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sábado, 30 de novembro de 2013

A Lição dos Dias Sombrios


Eram dias ruins, aqueles que o Laerte vivia.
O Laerte jamais fora homem de navegar em mar de rosas. Muito antes pelo contrário. A vida do Laerte, via de regra, sempre fora mais dada a caudalosos maremotos de agruras daqui e dali do que a placidez de águas calmas, mas ainda assim, o Laerte julgava que aprendera mais com os percalços do que teria aprendido com sossego.
Para o Laerte era justo pensar que, não fossem as mazelas que experimentara enquanto crescia, hoje ele não seria o homem que era, e, a despeito de ser um homem com seus defeitos (que, vá lá, não eram poucos), o Laerte supunha ser um bom homem.
Nem sempre fora assim.
Na infância Laerte era mimado, reclamão e mal-criado. Na adolescência fora briguento, preguiçoso, relapso e quase um marginal.
Hoje?
Hoje, seus maiores defeitos talvez fossem a rabugice, o transtorno anti-social, a teimosia e a tendência a levar as coisas à ponta de faca, o que, olhando em perspectiva, era um tremendo avanço, já que baseado em seu histórico enquanto tinha sua personalidade moldada, Laerte acreditava que poderia ter terminado muito, mas muito pior.
Era olhando para si mesmo e o processo de crescimento pelo qual passara que Laerte regozijava pelos obstáculos em seu caminho. Não tivesse vivenciado os problemas com alcoolismo de seu pai, as doenças e morte em sua família, os problemas financeiros, todos os pequenos desastres aos quais ele fora exposto enquanto definia quem seria quando fosse, de fato, uma pessoa completa, e talvez Laerte fosse incapaz de valorizar o que tinha, de saber o valor do trabalho, o valor das pessoas a quem amava, as pequenas conquistas.
Não houvesse experimentado privação e derrotas, e talvez, hoje, Laerte não fosse capaz de avaliar com justeza a eventual pujança e as eventuais vitórias, por pouco que durem ou por menores que sejam, então, sim, Laerte sentia-se grato por aquela eventual privação. Por aquelas pequenas derrotas.
Mesmo que na época ele fosse incapaz de entendê-las, haviam sido presentes, dádivas que o ajudaram a melhorar em cada âmbito de sua vida.
Laerte jamais acreditou em um Deus todo-poderosos e benevolente manipulando as esquinas da vida para levá-lo ao melhor caminho.
Não.
Laerte era um incréu, fora tornado incréu, também pela vida. E também por isso agradecia.
Se realizava uma boa ação, ou mantinha reta sua conduta, não era por medo do inferno ou por almejar lugar no céu, era por achar que era melhor tentar ser bom do que aceitar a própria torpeza.
E se estivesse errado e existisse um Deus e um Céu e tudo o mais, então sua conduta, talvez, tivesse mais valia, pois nada do que ele fazia era esperando recompensa ou temendo punição.
Era um bicho simples o Laerte.
De poucas, mas sinceras virtudes, e de vários, porém honestos defeitos. E tudo isso erigido sobre um começo de vida repleto de mazelas, .
Mazelas essas pelas quais Laerte sabia ser grato.
E era a isso que Laerte se agarrava, agora.
Ele olha em volta, respira fundo, e engole em seco, na esperança que amanhã, depois, depois ou daqui a algum tempo, ele seja capaz de enxergar a sabedoria a ser extraída desses dias sombrios.
Há alguma.
Tem que haver...

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