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segunda-feira, 24 de setembro de 2018
Resenha DVD: Oito Mulheres e um Segredo
Acho que pra um sujeito dizer que não existe machismo no mundo de hoje, ele precisa, ou morar sozinho em uma caixa fechada onde não há contato com ninguém, ou viver em negação... De qualquer forma existe, sim, machismo no mundo. É sabido, já diriam os dothraki. E é apenas um dos muitos preconceitos que a humanidade, esse danoso câncer na superfície da Terra, pratica. Mas enfim, estou me desviando do assunto...
Existe machismo no mundo em geral, em Hollywood em particular.
Há menos, muito menos, papéis de destaque para mulheres no cinema, porque é que quando perguntamos o nome de grandes atores somos capazes de ouvir o interlocutor disparar uma metralhadora de nomes que vão de atores da velha guarda, quase octogenários em atividade desde a década de 1970 até novas promessas que surgiram em algum filme indy que vimos no começo do ano, mas quando pedem que façamos o mesmo com atrizes ouvimos os nomes de Meryyl Streep, Cate Blanchett, talvez Viola Davis e então começam a ter que puxar pela memória?
Certamente não é porque mulheres têm menos talento dramático, mas porque há menos grandes papéis disponíveis para atrizes, e esses papéis inevitavelmente ficam com atrizes com nomes e talento já reconhecidos e que, de preferência, ainda não tenham chegado à uma certa idade.
Posto isso, eu seria inteiramente favorável a franquias estreladas por elencos totalmente femininos. Não tenho nenhum problema em ver um desfile de mulheres talentosas e bonitas na tela do cinema ou da TV em nenhum dia da minha vida. Tenho, porém, minhas reservas com remakes femininos de filmes já feitos.
Tome Caça-Fantasmas, por exemplo.
É um produto no imaginário de toda uma geração. Casualmente da minha geração.
Eu não fiquei ofendido por Caça-Fantasmas ser composto por um elenco feminino. Fiquei ofendido porque os Caça-Fantasmas não eram Venkman, Stantz, Spengler e Zeddmore. Poderia ficar ofendido porque todos os homens naquele filmes são burros, malvados ou covardes, mas enfim, também não fiquei. O ponto foi que o fracasso de público e crítica de Caça-Fantasmas deveria ter mostrado que remakes femininos de filmes talvez não sejam o caminho a seguir. Ainda assim, a Warner resolveu lançar, esse ano, Oito Mulheres e um Segredo.
O longa dirigido por Gary Ross, mesmo diretor de Seabiscuit, Jogos Vorazes e Um Estado de Liberdade, entre outros, não é, sejamos justos, um remake, mas um derivado.
No longa, Debbie Ocean (Sandra Bullock), irmã de Danny (George Clooney, visto em uma foto), acaba de sair da prisão em um vestido de gala após cumprir pouco mais de cinco anos de pena.
Debbie passou todo esse tempo planejando um golpe que deixaria Danny orgulhoso.
Seu plano é aproveitar a ocasião do baile anual do Metropolitan Museum of Art de Nova York para roubar o Touissaint, monstruoso colar criado pela Cartier com quase três quilos de diamantes e avaliado em 150 milhões de dólares.
Para colocar seu plano em prática, Debbie precisa da ajuda de sua antiga parceira, Lou (Cate Blanchett), e de uma equipe de mais cinco mulheres com talentos específicos, que vão da estilista Rose Weil (Helena Bonham Carter), a designer de jóias Amita (Mindy Kaling), a hacker Bola Nove (Rihanna,), a batedora de carteiras Constance (Awkwafina) e a golpista convertida em dona-de-casa Tammy (Sarah Paulson), juntas elas pretendem tirar o Touissaint do pescoço de Daphne Kluger (Anne Hathaway), atriz enjoadinha que é uma das estrelas do baile em um intrincado esquema de roubo que pode, além de tornar as sete mulheres muito ricas, ajudar Debbie a se vingar do responsável por sua prisão, o merchant de arte Claude Becker (o Thorin Escudo-de-Carvalho, Richard Armitage), ou, se a execução for qualquer coisa menos que perfeita, colocá-las na cadeia por um bom tempo.
A verdade nua e crua é que Oito Mulheres e um Segredo, é um filme OK.
Os ágeis 110 minutos de filme são divididos entre a formação da equipe, a preparação do golpe e o golpe em si, tudo conforme manda a cartilha dos filmes de assalto. Não há pontas soltas e praticamente nenhuma fala é supérflua e o ritmo é ágil, quase corrido. O problema disso é que faz com que, Cate Blanchett, por exemplo, tenha muito pouco a fazer ou dizer em cena, e isso já é uma falha mortal. Sandra Bullock é outra que não é nem remotamente desafiada, assim como Paulson. Mindy Kaling, Awkwafina e Rihanna fazem quase figuração, enquanto Helena Bonham Carter e Anne Hathaway são, fácil, as melhores coisas do filme.
Carter tem pouco espaço, mas ela realmente parece estar interpretando uma personagem, e não apenas desfilando na tela, enquanto Hathaway rouba todas as cenas em que aparece, indo de Bambi a Scar com um mero semi-cerrar de olhos.
E, eu sei, provavelmente haverá quem me lembre que a trilogia Onze, Doze e Treze Homens também não era, exatamente, um show de interpretações de ponta à ponta, e eu concordo.
Entretanto aqueles filmes emanavam um senso de camaradagem que era a verdadeira estrela dos longas. Nós realmente acreditávamos que aqueles sujeitos eram amigos de longuíssima data e eles estavam claramente se divertindo fazendo aqueles filmes.
Talvez tenha faltado a mão de Steven Soderbergh, talvez o roteiro de Ross e Milch careça de um pouco de gordura, alguns momentos para aquecer as relações entre as protagonistas como havia no longa escrito por Ted Griffin em 2001, um exemplo disso é a breve passagem que mostra a personagem de Awkwafina ensinando a de Mindy Kaling a usar um aplicativo de namoro do celular. É divertido e refrescante e o longa poderia usar mais disso.
Seja como for, não há nada de intrinsecamente ruim em Oito Mulheres e um Segredo, e ao mesmo tempo, não há nada de memorável, o que, considerando a quantidade de talento do elenco é, por si só, um pecado.
Um elenco nota dez em um filme nota cinco é sempre um pecado.
Meramente pelos nomes no poster, vale a locação. Num domingo de tarde é certamente melhor que ver o Faustão.
"Se você tem um problema com roubar, então não vai gostar do resto dessa conversa."
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