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quarta-feira, 12 de fevereiro de 2020
Resenha Cinema: Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa
Provavelmente a única coisa boa em Esquadrão Suicida era a Arlequina vivida por Margot Robbie.
A atriz australiana, além de ser muito gata, parecia estar genuinamente se divertindo interpretando a despirocada sidekick do Coringa, e, a despeito de sua nauseante reviravolta para o lado do bem no fim do filme, algo pelo qual praticamente todos os vilões do longa passaram (sério... Fazer um filme com vilões onde todos eles têm um lado bom e sensível é uma ideia terrivelmente idiota...), ela provavelmente era a personagem que acabava aquele arremedo de filme com a moral mais elevada, tanto foi assim que antes mesmo de Esquadrão Suicida 2 ganhar um sinal verde, já se falava de um filme onde a personagem pudesse brilhar mais. Se inicialmente a ideia era um filme protagonizado por Harley e o Coringa, tanto o fato de ninguém ter gostado da versão do príncipe palhaço do crime de Jared Leto quanto o fato de que a Arlequina seria inevitavelmente eclipsada pelo personagem mais famoso colocaram essa ideia por terra.
Na sequência um longa das Sereias de Gotham protagonizado pela Arlequina, mais a Mulher-Gato e a Hera Venenosa chegou a começar a ser escrito com forte envolvimento de David Ayer (que provavelmente transformaria as três em uma gangue latina de Los Angeles, porque é o que ele faz com tudo o que dirige/escreve), mas as péssimas críticas a Esquadrão Suicida acabaram afastando Ayer do projeto.
Isso, somado ao poder que a ascensão de Robbie em Hollywood garantiu à atriz e o momento político em Hollywood, todo voltado à inclusão e poder para as mulheres, gerou esse Aves de Rapina: Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa.
No longa, narrado por Harley, nós descobrimos que a ex-psiquiatra era a mente por trás dos melhores e mais bem-sucedidos planos do Coringa, mas que, ao demandar mais crédito do palhaço assassino, acabou sendo escanteada pelo vilão, que terminou o relacionamento dos dois.
Sem a proteção que o relacionamento com o criminoso mais perigoso de Gotham garantia, Harley subitamente se vê na mira de todos os bandidos da cidade, que querem se vingar dela por alguma coisa, ou várias, como é o caso de Roman Sionis (Ewan McGregor), o líder criminoso e dono de night club que odeia Harley por diversas coisas, entre elas, ser uma mulher.
Para sorte de Harley, porém, Roman precisa de uma coisa mais do que da cabecinha linda da Arlequina em uma bandeja:
Um diamante.
Menos valioso por seus trinta quilates do que pelos números das contas onde a fortuna da família criminosa Bertinelli, que estão gravados na joia, o diamante em questão foi roubado pela ladra de rua Cassandra Cain (Ella Jay Basco), que acaba de ser capturada pela polícia.
Apesar de ter uma enorme contingente de capangas fortemente armados e o assassino psicopata Victor Zsasz (Chris Messina) à sua disposição, Sionis concorda em poupar Harley se ela lhe trouxer o diamante, isso faz com que o caminho da Arlequina se cruze com o de Dinah Lance (Jurnee Smollett-bell), a cantora conhecida como Canário Negro, o da policial Reneé Montoya (Rosie Perez), e o da assassina auto-intitulada Caçadora, Helena Bertinelli (Mary Elizabeth Winstead), quando as quatro se veem sob a mira de Sionis, elas não têm alternativa, exceto trabalhar juntas para dar um fim às maquinações do vilão.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Fantabulosa Emancipação é um filme complicado.
Por um lado há boas intenções por todos os lados, e por outro, uma maneira muito desastrada de conduzir as coisas.
Da mesma maneira que Esquadrão Suicida dava a impressão de querer desesperadamente ser Guardiões da Galáxia, Aves de Rapina parece sonhar em ser Deadpool. O longa é anárquico, desbocado, colorido e não se leva a sério, o que são qualidades, mas a trama é uma bagunça, algumas personagens carecem de desenvolvimento, e o filme é tão abertamente anti-homem que ás vezes chega a ser surpreendente que o fracasso do longa nas bilheterias tenha pego o estúdio desprevenido, já que a audiência de filmes baseados em quadrinhos é majoritariamente masculina (sem contar a absolutamente dispensável classificação indicativa para maiores)...
Pra piorar, em sua ânsia de ser um filme anti-homem, o longa muda para pior o histórico de personagens importantes. Tome Reneé Montoya, por exemplo. Nos quadrinhos Montoya é uma das figuras centrais do círculo interno do comissário Gordon na polícia de Gotham. É, ao lado de Harvey Bullock, um dos pilares de confiança de Gordon e do Batman do DPGC, mas isso não servia à mensagem que Aves de Rapina deseja transmitir, então, no longa, a personagem é frequentemente alvo de chacota de seus colegas homens, foi preterida em uma promoção por ser mulher, e não é profissionalmente levada a sério por seus pares...
Zsasz, por sua vez, deixa de ser um psicopata que sente prazer em matar, e se torna um psicopata que sente prazer em matar, mulheres.
Praticamente todos os homens do filme são burros, malvados, estupradores em potencial, ou tudo isso ao mesmo tempo numa forma de firmar ponto que só faz afastar um setor importante da audiência de um filme além de deixar clara a falta de talento da roteirista Christina Hodson, que obviamente não sabe equilibrar uma narrativa para fazer com que todos os personagens sejam interessantes ou importantes (como em Vingadores, ou em Mulher Maravilha, ou em Aquaman...). Isso fica bastante evidenciado na Caçadora de Mary Elizabeth Winstead, um talento desperdiçado no filme em que mal fala, ou em Montoya, cuja sexualidade é mencionada brevemente em uma cena fácil de eliminar para audiências de países mais conservadores, enquanto Ella Jay Basco pouco tem a fazer ou dizer como Cassandra Cain.
Melhor sorte tem a Canário Negro de Jurnee Smollett-Bell, que não apenas tem um arco de personagem claramente desenvolvido, mas também tem algumas ótimas sequências de luta. Falando em cenas de ação, a melhor certamente é a pancadaria de Harley manuseando um bastão no armário de evidências da delegacia, é uma cena divertida e bem coreografada, atrevo-me a dizer, parte da contribuição não-creditada de Chad Stahelski para o longa após a Warner achar que a diretora Cathy Yan ficava devendo no quesito ação (nenhum demérito. Stahelski fez o mesmo pelos irmãos Russo em Capitão América: O Soldado Invernal). Ewan McGregor interpreta Roman Sionis como se estivesse na série do Batman dos anos 1960 ou nos filmes de Joel Schumacher, quando ele está em cena com seus figurinos excessivos é difícil não imaginar que Adam West ou George Clooney surgirão vestidos de Batman para enfrentá-lo a qualquer momento, a dona do filme, porém, é mesmo Margot Robbie.
A atriz é talentosa e é fácil se acostumar com a ideia de passar uma hora e quarenta minutos olhando pra ela, infelizmente sua maneira hiperativa de viver a Arlequina é algo cansativa pra um filme solo, e não se engane, a despeito da grande quantidade de personagens e do título, Aves de Rapina é basicamente um projeto de vaidade da jovem beldade australiana que está presente em praticamente todas as cenas do longa para o bem e para o mal.
Aves de Rapina: Arlequina e sua Fantabulosa Emancipação não é um filme horroroso como seu péssimo desempenho nas bilheterias pode sugerir, mas é desastrado, bagunçado, e dificilmente justifica uma ida ao cinema. Talvez o longa seja capaz de encontrar seu nicho no mercado de aluguéis digitais, ou, talvez, ele acabe relegado à mesma posição de outros longas que brigaram com a própria base de fãs antes mesmo de serem lançados e caia no ostracismo. O tempo dirá.
"Desculpa, guria, eu só sou uma pessoa terrível, eu acho..."
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