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quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Gata Negra


Foram os olhos verdes mediterrâneo...
O cabelo castanho escorrido até o meio das costas...
A forma esguia que lhe permitia fazer cosplay da Gata Negra...
O nome sonoro. Algo brega. Quase suburbano da estudante de farmácia que adorava o São Paulo Futebol Clube e o Homem-Aranha nas horas vagas.
Meyre Kellen...
Sério. Quem imaginaria que uma moça cujo nome aludia à Grace Kelly num registro algo desastrado de seu pai, pudesse ser tanta coisa além de uma bela estampa? E ela era...
Ela era alta, bonita, charmosa e segura o suficiente pra mandar uma foto com camiseta dos Thundercats, calcinha branca e nada mais pelo MSN.
Ela era segura o suficiente pra dizer "Tô indo ver a final da Libertadores contra o Atlético PR aí na sua cidade e você devia me levar pra conhecer algum lugar legal e só seu enquanto eu estiver aí.".
Era segura o suficiente pra dizer que precisava dele ali, pertinho dela, na hora em que ela quisesse, e não na hora em que ele pudesse, e que por isso, e por isso apenas, as coisas não dariam certo entre os dois.
Era muito bonita.
Tinha um sotaque algo tenebroso das pessoas que nascem em Foz do Iguaçu. Falava "ermão" e "acadimia" o que ele achou assustadoramente medonho quando leu, mas percebeu que era charmoso quando a ouviu pronunciando. Gostava do fato de ele se corresponder com ela no MSN usando as grafias, acentuações e pontuações corretas... O chamava de "professor".
Pediu-lhe que largasse tudo e fosse viver pertinho dela.
Disse que o ajudaria a achar trabalho e que não o deixaria se sentir sozinho e perdido. Ele acreditou nela...
Quis acreditar.
Quis acreditar pois ela era linda, tinha um metro e setenta e um centímetros de beleza clássica e era divertida, inteligente e entendia de futebol.
Porque ela disse que em pouco tempo ele estaria celebrando uma Libertadores de seu time em seu estádio, e no ano seguinte ele viu Fernandão, Tinga e Rafael Sóbis erguerem a América no Beira Rio lotado.
Porque ela leu o que ele tinha a dizer, e olhou pra ele pela web-cam, de camiseta velha, calção, óculos e coração irremediavelmente partido, e não viu apenas um nerd solitário tentando agradar e se curar da maior rejeição da sua vida.
Viu uma pessoa a quem ela queria por perto.
Que o queria tanto que não soube se portar com a distância.
Que foi adulta o suficiente pra dizer que se não pudesse ser do jeito dela, então que fossem só amigos, pois relacionamentos à distância eram a receita da tragédia.
E foi madura o bastante pra dizer que entendia quando ele, após tudo o que partilharam, disse que não queria ser amigo dela.
E se ele tivesse tentando?
Se tivesse ido?
Se tivesse tomado coragem, respirado fundo e dado um salto de fé?
Como as coisas teriam sido?
Ele teria sido mais feliz, ou menos?
Sua vida teria sido mais feliz, ou menos?
E ela? Teria sido feliz ao conseguir tê-lo a seu lado quando quisesse, e não quando ele pudesse?
Ele não sabe. Nunca vai saber ao certo. Mas encontra conforto em pensar que a Gata Negra e o Homem-Aranha também não ficaram juntos no final das contas.

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