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sábado, 24 de outubro de 2020

Resenha Filme: Borat: Filme Subsequente

 



Foi no distante ano de 2006 que Sacha Baron Cohen, um comediante já reconhecido na Grã-Bretanha pelos personagens extravagantes que criara para o The 11 O'Clock Show ganhou o mundo ao transformar uma de suas criações em filme.
O sucesso que lhe fora sonegado ao fazer a mesma coisa com o rapper Ali G quatro anos antes foi alcançado com folgas pelo segundo melhor repórter do Cazaquistão, Borat Sagdyev e sua jornada pelos Estados Unidos e América buscando o enriquecimento cultural de sua própria nação.
O longa, com seu humor anárquico e por vezes escatológico que não abria mão da crítica social, foi um grande sucesso de público e crítica, rendendo até mesmo um Globo de Ouro (e um hilário discurso de aceitação) a Cohen.
Quase uma década e meia mais tarde, Cohen, agora um ator que mostrou possuir mais talentos além da capacidade de desaparecer em tipos esdrúxulos para deixar as pessoas desconfortáveis, retorna ao personagem que lhe abriu as portas de Hollywood ainda anárquico, desconfortável e escatológico, mas ainda mais agudo e focado em sua crítica social.
Borat Filme Subsequente: Entrega de Prodigioso Suborno ao Regime Americano para fazer Benefício à Outrora Gloriosa Nação Cazaquistão começa com a narração de Borat nos contando que após suas aventuras nos EU e A quatorze anos atrás, ele caiu em desgraça. Sua viagem levou grande vergonha ao Cazaquistão e ele perdeu todos os seus benefícios, status social, e até seu emprego e sua liberdade, sendo enviado a um gulag onde vem realizando trabalhos forçados.
As coisas parecem mudar quando o premiê Nazarbayev (Dani Popescu) resolve dar a Borat uma chance de se redimir. Ele deverá viajar até os Estados Unidos e presentear o vice presidente Mike Pence com Johnny, o chimpanzé cazaque que é uma das grandes personalidades do país graças à sua carreira de ator e diretor de filmes pornográficos.
Antes de partir em sua jornada, Borat descobre que seu vizinho invejoso Nursultan (Miroslav Tolj) tomou posse de sua casa, de seus pertences e até de seus filhos homens, mas mantém a filha de Borat, Tutar (Maria Bakalova) em um galpão do lado de fora de acordo com os hábitos locais.
Borat se despede de Tutar e segue para os Estados Unidos, apenas para chegar lá e descobrir que Tutar tomou o lugar de Johnny. Em desespero, Borat é convencido por Tutar de que ela pode ser um presente para Pence, matando dois coelhos com uma cajadada só. Borat cumpriria sua missão nos Estados Unidos, e ela seria a esposa de um político rico e poderoso e teria sua própria jaula, como a "princesa" Melania Trump.
Borat aceita a ideia, e então inicia uma operação make over para tornar Tutar digna dos altos padrões de beleza e comportamento norte-americanos, e tentar chegar perto o suficiente do "vice-premier" para fazer sua oferta enquanto ele e Tutar aprendem mais sobre a vida além do Cazaquistão.
Borat: Filme Subsequente é bastante semelhante ao longa original em termos de estrutura. Há uma trama central costurada por interações dos protagonistas com pessoas que não parecem entender muito bem o que está acontecendo em cena e que frequentemente parecem abocanhar com gosto a isca jogada por Cohen e Bakalova, mas dessa vez há um subtexto político e um alvo muito claros na mente dos realizadores:
A direita conservadora dos Estados Unidos e do mundo em geral.
Essa sanha assassina do filme contra os conservadores demanda que o espectador esteja ao menos razoavelmente por dentro da situação política norte-americana, e por vezes enterra o personagem central (que ainda assim tem tempo para realizar alguns movimentos típicos de Borat, como a sequência onde ele descobre todas as funcionalidades das "calculadoras" pelas quais os americanos se tornaram obcecados) ou amputa a coesão narrativa do filme, mas ao mesmo tempo impede que Filme Subsequente seja apenas uma versão estendida do longa original. Outro fator que ajuda nesse sentido, é a troca de parceria de Borat.
Ao substituir o produtor Azamat de Ken Davitian pela filha adolescente do protagonista, o longa se torna capaz de fazer graça com a maneira como homens, especialmente homens de meia idade, se comportam com jovens mulheres. Do pai de debutante que diz a Borat que Tutar valeria 500 dólares ao médico que garante que a atacaria sexualmente se o pai dela não estivesse presente (Os dois acreditando que a atriz é uma adolescente de quinze anos), até o bizarro encontro que encerra o terceiro ato do filme em um quarto de hotel, Maria Bakalova se prova uma agente do caos mais do que à altura de Cohen em sua capacidade de se enfiar em situações embaraçosas levando incautos consigo.
Não é apenas em velhos tarados que Borat: Filme Subsequente bate, porém. O longa ainda critica (e tira sarro) o facismo, anti-semitismo, racismo, da maneira como notícias falsas circulam livremente nas mídias sociais, e a forma como a ciência é destratada em nome de crenças pessoais.
Esse novo Borat não será, de forma alguma, tão memorável e atemporal como seu predecessor, mas é um longa que surpreendentemente importa no mundo em que vivemos e que é, sim, muito engraçado, e, sendo assim, eu não seria capaz de classificá-lo como nada além de um "Grande sucesso!".
O longa está disponível no serviço Prime Video da Amazon.

"-Papai é a pessoa mais esperta de toda a Terra plana!"

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