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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020
Resenha Série: Star Trek: Picard, Temporada 1, Episódio 4: Absolute Candor
Star Trek: Picard é uma série estranha sob certos aspectos. Talvez o mais flagrante deles seja a maneira como o programa parece resoluto em sua abordagem tranquila de narrativa. Pode-se acusar o seriado de tudo nessa vida, menos de ser apressado. Tanto é assim que é apenas em seu quarto episódio (de uma temporada de dez), que Star Trek: Picard finalmente tem toda a sua tripulação apresentada e começa a mostrar relações entre eles.
É apenas no início de Absolute Candor, por exemplo, que descobrimos que a doutora Agnes Jurati provavelmente vai ser a substituta da audiência dentro da La Sirena, e que ela também será algo como o alívio cômico da nave (duas tarefas para as quais Allison Pill está mais do que bem equipada), mas me adianto...
Absolute Candor abre com mais um flashback que nos leva quatorze anos no passado, ainda durante a realocação dos refugiados Romulanos pela galáxia. No planeta Vashti, onde Jean-Luc e Raffi alojaram um grande número de sobreviventes da crise da supernova, o almirante se tornou particularmente afeito a um grupo chamado Qowat Milat, um séquito de freiras guerreiras que contrapõe a Tal Shiar na sociedade Romulana. Jean-Luc se tornou amigo dessas mulheres, e também se aproximou de Elnor, o pequeno órfão que, sem mais ninguém no mundo, foi acolhido pela fraternidade após a realocação.
A despeito de sua relação com Wesley Crusher em A Nova Geração, Picard parece ter adquirido a capacidade de se afeiçoar a crianças com o passar dos anos, e sua relação com Elnor é, mais do que amistosa, quase paternal. É trágico, então, que o ataque androide em Marte precipite uma separação que, a despeito da promessa de Jean-Luc de que voltaria logo, acaba perdurando muito além do esperado já que, na esteira do ataque, Picard se desligou a Federação.
Seja como for, partindo em uma missão com alto grau de risco, e liderando uma tripulação mínima, Picard resolve fazer uma parada em Vashti para tentar convencer uma das Qowat Milat a se tornar sua qalankhkai, ou "lâmina livre", unindo-se à sua causa se considerá-la válida, e as líderes da ordem tem a pessoa ideal para Picard tentar convencer:
O agora adulto Elnor (Evan Evagora).
A questão é que, se 14 anos atrás bastaria um aceno para o jovem Romulano sair correndo com Picard para qualquer ponto da galáxia, após quase uma década e meia de abandono e ressentimento o almirante reforçado terá que fazer um pouco mais de força para convencer o jovem guerreiro a se aventurar a seu lado.
É importante notar que, e a relação dos dois não ganha lá muito desenvolvimento nesse episódio, ela acena com um mundo de possibilidades. Na cena em que Jean-Luc e Elnor conversam a respeito de Data, o jovem lembra das histórias de Picard a respeito do androide, em particular de seu gato laranja, Spot. É óbvio que uma criança ia se lembrar de histórias a respeito de um bicho de estimação. É um momento bastante simples, mas carregado de uma verdade que falta à outra linha narrativa da série, no caso, a de Soji no Cubo Borg.
A filha perdida de Data continua enrolada com Narek, e, à essa altura do campeonato, parece que a "Destruidora" da profecia Romulana (eu realmente odeio profecias...) realmente conseguiu tocar o coração endurecido de seu namorado de duas caras. O problema é que Narissa está, literalmente, no pescoço de Narek para que o sujeito cumpra logo sua missão, de modo que ele logo, logo pode ter que escolher entre seus sentimentos e sua missão.
O grande problema aqui é que ninguém liga.
Soji, Narek, Narissa... É todo mundo tão mal escrito, todos tão rasos e unidimensionais que fica difícil ser capaz de se conectar emocionalmente com esse segmento e não ter vontade de avançar essas partes e voltar logo para dentro da La Sirena com os personagens que realmente interessam.
Falando na La Sirena, Absolute Candor termina com uma sequência de ação espacial, com a nave de Cristóbal Rios sendo atacada por uma antiga Ave de Rapina Klingon até ser salva no último minuto por uma misteriosa intervenção que culmina com a entrada de mais um membro à tripulação de Picard.
Após duas semanas beeeeem mornas, Star Trek: Picard se beneficia muito de finalmente ter todos os personagens principais dividindo o mesmo espaço e interagindo como o bando disfuncional que eles estão fadados a ser (a sequência no escritório holográfico, por exemplo, é muito boa), ao menos até a liderança de Jean-Luc Picard transformá-los em uma equipe. O programa ainda se ressente da preocupação que os produtores/roteiristas parecem ter de encher cada cena com tanta exposição quanto possível, e ainda assim, falhar em iluminar elementos-chave da trama que seguem obscuros para a audiência (por exemplo: Quantos Romulanos morreram na crise da supernova?). Outro problema é a cara de "missão da semana" que a série tem tido nos últimos capítulos. Todo esse episódio serve apenas para que Elnor se junte à tripulação. E isso deixa o programa com cara de videogame. Como se cada episódio servisse para que os protagonistas pegassem uma coisa de que precisam antes de enfrentar o grande vilão da série... Não há nem mesmo uma revelação da grande conspiração que tomou as estruturas da Frota Estelar essa semana. Apenas a entrada de Elnor e uma pá de cânone Romulano...
Ainda assim, um par de boas sequências de ação, uma boa dose de humor, e a chegada de mais um personagem clássico à ponte da La Sirena garantem que Absolute Candor tenha o gás de que precisa pra me fazer voltar na próxima semana.
"-Lembra-se do que costumávamos dizer na época da Frota?
-Uma coisa impossível de cada vez."
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