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segunda-feira, 10 de fevereiro de 2020

Resenha Cinema: Bad Boys Para Sempre


Em 1995 Michael Bay lançou a carreira de astro de ação de Will Smith com Os Bad Boys, fita policial de ação que meio que inaugurou todos os vícios do diretor de Transformers e Pearl Harbor. Um sucesso moderado de bilheterias, Bad Boys ganharia uma sequência em 2003, novamente dirigida por Bay e estrelada por Smith e Lawrence, e repetindo todos os vícios de Bay numa inchadíssima fita de ação que se espichava por quase duas horas e meia de explosões, perseguições, tiroteios e piadinhas. Com um orçamento quase dez vezes maior do que o do filme original, Bad Boys II não gerou o mesmo lucro do original (que custara U$19 milhões para faturar mais de 140), o que talvez explique a demora para esse terceiro filme ver a luz do dia.
Lá se vão dezessete anos desde a última vez em que Smith e Lawrence dividiram a tela, e dessa vez eles retornam sem Michael Bay, com um orçamento cerca de 40 milhões de dólares mais enxuto que o último longa, e com um lançamento em janeiro, o mês onde os filmes são atirados nas salas norte-americanas para morrer, tudo isso levando a crer que a Sony não estava lá muito empolgada com a perspectiva de um terceiro Bad Boys.
Ainda assim, a estratégia de lançar o filme em uma zona morta da temporada de lançamentos dos EUA se provou acertada, sem concorrência, o longa policial vem fazendo uma carreira bastante decente nas bilheteria mundo afora, e na sexta-feira eu resolvi levar minha carcaça enxovalhada até o cinema mais perto de casa e assistir o filme.
Bad Boys Para Sempre abre com uma grande sequência automobilística onde os detetives Mike Lowery (Smith) e Marcus Burnett (Lawrence) desfilam sua habitual falta de consideração pela segurança do público que deveriam servir e proteger. O Porsche de Lowery roda em altíssima velocidade pelas ruas de Miami, mas, para surpresa da audiência, eles não estão caçando nenhum bandidão, mas tentando chegar ao hospital para o nascimento do neto de Marcus.
O nascimento do bebê faz o detetive Burnett repensar sua carreira na força policial. Ao contrário de seu parceiro esquentadinho e metido a galã, Marcus tem uma esposa e uma família, e gostaria de passar mais tempo com eles do que correndo atrás de vagabundo e trocando tecos com a malandragem. Parafraseando uma série policial bem melhor: Marcus percebe que está velho demais pra isso.
Enquanto Mike tenta convencer o parceiro a continuar na polícia para eles serem Bad Boys Para Sempre (arrá!), ao sul da fronteira forças sinistras estão em movimento.
Em uma pirão federal mexicana, a detenta Isabel Aretas (Kate del Castillo) executa uma medonha fuga da prisão ao melhor estilo Hannibal Lecter e se reune com seu filho, Armando (Jacob Scipio). Esse é apenas o primeiro passo no plano de vingança de Isabel, que pretende deflagrar caos e morte na vida de todas as pessoas responsáveis por colocá-la atrás das grades e seu marido embaixo da terra.
Entre os responsáveis está ninguém mais ninguém menos que o detetive Mike Lowery, a quem Isabel instrui Armando a matar por último, para que ele possa sofrer toda a extensão de sua vingança.
Armando, porém, parece ter entendido errado, pois a primeira coisa que ele faz em Miami é encher Mike de bala.
Isso acontece com uns quinze minutos de filme, então nós todos sabemos que o personagem de Will Smith sobrevive ao atentado, de uma forma ou outra, a sequência que se segue ao ataque tenta imbuir o filme com impacto emocional de verdade, e Martin Lawrence merece, no mínimo, parabéns pelo esforço.
Igualmente os roteiristas Chris Bremner, Peter Craig e Joe Carnahan usam esse desenvolvimento da trama para discretamente inserir uma razão para reduzir o absurdo efeito colateral e dano à propriedade desse filme com relação aos predecessores, embora ainda haja violência o suficiente para garantir a diversão da audiência quando Mike, recuperado de seus ferimentos se une à força-tarefa AMMO, um grupo de elite da polícia de Miami formado por policiais mais jovens e modernos que os veteranos protagonistas e chefiado por uma ex-namorada de Mike, Rita (Paola Nuñez) para caçar os responsáveis pelo atentado à sua vida num turbilhão de ação e reação que acaba tirando Marcus de sua aposentadoria forçando os dois detetives a levarem a cabo suas promessas de serem Bad Boys Para Sempre (arrá!).
É claro que Bad Boys Para Sempre é ruim, nenhuma surpresa, até aí.
O filme se apóia em todos os clichês dos filmes de ação ao longo de sua metragem, canibalizando sem a menor vergonha elementos do horroroso Projeto Gemini, melodrama de novela mexicana e batendo sem parar na tecla do "uma última vez" entre os protagonistas, apenas para, em uma cena pós-créditos, o longa praticamente prometer que podem fazer um Bad Boys 4 se esse filme alcançar uma determinada quantia em bilheterias...
Se há alguma surpresa no filme, é que ele realmente parece tentar cavar alguma profundidade emocional entre Marcus e Mike além do superficial bromance dos buddy-cops tradicionais. Os diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah realmente buscam criar um laço verdadeiro entre os protagonistas para humanizá-los de uma maneira que Michael Bay parece evitar a todo o pano em sua filmografia.
É muito pouco e tarde demais, mas, como eu disse antes, a tentativa é louvável, apesar de tardia, mas não salva Bad Boys Para Sempre de ser um longa metragem total e absolutamente descartável.
Porque Bad Boys Para Sempre é um filme construído com apuro técnico digno de grandes produções Hollywoodianas, tem um elenco reconhecido (que inclui Vanessa Hudgens e o ladrão de cena Joe Pantoliano) fazendo o melhor que pode, mas que não fica com a gente quando o letreiro termina de subir. Para deixar claro o quanto o filme é esquecível, eu comecei a escrever minhas resenhas do final de semana hoje pela manhã por Star Trek: Picard, que vi no domingo, e imediatamente após terminar comecei a escrever a resenha de O Caso Richard Jewell, que vi no sábado, só então me lembrei que havia visto Bad Boys na sexta-feira...
Se tu for membro do fã-clube do Will Smith ou do Martin Lawrence, então, talvez, até valha a ida ao cinema, outrossim, é filme pra ver domingo de tarde na TV a cabo, e olhe lá.

"-O que aconteceu com Bad Boys pra sempre?
-É hora de nós sermos bons homens.
-Quem é que quer cantar essa porra de música?"

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