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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Gerações.


Foi depois do futebol, no vestiário. Um dos colegas de time mais velho, já virando a casa dos cinquenta e poucos pros cinquenta e tantos, viu a cueca do colega mais novo e perguntou:
-Que que é isso? Cueca do Super-Homem?
Á despeito de saber que a Warner/DC agora demanda a não tradução do nome do personagem em prol do favorecimento da marca, ele não respondeu "Super-Homem, não, Superman.", sorrindo ele disse:
-Pois é. Maneira, né?
-E que camiseta tu vai vestir agora?- Quis saber o mais velho.
-Essa.- Disse o mais novo abrindo a camiseta preta estampada com a efígie do Stallone Cobra e os dizeres "Se o Crime é a Doença, eu sou a Cura".
O mais velho riu como quem não acha muita graça e falou com outro, mais ou menos da mesma idade que estava entrando:
-Essa geração nova é assim. Não quer crescer. Tã com quase trinta anos e ainda usam cuequinha de super-herói, camiseta de filmezinho...
-Tênis também, respondeu o mais novo, mostrando seus tênis Adidas Star Wars com Darth Vader estampado na lingueta.
-Olha só... Acende luzinha quando tu anda? -Perguntou, irônico, o mais velho.
-Não, mas ia ser fera se acendesse, né? -Respondeu o outro.
-Tô falando- recomeçou o coroa, discursando. - Essa geração é assim. Tem medo de crescer. É video game, é revistinha, é desenhinho, roupinha de super-herói. Não querem assumir responsabilidade, não saem da frente do computador, têm medo de viver...
O mais jovem pensou em dizer que trabalhava desde os quatorze anos, tendo feito, inclusive, trabalho braçal em obras de construção civil, que pagou pelos próprios estudos a partir do segundo grau e que agora também pagava a faculdade do próprio bolso, que se comprava video games, computadores, DVDs de filmes e temporadas inteiras de séries, gibis, brinquedos, roupas e sapatos relacionadas a tudo isso, eventualmente por preços que podiam parecer exorbitantes, era com dinheiro ganho com o fruto de seu trabalho, e que conciliava perfeitamente sua vida profissional, acadêmica e social achando tempo, até, pra uns quebra-canelas semanais com um bando de velhos rabugentos que aliás, não só não eram capazes de instalar um programa, de dizer quem era Venom, ou dizer quem é o pai do Kratos, como também não aguentavam o tranco dentro de quadra.
Ele pensou em dizer isso, mas achou melhor deixar por essas. Vestiu sua camiseta e sua calça, calçou os tênis e se despediu com um "Até semana que vem." que soou como um "Semana que vem vai ter".

2 comentários:

  1. Vixi, o mais novo tá no mesmo barco que eu coitado.Trabalha, é escravizado, paga a faculdade com o próprio salário, e com o restinho que sobra gasta com coisas maravilhosamente esquisitas e depois de ter passado uma hora e treze minutos no sebo gasta todo dinheiro que tinha separado pro creme de hidratação imediata para cabelo longos. Aiai....essa pindaíba, esse boletos impressos do Submarino que não foram pagos ainda vão acabar comigo....
    Mas pelo menos ele tem O TÊNIS né? Escuta, esses tênis ...é pra menino só ? Tem aquele laranjadinho do Luke, é tão bonitinho se tivesse um número 34 e se desse pra parcelar em duas vezes eu até que comprava....

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  2. Bah, nem me fala do tênis do Luke, Laís, procurei feito doido na internet e não achei. O da Léia, porém, tu encontra fácil no Netshoes, acho que tem, sim, tamanho 34, e é muito maneiro.

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