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segunda-feira, 3 de setembro de 2018
Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 4, Episódio 1: Smoke
Eu tinha esquecido completamente da estréia de Better Call Saul na Netflix há, penso eu, um mês atrás.
A mudança de lançamento da temporada para o segundo semestre me quebrou bonito esse ano, e eu passei a primeira metade do ano órfão de uma das minhas séries preferidas, e perdi um mês de episódios inéditos até entrar na Netflix pra ver se havia alguma opção de entretenimento após a ida à locadora se provar infrutífera e me deparar com a nova temporada das desventuras de Jimmy McGill.
O lado positivo foi que pude, na madrugada de sábado para domingo, fazer uma mini-maratona de Better Call Saul, e assistir, em sequência, aos quatro episódios que houvera perdido.
O primeiro episódio, Smoke, abre com a já tradicional sequência em preto e branco onde Jimmy/Saul (Bob Odenkirk) agora é Gene, gerente da Cinabon, e sofreu um pequeno colapso nervoso.
Os cerca de oito minutos de abertura são inacreditavelmente tensos. É uma tremenda sacada mostrar o protagonista em sua vida pós-exílio estando despido de todas as características que o tornaram quem ele era quando o conhecemos.
Nesses breves interlúdios em preto e branco, vemos o personagem preso em uma rotina anônima e desprovida de qualquer significado além de sobrevivência onde todas as interações sociais são um risco em potencial. O personagem verborrágico que era capaz de tagarelar seu caminho pra fora da maioria das situações, de repente, é um sujeito que precisa lutar para ser o mais esquecível e estéril possível que vê cada conversa casual como um perigo em potencial.
Mas esse prólogo não é o coração de Smoke.
A série retoma de onde havia nos deixado no ano passado e joga uma bomba sobre Jimmy exatamente no momento em que ele parecia estar disposto a seguir um rumo em sua vida de maneira mais otimista e centrada. Ele antevia oportunidades de emprego pelos dez meses de sua suspensão na ordem dos advogados e parecia satisfeito em apoiar Kim (Rhea Seehorn) em um momento de convalescênça após seu acidente automobilístico e a enxurrada de trabalho com o banco Mesa Verde, mas logo no começo do proverbial "primeiro dia do resto da vida", ele descobre que Chuck (Michael McKean) está morto.
Grande parte do episódio mostra Jimmy lutando com seus sentimentos em relação à morte do irmão. Culpa, revolta e luto se misturam e nós nos perguntamos como ele irá lidar com a perda. Jimmy é alguém que vende conceitos a todo mundo ao seu redor, claro, mas ele também é um mestre em vender conceitos a si próprio. É mais do que uma habilidade, é um mecanismo de sobrevivência. E quando percebemos como Jimmy está vendendo a morte do irmão para si próprio, especialmente após a confissão de Howard (Patrick Fabian), não podemos deixar de ver peças que formam Saul Goodman começarem a se encaixar.
O peisódio também visita, sutilmente, seu lado mais criminoso, com Mike (Jonathan Banks) reavaliando seu papel na Madrigal de maneiras muito particulares (e que também rende uma das melhores sequências do episódio), e a tentativa fracassada de assassinato de Nacho (Michael Mando) tornando-se um fardo tão grande para ele carregar quanto eram os desmandos de don Hector Salamanca (Mark Margolis) agora que ele parece estar sob o olhar mais atento de Gus Fring (Giancarlo Esposito).
Better Call Saul frequentemente nos expõe à uma cota justa de ação explosiva e banhos de sangue, mas em seus momentos mais quietos consegue temperar o silêncio com suspense e perigo o bastante pra nos fazer roer as unhas e ficar na ponta do sofá.
Smoke pode não ter sido um episodio particularmente recheado de grandes momentos, mas possui todas as qualidades que tornaram Breaking Bad uma das melhores séries de todos os tempos. Com seu ritmo tranquilo, cheio de peso e luto, abriu as portas para a nova temporada de forma mais do que competente além de nos empurrar definitivamente em direção a Saul Goodman.
Bem vindo de volta, Jimmy.
"-Eu acho que ele fez o que fez por minha causa.
-Bem, Howard, acho que essa cruz é sua pra carregar."
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