Pesquisar este blog

quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Resenha Série: Better Call Saul, temporada 4, episódio 8: Coushatta


Não há, eu não tenho nenhum medo de afirmar, episódios ruins em Better Call Saul. Quando avalio a série no IMDB, jamais dei uma nota abaixo de 8 a um episódio, e ainda assim, há píncaros de qualidade que nos fazem ficar de queijo caído. Na temporada passada, Chicanery foi esse ápice, um episódio nota 11, conseguindo se sobressair em meio ao mar de qualidade de Better Call Saul, e ontem fomos presenteados com Coushatta, não por acaso, escrito pelo mesmo roteirista, Gordon Smith, que conseguiu ser um ponto de virada na série sem nenhum tipo de evento bombástico, mas apenas driblando a audiência em uma aula de como é que se brinca com a subversão de expectativa do público sem ser desonesto (sim, isso foi pra ti, Últimos Jedi).
Foi bom voltar a ver Nacho.
Michael Mando escavou seu espaço até o coração da audiência ao viver o personagem mais Jesse Pinkman de Better Call Saul. Assim como o personagem de Aaron Paul em Breaking Bad, Nacho Varga percebeu que está se aprofundando em um jogo para o qual simplesmente não está equipado, e que eventualmente cobrará mais do que ele é capaz de pagar.
A forma como ele age friamente em seu trabalho recebendo os pagamentos dos traficantes da região na lanchonete, arrancando brincos e dando sermões é o completo oposto de sua expressão quando olha as identidades falsas que preparou para si e para seu pai pensando em fugir de Albuquerque.
Nacho, porém, ainda nem sabe o que são problemas, já que uma nova peça surge no tabuleiro. O aparentemente afável Lalo Salamanca (o Sr. Ávila, Tony Dalton).
Pra quem não lembra, quando conhecemos Saul Goodman, sendo arrastado para o deserto por Walter e Jesse, ele perguntou se eles haviam sido enviados por Lalo. E ao saber que não era o caso, ficou muito tranquilo com toda a situação, de modo que, nós sabemos, Lalo Salamanca é a nova pedra no caminho de Nacho Varga em sua tentativa de escapar da vida criminosa (e, no futuro, possivelmente de Jimmy/Saul).
Enquanto Nacho remói a presença de mais um Salamanca em sua vida, nós tivemos a primeira subversão de expectativa na ponta narrativa de Mike.
Com os trabalhadores do laboratório de Gus Fring prestes a explodir por conta dos atrasos nas obras e do isolamento, Mike os leva para um strip club para liberar um pouco de tensão e ter algum contato humano fora do armazém. Conforme se esperava, Kai é o sujeito que resolve apalpar um dançarina sendo expulso do bar, entretanto, é Werner que, embriagado, entra em uma animada conversa a respeito de arquitetura com dois desconhecidos. Eu acho que não sou o único que estava preparado para ver Mike dar um sumiço em Kai a qualquer momento, e não devo ser o único a não estar preparado para ver Mike dar um sumiço em Werner, entretanto, conhecendo Vince Gilligan e Peter Gould, devemos estar preparados para perder sempre o personagem de quem mais gostamos, e não aquele que estamos preparados para ver morrer. Seja como for, a conversa de Mike e Werner a respeito da esposa do alemão e de como esse é o maior período que ele já passou longe dela são indicativos de que, talvez, Werner jamais volte a vê-la.
E, se esse for o caso, muito mais do que, eventualmente se livrar de Kai, matar Werner pode ser o ponto de virada na vida de Mike, e seu definitivo mergulho no mundo de Fring.
Mas, ainda que tudo isso tenha sido muito, muito bom, o ponto alto de Coushatta foi mesmo o plano de Jimmy e Kim para livrar Huell da prisão.
As canetas coloridas, papéis de carta e envelopes do episódio passado eram parte da estratégia criado pelo casal para pintar o batedor de carteiras como um pilar da sociedade da pequena cidade de Coushatta, na Louisiana.
Da forma como Jimmy viaja de ônibus até Coushatta para enviar as cartas, contando com a ajuda de todos os passageiros do ônibus escrevendo pedidos por Huell, até o esquema dos telefones passando pela forma como Kim usa a equipe da firma onde trabalha para fingir estar tentando pressionar a promotora, tudo é realizado à perfeição, e durante todo o tempo, nós temos a impressão de que é isso:
Esse é o último favor que Kim vai fazer a Jimmy antes de mandá-lo seguir seu caminho.
A montagem dos oito meses na semana passada mostrou um casal afastando-se mais e mais a cada dia, tanto que mesmo quando Jimmy agiu feito um idiota na festa da Schweikart e Cokely, Kim não parecia estar interessada em repreendê-lo. Ela estava apenas cansada de tudo.
Nós tivemos essa impressão. Jimmy teve essa impressão. Até mesmo a senhora Nguyen (Eileen Fogarty) teve essa impressão.
Mas após o desfecho do multifacetado plano dos dois, Kim se atirou nos braços de Jimmy.
Mais do que isso, de volta ao escritório, ela parecia não term a mínima paciência para leis de zoneamento e novos prédios do banco Mesa Verde. Kim se sentiu viva ao trabalhar com Jimmy, ao vê-lo usar a totalidade de seus poderes e dar um vai-cavalo no sistema jurídico sem sequer pestanejar.
Sim, seus motivos continuam sendo puros, ela quer ajudar pessoas, mas é a confrontação que a motiva. Nós vimos isso em episódios anteriores onde Kim lutava feito uma fera para ajudar pessoas que precisavam de auxílio legal, e se encontrava satisfação em ajudar pessoas dentro do sistema, ajudá-las usando os métodos de Jimmy, sua esperteza e inventividade, mesmo às margens da lei, é ainda mais satisfatório.
Os meios de Jimmy Sabonete são a injeção de adrenalina de que Kim precisava para extravasar. Ela quer ser Giselle de vez em quando. Ela quer aplicar um golpe. Ela quer ser má.
E, sim, nós sabemos, tendo visto Breaking Bad, que a coisa toda não vai acabar bem. Nos sabemos que vai nos deixar arrasados e que provavelmente será trágico porque nós gostamos desses personagens, mas, ao mesmo tempo, ao menos oferece a Kim a chance de ser responsável pela própria tragédia, e não uma vítima dos esquemas de Jimmy.
Faltam apenas dois episódios para o fim da temporada. Vamos ver se a chama de Wexler e McGill continua acesa até lá.

"Vamos fazer de novo."

Um comentário:

  1. Excelente! Eu amo ver Netflix, eles tem boas series. Eu gosto de passar o tempo assistindo grandes produções que Netflix tem e também das series da hbo. Uma das minhas favoritas é Insecure, você já viu? Pessoalmente deixe de ver a serie Insecure há um tempo, mas acho que a voltarei a ver. Achei muito interessante a maneira em que terminou a última temporada por todos os spoilers que li, assim que vou me atualizar para que possa vê-la e entender melhor. É uma historia que vale a pena ver.

    ResponderExcluir