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quarta-feira, 28 de agosto de 2013
Platônico
O que a Josi tinha de linda, tinha de antipática. O Edson, que não era dado a rompantes de paixonite por qualquer mulher linda que lhe cruzasse o caminho, acabou fisgado por ela.
Ao ver a Josi, linda de morrer, com seus cabelos pretos, pele morena, olhos castanho-esverdeados, lábios carnudos e nariz cheio de personalidade atrás do balcão da livraria, imediatamente se apaixonou por ela.
Não se pôs á observar-lhe os passos, não correu para a internet para descobrir as preferências dela nem nada do tipo.
Não era assim que funcionava o Edson. Nunca fora homem de desenvolver paixonites relâmpago.
O que ele desenvolveu não era nenhuma maluquice de psicopata sexual nem nada do tipo. Era apenas uma pura manifestação de carinho e talvez de carência. Ele se imaginava namorando a moça bonita em questão. Andando de mãos dadas com ela. Dividindo sorvete de casquinha na mesma colher... Esse tipo de amenidades.
Tímido e inexperiente que era, Edson não se pôs a cortejar a moça por quem se apaixonara. Tampouco a pensar obscenidades com ela... Não.
Ele era um homem modesto, de aspirações modestas. Ele simplesmente gostava de vê-la de vez em quando. Partilhar, ainda que brevemente, superficialmente, de sua presença.
Por isso começou a frequentar a livraria em que a Josi trabalhava. Era o máximo que poderia almejar de uma moça como aquela.
Olhando em perspectiva, todas as (poucas) moças por quem o Edson se apaixonara em sua vida, eram bonitas. Edson podia ser feio, bagunçado e desprovido de atrativos físicos, mas por Deus, ele tinha bom-gosto. E a Josiane era assim: Bonita.
Linda, até.
A questão é que, como toda a moça bonita, e consciente de sua beleza, a Josi era meio antipática.
A Josi dava "oi" na livraria como se estivesse fazendo um favor. Atendia com, na melhor das hipóteses, uma cordialidade distante. O Edson ás vezes se perguntava como é que a Josiane mantinha o emprego sendo tão fria com os fregueses. Mas deu-se conta que ele próprio era distante e frio com a maioria das pessoas. E, sendo uma pessoa com um mínimo de coerência, não cobraria dela o que era, ele próprio, incapaz de oferecer.
A questão é que a Josi era distante demais. Fria demais. Antipática demais. E, com o tempo, o Edson foi superando a paixonite.
Continuou frequentando a livraria mais por conveniência. Ficava perto de seu trabalho, bem no caminho que ele comumente fazia para voltar pra casa.
Deixou, porém, de se esforçar pra ser atendido pela Josiane. Fazia suas compras e tirava suas dúvidas com qualquer atendente que estivesse livre naquele momento.
Ainda achava Josi bonita, mas mesmo isso empalidecera.
Certa feita, porém, voltando pra casa do trabalho, foi surpreendido por uma torrencial chuva que o ensopou até os ossos.
Enquanto andava pela calçada, sentindo a água molhar-lhe até as roupas de baixo, olhando pra frente por detrás dos óculos embaçados, foi surpreendido por um "Oi" feminino bastante alto vindo de sob o toldo de uma farmácia próxima. Ao se virar em direção à pessoa que o cumprimentava, deparou-se com Josi.
Ela própria molhada, embora não tanto quanto ele, sorridente e viva. Muito diferente de quando estava na livraria.
Ele se virou, e incrédulo respondeu ao cumprimento com um sorriso e um aceno.
Ela acenou de volta e disse:
-Não vai se resfriar, hein?
Ele respondeu um inseguro "Nem tu.". E ela lhe deu uma piscadela.
Bastou.
A paixonite de Edson voltou renovada.
Não sabia porque a Josi era tão fria na livraria e tão calorosa fora dela. Nem tentou, de nenhuma forma, estreitar a relação. Em parte por conta da timidez. Em parte porque chegara à conclusão de que os amores platônicos verdadeiramente diligentes são os que reservam a menor cota de desapontamentos, e as mais doces recompensas.
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