Bem vindos a casa do Capita. O pequeno lar virtual de um nerd à moda antiga onde se fala de cinema, de quadrinhos, literatura, videogames, RPG (E não me refiro a reeducação postural geral.) e até de coisas que não importam nem um pouco. Aproveite o passeio.
Pesquisar este blog
quarta-feira, 5 de setembro de 2018
Resenha Série: Better Call Saul, Temporada 4, Episódio 5: Quite a Ride
Atenção! Spoilers abaixo!
No episódio dessa semana de Better Call Saul nós fomos brindados, ao mesmo tempo, com o fim de Saul Goodman, e com o que pareceu o maior e mais definitivo passo de Jimmy em sua direção.
Os primeiros cinco minutos do episódio mostraram uma das últimas aparições de Saul em Breaking Bad, quando o advogado, correndo contra o tempo, liquidou seu escritório, juntou todo o seu dinheiro, picou todos os seus registros e fez a derradeira ligação para Robert Foster vir consertar seu aspirador de pó antes de entregar um cartão para Francesca (Tina Parker) com votos de "Diga 'Jimmy me mandou'.".
Foi um começo poderoso de episódio mesmo se o desenrolar de Quite a Ride não tivesse sido tão magistral quanto foi. Ver Jimmy desistir de assistir Doutor Jivago sossegado em casa enquanto Kim trabalhava para fazer uma incursão noturna à vida criminosa de Albuquerque foi simplesmente sensacional.
Ele nem mesmo precisou aplicar um golpe em ninguém para demonstrar o quão profundamente Saul Goodman já está enraizado em si. Ele comprou os telefones de sua loja e os revendeu com uma pequena margem de lucro nas ruas com a promessa de privacidade aos elementos mais rasteiros do submundo usando nada além de sua lábia e destemor.
A perfeição da sequência vai da expressão no rosto de Jimmy quando ele fica aborrecido no sofá de casa até a genuína euforia que ele demonstra enquanto conversa com cada figura estranha no pátio da lanchonete, passando pela forma como ele hesita antes de entrar na nuvem de motoqueiros que faz todo o público do lugar debandar rapidamente.
É um show de Bob Odenkirk, que abraça essa sequência com tudo o que ela demanda, da determinação do empreendedor auto-confiante ao desespero do vigarista em busca de uma dose da sua droga pessoal, o sucesso a qualquer custo.
O desfecho da empreitada não é tão positivo, porém, e literalmente esmurra Jimmy na cara com uma violenta dose de realidade. E o show de Odenkirk continua conforme ele conversa com Kim, dizendo que, nos velhos tempos, ele jamais teria sido assaltado por trombadinhas, que teriam visto nele um sujeito com quem não mexer.
Jimmy sente falta de ser um vigarista. Ele sente falta de ser um sujeito a quem outros criminosos reconhecessem e respeitassem.
E seu discurso a respeito de seus planos para o futuro diante do agente da condicional, é outro grande momento. Onde Jimmy, ao verbalizar sua vontade de voltar a advogar e ser um ótimo advogado ao lado de sua parceira, não parecia estar tentando convencer o oficinal do outro lado da escrivaninha, mas a si próprio.
McGill estava tentando vender a respeitabilidade de seu trabalho a si mesmo. E estava falhando. Agora, parece questão de tempo até Jimmy resolver que quer o melhor dos dois mundos: Ser um advogado e um vigarista ao mesmo tempo.
E apesar do tour de force de Odenkirk, Quite a Ride ainda teve mais.
Kim Wexler parece ter entendido que não pode salvar o seu Jimmy, então tem feito trabalho pro-bono no tribunal defendendo pequenos delinquentes. Ela quer fazer a diferença e parece tão determinada a isso que chega a arriscar seu futuro com o banco Mesa Verde.
Aqui cabe mais um elogio a série. Em um mundo repleto de cartéis de drogas, tiroteios e assassinatos, o emprego de Kim Wexler no banco parece uma tremenda bobagem, ainda assim, a confrontação entre Kim e Paige (Cara Pifko) foi um dos momentos que me deixou mais tenso no episódio. Conseguir fazer isso é um tremendo mérito dos roteiristas, que mantém Kim relevante mesmo que ela não se envolva com a parte mais criminosa da série em nenhum momento (até agora...).
Aliás, Kim está se tornando motivo, tanto de preocupação, quanto de intriga.
Ela realmente está comprando as bobagens que Jimmy lhe diz?
Será que ela acreditou que ele trabalhou das nove da noite até altas horas da madrugada e foi assaltado beeeeem longe da loja? Ou ela acha que ele está lidando com o luto por Chuck à sua maneira e lhe dando espaço pra isso?
É difícil ter certeza.
Quem não está lidando nada bem com a morte de Chuck, por sinal, é Howard. Quando o encontramos no fórum ele parece um mendigo usando um terno caro, e Jimmy sequer se abala ao ver o resultado do que é, em grande arte, sua responsabilidade. Foi ele, afinal, quem deixou Howard se culpar pelo suicídio de Chuck.
E, como cereja do bolo, tivemos Mike.
No final das contas Gus não queria que ele apagasse Nacho no final do último episódio, mas sim que fizesse um trabalho de cicerone sinistro para engenheiros estruturais.
Não acho que eu fosse o único sem nenhuma curiosidade de saber como foi o processo de construção do laboratório subterrâneo de Gus Fring embaixo da lavanderia, mas, mesmo assim, foi um belo easter egg, e deu a Mike algo que fazer no capítulo. Ao mesmo tempo, a cada passo que Better Call Saul dá em direção a Breaking Bad, eu me divido entre alegria e melancolia, pois parece óbvio que, quando as duas séries se encontrarem, eu vou ficar órfão do que é uma das melhores séries da TV, e, ao contrário de vários comentários que vejo nos IMDB da vida, eu passaria anos assistindo as desventuras de Jimmy McGill e postergando o final de Better Call Saul enquanto fosse humanamente possível.
"-Nos velhos tempos eu teria avistado aqueles trombadinhas de longe. E eles saberiam que não deviam mexer comigo.
-É? Como?
-Não sei... Acho que porque... Nos velhos tempos eu era um deles."
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário