Pesquisar este blog

quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Influência


O Luís chegou à academia como fazia todos os dias úteis de sua vida.
Largou a mochila no armário, passou o cadeado, apanhou a toalha que, de tanto usar já estava se esfarrapando, e foi para o aparelho de supino.
Sua rotina de exercícios auto-imposta era bem simples: Num dia peito, ombros e bíceps. No outro, costas, tríceps e abdominais.
Após cerca de uma hora e meia de musculação, ele saía da academia e, ao invés de virar à direita e andar quatro quarteirões até em casa, ele virava à esquerda e percorria algo em torno de três quilômetros pela orla do Guaíba até em casa.
Era uma rotina que ele não mantinha com prazer. Apenas havia conseguido transformar em hábito, o que já considerava uma vitória.
Perdera as contas de quantas vezes no escritório pensara "Hoje eu não vou à academia.", para minutos mais tarde estar de regata e bermuda suando feito um condenado à forca.
Conseguia, descobrira, transformar qualquer coisa em hábito. Por pior que fosse.
Deitou-se no aparelho de supino e fez seus exercícios. Seguiu a ordem de sua série com a tradicional calma e aplicação. Tinha pra si de que se não suava feito um porco e não terminava dolorido, os exercícios não tinham sido bem feitos.
Quando terminou a última sequência de levantamentos, sentia os braços queimando, suor lhe escorria da testa, e sua respiração estava acelerada.
Viu o espelho e, após certificar-se de que ninguém estava olhando, flexionou ligeiramente o braço, forçando o músculo do bíceps e vendo, satisfeito uma veia saltar.
Após cerca de três anos de verdadeira dedicação (mas não obsessão com) à academia, não se tornara uma grande massa de fibras musculares, mas colhera frutos.
Emagrecera treze quilos e trocara o físico do Homer Simpson pelo de Stan Smith, do American Dad. Lhe parecia uma boa troca.
Muitos dos colegas de academia lhe perguntavam dos hábitos alimentares quando as inevitáveis conversas sobre os treinos surgiam no vestiário.
Ele era rápido em assumir que não. Não passava nem perto de fazer dieta. Sequer cuidava da alimentação. Seguia bebendo refrigerante, comendo lanches, pizzas e toda a sorte de bobagens. De modo geral, em grandes quantidades.
Curiosamente, a mesma coisa que o fazia ir à academia puxar ferro até achar que os braços derreteriam o mantinha um glutão.
As palavras de uma guria.
Não qualquer guria. A guria. Assim mesmo, com A maiúsculo.
A guria de sua vida.
Ela lhe dissera em mais de uma ocasião que achava seus braços bonitos mesmo quando ele parecia um boneco da Hora de Aventura com bracinhos de macarrão. Ele ia a academia diariamente pensando que, na próxima vez em que a abraçasse seria legal que fosse com braços que, se não poderiam partir a espinha do Batman, ao menos criassem essa impressão.
Ao mesmo tempo, ele se recusava a comer frango com salada três vezes ao dia porque essa mesma guria, A guria, lhe dissera, e ele lembrava muito bem dela dizendo em um meio sorriso com um hambúrguer na mão, que se havia uma coisa que um homem devia ser, era "bom de garfo".
As palavras dela o mantinham, ao mesmo tempo, saudável e comilão.
Esse era o tamanho da influência dela em sua vida.
Por tanto amor, até mesmo as pequenas incoerências pareciam fazer sentido.

Nenhum comentário:

Postar um comentário