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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 5: Stardust City Rag


Na semana passada eu havia reclamado da cara de "missão da semana" que Star Trek: Picard estava ganhando em seus episódios mais recentes, mas havia elogiado o fato de a tripulação da La Sirena ter, finalmente, aparecido toda junta para que pudéssemos ver a trama realmente andando dali em diante.
O surgimento de Sete de Nove (Jeri Ryan) para um galante resgate no desfecho do capítulo me fez pensar que o caminho seguiria com uma tripulante da Voyager dividindo espaço com o capitão da Enterprise D pelo resto da série, e essa era uma perspectiva que me agradava imensamente, eu estava pronto para ver o seriado entrar em velocidade de dobra ao chegar à sua metade.
Stardust City Rag começa com um flashback, treze anos no passado, quando a contrabandista de partes Borg está arrancando o olho de um pobre desgraçado sem anestesia. Sete de Nove chega a tempo de matar a cirurgiã, mas não de salvar o sujeito. A única coisa que ela pode fazer, é poupá-lo do sofrimento oferecendo-lhe uma morte rápida. Nós descobrimos que esse ex-borg era Icheb, e que ele era o que Sete de Nove tinha de mais próximo de uma família até que a contrabandista de partes Borg Bjayzl (Necar Zadegan) colocar as mãos nele.
Para piorar, Bjayzl descobrira a respeito de Icheb manipulando Sete, que agora, descobrindo o paradeiro da contrabandista, tem a oportunidade de se vingar. É aí que os interesses dela se cruzam com os da tripulação da La Sirena, já que Bjayzl mantém Bruce Maddox como prisioneiro.
Picard, Raffi e Sete bolam um plano para entrar na cidade de Stardust e recuperar o cientista que pode ter a resposta sobre a localização de Soji, e, para isso, precisarão criar um estratagema para conseguir uma audiência com Bjayzl e trocar Maddox por algo que desperte o interesse da contrabandista. Algo único e que apenas Sete de Nove pode oferecer...
Meus sentimentos para com Star Trek: Picard se tornam mais e mais conflitantes a cada episódio. Stardust City Rag, permeado pelo tema de interpretar papéis, enganação e trapaça foi mais um capítulo divisivo pra mim. Se por um lado eu gostei da linha narrativa envolvendo Raffi e seu filho, Gabriel, uma pequena sequência de cenas que realmente acrescentou à personagem a humanizando e a mostrando como um ser humano falho e problemático, e gostei, não apenas de rever Jeri Ryan como Sete de Nove, mas também das justificativas para suas ações, todas bem fundamentadas dentro do que o episódio oferece, por outro é cada vez mais difícil pra mim entender como o futuro de Star Trek se tornou tão miserável em pouco mais de uma década...
Como surgiram esses sindicatos do crime, essas terras sem lei, como a Federação falhou tão absolutamente em tão pouco tempo após tantos e tantos anos de sucesso em sua missão?
Não me entenda errado, eu não sou avesso a mudanças quando elas são justificadas e servem para contar uma grande história, mas até aqui a história de Star Trek: Picard não é assim tão boa e me parece desconfortavelmente estranho que uma conspiração contra os androides, digo, "sintéticos", tenha, em quatorze anos, levado a Federação tão baixo a ponto de esquecer rapidamente tudo aquilo que representava.
Jornada nas Estrelas jamais foi uma série que se esquivou de abordar temas relevantes do presente em sua visão de futuro, mas a Federação é, e sempre foi, a humanidade que deu certo. Ainda havia pessoas más, ainda havia malícia e egoísmo, mas isso não era a regra. Os ideais de coexistência, aprendizado e especialmente de integração. Star Trek jamais foi sobre subjugar seus inimigos, mas sobre fazer as pazes com seus adversários, e sempre funcionou assim, de modo que a visão que Star Trek: Picard tem apresentado a cada episódio sempre tranca na goela, pra mim.
De toda a sorte, nesse episódio ao menos nos livramos de Soji e Narek, e, ainda mais um segmento dessa conspiração infinita surgiu em uma inesperada sequência no fim do episódio.
Star Trek: Picard chega à metade claudicando. As promessas dos primeiros capítulos não se concretizaram até o momento, e o rocambole conspiratório que (não) move a trama não para de se enrolar sobre si mesmo.
É melhor a série começar a funcionar na segunda metade da temporada, ou a jornada de Jean-Luc pode terminar bem rápido...

"-Nós ainda estamos fingindo?"

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