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segunda-feira, 18 de novembro de 2013
Resenha Cinema: O Conselheiro do Crime
Se fosse necessário sintetizar O Conselheiro do Crime em uma frase, essa frase bem poderia ser "Eu avisei...".
O longa metragem roteirizado pelo ótimo Cormac McCarthy e dirigido pelo acima da média Ridley Scott conta a história de "Counselor" (Michael Fassbender), o "conselheiro" do título, um advogado boa pinta com um gosto por coisas belas e caras, que empolgado com o estilo de vida luxuoso de seu amigo Reiner (Javier Bardem), decide tomar parte em um negócio milionário envolvendo drogas contrabandeadas do México para os EUA pelo cartel de Juárez, um dos mais violentos do mundo.
A despeito dos alertas de Reiner e do intermediário Westray (Brad Pitt), o conselheiro se mantém firme em sua decisão de participar de um golpe (e um golpe apenas), na certeza de que as advertências de seus amigos criminosos são excessivas, e de que os riscos valem a pena para garantir seu conforto e o de Laura (Penélope Cruz), a quem acaba de pedir em casamento.
Infelizmente para o conselheiro, o negócio no qual ele tomou parte falha miseravelmente e todos os alertas que ele recebeu de seus associados provam-se verdadeiros conforme as coisas degringolam por completo, lançando sua vida perfeita de sexo, drinques e viagens à Europa para comprar diamantes na privada, pois o Cartel demanda sangue.
Não é ruim, O Conselheiro do Crime, embora o filme obviamente seja mais um conto moral do que uma história.
É muito mais importante para o roteiro de Cormac McCarthy estabelecer a relação entre o ato ilícito e a punição que o segue do que as relações entre os personagens, ou mesmo entre os personagens e a audiência.
As conexões entre os protagonistas são todas rasas, meramente profissionais. "Se um amigo é alguém disposto a morrer por você, então você não tem amigos", é a tônica das relações existentes no longa, e, como o caminho do conselheiro fica óbvio desde o primeiro discurso do filme (e são váááááários discursos), não há muito a se fazer na cadeira do cinema exceto aguardar o desfecho trágico como se estivéssemos vendo um snuff movie e nos tornando cúmplices de assassinato, seguindo a lógica de Westray.
Essa falta de conexão entre os personagens e entre os personagens e a audiência talvez seja o ponto mais baixo de O Conselheiro do Crime, isso se formos capazes de relevar o fato de que é um thriller sem suspense, e mais os discursos cheios de floreios e rebuscamento que o protagonista ouve cada vez que pergunta a alguém o que deve fazer. Fassbender é talentoso e se esforça, mas a certa altura não dá mais pra aguentar o conselheiro sendo aconselhado e fazendo cara de desespero.
De pontos altos, há as atuações de Bardem, sólida como sempre apesar da função indecifrável de seu personagem ao roteiro, e de Cameron Diaz.
A ex-pantera, aliás, apesar de estar embarangando a olhos vistos conforme os anos passam demonstra talento na pele de Malkina, praticamente uma versão platinada, brega e sexy do Coringa, uma autêntica agente do caos no que talvez seja a melhor atuação da carreira da loira.
O Conselheiro do Crime não tem o brilho e o peso de outros policiais de fronteira como Onde os Fracos Não Têm Vez, baseado em um livro do próprio McCarthy, mas não chega a ser mau filme, sem mastigar a trama, ou tratar o espectador como idiota, o longa abraça um ritmo lento, quase monótono, um vocabulário rebuscado e cheio de metáforas, e estabelece o ensaio sobre desejo e ganância, onde os personagens ou a reação da audiência a eles simplesmente não importam, mas, se nada importa, então pra quê ver o filme?
"-Você sabe por que Jesus não nasceu no México?
-Por que?
-Porque não puderam encontrar três homens sábios e uma virgem."
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