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sábado, 7 de dezembro de 2013
Doce
O Eroir chamava a Magda de "doce", o tempo todo. Era a única forma como o Eroir se dirigia à Magda, e todo mundo achava lindo.
Era "doce" pra cá, "doce" pra lá, tudo era "doce".
As mulheres, em particular, achavam um amorzinho.
Viravam a cabeça pro lado e faziam "óóóóóóóóóinnnn..." à simples menção do tal do "doce" do Eroir, quando se dirigia à Magda. Depois de botar a cabeça de volta no ângulo certo e recuperar o timbre de adulto, elas lançavam olhares reprovadores aos próprios maridos ou namorados que se dirigiam à elas pelo nome ou com o famigerado freio de burro, "ô", recriminando-os de maneira silente por sua falta de dedicação, mimo e romantismo.
E o Eroir lá, na mais perfeita harmonia, referindo-se à Magda como "doce", o tempo todo.
As mulheres achavam bonitinho, romântico. Os homens se sentiam meios desconfortáveis. Estranhavam aquele tipo de tratamento fofo vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana.
Até por que, a Magda era meio vacona, às vezes, especialmente no trato, ora, veja, para com o Eroir.
Não raro era grosseira, destemperada, algo vil para com todo mundo, mas com o Eroir era mais frequente.
Também não era exatamente um primor de figura. Poderia perfeitamente ver-se livre de uns vinte e cinco quilos que ninguém haveria de dar falta.
Inclusive era a justificativa que os galhofeiros de plantão usavam em suas alcovitices para justificar o fato de o "doce", nunca ser no diminutivo, porque uma mulher do tamanho de Magda não poderia, por justiça, ser um "docinho", e como "doção" seria um pastiche, Eroir ficava no "doce", mesmo.
Não que o Eroir fosse um Brad Pitt, não era, era um sujeito bastante comum, magro como um palito, cabelos castanhos muito lisos assentados sobre a cabeça, passava quase sempre despercebido, silencioso e diligente que era, mas, convencionava-se que poderia conseguir coisa melhor, ou, menos pior, vá lá, do que Magda.
Eroir, aliás, era assunto controverso entre os amigos do casal. Se as mulheres o achavam um querido com seu tratamento delicado para com sua parceira, não era menos verdade que alguns o acusavam de ser excessivamente banana, suportando cheio de mimos a má disposição da Magda.
Ninguém, claro, jamais externou tais pensamentos, ninguém queria se indispôr com o Eroir, ou magoá-lo, coitado, já que ele suportava, cheio de carinhos, aquela megera. Acabavam apenas observando de longe e tecendo aqueles comentários maldosos tão comuns ao ser humano.
O que ninguém, sabia, é que, muito discretamente, praticamente em segredo, como fazia quase tudo em sua vida, Eroir se tratava de uma doença que mantinha sob controle:
Era diabético.
De modo que ninguém sabia que o "doce", que usava pra se referir à Magda podia ser tanto uma autêntica demonstração de carinho, ou uma vivaz e sarcástica espezinhada.
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