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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Ultimato


Quando a Amélia sentou na frente do Benito e disse, com todas as letras, que ou eles casavam, ou não tinha mais sexo, ele achou que fosse brincadeira.
Não podia ser verdade que ela o faria casar, ou então o privaria de tê-la em sua cama.
Não que o Benito fosse algum ninfomaníaco, tarado, ou que sofresse de priapismo, nada disso, ele era um sujeito bem tranquilo que tinha um apetite sexual bastante razoável e nada além disso. O Benito nem era desses caras que queria transar todo o dia. Não, pro Benito, quatro, cinco vezes na semana estava de bom tamanho.
Ótimo tamanho, na verdade.
Ele inclusive encontrara na Amélia sua parceira ideal, entre tantas outras coisas, também nas atividades de alcova.
A Amélia também era uma pessoa com apetite sexual razoável. Não era dessas moças tímidas que têm vergonha de dizer o que quer na cama. Não se furtava de pedir que o Benito fizesse isso ou aquilo da forma que ela preferia de modo que o Benito não quebrava a cabeça para tentar satisfazê-la, e julgava que, na maior parte das vezes, sucedia nisso.
A Amélia, inclusive fora um achado na vida do Benito.
Não apenas por ser bonita e descolada, mas especialmente por esse comportamento íntimo. Essa atitude de dizer o que queria e como queria entre quatro paredes.
Até conhecer a Amélia, o Benito estivera com outras mulheres, mas em todos os seus relacionamento experimentara percalços no quesito sexo.
Algumas pareciam ter vergonha de falar sobre sexo até mesmo enquanto faziam sexo. Outras, eram tão mais experientes do que Benito que pareciam apenas se conformar com o que ele fazia por conta e serem condescendentes para com ele acerca dos resultados, e outras ainda, pareciam encarar o sexo como um favor para ele, e o faziam de tão má vontade que ele simplesmente não queria mais fazer.
Essa série de eventos desafortunados nos relacionamentos de Benito o haviam tornado num sujeito que não colocava o sexo em segundo plano, nem em terceiro. O sexo, na vida do Benito, estava lá no sexto ou sétimo plano.
Mas as pessoas são adaptáveis, e o Benito não era diferente. Ele aprendeu a apreciar outras facetas dos relacionamentos, o passeio de mãos dadas, as conversas, os beijos, o sorvete de casquinha com a mesma colher...
Quando conheceu a Amélia, que tinha todos os predicados que uma moça precisava ter, era bonita, inteligente, meiga, engraçada, parceira pra todas as atividades, puxa, ele se encantou. Mas, ao mesmo tempo, conforme eles criavam intimidade e o Benito descobria que a Amélia além de tudo isso, também gostava de sexo, ele ficou meio sestroso...
Como já foi dito, não que ele não gostasse, mas a ideia de ter uma parceira que gostava e valorizava o ato, o deixavam um pouco apreensivo justamente porque, mesmo tendo alguma rodagem em termos de relacionamentos, em termos de sexo, sua experiência era quase nula.
A questão é que o Benito gostava demais da Amélia, e foi mascarando como pôde aquele nervosismo e aquela sensação de frio na espinha, e, quando as coisas finalmente se encaminharam e eles chegaram a se conhecer em sentido bíblico, tudo foi muito natural, muito bacana, e muito gostoso por causa de todas aquelas coisas que a Amélia fazia, como por exemplo, falar abertamente o que queria e de quê gostava.
As coisas, aliás, foram tão bem, que o Benito acabou se descobrindo como alguém que gostava da coisa. Gostava, mesmo. E não era raro ele se pegar fantasiando com a Amélia. Não era raro ele se flagrar lembrando com um sorriso idiota alguma alegoria que ambos haviam performado na noite anterior. Não era raro o Benito perceber que estava ansioso por chegar em casa e despir a Amélia.
Benito mudara completamente sua postura face aos relacionamentos. Totalmente. Ele podia dizer que se tornara outra pessoa muito além da intimidade.
Mais confiante, mais relaxado, mais seguro, e tudo aquilo, graças à cumplicidade que encontrara em Amélia.
E agora quilo. Ela aparecia na frente dele com um ultimato daqueles.
Não que fosse nenhum absurdo.
Amélia sempre fora uma moça religiosa, sua família toda o era.
Até era de se estranhar que Amélia fosse tão prafrentex em termos de sexo sendo conservadora como ela era em tantas outras frentes.
Ademais, ela já estava chegando aos trinta anos, idade que muitas moças consideram limite pra se encaminhar na vida em termos de relacionamento se esperarem ter filhos, e a Amélia queria ter filhos, além disso, ela e o Benito já estavam juntos fazia coisa de uns quatro anos, o que muitas pessoas também poderiam ver como um período limite pra uma relação ser definida meramente como um namoro.
Mas e o Benito?
O Benito estaria pronto pra dar esse passo?
Julgava que não. Era demasiado cedo pra ele. É fato sabido que homens amadurecem em marcha infinitamente mais lenta que as mulheres, com pouco mais de trinta anos Benito ainda sentia-se um jovem. Pra piorar, ele deixara de experimentar tanta coisa na vida enquanto crescia por conta de sua timidez e das responsabilidades que tivera que assumir por força das consequências que sentia-se um pouco aviltado de certas liberdades que vira seus amigos terem na mesma época, de modo que, pra ele, hoje era importante sentir-se assim, liberado de certas coisas.
Mas o que fazer?
Amélia estabelecera a condição. Na verdade, praticamente lhe impusera um ultimato. Logo a Benito, que não era homem de responder bem a ultimatos...
Como ele responderia a isso?
Diabos.
Nem precisava pensar muito. Responderia que sim. Que se casaria com ela.
E não apenas por causa do sexo.
Longe disso.
Por incontáveis outras coisas antes.
Pela forma como Amélia o fazia sentir. Por ele realmente acreditar que era correspondido em sua afeição. Por ter encontrado nela uma paz que nem sabia existir.
Maldita Amélia...

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