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terça-feira, 21 de agosto de 2018

Resenha DVD: Tomb Raider: A Origem


Eu ainda me lembro de, em meados de 2002, talvez, ter comprado uma revista com Angelina Jolie caracterizada como Lara Croft na capa e pensado "Nossa, ficou muito igual!".
Eu jamais havia jogado Tomb Raider. Na época em que os primeiros jogos pulularam no Playstation One, eu era um jogador de Nintendo 64, e apenas assistia aos meus amigos jogando Tomb Raider, Resident Evil e outros games que a Big N não tinha em seu catálogo.
Tenho quase certeza de que fui ao cinema ver Lara Croft - Tomb Raider, e certeza absoluta de que achei uma bomba. Não havia Angelina Jolie de shortinho e regata justa que fizesse aquele filme funcionar.
Não posso dizer, também, que tenha sido efeito dos filmes (assisti ao segundo, A Origem da Vida no cinema, também. Era igualmente medonho.) eu jamais ter jogado nenhum Tomb Raider.
Talvez tenha sido apenas o fato de eu não ter jogado os primeiros games da franquia... Provavelmente foi isso. Porque quando o reboot da série foi lançado para PS3, eu comprei, joguei e curti. Inclusive esperando ansiosamente pela estréia tardia da sequência para PS4 (o game passou coisa de um ano sendo exclusividade do X-Box), e agora já penso no tamanho do golpe na minha carteira com o terceiro game da série sendo lançado junto com Homem-Aranha e FIFA 19 no mês que vem...
Enfim, a questão é que esses novos jogos de Tomb Raider oferecem uma heroína muito mais interessante do que os games antigos.
A nova Lara feita de pixels é uma personagem mais viva, com um espectro emocional mais profundo e comportamento mais humano, algo que as narrativas de games mais recentes têm tentado incutir em seus protagonistas para tornarem-se mais cinematográficos.
Os dois últimos Tomb Raider não chegam a ser The Last of Us, God of War 4 ou os dois últimos capítulos de Uncharted (não considerando o spin-off que não joguei e nem jogarei) mas eu diria que estão quase no mesmo patamar.
Por isso não me surpreendeu descobrir que um novo filme de Lara Croft estava em produção, e nem que a base para tal filme seria, justamente, a nova leva de games.
Os estúdios querem franquias, e Tomb Raider é uma franquia em potencial.
A escolha de Alicia Vikander para o papel principal, essa sim, me surpreendeu. Vikander é uma ótima atriz, mas não é nada parecida com nenhuma das encarnações de Lara nos games, e nem sequer é inglesa, algo que já pesara contra Jolie e seu sotaque britânico fajuto, mas enfim, se o filme fosse bom, esse seria o menor dos problemas (embora muita gente ainda pegue no pé de Keanu Reeves com seu vergonhoso sotaque inglês em Drácula...).
De qualquer forma, eu resolvi deixar pra experimentar esse Tomb Raider: A Origem, apenas em DVD já que filmes de videogames, em geral, não valem a película em que são filmados, e, pra ser bem honesto, olhando em perspectiva, não acho que tenha tomado a decisão errada...
Tomb Raider: A Origem mostra Lara Croft (Vikander) uma jovem de vinte e poucos anos que leva uma vida de apuros em Londres.
Lara trabalha como mensageira de bicicleta, não tem grana pra comer, não tem grana pra pagar a academia onde pratica MMA, mal tem dinheiro pro aluguel e se vira como pode pra se manter.
Lara, porém, poderia fazer muito mais do que isso.
Basta uma assinatura para que ela se torne a herdeira do império empresarial e da lauta fortuna de seu pai, lorde Richard Croft (Dominic West). Lara hesita em fazê-lo porque, ao assinar tais papéis, ela estaria aceitando que lorde Croft morreu.
Apesar de estar desaparecido há sete anos após ir para o Mar do Diabo na costa japonesa em busca da tumba da imperatriz japonesa Himiko, o corpo de Croft jamais foi encontrado, as buscas jamais renderam frutos e ninguém sabe, sequer, em qual das centenas de ilhas da costa japonesa ele desapareceu.
Eventualmente, Lara resolve aceitar suas responsabilidades como herdeira da fortuna e do nome de sua família, mas ao fazê-lo, encontra um quebra-cabeças de pistas deixado por seu pai, um quebra-cabeças que pode levá-la diretamente até onde Richard foi.
Indo contra as ordens explícitas do último testamento de lorde Croft, Lara parte para a Ásia, onde se depara com o alcoólatra capitão Lu Ren (Daniel Wu) filho do homem que levou Richard até a ilha mítica de Himiko. Juntos os dois partem para a maior aventura de suas vidas, uma aventura que se torna potencialmente letal quando o misterioso arqueologista transformado em mercenário Mathias Vogel (Walton Goggins) surge entre Lara e sua missão, forçando a jovem a deixar a busca por seu pai de lado, e se concentrar na própria sobrevivência.
Eu devo dizer que há muitas coisas bacanas em Tomb Raider: A Origem, mas que, em sua imensa maioria, elas jamais vão muito além da intenção.
Uma das coisas que realmente funciona é Vikander.
A atriz sueca está visivelmente se esforçando para tornar o arquétipo de figura heroica tão humano quanto possível. Seus gritos de dor e de raiva são agudos. Em momentos de tensão podemos ver as lágrimas em seus olhos mesmo quando elas não se derramam, e sua voz treme quando ela está sob grande estresse.
Mesmo as coisas que não fazem sentido, como uma moça de um metro e sessenta e seis e cinquenta e nove quilos sendo capaz de subjugar brutamontes com trinta centímetro a mais de altura e o dobro do peso, são retratados de maneira a fazer a audiência comprar a ideia de que Lara é muito rápida, esperta, briguenta e luta sujo, o que, aliado à suspensão de descrença que um filme como Tomb Raider demanda, faz sentido.
Ajuda o fato de o diretor norueguês Roar Uthaug filmar Lara o tempo todo como se fosse uma atleta olímpica ou uma escultura.
Com sua figura esguia aparentemente pele e músculo, Vikander vende o peixe de Lara de maneira dedicada, e, mérito do roteiro de Geneva Robertson-Dworet e Allastaire Siddons, jamais parece uma mulher atuando num papel escrito para um homem, algo que acontecia com Angelina Jolie.
Essa Lara é empática, tão frágil quanto resiliente, e se ressente dos apuros pelos quais passa, física e emocionalmente.
Num momento que parece tirado do game de 2013, Lara precisa digerir o fato de que matou pela primeira vez de uma maneira que poucos filmes de ação se atreveram a mostrar, e com um comprometimento que poucos intérpretes conseguiriam oferecer em um longa do tipo.
Outra boa sacada do roteiro de Dworet e Siddons é uma sugestão de melodrama que permeia todos os personagens centrais. Lara, Lu Ren e Vogel, todos são pessoas que se ressentem da falta de suas famílias. Os dois mocinhos lamentam a perda de seus pais, enquanto Vogel está perdendo o crescimento de suas filhas. Essas tentativas de colocar profundidade em seus protagonistas e antagonistas é louvável, e é uma pena que não funcione tão bem quanto se gostaria.
No quesito ação, há uma ótima sequência com Lara e um antigo avião da Segunda Guerra Mundial que poderia perfeitamente ter saído de um filme de Indiana Jones, é provavelmente o ponto mais alto do longa no que tange à proximidade com o material-fonte, com todos os elementos que os últimos Tomb Raider emprestaram de Uncharted (que por sua vez já havia emprestado de Indy).
Infelizmente, apesar de termos todos esses pontos positivos, também temos uma série de elementos negativos.
A trama simplesmente não se sustenta, e me incomoda um pouco que a história que segurava muito bem o game de 2013 (e um pouco da história da sequência, também) tenha sido diluída para o filme de uma maneira tão insatisfatória.
Outro problema é que, à certa altura, os daddy-issues de Lara começam a ficar quase desconfortáveis (pense em Chandler perguntando qual a profissão do pai de Rachel ao perceber que ela é obcecada por médicos.), e a sofrência psicopata de Vogel se torna algo aborrecida enquanto Lu Ren é simplesmente escanteado durante praticamente todo o terceiro ato.
Some-se a isso que as armadilhas da tumba de Himiko são todas bem bobinhas, e que depois de Lara deitar a porrada em mercenários de dois metros de altura e cento e cinquenta quilos armados com metralhadoras, Vogel não é exatamente um sujeito ameaçador e Tomb Raider: A Origem não consegue sequer ficar no zero a zero e ser um filme nota cinco.
O longa se encerra com a sugestão de uma sequência que eu não sei se a bilheteria modesta, abaixo dos 275 milhões de dólares mundiais justificaria, mas, se ouver um Tomb Raider 2, é importante ressaltar que Alicia Vikander merecia um filme melhor.

"Todos os mitos são fundamentados em realidades."

Um comentário:

  1. Tomb Raider: A Origem é, enfim, uma obra sem personalidade. E isso reflete sem pudor na sua protagonista e respinga em tudo e em todos. Amei a Alicia no elenco! Lembro dos seus papeis iniciais, em comparação com os seus filmes atuais, e vejo muita evolução, mostra personagens com maior seguridade e que enchem de emoções ao expectador. Desfrutei muito sua atuação neste filme Ready Player One cuida todos os detalhes e como resultado é uma grande produção e muito bom elenco.

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