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terça-feira, 14 de agosto de 2018
O Dia do Canhoto
Treze de agosto era o aniversário do homem a quem nunca chamei de avô, mas que foi o melhor avô que eu poderia querer. Descobri, também, que é o dia do canhoto.
Não sei se o fato de usar o hemisfério direito do cérebro para funções motoras ao invés da esquerdo é coisa digna de uma efeméride, mas talvez seja uma forma de remediar as mazelas de uma minoria.
Os canhotos são uma minoria marginalizada de diversas formas, afinal de contas.
Os canhotos de antigamente eram obrigados a escrever com a não direita porque a esquerda era a mão do diabo. Muitas crianças tinham a mão esquerda atada ao corpo e eram forçados a praticar até que seus garranchos destros estivessem legíveis o bastante para serem aceitos.
Os termos para designar canhotos em francês, gauche, e em italiano, sinistro, são testemunho do pejorativo de usar a mão esquerda para fazer as coisas. Os muçulmanos não saúdam com a mão esquerda, pois é sinal de desrespeito...
Se hoje em dia o esclarecimento alcançou um patamar em que as famílias já não tentam mais suprimir a mão esquerda da criançada ainda na tenra infância (ao menos idealmente...) a verdade é que os canhotos seguem sendo vítimas de discriminação em diversos aspectos da vida.
Quando uma pessoa é habilidosa, por exemplo, elogiam-lhe a destreza, jamais a canhoteza, e se a pessoa é boa usando as duas mãos, ela não é ambicanhota, mas ambidestra.
Eu sou velho o bastante para ter tido talão de cheques, e os canhotos sabem o tamanho da dificuldade que era preencher um cheque em um talão feito para ter "canhoto" em todas as páginas.
Custei a aprender a usar abridores de latas porque eles são feitos para operar com a mão direita, dificultando a vida de canhotos que sobrevivessem ao apocalipse zumbi e precisassem subsistir de enlatados.
Na escola, as carteiras eram quase que inteiramente para destros, forçando os canhotos a disputarem as poucas unidades com a prancha à esquerda em duelos até a morte, usar duas carteiras, ou se sentar todo torto correndo o risco de desenvolver uma corcunda perene.
Jamais vi nenhuma vantagem em ser canhoto, só desvantagens.
Jamais tive a vontade de ser o diferentão, de modo que os breves instantes de atenção quando as pessoas percebiam meu uso da mão sinistra e perguntavam "Tu é canhotoooo?" jamais compensaram todos os percalços de tentar usar utensílios feitos para quem tinha a outra mão como dominante.
O grande momento da minha vida de canhoto foi quando determinada pessoa disse que achava os canhotos muito sexies.
Naquele dia, e naquele dia apenas, eu quase saí acenando com a mão esquerda igual uma miss.
Naquele dia, ser canhoto era bom.
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