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terça-feira, 12 de março de 2019

Resenha Cinema: Capitã Marvel


Deixe-me começar dizendo que eu odeio a Capitã Marvel da versão Mais Alto, Mais Longe, Mais Rápido. Eu realmente a odeio.
Pra mim, foi um daqueles raros momentos em que um personagem secundário da Marvel ganha a ribalta e é piorado ao invés de melhorado. A personagem se tornou uma sargentão desprovida de qualquer senso de humor ou de qualquer resquício do que seria uma personalidade sequer remotamente atraente, de modo que, quando alardearam que Capitã Marvel seria a primeira personagem feminina do universo Marvel a ganhar seu próprio filme no MCU (uma cusparada na cara da Viúva Negra, que vem sendo uma autêntica carregadora de piano nos filmes dos outros desde Homem de Ferro 2), eu me peguei reticente com a ideia exatamente por odiar a personagem.
Quando Brie Larson foi anunciada no papel principal, eu já havia adotado ao menos outras duas atrizes aventadas no papel como minhas favoritas (no caso, Charlize Theron e Katheryn Winnick), os nomes dos co-diretores Anna Boden e Adam Fleck, também não diziam nada já que nos filmes do MCU, apenas Taika Wititi, o demitido James Gunn e os Russo são capazes de colocar alguma coisa de pessoal em seus trabalhos.
A atenção à qual qualquer filme hoje em dia é submetido nas redes sociais também não ajudou Capitã Marvel a ser algo pelo qual eu estivesse particularmente ansioso. De um lado trolls ultrajados por haver uma mulher num papel de destaque num estilo de filme dominado por fortões, de outro o panfleto erguido pela turma do politicamente correto, alguns turbinados por declarações de Brie Larson, a escolhida para interpretar a heroína, que entrou em modo LucasFilm e antagonizou a base de fãs antes mesmo do lançamento do filme, me fizeram pensar que, talvez, Capitã Marvel fosse ser o primeiro filme do MCU que eu não veria no cinema.
Porque por mais que eu seja partidário de igualdade de oportunidades de direitos para todos, independente de raça, gênero ou credo, eu francamente não me sinto a vontade quando a mensagem que um filme deseja transmitir se torna mais importante que a história que ele quer contar, e, antes que me acusem de ser preconceituoso, machista ou misógino, eu recomendo que leiam minha resenha de Mulher-Maravilha...
Mas, ainda assim, resolvi ir.
Passada a estréia e o primeiro final de semana, aproveitei a oportunidade e peguei uma sessão pouco movimentada do longa para ver o que o MCU iria fazer para equilibrar uma das criações mais insuportáveis da editora de modo a carregar um filme nas costas.
O longa nos apresenta Vers (Larson) totalmente adaptada à cultura Kree, vivendo em Hala, mundo capital do império. Sob a tutela de Yon-Rogg (Jude Law) ela treina para se tornar uma guerreira da força de elite chamada Star Force que é um dos principais trunfos do império Kree em sua longeva guerra contra a raça de metamorfos reptilianos Skrulls.
Vers é constantemente assombrada por flashes de um passado do qual não consegue se lembrar, de uma vida que viveu antes de se tornar uma "nobre heroína guerreira" a serviço do império Kree, mas a privação de sono não a impede de se dedicar com extremo afinco ao treinamento e a seu dever para com a Inteligência Suprema, a I.A. que comanda o império alienígena e que tem uma forma diferente para cada uma das pessoas que a veem, para Vers, a doutora Wendy Lawson (Annette Bening), uma figura de seu passado nebuloso.
Após uma operação de extração da Star Force dar errado, a protagonista acaba sendo capturada pelos Skrulls e interrogada por Talos (Ben Mendelsohn, que à essa altura já deve pegar scripts e pensar em qual papel de vilão estão lhe oferecendo), um comandante inimigo particularmente interessado nas memórias de Vers e em algo oculto no planeta C-53, a nossa Terra.
Escapando com facilidade de seu cativeiro, Vers chega à Terra onde começa a investigar qual o objetivo dos Skrulls no planeta, ao mesmo tempo em que persegue pistas que a ajudem a desvelar seu passado terráqueo contando com a ajuda do agente da SHIELD Nick Fury (Samuel L. Jackson).
Conforme havia acontecido comigo em Pantera Negra, um filme que eu achei surpreendentemente menos autoral do que eu supunha, Capitã Marvel é um panfleto muito mais discreto dos que os trolls da internet poderiam antecipar.
Não me entenda errado, há toda uma mensagem de girl power (Oh, céus, não deixem Briel Larson ler a palavra "girl" ou ela fará um discurso a respeito) extremamente clara. Do passado de Carol Danvers na Força Aérea, ouvindo piadinhas sobre sua incapacidade de pilotar em combate, à insistência de todo mundo em dizer que ela é emocional demais (não é. a personagem é estoica até demais), passando por "Just a Girl" do No Doubt tocando a pleno volume na sequência de ação derradeira do filme, Capitã Marvel é tão preocupado com sua mensagem quanto poderia ser antes de se tornar excessivo (para uma pessoa normal. Anormais de plantão podem achar o filme "feminista demais" apenas por ter uma mulher no papel central), e, ainda assim, é um filme da Marvel antes de qualquer coisa.
Dos efeitos visuais competentes à trilha sonora absolutamente esquecível ao humor que permeia o filme do começo ao fim e o clímax morno, a fórmula Marvel se faz evidente durante as duas horas e quatro minutos de filme, e, no que tange à maneira do Marvel Studios de fazer cinema, Capitã Marvel é um filme de origem mediano igual a qualquer outro do estúdio.
O talento de Brie Larson é subutilizado, a oscarizada atriz está ali fazendo o papel de uma heroína com pouquíssima personalidade além de uma eventual observação espertinha e que jamais permanece no chão, o que, sejamos francos, o Homem de Ferro e o Capitão América já faziam muito melhor há uma década, sua amizade com Maria Rambeau (Lashana Lynch), sua ex-companheira de Força Aérea é OK e tem seus bons momentos, mas é com Samuel L. Jackson que a atriz realmente compartilha a grande química do filme. O modelo buddy cop da relação de ambos é muito bem sacado e divertido.
Todo o restante do elenco de apoio faz pouco mais que figuração de luxo. Jude Law tem algum espaço com Yon-Rogg, mas Djimon Honsou, Lee Pace e o restante da Star Force pouco têm a fazer no filme além de apanhar, mesmo Annette Bening fica pouco tempo em cena. Melhor sorte tem Mendelsohn, Talos, o Skrull que, por alguma razão tem sotaque australiano, é o grande ladrão de cenas do filme, roubando cada frame em que aparece, seja caracterizado, seja com sua própria cara.
O roteiro de cartilha ainda guarda algumas reviravoltas (que não pegam de surpresa nenhum leitor de quadrinhos e nem qualquer pessoa que tenha acompanhado os trailers do filme com atenção), e tem seus momentos, garantindo duas horas de diversão satisfatórios para o público em geral, obrigatório para os fãs do MCU.
Há duas cenas pró-créditos.

"-Você já era a pessoa mais poderosa que eu conheci antes de disparar fogo pelas mãos."

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