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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Testosterona


Houve um tempo, quando os anos oitenta se transformavam nos noventa, em que a vida era boa.
Era uma época em que criança era criança e agia feito criança, em que os adultos trabalhavam, e agiam feito adultos. Eu lembro que eles se queixavam bastante da inflação, dos milicos, e depois do Sarney, e depois do Collor.
Não existia a TV á cabo, não existia internet e até era bom, por que com a inflação que tínhamos na época, sabe Deus quanto pagaríamos mensalmente por uma sky, net ou banda larga.
Mas nem tudo era ruim, havia bons programas brasileiros na TV. Sério, não me refiro a novelas, embora, naquela época, tenham havido algumas que eram boas, ou, pelo menos, pareciam boas. Havia seriados como TV Pirata e Armação Ilimitada que eram tão divertidos pra nós, na época, como Lost e Heroes são pra rapaziada de hoje.
Video cassete era um luxo ao que poucas pessoas tinham acesso, pelo menos no começo, e cinema era coisa pra casais de namorados, então se via filmes na TV aberta, mesmo, em especial na Globo.
Dia de filme na TV era segunda-feira, Tela Quente (que permanece até hoje, embora passando filmes que todo mundo já viu trocentas vezes.), que passava os filmes inéditos mais maneiros.
Foi como um legítimo filho dos anos oitenta e noventa que eu acompanhei as aventuras dos meus heróis cinematográficos preferidos na época da Tela Quente, todos os sujeitos durões que estrelavam filmes recheados de explosões ou pancadaria ou ambos e eram, claro, regados com muita testosterona.
Sylvester Stallone, com Rambo II (O primeiro Rambo passou no SBT no mesmo dia em que o segundo ia passar na Globo, concorrência total!) e Rocky 3, Arnold Schwarzenegger com Comando Para Matar, O Predador, e Conan - O Destruidor (Conan - O Bárbaro eu só vi bem mais velho, apesar de ser o primeiro filme.), Bruce Willis em Duro de Matar e Encontro ás Escuras (Eu sei, era uma comédia romântica, mas ele era o David de A Gata e o Rato, e, além de o filme ser divertido, tinha a Kim Basinger que era linda e o John Laroquette que tava hilário.).
Ainda tinha o Dolph Lundgren fantasiado de He-Man em Mestres do Universo e de "Punidor" em Justiceiro, o Van Damme quebrando tudo em O Grande Dragão Branco, Steven Segall jovem e magro, batendo em todo mundo, Chuck Norris distribuindo round-house kicks pra tudo quanto é lado, enfim, era um tempo simples, com heróis simples que tinham soluções simples pra tudo.
As histórias, via de regra, eram bem pobrinhas, eram pirotécnicos Homem x Exército reduzidos á duas premissas:
Vingança, onde matavam alguém querido ao mocinho (esposa e filhos costumavam ser as melhores pedidas), fazendo-o jurar vingança, vingança essa que geralmente envolvia matar batalhões e cometer algumas barbáries, ou Dever, onde não era mais, senão a obrigação profissional do mocinho (Policial ou soldado, eram profissões bem frequentes.) que o colocava em rota de colisão com o vilão.
Os vilões, aliás, eram um capítulo á parte. Unidimensionais até não poder mais, eram apenas malvados, não tinham lá muitas aspirações ou personalidade, eles eram cruéis e era isso (Pegue Clarence Boddicker, de Kurtwood Smith em Robocop, ou o Bennett de Vernon Wells em Comando para Matar, por exemplo.).
Isso pode parecer falha de roteiro ou desenvolvimento, mas serve á um propósito, por que, nos anos oitenta, os heróis eram sombrios e violentos, dominavam o cinema caras sem lá muita finesse, que estavam prontos pra explodir, esmigalhar ou triturar o crânio de seus inimigos como fosse possível, e que quase sempre tinham uma faca, pistola, escopeta, metralhadora ou um lança-granadas para ajudá-los a cumprir esse objetivo.
Por isso os vilões eram tão abjetos, sendo o vilão detestável, era mais fácil para a audiência curtir o momento em que o mocinho faria atrocidades com ele sem ter dó do desgraçado.
Os heróis, aliás, salvo raras exceções, também não tinham lá muita personalidade. Se no primeiro Rambo o personagem interpretado por Stallone ainda tinha um background e um espectro de emoções, nos demais ele era pouco mais que uma máquina de matar (o que Schwarzenegger encarnava com perfeição nos filmes de Exterminador do Futuro), tirando Martin Riggs (Mel Gibson em Máquina Mortífera) e John McLane (Willis em Duro de Matar.), heróis dos anos oitenta eram quase nada além de músculos, bofetões, tiros e uma dose cavalar de determinação e testosterona, basta comparar James Braddock, Nico Toscani e Jack Caine.
Hoje, olhando em perspectiva, podemos pensar que aqueles filmes eram ruins, mas eles não eram, eram aventuras despretenciosas e divertidas que apenas traduziam a eterna luta de bem contra mal sob as luzes de uma época sem lá grandes inspirações.
É pensando em como aqueles tempos eram divertidos e simples que eu estou seco pra ver Os Mercenários (The Expendables) que estréia hoje no Brasil.
Uma ode ao cinema de pancadaria e explosões dos anos oitenta dirigida, co-escrita e estrelada por um dos papas do gênero, Sly Stallone, com elenco de cascas-grossa da nova era e participações especiais de Schwarza e Willis.
Se eles explodirem tudo e distribuirem pancada á valer, sem duvida será o filme que eu espero.

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