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quinta-feira, 21 de março de 2019

Resenha Filme: Aquaman


Eu francamente não sei bem por que eu não fui ver Aquaman no cinema no ano passado. Sou, afinal de contas, um admirador de Homem de Aço, adorei Mulher-Maravilha, fui uma das oito pessoas que gostou de Liga da Justiça e acredito firmemente que, em algum lugar de Batman v Superman: A Origem da Justiça há um grande filme sepultado por Lex Luthor, Apocalypse e Zack Snyder, que não entendia os personagens que retratou. De modo que, exceto por causa da minha fadiga declarada para com o público mal-criado dos cinemas, e as salas exibidoras com seus horários dublados, eu não sou capaz de pensar em uma boa razão para não ter ido ver o filme, então, assim que o aluguel digital foi disponibilizado na Google Playstore, lá fui eu dar uma conferida na aventura do rei dos mares da DC Comics em sua encarnação mais recente...
Novamente encarnado por Jason Momoa, responsável por dar vida ao personagem em Liga da Justiça (e em um breve relance em Batman v Superman) e dirigido por James Wan, australiano egresso do cinema de horror com Jogos Mortais, Invocação do Mal e Sobrenatural no currículo, além de Velozes & Furiosos 7, Aquaman funciona como uma história de origem, ainda que reconheça os eventos de Liga da Justiça, mencionados brevemente em uma cena no início do longa.
Com a narração do protagonista, nós tomamos conhecimento de como seu pai, o faroleiro Tom Curry (Temuera Morrison, o Django Fett em pessoa), numa noite de tempestade, encontrou nos recifes junto à sua casa a rainha Atlanna (Nicole Kidman), uma refugiada atlante tentando escapar de um casamento arranjado.
Ferida, Atlanna foi acolhida por Tom, e, eventualmente, os dois se apaixonaram e tiveram um filho, Arthur, que ainda pequeno foi abandonado por sua mãe, tendo em vista que sua partida de Atlântida continuava não tendo sido perdoada por seu pretendente, e seguiria atraindo represálias do oceano colocando Tom e o bebê em risco.
Arthur cresceu sem mãe, mas não alheio à sua herança atlante.
Sob a tutela secreta de Vulko (Willem Dafoe) ele aprendeu sobre suas origens e habilidades, treinando para alcançar o máximo de suas capacidades híbridas até crescer para se tornar um dos meta-humanos mais poderosos do mundo, e um guardião secreto dos mares auxiliando os indefesos.
Com gosto por piadinhas e doses industriais de cerveja, Arthur é um andarilho sem ligações com o mundo da superfície além de seu pai, e sem nenhum interesse em estreitar seus laços para com o oceano após saber que sua mãe fora sentenciada à morte por ter-lhe dado à luz.
As coisas mudam de figura quando o meio-irmão de Arthur, Orm (Patrick Wilson, gritando pra caramba), convence o rei Nereus (Dolph Lundgren) a apoiá-lo em sua pretensão de declarar guerra ao mundo da superfície.
Após anos vendo o mar ser transformado em depósito de lixo dos terrestres, Orm decidiu que é hora de dar um basta. Ele planeja unir todos os reis dos sete mares à sua causa e realizar um ataque definitivo ao mundo da superfície, e a única forma de impedir a guerra é encontrando um novo postulante ao trono que seja capaz de desafiá-lo.
É onde entra Mera (Amber Heard, lindona), que vai ao encontro de Arthur para convencê-lo a tomar parte no plano bolado por ela e Vulko, encontrar o tridente perdido do rei Atlan (Graham McTavish) e tomar o trono de Orm para garantir a paz, um objetivo que só poderá ser alcançado embarcando em uma jornada que mudará a visão que Arthur tem do mundo submarino em uma busca, não apenas por uma relíquia perdida da antiga Atlântida, mas também por sua própria identidade e seu papel como a ponte entre dois mundos.
Conforme eu suspeitava, não há nada para não se gostar em Aquaman.
O longa escrito por David Leslie Johnson McGoldrick (sim, isso tudo é uma pessoa só), Will Beall, Geoff Johns e o próprio James Wan acerta na pinta ao abrir mão de qualquer resquício do pseudo-realismo sombrio dos longas iniciais do DCUE, e abraça um senso aventuresco de diversão descompromissada como, estranhamente, há muito tempo eu não via em um longa de super-herói.
É um filme onde a vencedora do Oscar Nicole Kidman aparece comendo um peixe dourado durante a introdução que grita Splah: Uma Sereia em Minha Vida até começar a lutar com soldados que parecem fugitivos de Power Rangers, onde a trilha sonora de um duelo pelo trono de Atlântida é tocada ao vivo por um polvo gigante batucando oito tambores ao mesmo tempo, onde uma fenda cercada por criaturas lovecraftianas guarda uma passagem para o mar secreto no centro da Terra onde existem dinossauros, onde exércitos de criaturas que parecem o Sr. Sirigueijo do Bob Esponja se digladiam com soldados atlantes montados em tubarões de armadura enquanto um kraken (na verdade um Karathen, pra ser preciso) dublado por Julie Andrews manda tudo pro inferno ao fundo, cinemão não fica muito melhor do que isso...
As atuações variam em qualidade, mas são todas comprometidas. Mesmo Dolph Lundgren, que passa o filme inteiro fazendo uma carranca de quem vai dizer "Se morrer, morreu" a qualquer momento parece estar dando seu máximo e se divertindo ao fazê-lo. Patrick Wilson berra adoidado entre um discurso malvado e o próximo enquanto Nicole Kidman interpreta como se estivesse vivendo a protagonista de uma tragédia grega. Temuera Morrison e Willem Dafoe são discretos mas corretos, Yahya Abdul-Mateen II interpreta o Arraia Negra com vontade, e se garante na parte dramática enquanto Amber Heard interpreta uma princesa briguenta e cheia de recursos que deixaria Leia Organa orgulhosa e Jason Momoa ancora o filme encontrando o equilíbrio certinho para o personagem-título como um sujeito charmoso e boa-pinta que é meio otário de vez em quando mas ao mesmo tempo deixa escapar uma fragilidade oculta que mantém a audiência interessada.
O filme é um pouco mais longo do que o necessário, com suas quase duas horas e meia, e em boa parte do tempo desenvolve sua trama através de exposição e cenas de ação, geralmente usando uma explosão súbita como transição entre as duas coisas. As sequências de ação são boas, a melhor, sem sombra de dúvida transcorre na Sicília, quando o Arraia Negra, que tem um visual espetacular, ataca Arthur e Mera com uma tropa de elite atlante. Os efeitos visuais seguram a peteca, especialmente quando mostram coisas que nós jamais vimos, como cardumes infinitos de derivados de Dagon (a influência de Lovrecraft no visual das criaturas marinhas é tão flagrante que um dos livros na mesa de Tom Curry no farol é o clássico O Horror de Dunwich) perseguindo os heróis, ou uma batalha que parece Star Wars dentro de um aquário, mas fica fajuto quando tenta emular o mundo real. Os rejuvenescimentos digitais de Morrison, Kidman e Dafoe deixa todo mundo com cara de boneco de cera, e o exterior do farol onde Arthur cresceu é tão flagrantemente um chroma key que chega a ser irritante, nada que tire o brilho dos acertos do longa, porém.
Aquaman é um filme divertido, honesto e repleto de coração, que se esforça para mostrar uma história de amadurecimento de seu protagonista e mudá-lo com sua jornada, e por mais que sua história pareça algo inchada com as suas múltiplas linhas narrativas que parecem tentar incluir todas as histórias do personagem em um único filme, consegue ser uma sessão divertidíssima de cinemão-pipoca em sua melhor forma.
Certamente irá pra minha estante.

"-Reis lutam apenas por suas nações. Você luta por todo o mundo."

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