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segunda-feira, 13 de agosto de 2018

Resenha DVD: Lady Bird: A Hora da Voar


Existe uma coisa muito especial em filmes sobre a passagem da adolescência à idade adulta. Chama-se nostalgia.
Um bom filme sobre essa fase da vida tem a capacidade de nos transportar de volta para um momento pelo qual todos nós passamos e que, se parecia terrivelmente dramático e complexo, então, é sopinha no mel comparado com as mazelas da vida adulta.
Todos nós somos capazes de olhar pra trás e dar um sorriso pensando no quanto éramos dramáticos com 15, 16, 17 anos... Em como todas aquelas decisões pareciam definitivas, em como aqueles corações partidos pareciam incuráveis, em como tudo se tornava operático como uma espécie de realidade aumentada diante de qualquer precalço. E depois de mais velhos, lidando com contas, trabalho, responsabilidades de se estar crescido, enfim, percebemos que, talvez, tenhamos levado aqueles momentos demasiado a sério.
Lady Bird: A Hora de Voar (porque Deus proíba um filme ter como título apenas um nome próprio) é um desses filmes repletos de nostalgia. Nele conhecemos Christine (a ótima Saoirse Ronan), uma jovem de dezessete anos que vive em Sacramento, cidade que ela odeia e julga o "meio-oeste da Califórnia".
Corre o ano de 2002 e Christine, que agora deseja ser chamada pelo nome de Lady Bird está no último ano do colegial e começando a ver potenciais universidades para atender.
Sua mãe, Marion (Laurie Metcalf, excelente), uma enfermeira psiquiátrica durona, deseja que Lady Bird se matricule em uma universidade local, de preferência uma universidade católica onde a jovem certamente conseguirá entrar, já que frequenta uma prestigiada escola católica da cidade ao custo de sacrifícios financeiros de sua família. A adolescente, porém, deseja estudar em Nova York ou em algum ponto da costa leste "onde a cultura está", e não parece nem um pouco disposta a abrir mão de seus sonhos não importa o que sua mãe diga e nem que seu desempenho acadêmico não seja exatamente garantia de sucesso na hora de ser admitida em uma universidade de grande prestígio.
Enquanto briga pelo futuro que almeja em batalhas diárias contra sua mãe, uma mulher prática que é uma mestra do kung fu passivo-agressivo, Lady Bird resolve experimentar coisas novas para tentar engordar seu currículo escolar, como seguir a dica da diretora de sua escola, a freira Sarah Joan (Lois Smith), e se juntar ao clube de teatro do colégio, tocada pelo padre Leviatch (Stephen McKinley Henderson).
Ao lado de sua melhor amiga Julie (a divertida gordinha Beanie Feldstein), Lady Bird irá navegar em seu último ano de ensino médio tentando chegar à vida que almeja para si enquanto bate cabeça com sua família, vive seus primeiros namoros, com o bom-moço Danny (Lucas Hedges) e o afetado pseudo-bad-boy Kyle (Timothée Chalamet), faz descobertas e sofre decepções.
Lady Bird: A Hora de Voar é um bom filme.
Não é, nem de longe, tão bom quanto As Vantagens de Ser Invisível, outra dramédia indie sobre deixar a adolescência para trás, mas tem um vasto rol de qualidades.
O maior, sem sombra de dúvidas, é Saoirse Ronan. A atriz consegue equilibrar uma personagem que poderia facilmente se tornar antipática, quase insuportável em sua idiotice adolescente, ao balancear ingenuidade e sarcasmo, introspecção e vontade de aparecer de maneira quase perfeita. Ela move a história de Lady Bird o tempo todo, e ainda que não precise carregar o filme inteiro nas costas porque há um baita de um elenco de apoio com cobras-criadas como Metcalf, Smith, Henderson e Tracy Letts e novos talentos como Hedges e Chalamet, deixa claro que poderia fazê-lo.
Não é apenas um show de elenco que torna Lady Bird um bom programa.
A diretora e roteirista Greta Gerwig mostra que tem bala na agulha para contar histórias. Sem arroubos, ela sua narrativa semi-auto-biográfica com segurança, povoando seu mundo com personagens interessantes e vivos. Do pai numa maré de azar ao padre deprimido, os coadjuvantes colorem o mundo habitado por Lady Bird e ajudam a audiência a relevar os momentos em que o desenrolar da trama se torna demasiado óbvio.
Lady Bird: A Hora de Voar está longe de ser perfeito, mas é carregado de uma ternura honesta que o faz funcionar de forma genuína.
Certamente vale a locação.

"-É claro que eu te amo.
-Mas você gosta de mim?"

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