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segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Resenha DVD: Um Lugar Silencioso


Não foi pela falta das mais convincentes recomendações que eu não fui ao cinema assistir a Um Lugar Silencioso.
Pelo contrário.
Foi unicamente pela minha falta de paciência recente para catar um horário legendado ente os dublados e o público com seus celulares e conversas que o sucesso de John Krasinski foi outro dos filmes que eu pulei no cinema para conferir apenas no conforto silencioso de minha casa, e Um Lugar Silencioso me ajudou a passar os mais tensos noventa minutos em uma tarde de domingo desde que eu larguei o Internacional de mão.
O roteiro de Bryan Woods, Scott Beck e do próprio Krasinski é uma aula de tensão. Enxuto como os melhores filmes de horror devem ser.
O início do filme mostra um letreiro dizendo que é o dia 89 em um mundo recentemente pós-apocalíptico.
Uma família anda na ponta dos pés por dentro de um supermercado de cidade pequena que, de imediato, evoca The Last of Us.
A família, formada pelo pai (Krasinski), a mãe (Emily Blunt) e seus três filhos. Uma menina mais velha (Millicent Simmonds, que eu não sei se é surda como sua personagem, mas faz um trabalho excelente de uma forma ou outra), Noah Jupe (de Extraordinário) e o caçula (Cade Woodward), vasculha a loja abandonada em busca de remédios.
Eles se comunicam por sinais e tomam extremo cuidado para não fazer nenhum ruído. Nós rapidamente entendemos que este é um mundo onde o ruído é muito perigoso.
Essa visita à loja, não termina bem.
Essa sequência inicial de Um Lugar Silencioso é um belo cartão de visitas. Ela estabelece as regras do mundo onde a história se desenrola e apresenta os personagens com os quais a audiência irá se preocupar na trama central do filme, que se desenrola cerca de um ano mais tarde.
A família vive em uma fazenda. A personagem de Blunt está nos estágios finais de uma nova gravidez, o pai segue tentando consertar o aparelho auditivo da menina mais velha enquanto junta todo o tipo de informação que consegue acessar para entender as forças e fraquezas desse inescapável perigo, e a família tenta, da melhor forma possível, se preparar para receber seu novo membro. Um recém nascido em um mundo onde o som pode ser mortal.
A econômica hora e meia de Um Lugar Silencioso é tanto um triturador de nervos quanto uma aula de cinema de gênero.
O diretor e sua equipe técnica, assim que estabelecem as regras do mundo, passam a mexer impiedosamente com as expectativas da audiência. Nós somos confrontados com a imagem de armas, despertadores, pregos espichados pra fora do degrau de uma escada... E somos forçados a ficar na ponta da cadeira na expectativa do que irá acontecer quando esses objetos cumprirem seus objetivos e atraírem as criaturas (uns monstrões que parecem uma mistura do pokémon Scyther com os lickers de Resident Evil e o Venom...).
O investimento emocional que o roteiro consegue promover praticamente sem usar diálogos é digno de louvas, especialmente ao se levar em consideração a metragem modesta do filme, e todo o clímax do longa é um teste pra cardíacos se valendo das deixas criadas pelo roteiro e da ambientação, a casa de fazenda que Krasinski e companhia estabelecem quase como um personagem do filme num dos melhores usos da geografia de um set em um filme de horror desde o primeiro Invocação do Mal.
Nesse ambiente que a audiência logo aprende a conhecer, acompanha os esses personagens em uma veloz e i tensa jornada de adaptação em nome da sobrevivência desafia do os próprios limites.
Um Lugar Silencioso poderia ser perfeito se, por vezes, a trilha sonora de Marco Beltrami não parecesse tão intrusiva com seus instrumentos de corda antecipando sustos.
Ainda assim, o longa de John Krasinski é mais do que louvável.
Ao transformar uma das mais fundamentais expressões humanas em um perigo mortal, e manter o público roendo as unhas durante praticamente cada segundo de filme sem que ninguém se sinta enganado em nenhum momento, o diretor já coloca Um Lugar Silencioso na linha dos melhores e mais competentes thrillers do cinema. Ao fazê-lo sem se abster de construir investimento emocional da audiência através de relações familiares dolorosamente palpáveis, ele dá um passo além, e eleva seu filme a um patamar ainda mais alto.
Obrigatório. Um dos filmes do ano.

"-Se nós não pudermos protegê-los, quem somos nós?"

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