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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

Resenha Cinema: Ela


Existe uma sensibilidade descolada no trabalho de Spike Jonze que vicia... O diretor já tinha deixado essa sensibilidade bem clara em joias como Quero Ser John Makovich, Adaptação e Onde Vivem os Monstros, e não tem como ser mais descolado do que o clipe de Sabotage dos Beastie Boys, a parceria lunática com a trupe de imbecis masoquistas de Jackass, o skate e as pontas não creditadas em diversos filmes (como a recente participação prometendo um boquete a Leonardo DiCaprio em O Lobo de Wall Street), além de sua participação na publicação das revistas Dirt e Grand Royal...
Essa sensibilidade descolada é colocada novamente a serviço da sétima arte nesse Ela.
O filme escrito e dirigido por Jonze começa mostrando um close-up de Theodore (Joaquin Phenix). Ele está escrevendo uma carta, falando de amor.
Mas não é o seu amor.
Theodore escreve cartas "manuscritas" para uma firma. Nelas, ele destila em palavras as mais belas facetas do amor, seja entre maridos e esposas, filhos e pais, tios e sobrinhos... Mas seu próprio coração não vai bem.
Nos estágios finais do divórcio com a mulher que julgava ser o amor de sua vida, Catherine (Rooney Mara), Theodore divide seu tempo entre o trabalho, videogames, pornografia na internet e a depressão pela qual passa.
As coisas mudam de figura quando Theodore resolve instalar em seu computador um novíssimo sistema operacional baseado em uma inteligência artificial com personalidade, o OS1.
O tal SO é capaz de aprender baseado na experiência de modo a se tornar perfeito para o usuário.
O sistema operacional de Theodore chama-se Samantha. E ela interage e fala (com voz de Scarlett Johansson) emulando com perfeição o tom, os suspiros e as hesitações de uma pessoa real.
Convivendo com Samantha, e a vendo adaptar-se a ele, tornando-se a sua companhia ideal, além de se desenvolver e aprender como se fosse uma pessoa real, em constante evolução, Theodore logo vê sua relação com seu sistema operacional se tornar mais profunda, e virar um romance.
Conforme assume seus sentimentos por sua parceira virtual, Theodore experimenta uma alegria que lhe devolve a vida que parecia ter se dissolvido com seu casamento, mas ao mesmo tempo, lhe enche de dúvidas. Afinal, o quanto é real um amor baseado em scripts computadorizados e nas suas próprias preferências pessoais?
Samantha, com sua inteligência eletrônica superior, o ajuda de formas como nenhuma pessoa real poderia, mas como ela pode ajudá-lo a superar as dúvidas de estar apaixonado, basicamente, por seu laptop?
Lindo filme.
Jonze situa essa mistura de ficção científica com love story num futuro não muito distante, uma época onde a arquitetura, a tecnologia, e a moda mudaram (Bigodes voltaram a ser bacanas, e as calças têm o cós consideravelmente mais alto), mas não muito.
As necessidades e anseios das pessoas são basicamente os mesmos, e não é difícil pra qualquer pessoa que já começou um romance prenhe de vida na internet, basicamente palavras surgindo numa tela, se reconhecer em Theodore. Qualquer um que já esteve magoado e amargo demais pra se envolver de novo com uma pessoa de verdade, é capaz de entender porque o sistema operacional, o romance sem a outra parte, é a saída mais segura. E qualquer um que já teve uma voz rouca sussurrando no ouvido é capaz de entender porque Theodore cai de amores por Samantha.
Joaquin Phoenix comanda o show com talento. É desses atores que podem, perfeitamente, carregar um filme nas costas, e seu Theodore é interpretação digna de prêmio, mas ele não está sozinho.
Sem mostrar seu rostinho lindo ou seu corpinho gostoso, Scarlett Johansson é uma presença poderosa na tela apenas com sua voz. A cena em que ela e Theodore cantam A Canção da Lua em dueto é de dar nó na garganta.
Ainda estão no elenco Chris Pratt, Olivia Wilde, Matt Letscher e Amy Adams, muito bem como Amy, a melhor amiga de Theodore.
Bom elenco em grande forma, ótimo texto e a direção, sensível e descolada, que o texto pedia, um olhar ousado sobre as nossas necessidades de conexão, e o que estamos dispostos a fazer para conseguí-la, e Ela é um filmaço.
Lindo, doce, e imperdível.
Assista e pense em quem você ama. Mesmo que esteja a um milhão de milhas de distância.

"-Nós apenas estamos aqui brevemente. E nesse momento, eu quero me permitir alegria."


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