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segunda-feira, 4 de outubro de 2010

A festa da Democracia.


Ah, as eleições... O prazer de usufruir da democracia e escolher as pessoas que representarão nossos interesses pelos próximos quatro anos, a festa republicana que culmina com o voto na urna e o pipipipi-pi da votação conluida. É sério, acho demais. Ainda lamento o fato de jamais ter votado em urna de lona, quando a gente tinha cédula eleitoral pra marcar "X" ou "V" e talicoisa, mas ainda me emociono quando entrego o meu título de eleitor e a minha identidade pro mesário. Bobagem, eu sei, muito pouco muda, mas a gente vai tentando, e eu me recuso a não assumir a minha parcela de responsabilidade pela política do país. Claro que eu sei que, em sua maioria, os políticos legislam apenas em causa própria ou do empresariado que financia suas campanhas, eu sei, sei que a política brasileira (E mundial.) é um ninho de cobras peçonhentas, e que talvez nós estejamos apenas fazendo um rodízio de larápios, eu sei de tudo isso, mas nossa democracia é bem jovem, e, se as coisas pioraram em vários aspectos, tem melhorado em outros.
Enfim, eu adoro política, gosto de votar, assisto debates, horário eleitoral, entro nos sites e blogs dos candidatos, converso sobre política com todo mundo, curto mesmo a tal da festa da democracia em todas as suas etapas.
Ou quase todas.
Tem uma, na verdade, que sempre me incomoda um pouco. A fila antes de votar. Não que tenha fila sempre, o sistema de votação eletrônica é bem rápido e eficaz, via de regra nem tem fila na minha seção eleitoral, ali na Escola Olintho de Oliveira, ontem, casualmente, teve. Aparentemente um problema de hardware com a urna eletrônica acarretou uma fila de umas vinte pessoas, sem problema, acontece, certo?
Pra maioria, não. Para as dezoito pessoas à minha frente na fila e pras duas atrás de mim, aquele pequeno atraso era um cataclisma de proporções épicas. É. Uma hecatombe, uma tragédia comparável ao incêndio da biblioteca de Alexandria. A mulher imediatamente diante de mim repetia em alto e bom tom "É um absurdo, um absurdo. Fazem quase dez minutos que eu estou na fila.", o sujeito atrás de mim repetia a pergunta "Vou ter que passar o domingo inteiro esperando na fila?", além, claro, do proverbial velho barrigudo que reclamava junto à primeira secretária que o governo deveria pagar a gasolina que ele gastara pra chegar até a seção...
Não faltaram, também as mães que foram à votação com os filhos e, ao invés de prestar atenção ao voto ficavam com a cabeça por cima do biombo berrando que seus mal criados pimpolhos parassem de mexer no caderno dos mesários, ou a solteirona chata que resolveu cuidar das crianças da fila mandando que não se empoleirassem no corrimão da escada, e que não corressem pelo corredor... Agora, a gota d'água foi o jeca de calça capri, sandália franciscana e camiseta do Empório Armani que virou-se pra mim e perguntou:
-Pô... É o fim da picada ser obrigado a votar, não acha?
Me passou pela cabeça que, o fim da picada, era o povo precisar ser obrigado á participar de decisões que podem influenciar seu futuro, que era o fim da picada preferir deixar todo o direito de escolha nas mãos dos currais eleitorais Brasil áfora, que era o fim da picada todos os reclamões do mundo não se unirem e anular cinquenta por cento mais um dos votos já que não gostava de nenhum dos candidatos e não estavam satisfeitos com a política brasileira (E alguém está?), que era o fim da picada um sujeito de quarenta e cinco anos usar calça curta e penteado "alça de boquete", mas resolvi não deixar aquele bando de choramingões estragar meu domingo, apenas fiz minha carranca mais assustadora e respondi:
-Não. Não acho.
Serviu. E que venha o segundo turno.

3 comentários:

  1. Ai, essa me surpreendeu! Gostar de votar??? Isso eu fazia quando era petista apaixonada, uma idealista severa que as eleições realmente poderiam mudar o prisma em que o Brasil estava. Eu acreditava que a "esquerda" devia subir ao poder e mudar tudo. De certa forma, quem mudou o prisma fui eu. Tá, eu tinha 17 anos. Mas agora tenho 31 e ainda sei que na academia (universidades) funciona da mesma forma, tu diz o que querem ouvir pra ganhar a nota que tu quer. Enfrentar é burrice e mesmo assim tu jamais vai chegar no topo pra mudar alguma coisa.
    Se tenho uma descrença em minha vida é a nossa democracia.

    Fala sério: ficha limpa, se fosse por isso a Dilma não poderia nem passar perto de Brasília!!!
    Num país onde o palhaço Tiririca ri de nós, dizendo que pior que tá não fica... e 1 milhão e 300mil votam nele, demosntram o quanto somos seletivos, organizados e manipulados pela engenharia da corrupção!!!

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  2. Eu sei, eu sei, também sou um desiludido político, lady Bast, mas a nossa democracia é jovem, tem só pouco mais de vinte aninhos, não dá pra, em tão pouco tempo, a gente parar de tentar. Além disso, como disse Churchill, a democracia é a segunda pior forma de governo, atrás de todas as outras já tentadas. Então, vamos tentando, na pior das hipóteses, pelo menos vamos fazendo um rodízio de salafrários...

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  3. Ah eu gosto muito. Tanto que depois do pipipi, eu abro uma latinha de coca-cola levanto pra cima e solto um Hey! ( nessas horas que eu sinto por não beber, pois imagina o charme de estourar uma champanhe nesse momento ) de feliz que eu fico.
    O pós eleição que é o chato. Assitir a televisão falando do tiririca, e sobre esse 1 milhão de votos, é um soco no estômago. O duro é que não tem nem como alegar que o cara é analfabeto e coisa e tal. A legislação eleitoral não exige que o candidato possua grau de instrução, ela exige que esse tenha apenas noções rudimentares da linguagem pátria...Fazer o que... Comemoremos então essa coisa bonita que é a democracia, pelo menos isso, abestado nenhum vai poder nos tirar .

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