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quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Mundo Alternativo


Ela estava abraçada nele, os dois jogados em cima do sofá. Ela estava usando a camiseta branca de Star Wars dele, e mais nada, ele estava usando cuecas pretas, mas, tímido que era, estava sob as cobertas, mesmo que não estivesse frio.
As roupas espalhadas em volta do sofá eram o testemunho do que eles haviam feito durante a hora e meia anterior, assim como a dor que ele sentia nos joelhos, e o sorriso idiota que se estampara em sua cara barbada. Ela estava com os braços ao redor do peito dele. Pequenina que era, não conseguia dar a volta. A cabeça dela repousava em seu peito amplo, e ele tinha o braço esquerdo ao redor do pescoço dela, e nessa posição, conseguia dar a volta por trás de sua cabeça e acariciar-lhe o cabelo. Na outra mão, talvez seu maior traço de masculinidade:
O controle remoto.
Ele olhava meio absorto para a parede atrás da TV, para a janela no meio daquela parede, para o infinito e além, absorto que estava na sensação de completude absoluta que sentia quando partilhava o tempo e o espaço com ela.
Imaginava como seriam as coisas se ele fosse uma pessoa mais normal. Sem o seu background de patadas da vida, sem a sua infância complicada em família, sem sua adolescência quase marginal, sem a oneração de todas as responsabilidades que aceitava assumir mesmo sabendo que não conseguiria dar conta... Imaginou como era bom estar perto dela, sentindo o toque de sua pele, massageando suas pernas, beijando-lhe as costas, sentindo nas narinas o rescindir de sua pele olorosa, vivendo na iminência de uma gargalhada fagueira, de uma conversa muito séria a respeito de coisas que não importam nem um pouco, ou de seu desejo absurdo por ela vencer-lhe a timidez e o transformar em uma devassa versão nerd de algum amante da literatura...
Ela, com as mãos miúdas aninhadas sob a cabeça, olhava para a TV atentamente. Respirou fundo franzindo o cenho, e disse:
-Sabe o que é que eu queria ter? Uma bexiga natatória...
Ele, sacado de seus devaneios, olhou pra ela erguendo uma sobrancelha:
-Uma bexiga natatória?
-É. - Ela confirmou. E olhando pra TV de novo, perguntou: -Tu sabe o que é?
-Sei. - Ele respondeu, procurando sem sucesso na TV um documentário sobre vida marinha que ela pudesse estar assistindo pra ter chegado àquela conclusão sobre o que queria ter. -É aquele órgão em forma de balão que os peixes ósseos têm. Serve pra eles poderem subir e descer dentro d'água...
Ela sorriu um sorriso iluminado olhando pra ele. Ele sempre achava graça do fato de ela ficar feliz por ele saber esse tipo de coisa sem serventia. Ela deitou a cabeça em seu peito de novo e continuou:
-É... Isso mesmo... Também chamam de vesícula gasosa, mas não é um nome tão maneiro quanto bexiga natatória. Eu queria ter uma... Aí eu ia poder nadar embaixo d'água, ir até bem fundo, e, quando ficasse sem fôlego, era só subir de volta bem rapidão, sem precisar bater pé nem dar braçada...
Ele pensou em dizer que ela não poderia ir até tão fundo. Que só poderia ir até certa profundidade, e então teria que voltar pois a pressão da água seria demasiada, e que era melhor ela não voltar à tona tão rapidão, ou sua bexiga natatória poderia rebentar, mas resolveu deixar de lado tais pormenores. No mundo proposto por ela essas regras não se aplicariam, ela desenvolveria uma vesícula gasosa, e poderia subir e descer bem rapidão dentro d'água, e quem sabe ele poderia desenvolver um órgão que o tornasse menos esquivo. Menos desconfiado e distante... E o permitisse aproveitar mais momentos como aquele.

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