecer em tipos esdrúxulos para deixar as pessoas desconfortáveis, retorna ao personagem que lhe abriu as portas de Hollywood ainda anárquico, desconfortável e escatológico, mas ainda mais agudo e focado em sua crítica social.
Borat Filme Subsequente: Entrega de Prodigioso Suborno ao Regime Americano para fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação Cazaquistão começa com a narração de Borat nos contando que após suas aventuras nos EU e A quatorze anos atrás, ele caiu em desgraça. Sua viagem levou grande vergonha ao Cazaquistão e ele perdeu todos os seus benefícios, status social, e até seu emprego e sua liberdade, sendo enviado a um gulag onde vem realizando trabalhos forçados.
As coisas parecem mudar quando o premiê Nazarbayev (Dani Popescu) resolve dar a Borat uma chance de se redimir. Ele deverá viajar até os Estados Unidos e presentear o vice presidente Mike Pence com Johnny, o chimpanzé cazaque que é uma das grandes personalidades do país graças à sua carreira de ator e diretor de filmes pornográficos.
Antes de partir em sua jornada, Borat descobre que seu vizinho invejoso Nursultan (Miroslav Tolj) tomou posse de sua casa, de seus pertences e até de seus filhos homens, mas mantém a filha de Borat, Tutar (Maria Bakalova) em um galpão do lado de fora de acordo com os hábitos locais.
Borat se despede de Tutar e segue para os Estados Unidos, apenas para chegar lá e descobrir que Tutar tomou o lugar de Johnny. Em desespero, Borat é convencido por Tutar de que ela pode ser um presente para Pence, matando dois coelhos com uma cajadada só. Borat cumpriria sua missão nos Estados Unidos, e ela seria a esposa de um político rico e poderoso e teria sua própria jaula, como a "princesa" Melania Trump.
Borat aceita a ideia, e então inicia uma operação make over para tornar Tutar digna dos altos padrões de beleza e comportamento norte-americanos, e tentar chegar perto o suficiente do "vice-premier" para fazer sua oferta enquanto ele e Tutar aprendem mais sobre a vida além do Cazaquistão.
Borat: Filme Subsequente é bastante semelhante ao longa original em termos de estrutura. Há uma trama central costurada por interações dos protagonistas com pessoas que não parecem entender muito bem o que está acontecendo em cena e que frequentemente parecem abocanhar com gosto a isca jogada por Cohen e Bakalova, mas dessa vez há um subtexto político e um alvo muito claros na mente dos realizadores:
A direita conservadora dos Estados Unidos e do mundo em geral.
Essa sanha assassina do filme contra os conservadores demanda que o espectador esteja ao menos razoavelmente por dentro da situação política norte-americana, e por vezes enterra o personagem central (que ainda assim tem tempo para realizar alguns movimentos típicos de Borat, como a sequência onde ele descobre todas as funcionalidades das "calculadoras" pelas quais os americanos se tornaram obcecados) ou amputa a coesão narrativa do filme, mas ao mesmo tempo impede que Filme Subsequente seja apenas uma versão estendida do longa original. Outro fator que ajuda nesse sentido, é a troca de parceria de Borat.
Ao substituir o produtor Azamat de Ken Davitian pela filha adolescente do protagonista, o longa se torna capaz de fazer graça com a maneira como homens, especialmente homens de meia idade, se comportam com jovens mulheres. Do pai de debutante que diz a Borat que Tutar valeria 500 dólares ao médico que garante que a atacaria sexualmente se o pai dela não estivesse presente (Os dois acreditando que a atriz é uma adolescente de quinze anos), até o bizarro encontro que encerra o terceiro ato do filme em um quarto de hotel, Maria Bakalova se prova uma agente do caos mais do que à altura de Cohen em sua capacidade de se enfiar em situações embaraçosas levando incautos consigo.
Não é apenas em velhos tarados que Borat: Filme Subsequente bate, porém. O longa ainda critica (e tira sarro) o facismo, anti-semitismo, racismo, da maneira como notícias falsas circulam livremente nas mídias sociais, e a forma como a ciência é destratada em nome de crenças pessoais.
Esse novo Borat não será, de forma alguma, tão memorável e atemporal como seu predecessor, mas é um longa que surpreendentemente importa no mundo em que vivemos e que é, sim, muito engraçado, e, sendo assim, eu não seria capaz de classificá-lo como nada além de um "Grande sucesso!".
O longa está disponível no serviço Prime Video da Amazon.

"-Papai é a pessoa mais esperta de toda a Terra plana!"

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, episódio 8: What I Know

 


What I Know, season finale de The Boys é a síntese perfeita do que foi a segunda temporada da série como um todo. Muito mais divertida do que a primeira temporada, mas longe de ser perfeita. É basicamente o que nós temos ao longo dos sessenta e sete minutos desse oitavo episódio que encerra o ano para os supers menos heroicos da TV.
As coisas foram de mal a pior no episódio passado. A sessão do congresso a respeito dos desmandos da Vought virou um banho de sangue que conseguiu convencer o público de uma única coisa: Há super vilões infiltrados em solo americano, e a única coisa capaz de deter um super, é outro super.
Com isso, a Vought está a dois passos de se tornar a fornecedora de Composto V do governo dos EUA, e passar a contar com super militares e super patrulheiros de fronteira para combater o mal doméstico e no estrangeiro.
A menos que os rapazes possam evitar.
O plano de Billy, Leitinho, Francês e Kimiko é bastante simples: Usar toda a tecnologia e criatividade possível para atacar Os Sete de frente e mandar eles todos gritando pro inferno de uma vez por todas. E se a Vought fizer mil novos supers para cada um que eles matarem, foda-se. Eles continuarão matando todos até acabar a munição. Annie, porém, quer tentar uma outra abordagem antes de partir para o enfrentamento direto, e pede uma chance de tentar evitar o derramamento de sangue.
Luz-Estrela espera poder contar com a ajuda da Rainha Maeve após a amazona ter salvado sua vida no episódio passado, e enquanto ela e Hughie tentam isso, Billy recebe uma vista inesperada.
Becca escapou do complexo da Vought e surge na porta do esconderijo dos rapazes pedindo que Bruto a ajude a recuperar seu filho, levado por Capitão Pátria e Tempesta. Billy prontamente se dispõe a fazê-lo, não apenas por saber o perigo que o mundo corre se um psicopata e uma nazista criarem um filho super-poderoso, mas também porque ele vê na coisa toda uma oportunidade de recuperar sua mulher.
Os rapazes, então, partem para resgatar o moleque, sabendo que pode ser uma viagem só de ida, na esperança de reunir a família Bruto de uma vez por todas.
É surpreendente como What I Know consegue amarrar tantas pontas soltas da primeira temporada e preparar terreno para a terceira depois de ter literalmente desperdiçado dois capítulos dos oito que tinha para esse ano. Ainda assim, fica claro que se o quarto e quinto capítulos dessa temporada tivessem sido melhor aproveitados, eventos que viram nota de rodapé nesse episódio, como o desmascaramento de um dos Sete, poderiam ter sido infinitamente melhor aproveitados. Falando em nota de rodapé, a mesma coisa acontece com alguns dos temas que o programa tenta usar para dialogar com nossa realidade, como a ligação do patrono da Igreja da Coletividade Alastair Adana (Goran Visnjic) com políticos e CEOs corporativos, ou a ideia de ter professores armados para defender crianças de ataques em escolas... São todas críticas sociais válidas, mas que simplesmente são atiradas na tela sem receber o devido tratamento e que acabam virando apenas ruído de fundo. Se esses temas tivessem sido contrabandeados à realidade da série com a mesma competência que o sucesso da retórica nazista entre extremistas foi, e eu estaria aplaudindo o programa.
Entretanto, mesmo com sua falhas, a segunda temporada de The Boys deu um inegável salto de qualidade. Tanto nos quesitos narrativa quanto diversão pura em simples, a versão 2020 da série é mais competente do que a primeira, e se a progressão se mantiver, o terceiro ano do programa pode me aguardar, pois eu estarei na frente da TV para assistir e do computador para elogiar.

"As garotas dão conta, mesmo..."

quinta-feira, 8 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, Episódio 7: Butcher, Baker, Candlestick Maker

 


Após o quarto e quinto episódios muito ruins, e um sexto episódio OK, The Boys reencontrou seu caminho no penúltimo episódio da temporada.
Com um segmento de abertura surpreendentemente sombrio para os padrões geralmente mais satíricos da série, mostrando os efeitos que estar constantemente preso dentro de uma bolha de discurso de ódio podem causar em uma pessoa solitária, Butcher, Baker, Candlestick Maker chuta a porta com força para nos preparar para o season finale.
Enquanto os Rapazes e Mallory se preparam para usar o conhecimento de Facho de Luz a respeito do que a Vought anda aprontando em Sage Grove para justificar uma ação do congresso dos EUA contra o guarda-chuva corporativo d'Os Sete, Tempesta e Capitão Pátria se assumem publicamente como um casal, elevando os índices de aprovação da nazista e do psicopata a níveis estratosféricos.
E enquanto o testemunho de Facho de Luz aparentemente não é o suficiente para pegar a Vought de jeito, ser os queridinhos da mídia não é o bastante para Tempesta e Capitão Pátria. Eles desejam ser uma família e, adivinhe só?
Eles até já têm um filho.
Por falar em relações entre pais e filhos, Connie Butcher (Lesley Nicol) está em Nova York, e gostaria de reunir a família uma última vez já que Sam (John Noble) não está na melhor das formas e não tem a melhor das relações com seu primogênito, William.
Enquanto Mallory e Leitinho vão tentar convencer o doutor Jonah Vangelbaum (John Donam), chefe do projeto do Composto V e o responsável pela criação do Capitão Pátria a falar contra sua antiga empregadora, Billy vai participar meio a contragosto de sua reunião familiar enquanto Francês e Kimiko tentam manter a deputada Neuman (Claudia Doumi) em segurança e Hughie fica de pajem do Facho de Luz, comendo pizza e assistindo pornografia no meio da tarde.
Como se tudo isso não fosse o suficiente, Hughie descobre que Annie foi taxada como traidora pelos Sete, e agora está sob custódia na Torre Vought, e ele tem apenas uma pessoa a quem recorrer para ajudá-lo em uma tentativa de resgatar Luz-Estrela...
Sim, Butcher, Baker Candlestick Maker é um ótimo retorno da série a seus melhores momentos, tem menos cara de filler e mais conteúdo, dando a impressão de que finalmente está tentando mover as peças no tabuleiro para algum lugar.
Nós temos até espaço para ver o relacionamento de Kimiko e Francês evoluir, o de Elena e Rainha Maeve ruir, e um vislumbre do que acontece com quem erra o pé no tratamento com a Igreja da Coletividade, mas os maiores temas do episódio são mesmo as relações entre pais e filhos e como elas moldam a vida dessas pessoas, e um nem sempre sutil subtexto político que tem os dois pés bem fincados na realidade dos EUA (e infelizmente brasileiro, por proximidade ideológica), agora nos resta esperar até amanhã para descobrir se haverá alguma espécie de resolução para os eventos dessa temporada, ou se ela é realmente uma espécie de transição e nós ficaremos no vácuo até o ano que vem.

"Você quer ser o corno ou o cara que fode a esposa?"

quarta-feira, 7 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, Episódio 6: The Bloody Doors Off

 



The Bloody Doors Off, sexto episódio da nova temporada de The Boys não chega a expiar os pecados dos capítulos quatro e cinco, mas ao menos ganha em termos de diversão e (alguma) importância narrativa.
O capítulo começa com (e é entrecortado por) vislumbres do passado do Francês, que ajudam a explicar sua obsessão em salvar Kimiko não importa a que custo. Esses flashbacks vão nos sendo mostrados conforme acompanhamos a missão dos rapazes de entrar nas instalações do Centro Sage Grove, um hospital/sanatório/asilo que Annie encontrou ao futricar nos arquivos do laptop de Tempesta, para tentar descobrir o que a Vought está tramando naquele lugar.
Eles acabam descobrindo mais do que podiam imaginar ao dar de cara com o ex-membro d'Os Sete Facho de Luz (Shawn Ashmore, o Homem de Gelo da franquia X-Men usando os poderes do Pyro...), com quem os rapazes partilham um passado repleto de rancores, e que está até o pescoço nos negócios escusos que Tempesta está supervisionando para o conglomerado industrial.
E, quando a meleca acerta o ventilador, o grupo se vê separado, com Leitinho, Kimiko e Francês presos dentro das instalações, e Annie, Bruto e Hughie precisando lidar com os problemas do lado de fora. 
Os demais membros d'Os Sete aparecem menos nesse episódio, mas ainda tempos tempo para ver como o Capitão Pátria lida com um relacionamento que é menos Edipiano do que o que ele mantinha com Stillwell (aqui vai um pequeno spoiler: Não muito bem) e que Maeve usou os poderes do Profundo para tentar obter um ás no jogo que inevitavelmente terá que travar com o líder da equipe pela segurança de Elena.
Por falar no Profundo, ele aparece vagando pelo set de filmagens de A Origem dos Sete e oferecendo uma Fresca para o Trem Bala. Considerando que o velocista azul está chegando perto do fundo do poço com sua aposentadoria compulsória, não é de se surpreender que ele seja o próximo alvo da Igreja da Coletividade, especialmente agora que a organização está demonstrando seu poderio com a reformulação da imagem do herói subaquático...
Conforme eu disse ali em cima, The Bloody Doors Off não chega a ser um primor, mas, comparado ao tanto que os episódios anteriores haviam sido insatisfatórios, é um puta avanço. A ação dentro de Sage Grove é intensa e bastante divertida, com diversos super-poderes bacanas, nojentos, ou as duas coisas ao mesmo tempo (destaque óbvio para o sujeito com a "Linguiça do Amor".). O maior mérito dessa sequência de ação talvez seja o fato de que ela serve a um propósito narrativo, e não é apenas barulho tentando tornar um capítulo aborrecido menos enfadonho.
É através dos acontecimentos em Cedar Grove que temos, tanto um vislumbre do passado dos rapazes (de Francês, Mallory e Facho de Luz em especial), e uma oportunidade de ver a relação entre Annie e Bruto se aprofundar.
A subtrama da Igreja da Coletividade não parece ir a lugar nenhum, e com apenas dois episódios para o fim da temporada, eu já estou conformado com a ideia de que isso vá ser melhor explorado apenas no terceiro ano, o que eu ainda não consigo entender é que espécie de clímax nós podemos esperar agora que faltam apenas dois episódios para a série terminar e não existe nenhuma espécie de conclusão narrativa à vista...
Enfim, vamos torcer para que ao menos o nível de diversão se mantenha. 

"-Todos que eu já amei estão enterrados. Mas então eu encontrei você. Nós encontramos um ao outro. E agora nenhum de nós terá que ficar sozinho novamente."


terça-feira, 6 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, Episódio 5: We Gotta Go Now




We Gotta Go Now começa no meio das filmagens de A Origem dos Sete, o longa metragem a respeito do super-grupo estrelado pelos próprios heróis sendo interrompidas pelo vazamento de um vídeo do Capitão Pátria acidentalmente matando um civil enquanto casualmente massacra um terrorista. O pesadelo de relações públicas para o maior herói da Vought tem uma solução simples, segundo Tempesta, mas o Capitão Pátria não parece interessado em ouvir conselhos da pessoa roubando seu holofote. Ao menos não imediatamente...
Ao mesmo tempo, após ter escolhido o plano de ação mais idiota possível para recuperar Becca no episódio passado e ter sido rejeitado por ela, Billy parece decidido a abandonar de vez a luta contra os supers. Ele vai até a casa de sua tia para apanhar Terror, seu glorioso buldogue inglês a caminho da Argentina, mas acaba sendo duplamente interceptado. Primeiro por Hughie e Leitinho, e depois por Black Noir, que estava no encalço dos rapazes no episódio passado, levando a um grande impasse na casa da aparentemente inofensiva tia de Billy, Judy (Barbara Gordon).
E ainda temos tempo para ver a Rainha Maeve e sua namorada Elena (Nicola Correia-Damude) passarem por uma apresentação de como elas serão repaginadas como o novo grande casal lésbico dos Estados Unidos, a revelação de que Trem Bala está sendo compulsoriamente aposentado d'Os Sete, a decisão de Kimiko de procurar uma nova carreira e como isso impacta em sua relação com Francês, e descobrirmos que o Profundo se casou com uma das noivas em potencial que a Igreja da Coletividade lhe apresentou no episódio passado em mais um passo de sua tentativa de voltar a'Os Sete, e Annie reencontra sua mãe na pior companhia possível.
We Gotta Go Now é o episódio mais fraco da temporada até aqui. Quiçá um dos piores da série como um todo.
É difícil não ter a impressão de que os três primeiros episódios da temporada foram um ponto fora da curva, especialmente quando a opção da Amazon de tornar a série semanal parecem ter tornado os defeitos dos episódios mais evidentes do que suas qualidades.
O pior de tudo é a maneira como os personagens parecem estagnados nesses dois últimos dois capítulos, com arcos e subtramas se movimentando a passo de tartaruga em direção a lugar nenhum.
Vamos torcer para que o quarto e quinto episódios sejam acidentes de percurso em momentos de transição, e que a série reencontre o caminho para seus três últimos episódios.

"Nós estávamos esperando um final feliz, é? Bem, eu lamento Hughie, aqui não é esse tipo de casa de massagem."

segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, episódio 4: Nothing Like It in the World



Quando Nothing Like it in the World começa, é basicamente dividindo os grupos e suas respectivas maneiras de lidar com os eventos do capítulo passado.

Kimiko segue tentando lidar com a morte do irmão nas mãos de Tempesta, e apesar de suas intenções, o Francês simplesmente não sabe se conectar com ela para consolá-la. Capitão Pátria não ficou nada satisfeito após a novata no grupo ter sido a responsável por eliminar o super-terrorista e ganhado um sonoro boost midiático no processo e começa a tocar o terror em todo mundo que cruza seu caminho, incluindo Maeve, Trem Bala e Annie, que confidencia a Hughie que não sabe muito bem pra onde as coisas irão de agora em diante.

Ao mesmo tempo, Billy vai ao encontro de Mallory se desculpar por ter, conforme ela aventara, ferrado tudo, mas recebe uma bandeira branca da ex-chefe. Uma tremenda bandeira branca:

A localização de Becca.

E uma pista a respeito da heroína de segunda classe dos anos 70 Liberdade, cujo nome estava por todos os lados nos arquivos da falecida Reynor. Os rapazes então, se dividem, e enquanto Bruto vai ao encontro de sua mulher, em uma área segura da Vought, Annie e Hughie vão para a Carolina do Norte investigar Liberdade junto com um contrariado Leitinho da Mãe.

Sem entrar no terreno dos spoilers, Nothing Like it in the World dá uma visível pisada no freio na comparação com os episódios anteriores. Ao longo de mais de uma hora, a trama avança muito pouco, e algumas das decisões dos personagens simplesmente não fazem sentido quando paramos para pensar a respeito. Outro problema é o ritmo do capítulo. Se eu elogiei o dinamismo do episódio anterior, é difícil não ficar surpreso com o quanto a trama parece arrastada aqui. Por mais que eu goste de ver Annie e Hughie juntos, e haja algo de maneiro em vê-los junto com Leitinho, a quantidade de exposição no segmento é excessiva e aborrecida mesmo que culmine com uma revelação interessante a respeito de um d'Os Sete.

Nos momentos focados em Billy, nós temos a oportunidade de ver o personagem de Karl Urban mostrar níveis de fragilidade que enriquecem o personagem apenas para, em seguida, mostrá-lo tomando o tipo de decisão tacanha que parece uma muleta narrativa das mais baratas, o que é algo frustrante, quase desonesto.

Ainda há tempo no episódio para vermos que a reformulação da imagem de Profundo organizado pela Igreja da Coletividade continua a passos largos, e que o nível de egocentrismo do Capitão Pátria é ainda mais perturbador do que se poderia imaginar...

No final das contas Nothing Like it in the World não foi dos episódios mais inspirados de The Boys, e eu não sei se a ideia da Amazon, de adotar um formato semanal para a temporada, não tem parte da culpa pelo tanto que esse capítulo soa insatisfatório, ou se a responsabilidade pesa sobre os três primeiros episódios da temporada, bem acima da média, seja como for, vamos torcer para que a segunda metade da temporada retome a qualidade.

"Você tem fãs. Eu tenho soldados."

sábado, 3 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, Episódio 3: Over the Hill, with the Swords of a Thousand Men



Apesar do título quilométrico, o terceiro episódio dessa temporada de The Boys é o mais curto até aqui. E, a metragem de 56 minutos se justifica à medida em que nesse capítulo, pela primeira vez na temporada, as linhas narrativas mais ou menos paralelas de todos os protagonistas e co-protagonistas  convergem para um único ponto, o que, eu devo dizer, foi bem bacana.
O episódio começa com os rapazes em um iate, algumas milhas distantes da costa, onde eles mantém o super terrorista Kenji cativo. Enquanto Kimiko tenta convencer seu irmão a aceitar a proteção de Mallory, Billy espera trocar o rapaz pela localização de Becca, mas enquanto espera a chegada de seus contatos, ele se desculpa com Hughie por tê-lo esmurrado no desfecho do capítulo anterior.
O pedido de perdão de Billy não é dos melhores, mas ainda pior é o soco que Hughie acerta em seu colega.
Fica claro, nessa cena, que Hughie não está lidando bem com o retorno de Billy, o perigo no qual eles estão se envolvendo e as implicações morais de toda a situação. Mais do que isso, os rapazes parecem estar em completa dissonância, cada um com sua própria agenda pessoal, e esse tipo de desunião não pode ser boa para a equipe.
Enquanto os rapazes tentam juntar os cacos, Os Sete estão envolvidos em seus próprios negócios. Nesse caso, um longa metragem estrelado pelos próprios heróis intitulado A Origem dos Sete, que tem seu roteiro todo pichado por Tempesta enquanto Black Noir, Rainha Maeve e Luz das Estrelas bocejam e Trem Bala parece estar lidando com algum percalço em sua recuperação...
Ao mesmo tempo, o Capitão Pátria segue atormentando Becca, decidido a fazer Ryan (Cameron Crovetti) usar seus poderes, nem que para isso precise lhe dar um empurrãozinho e o Profundo segue sua "reprogramação" com a Igreja da Coletividade.
As coisas dão uma guinada quando os planos de Hughie e Annie rendem frutos, e o que parecia uma vitória fundamental dos rapazes os coloca de vez na mira da Vought e dos Sete, incluindo Profundo, que aconselhado por Carol parte em busca de seu momento de brilhar e voltar ao convívio da maior super-equipe da Terra.
E tudo isso é só a primeira metade do episódio, pois a segunda é toda tensão e ação, com direito, inclusive, a um impasse mexicano envolvendo Billy, Hughie, Capitão Pátria e Luz das Estrelas, alguns dos heróis mostrando quem realmente são, tudo isso regado a destruição, sangue e entranhas de baleia.
É fácil perceber porque a Amazon decidiu disponibilizar os três primeiros capítulos da temporada simultaneamente, para então passar a publicar um por semana em seu serviço de streaming. Esses capítulos são, facilmente, os melhores da série até aqui, e mesmo quem tinha uma relação morna com o programa, como é o meu caso, não pode negar o aumento na qualidade da série em seu segundo ano.
Over the Hill, with the Swords of a Thousand Men é ótimo, e consegue confluir uma série de tramas que vinham sendo exploradas desde o a temporada passada, incluindo o plano de Annie e Hughie para tentar tornar o Composto V público, com ideias mais novas, aventadas nos dois capítulos anteriores, como a ascensão de Tempesta e a reformulação do Profundo, além de preparar terreno para o que nos aguarda durante o restante da temporada.
Pela primeira vez desde que eu comecei a assistir a série, eu estou ansioso pelos próximos episódios.

"Eu acho que se houver uma maneira de ferrar tudo, você vai encontrar."
 

sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, Temporada 2, Episódio 2: Proper Preparation and Planning


 


Um bocado de coisa acontece em Proper Preparation and Planning, segundo episódio da nova temporada de The Boys. Um bocado, mesmo. É uma hora de televisão que quase se parece com duas ou três, tamanha a quantidade de eventos que se desenrolam durante o capítulo, entretanto, palmas para os realizadores, tudo fica bem delineado o suficiente para que a audiência não se perca no caminho.

O episódio abre com Billy tentando concatenar onde Becca (Shantel VonSantem) está vivendo durante seu período desaparecida, e nos mostrando o que aconteceu com o líder dos rapazes após a cena que encerrou o season finale na temporada anterior. Se antes Bruto queria vingar sua esposa, agora ele a quer de volta, e, para conseguir isso, ele faz um acordo com Mallory (Laila Robins): Entregar o super-terrorista revelado no episódio passado em troca da localização de Becca. Parece um plano simples o suficiente, e que rende algumas das melhores cenas de ação do episódio, especialmente aquelas durante as quais os rapazes tentam capturar o terrorista (Abraham Lim), entretanto, a verdadeira identidade do sujeito pode ser um empecilho ao sucesso do plano...

Enquanto Billy tenta descobrir o paradeiro de Becca, ela tem seu prato cheio uma barbaridade já que, após levar uma mijada de Stan Edgar no episódio passado, Capitão Pátria resolve exercer seu poder absoluto em companhia de sua "família", tentando despertar os poderes de seu filho e transformá-lo em uma espécie de sidekick. E, ainda que Becca tente com todas as forças expulsá-lo, o super-herói mais poderoso do mundo parece irredutível em se sentir no comando em algum lugar após ser confrontado com sua relativa insignificância na cadeia de comando da Vought.

Ao mesmo tempo, o Profundo é apresentado aos métodos da Cientologia, digo, da Igreja da Coletividade. Após ser afiançado da prisão pelo Águia-Arqueiro (Langston Lerman) e apresentado a Carol (Jessica Hetch), ele passa por uma espécie de intervenção turbinada com drogas que o fazem passar por uma reveladora conversa com suas guelras (dubladas por Patton Oswalt).

A coisa toda é uma cômica representação da relação conflituosa que o Aquaman de araque tem com seu corpo. E a maneira leve (para os padrões da série) como a situação toda é tratada provavelmente fazem parte do esforço da trama para tornar um personagem com um cartão de visitas tão detestável como o que Profundo nos mostrou no primeiro episódio da série um pouco menos antipático, mesmo que seja o tornando patético...

Falando nos atos espúrios do Profundo no debite da série, sua vítima inicial, Luz das Estrelas também tem um bocado a fazer nesse episódio.

Ela tem seus primeiros momentos com a Tempesta, e não é injusto dizer que a suoer-heroína elétrica causa uma forte impressão em Annie. Tanto que fica nítida a impressão de que a loira pensa ter encontrado uma confidente e aliada em potência na novata.

Mas além de Tempesta, Trem-Bala (Jessie T. Usher) está de volta à equipe. E aparentemente ele está mordido o bastante para, além de não ligar para o fato de Annie e Hughie terem salvo sua vida na temporada passada, fica na cola da colega o suficiente para descobrir o seu acordo com o Lagartixa.

Como dá pra ver não faltou conteúdo no segundo capítulo da nova temporada de The Boys, ainda assim, com um tema central bem definido e uma condução bastante competente, Proper Preparation and Planning foi mais um capítulo sólido e divertido para o seriado que parece ter encontrado uma voz em seu segundo ano.


"Nós podemos fazer o que quisermos e ninguém pode nos impedir. Agora, essa é uma sensação boa, uma sensação realmente boa."

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Resenha Série: The Boys, temporada 2, episódio 1: The Big Ride

Eu não sou o maior fã de Garth Ennis. Pra ser bem franco, eu reconheço as qualidade do sujeito como escritor, mas sua maneira de escrever quadrinhos em geral, super-heróis em particular, jamais ressoou comigo, de modo que o trabalho do norte-irlandês sempre passou meio que batido, pra mim. Eu não sei quanto de minha reação neutra à primeira temporada de The Boys passa justamente por essa falta de afinidade com o trabalho do criador do material-fonte do seriado, mas, seja como for, eu achei a primeira temporada da série boa. 
Não excelente, não fenomenal, não ótima... 
Boa. 
Ainda assim, logo que os três primeiros capítulos do segundo ano foram disponibilizados pela Amazon no seu serviço Prime Video, eu fui logo tratar de me colocar a par de onde andavam os rapazes, Os Sete, e todo mundo entre os dois grupos. 
The Big Ride retoma de onde a temporada anterior terminara. Madelyn Stillwell (Elizabeth Shue) teve seu rosto carbonizado pelo Capitão Pátria (Antony Starr) que incriminou Billy Bruto (Karl Urban) pelo crime, e ainda esfregou a cara do ex-operativo da CIA na sujeira ao mostrar que sua esposa dada como morta não apenas estava viva e bem, mas também havia dado à luz o filho do super-psicopata. Enquanto Billy está sabe-Deus-onde após essa descoberta, Hughie (Jack Quaid), Leitinho (Laz Alonso), e Kimiko (Karen Fukuhara) estão escondidos com um grupo de criminosos do passado de Francês (Tomer Capon) planejando uma fuga dos Estados Unidos. Exceto por Hughie, que não está tão seguro de seu próximo passo. 
A despeito dos pepinos colossais que os rapazes tiveram que encarar na temporada anterior, ele segue em contato com Annie/Luz das Estrelas (Erin Moriarty), e não apenas no sentido "profissional" do relacionamento, conforme seu achaque por ela ter ido à uma cerimônia de premiação com Alden Ehrenreich deixa claro. Hughie e Annie ainda acreditam que podem expor a Vought se conseguirem uma amostra do Composto V para tornar o fato de a empresa criar super-heróis público e, para isso, Annie terá que cruzar seu caminho com o super-herói de quinta categoria chamado Lagartixa (David Thompson), que usa seus poderes de regeneração para propósitos bem menos nobres do que o combate ao mal... 
Enquanto os rapazes pensam no que fazer da vida, o Capitão Pátria tem seus próprios planos. Com a morte de Stillwell, o super-herói mais poderoso do mundo está crente que assumirá o lugar da executiva na gerência d'Os Sete, e deixa isso perfeitamente claro para sua pretensa chefe, Ashley (Colby Minifie). O líder do maior super-grupo da Terra planeja comandar a própria agenda, o próprio marketing e, mais do que isso, decidir quem entra e quem sai da sua equipe. Talvez por isso o choque de realidade que ele leva de Stan Edgar (Giancarlo Esposito) ao tentar barrar a entrada de Tempesta (Aya Cash) na equipe seja um golpe particularmente duro em seu colossal ego. 
Tempesta, por sinal, chega ao grupo chutando a porta. Ela faz transmissões ao vivo dos bastidores dos comerciais da equipe, tem uma presença massiva nas redes sociais e se comunica com os millenials de uma forma como nenhum outro membro da equipe é capaz, e o Capitão Pátria parece não gostar nem um pouco disso, e nem do fato de Edgar deixar bem claro que nenhum d'Os Sete é insubstituível para a Vought. 
E, quando os problemas dos rapazes parecem não terem mais pra onde aumentarem, eles descobrem que estão escondidos com um potencial grupo de traficantes de pessoas que está trazendo super-terroristas para os Estados Unidos, o que os leva a um explosivo encontro com a diretora Reynor (Jennifer Esposito). 
Ainda há tempo para vermos mais um pouco das desventuras do Profundo (Chance Crawford) em Ohio, e seu primeiro contato com a Igreja da Coletividade, uma instituição religiosa que promete ser capaz de devolvê-lo ao seu lugar de direito após ele atingir o fundo do poço e para Hughie e Annie começarem a divergir sobre toda a tentativa de ir à público com o Composto V além, é claro, de termos o retorno de Bruto à cena. 
O segundo ano de The Boys começou bem mais movimentado do que a primeira temporada havia terminado, e isso foi uma coisa boa. A entrada de novos personagens sem roubar em demasia o holofote dos veteranos, também foi positiva, e, de modo geral, esse primeiro episódio pareceu um bom cartão de visitas para a nova temporada, com tramas e temas bem delineados e uma narrativa sólida. Vamos torcer para que os futuros episódios mantenham a boa média. 

" -O ponto é, eu posso ser essa pessoa que ninguém acha que é incrível, mas que no fim das contas pode meio que ser incrível pra caralho."