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quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Quase Cem Por Cento


Quando a Sílvia Maria achou que a vida sexual dela e do Mário Augusto andava devagar quase parando, ela primeiro fez o que qualquer outra mulher faria.
Ficou triste e ensimesmada, acabrunhada pela falta de satisfação nas atividades de alcova, e tentou se concentrar em outros âmbitos da sua vida de modo a esquecer, ou ao menos não lembrar, das suas mazelas íntimas.
O problema é que a Sílvia Maria era uma mulher moderna com um apetite sexual saudável. Ela gostava do esquema.
Ela curtia sexo, curtia ter consigo um homem que soubesse lhe satisfazer as vontades entre quatro paredes, e um homem que tivesse vontades para ela também se desafiar e satisfazer.
Nada de excessivo, nada que fosse bizarro. Nada envolvendo um sistema de roldanas, uma bacia de alumínio cheia de água de coco, um anão vestido de bailarina e um retrato do Sidney Magal.
Não... Nada disso. Só coisa simples.
Coisas como um sexo oral sem pressa. Falar umas putarias durante o ato. Mandar ela gozar enquanto transavam, dar umas palmadas nela enquanto ela estivesse de quatro... Coisa simples, mas pra dar uma apimentadinha.
Ela não se importaria. Na verdade, até gostaria.
Qualquer coisa seria melhor do que o papai e mamãe com cara de vovô e vovó que o Mário Augusto transformara em regra.
Qualquer coisa seria melhor do que a frequência uma por semana e olhe lá que ele instaurara mesmo com os dois dividindo o mesmo teto.
A Sílvia Maria queria ser desejada. Queria ser comida.
E claro que ela queria amor, carinho e atenção do homem em sua vida. E ela prezava o amor, o carinho e a atenção do Mário Augusto, mas um pouquinho de safadeza daqui e dali não faria mal pra ninguém. Especialmente pra um sujeito de... De dimensões reduzidas que nem o Mário Augusto.
Mas, enfim... Justamente por achar que tamanho não era tudo, e por prezar o amor, o carinho e a atenção que o Mário Augusto lhe dispensava, por prezar o que eles tinham construído juntos, foi que a Sílvia Maria resolveu ajudar o Mário Augusto a se soltar um pouco.
Comprou lingerie sensual, óleos aromáticos, velas e um filminho pornô.
A lingerie foi um conjunto de renda, tipo fio-dental, vermelho, quase vulgar de tão provocativo.
O óleo aromático, morango e pimenta, que ela teve um pouco de medo que fosse dar uma ardência nos lugares onde ela passasse, mas apenas até a veemente garantia da dona da loja de que só "dava uma esquentada".
As velas eram todas aromatizadas com fragrâncias afrodisíacas tipo levanta defunto, e, o filme pornô, foi um do selo Private, que tinha duas mulheres lindas se pegando na capa com um sujeito careca fortão segurando ambas pela cintura.
Parecia tudo perfeito.
Quando o Mário Augusto chegou em casa, a Sílvia Maria estava trajando a lingerie sensual, besuntada com o óleo aromático, que de fato a deixara sentindo um calorão.
As luzes estavam apagadas e as velas acesas, enchendo o ar com as fragrâncias afrodisíacas.
A Sílvia Maria se aproximou, exalando o calorão, e disse ao pé do ouvido do Mário Augusto que ele sentasse no sofá pra ela fazer uma massagem nele, e que ele visse TV pra pensar no que iria querer fazer depois.
Quando ele sentou no sofá, ela tirou a camisa dele, passou óleo nas mãos, e ligou a TV com o filme pornô já andando.
Sucesso.
Depois da massagem e do filme, turbinado pelo óleo, o Mário Augusto e a Sílvia Maria não transaram, não fizeram amor... Eles treparam.
Treparam às ganha.
Treparam de jeito.
Treparam tanto que acordaram com os corpos todos doloridos no dia seguinte. Uma dor boa, cheia de endorfina e satisfação.
E não parou por ali.
Todo o dia daquela semana, a Sílvia Maria e o Mário Augusto tiveram uma foda daquelas.
Lance pegado, mesmo. De ralar joelho, de ficar com hematoma.
A Sílvia Maria voltou a sorrir com o sucesso de sua empreitada.
Bom... Sucesso parcial. Quase cem por cento.
A Sílvia Maria achou que faltou um elemento no seu plano:
Pesquisa.
Se ela soubesse que o selo Private de filmes eróticos era europeu, e se ela soubesse da predileção dos europeus por sodomia, ela talvez tivesse pego um filme de marca diferente na sex-shop.
A fixação dos europeus por túnel de vento era preocupante, e, pior, contagiosa...
Afinal, de todas as coisas que ela e o Mário Augusto vinham experimentando juntos ultimamente, a única de que ela abriria mão, sem pestanejar era o "vira pra eu comer teu brioco, nega".
Aquele era um lance que a Sílvia Maria, francamente passava sem.

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