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terça-feira, 19 de novembro de 2013
Resenha Blu-Ray: Antes da Meia-Noite
Era 1997, e eu tinha dezesseis anos, e vivia meu primeiro coração partido (ou talvez tenha sido o segundo, ou quem sabe o terceiro? Não sei, eu vivia de coração partido na adolescência), eu jogava futebol todo o tempo em que não estava na escola, e passava as madrugadas acordado, assistindo à TV (aberta, TV a cabo era luxo pra poucos naquela época) e desenhando ou jogando videogame.
Foi numa noite assim que eu pesquei, muito ao acaso, num Corujão da Globo, Antes do Amanhecer, de 1995, e imediatamente, me identifiquei com Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy), o jovem americano e a jovem francesa que saltam do trem em Viena e vivem um romance glorioso e verborrágico que dura até a manhã seguinte quando se despediram com a promessa de reencontro dali a seis meses.
Era, como eu disse, a minha adolescência. Uma época de amores platônicos e longas conversas batendo perna pelas ruas, um período de descobertas que eram celebradas como as maiores do mundo e decepções que faziam parecer que era o fim dos tempos.
A vida era um pouco como Antes do Amanhecer quando eu era adolescente.
Em 2004 não consegui assistir Antes do Pôr-do-Sol no cinema, mas aluguei o filme assim que ele foi lançado em home video.
Na sequência, novamente estrelada por Hawke e Delpy, e novamente capitaneado por Richard Linklater, soubemos o que aconteceu seis meses após os eventos do primeiro filme, soubemos que Jesse e Celine haviam amadurecido, desenvolvido um certo cinismo face à vida, que eram mais malandros e espertos para com o mundo, mas que ainda se amavam e que tinham a chance de ficar juntos, conforme o final do filme, tão aberto quanto o do primeiro, sugeria, e de novo, a vida era um pouco como Antes do Pôr-do-Sol.
Mais dez anos se passaram e esse ano, quase de supetão, Jesse e Celine voltaram ao cinema.
A trinca formada pelo diretor Richard Linklater e pelos protagonistas Delpy e Hawke que são também roteiristas do filme, apresentaram o terceiro capítulo do que é, nas palavras de Hawke, a franquia menos rentável do cinema.
Jesse e Celine ficaram juntos, como não podia deixar de ser.
Os últimos nove anos trouxeram duas gêmeas, filhas do casal, mais dois livros para Jesse, e uma inevitável rotina.
Quando os reencontramos, Jesse acaba de deixar seu filho mais velho no aeroporto, para voltar a Chicago, onde vive com sua mãe.
Eles estão terminando um período de seis semanas na Grécia, a convite de Patrick (Walter Lassaly) um escritor amigo de Jesse que junta colegas em sua casa num cenário idílico ao sul do Peloponeso.
Lá, os dois amantes deveriam aproveitar sua última noite na Grécia em um programa romântico oferecido por um casal de amigos, mas o que deveria ser uma noite de paixão em um país pitoresco, se torna uma DR violenta, cheia de ressentimento e acusações.
Jesse quer se mudar para os EUA para estar perto do filho, Celine vê isso como uma ameaça à sua independência, já que tem a oferta de um emprego no governo francês, esse é o estopim para uma longa conversa onde nós ficamos sabendo de tudo o que aconteceu na vida do casal nesses últimos nove anos. Que Jesse ainda é basicamente um garotão crescido, incapaz de ajudar nas tarefas domésticas, que Celine se ressente do sucesso literário dele, que ele coloca as próprias necessidades e ânsias acima das dela, e que ela o culpa por ter se tornado uma mãe de família ao invés de uma cidadã do mundo respirando liberdade.
Enquanto eles trocam acusações, desqualificações e comentários mordazes, a audiência prende a respiração ao perceber que aquela pode ser a última vez em que veremos Jesse e Celine, e eles estarão brigando.
Brilhante.
Linklater, Delpy e Hawke montam um cenário que faz com que a audiência se sinta como um vouyeur tarado invadindo o quarto de um casal de verdade, tamanha a química dos protagonistas, tão boa que chega a ser excessiva.
Mais do que isso, eles evoluem a história de uma maneira crível e sólida, mostrando o que acontece após o "...e eles viveram felizes para sempre." com uma sinceridade ímpar.
Muito mais cáustico e amargurado do que os dois filmes anteriores, mas sem perder o bom humor e o sarcasmo inerentes, Antes da Meia-Noite poderia ser uma pá de cal sobre a série onde Jesse e Celine conversam sem parar, mas parafraseando, enquanto Jesse e Celine conversarem, sempre haverá esperança.
Pra assistir e re-assistir ao lado da pessoa amada toda a vez que ficar em dúvida quanto aos rumos da relação.
"-Eu ferrei a minha vida inteira por causa da forma como você canta."
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