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quarta-feira, 24 de abril de 2019

Resenha Série: Deuses Americanos: Temporada 2, episódio 7: Treasure of the Sun


Atenção! Spoilers abaixo!
Ao longo dessa segunda temporada, salvo episódios eventuais como o anterior, que foi todo de Sr. Quarta-Feira, dois personagens têm carregado Deuses Americanos nas costas: Mad Sweeney e Laura Moon.
O leprechau e a esposa morta foram as âncoras de um segundo ano dramático nos bastidores, com a perda dos showrunners originais e a entrada de um novo produtor executivo que, aparentemente, foi escanteado pelo restante da produção, e que começou claudicando mas pareceu ter encontrado o caminho nas últimas duas semanas, com o bom The Ways of the Dead, o ótimo Donar the Great e agora esse excelente Treasure of the Sun, que colocou Pablo Schreiber sob os holofotes.
Todo o capítulo, à exceção de uma boa e curta sequência entre Laura e Mama-Ji, revolve em torno de Mad Sweeney tentando relembrar o passado que a loucura levou.
Ao longo de cinquenta e três minutos nós vemos o leprechau ser desenvolvido e aprofundado conforme é confrontado com diversas versões da origem do rei irlandês que se transformou em um mitológico leprechau gigante cuja perícia no manejo da lança rendeu-lhe o apelido de "Mãos Longas" quando ele defendia a Ilha Esmeralda de invasores de todos os lados, ou como ele foi amaldiçoado por um monge e fugiu de um combate que custaria-lhe a vida, ou como suas posses e títulos lhe foram tomados quando ele virou as costas para suas obrigações transformando-se em um eremita louco na floresta... Cada interlocutor de Sweeney tem uma versão da história, e de cada um deles Sweeney extrai um novo fragmento para montar o mosaico da lembrança levada pela loucura.
Mais do que isso, fica claro que, a exemplo de Laura, que elevou Quarta-Feira em Muninn, Sweeney tem a mesma capacidade de mostrar o melhor em quem contracena com ele.
Shadow, Bilqis, Sr. Íbis, Sr. Quarta-Feira e Salim, com quem ele compartilha algumas ótimas piadas de fadas que podem se perder na tradução...
Pablo Schreiber pareceu ser apenas um ótimo alívio cômico na primeira temporada, ao menos até Prayer for Mad Sweeney, que ele dividiu magistralmente com Emily Browning, e agora, novamente no penúltimo episódio da temporada, ele mostra um alcance que ainda não havia tido a chance de exibir. Sim, ele ainda tem os trejeitos e o sotaque de um beberrão irlandês, todo marra e balaca, mas conforme montamos o quebra-cabeça de como o rei se transformou na representação do Sol para seu povo, descobrimos que Sweeney, por mais que queira, é mais do que um guerreiro coberto de sangue no coração de uma (excelentemente filmada) batalha ou o bárbaro pagão beijando os seios de uma bruxa à luz do luar, ou mesmo o monarca decidido a não permitir a construção de igrejas em seu domínio, ele é um homem enlouquecido pela perda de sua esposa e filha, ele é alguém que amou e perdeu, e que tem perdido incessantemente há tempo demais.
Mesmo após começar a relembrar quem é, Sweeney mantém a postura comicamente desagradável, mas quando o faz, nós ainda conseguimos ver a fragilidade que cada nova memória deixou sob sua fachada de confiança. Seu olhar e linguagem corporal denunciam a fragmentação de sua personalidade.
Os múltiplos passados de Sweeney também são excelentes nesse sentido. Ele é um louco de dar pena, um guerreiro feroz, ou um rei magnífico dependendo do viés escolhido, e Schreiber entrega tudo em cada segmento, e quando voltamos ao presente, onde ele foi relegado ao segundo plano após a chegada de Shadow ao seio dos deuses, assumindo o posto de guarda-costas de Quarta-Feira e guardião da Gungnir, percebemos o quanto os anos custaram ao leprechau desde que a religião transformou o povo Fada em duendezinhos verdes e gananciosos e o quão inconformado ele realmente está com o papel que lhe foi dado na farsa de Odin.
E quando ele finalmente tem o suficiente e se volta contra o Pai de Todos, as coisas não acabam bem para o leprechau, que cai golpeando, e, com seu último truque, consegue deixar um tremendo pepino nas mãos de Quarta-Feira.
Agora, deixe-me dizer que, por melhor que esse episódio tenha sido, eu não sei se consigo imaginar uma terceira temporada (já encomendada pelo canal Starz) sem o personagem.
Seja como for, após um início muito irregular, Deuses Americanos parece estar chegando perto de voltar a ser a série que foi em sua primeira temporada, eu, pessoalmente, vou torcer para que isso realmente aconteça, mas com Sweeney a bordo.

"-por que está vestida em andrajos, meu amor? Onde está seu vestido? O amarelo com bordados vermelhos? Você usou no dia de nosso casamento.
-Você lembra?
-Oh, sim. Nós dançamos no jantar e eu pensei que estava dançando com o sol."

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