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sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Rapidinhas do Capita bi-campeão da América.


-Vou te meter a mão na cara.
-Tu e mais quantos, bichona?
Era assim que conversavam o Marcos e o Sérgio. Aos solavancos. As pessoas ao redor ficavam escandalizadas, chegavam a se afastar alguns passos com medo de levar algum rescaldo da inevitável briga.
Mas não brigavam. Eram amigos. Muito. Íntimos. Sempre acabavam discutindo, as discussões geralmente quase acabavam em pancadaria. O resto da turma que frequentavam, em mais de uma oportunidade chegou a cogitar a ideia de não convidar os dois pros mesmos programas, mas foi inútil, um ligava pro outro.
-Alô.
-No teu rabo, viado.
-Que tu quer, trouxa?
-Tá ocupado?
-Tô, tô comendo a tua irmã.
-Lerdo, a tua saiu cedo daqui. Vamo no bar com a gurizada?
-Vamo.
Quem se escandalizava não sabia que, entre amigos de verdade como eram os dois, o peso das ofensas equivale ao grau de amizade.
O problema foi quando Sérgio se apaixonou pela Dora, namorada do Marcos. Apaixonou mesmo, de não poder mais andar com o casal por causa da dor.
Sérgio conhecera Dora antes de Marcos, mas o segundo fora mais rápido na hora da paquera e ficara com ela. Após semanas evitando o casal foi confrontado pelo amigo e admitiu explicando a situação.
-Olha, mané... Tô caído pela tua namorada desde que conheci ela. Sério. Acho ela tudo de bom, o único defeito dela foi cair na trova de uma bichona enrustida feito tu.
-Escuta aqui, franchona, se tu acha que por isso vai parar de andar com a gurizada e de ouvir meus desaforos só por causa disso é ainda mais burro que parece. Vai falar com ela, deixa ela decidir entre o homem e o espantalho.
A moça, incrédula, ouviu d que ambos gostavam dela, e que ela podia escolher com quem queria ficar. Dora explicou, delicadamente, que não se sentira atraída por Sérgio, e que o considerava apenas um amigo e nada mais. Sérgio foi embora com o coração em pedaços.
No dia seguinte Marcos apareceu em sua casa.
-Olha, ô viado. Não tô mais com a Dora. Terminamos. Vai ter churrasco do pessoal hoje e eles querem que tu vá apesar dessa tua cara deixar todo mundo com ânsia de vômito.
-Mas... Imbecil, tu terminou com a Dora por minha causa?
-Não... Bom, mais ou menos... Eu sempre preferi comer a tua mãe, mesmo.
Entre amigos vale tudo. Até colocar a mãe no meio.
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Parecia uma rocha. Constante, não oscilava. Opiniões, disposições, tudo sempre no lugar, pra mudar levava tempo e custava latim e saliva, montes de latim e de saliva, e ainda assim, não era garantia de que mudaria. Distraído ao extremo, ás vezes parecia não ter medo de nada. Só parecia.
Claro que ás vezes ele tinha medo. Muito. Não de fantasmas, violência urbana ou das contas do fim do mês, até por que, na opinião dele, a primeira coisa não existe, a segunda pode acontecer, ou não, e a terceira é inevitável.
O que apavora ele, o que de fato enche o coração dele de terror, é ela perceber que ele é um rematado xaropão, e que tudo o que, á distância, pode ser confundido com charme, de perto não passariam de defeitos.
Perímetro de segurança, ele pensa o tempo todo. Um perímetro de segurança vai manter as pessoas á uma distância segura. E naqueles momentos em que ele fica parado olhando pra ela pensando no quanto gostaria de beijá-la, uma daquelas cornetas antigas soa em seu subconsciente:
Arrooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooooga!
-Perímetro comprometido! Perímetro comprometido!
E ele se afasta de novo, louco de medo que ela tenha reparado.
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TRADUÇÃO:
Ela saiu do trabalho e ele estava lá, conforme prometera, mas parecia abatido. Se aproximou dela cabisbaixo e simulou um sorriso perguntando se estava pronta.
-Sim, tô pronta, tudo bem contigo? -Ela perguntou.
Ele maneou a cabeça e começou:
-Ah... Tudo. Tô só um pouco cansado. O dia lá na empresa foi meio pesado, corrido. Mas tá tudo bem. Se tivesse opção eu confesso que iria querer chegar em casa, tomar banho, comer uma coisinha rápida e ir pra baixo das cobertas ver um filme enquanto faço cafuné e uma massagem em ti, mas a gente já tinha combinado de ir jantar com a Larissa e o Jorge, então, vamos lá, eles devem estar esperando a gente já...
Mas na verdade ele quis dizer:
-Ah... claro que não tem nada bem. Não viu minha cara? Fiz cagada no trabalho logo cedo e passei o dia inteiro tendo que consertar. Foda. Ainda pensei que tava tranquilo, ia chegar em casa, tomar um banho, ver a Série B enquanto tu fazia a janta e depois iria me deitar e tentar te convencer a dar pra mim com um cafuné de três segundos e uma massagem de meio minuto, aí lembrei que tu tinha marcado essa porcaria de jantar com a vagaba da Larissa e o mané do Jorge, então, vamo lá...

2 comentários:

  1. hahaha engraçado que amizade de mulher é o contrário né? Na frente elas se tratram de queridinha, lindinha,amiga e não sei mais o que, ai é só uma virar as costas que o biscate,galinha,falsa e não sei mais o que começam !!
    ***

    perímetro de segurança...como aquelas obras de arte, de longe é tudo perfeito, traços, detalhes, nada fora do lugar; ai é só se aproximar um pouco mais, que é possível notar as rachaduras, pequenas, mas na maioria das vezes comprometedoras! Mas isso vale pra obras artísticas né? Baixar a guarda, com certeza é isso que o rematado xaropão devia fazer, deixar o pavor de lado e se entregar logo de uma vez. Ela pode atá repar num defeitinho ou outro,mas duvido que isso irá comprometer o charme e o encantamento que ela via de longe...

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  2. Ai, esses personagens deviam tomar um forteviron e ir em busca da felicidade... solitária já basta eu!!!

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