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sábado, 22 de fevereiro de 2014
Resenha Cinema: Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum
A predileção dos irmãos Coen por fracassados não é nova.
Larry Gopnik, Harry Pfarrer e Chad Feldheimer, professor G. H. Dorr, Jerry Lundegaard, o glorioso Dude Lebowski... Todos loosers.
Mesmo seus tipos heroicos, como o delegado Rooster Cogburn e o caubói Llewelyn Moss, estão longe de representar tipos bem-sucedidos típicos, tanto por não se darem bem, como por não se comportarem como "vencedores". Por estranho que pareça, essa preferência por loosers ajudou a tornar os irmãos roteiristas/diretores o sucesso que são hoje. Capazes de serem tão autorais quanto possível numa indústria que funciona a base de remakes e franquias.
Em Inside Llewyn Davis - Balada de Um Homem Comum, os Coen contam mais uma história de fracasso.
O looser da vez é o Llewyn Davis do título.
Jovem cantor folk do Greenwich Village dos anos sessenta, era de ouro do folk de cafeteria, Llewyn tenta construir para si próprio uma carreira na música, para tanto, enfrenta obstáculos e percalços em cada esquina.
Não tem nenhum dinheiro, não tem onde morar, não tem um empresário decente ou sequer um casaco de inverno que o ajude a andar menos encolhido no inverno congelante de Nova York.
Llewyn tem talento, mas muito de seus obstáculos e percalços são auto-impostos.
Como um bom "looser Coeniano", o cantor tem que ser um pouco responsável pela própria tragédia, e obviamente não se furta de aproveitar todas as chances que tem de sabotar o próprio desenvolvimento.
Dorme com a esposa do amigo que lhe empresta dinheiro, briga com aqueles que o acolhem e admiram seu talento, rejeita royalties de uma canção que pode virar sucesso comercial para receber adiantado, espezinha o empresário que poderia dar rumo à sua carreira, é incapaz de uma auto-crítica que vá além do "eu sou um idiota"...
Llewyn tem a postura e a atitude de um moleque que é arrastado a contragosto para a festa de aniversário de quinze anos da irmã, com a diferença de que ele está na festa por livre e espontânea vontade.
Como, então, superar os obstáculos, se eles são construídos na medida certa por si mesmo?
Durante uma semana gelada de 1961, nós acompanhamos Llewyn sob a lente dos Coen, e o vemos se fazer a mesma pergunta.
inspirado em Dave Van Ronk, músico folk de verdade do início dos anos sessenta cuja biografia "The Mayor of MacDougal Street" o longa adapta livremente (Van Ronk não era tão bosta quanto o Davis construído pelos diretores/roteiristas), Inside Llewyn Davis é uma joia.
A direção dos Coen segue o alto padrão estabelecido pelos irmãos em seus últimos trabalhos, o roteiro é uma pérola do minimalismo, jamais expondo além do necessário, e em várias ocasiões, deixando a música cantada pelos protagonistas assumir o lugar dos diálogos para explicar o que ocorre com os personagens.
O trabalho do elenco está excepcional.
Oscar Isaac dá show, seu Llewyn Davis é tão verdadeiro, tão vivo e cheio de empatia, que é difícil não sentir junto com o personagem o fardo de suas derrotas e desafios. Eu, que nunca o havia visto em nenhum papel protagonista, fiquei espantado com o talento do sujeito.
Além dele, Carrey Mulligan está ótima como Jean. Sua relação com o protagonista é carregada de raiva e ressentimento, mas sem abrir mão de uma pitada de ternura. Além dela, John Goodman rouba a cena como o arrogante cantor de jazz Roland Turner, e ainda há espaço para boas participações de Adam Driver, Stark Sands, Garrett Hedlund e F. Murray Abraham, além de um discreto Justin Timberlake. Outra participação importante é a produção musical do oscarizado T-Bone Barnett e de Marcus Mumford, que qualificam na medida o teor das canções do longa, elemento crucial em um filme recheado de melodias.
Tremendo filme, excepcional trabalho do goleiro ao ponta-esquerda, garantindo o sucesso de mais um looser dos Coen.
"Se nunca foi nova e nunca envelhece, então é uma canção folk..."
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