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quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Rapidinhas do Capita



Antenor finalmente pegou a agenda de Edith, não sabia com certeza quando se apaixonara por ela, mas sabia que era irremediável. No auto de seus dezesseis anos Antenor sabia que a meiguice loura de Edith era tudo o que ele queria da vida naquela hora e pelos próximos anos a fio.
Agora, ali estava ele, com a agenda aberta no dia de seu aniversário, caneta em punho, apreenssivo com o que podia escrever.
Matutou, matutou, e matutou, até que, finalmente, algo lhe ocorreu.
Um poema.
Um poema que mostrasse como ele se sentia em relação a Edith.
Começou escrevendo "Edith:", então escreveu o poema, escreveu com esmero, quase desenhando cada letra, e finalizou com um "do sempre teu: Antenor.". Entregou a agenda para Edith e foi embora, sem esperar para ver a reação dela.
Que foi ótima.
Edith praticamente chorou lendo a poesia.
Na primeira vez em que se encontraram após a declaração, Edith se aproximou de Antenor e perguntou:
-Antenor, aquele poema na minha agenda... É teu?
Antenor levou uma fração de segundo para responder, mas quando o fez, fez com autoridade:
-É. É meu. É a forma como eu te vejo.
Naquele instante, uma faísca surgiu entre eles, uma faísca como nunca antes houvera, e ela incendiou no beijo longo e profundo que Edith deu em Antenor. E aquela amizade distante se tornou um pequeno romance, e então um namoro sério, e então um casamento feliz.
Nas ocasiões em que se encontravam com amigos de antigamente ou quando celebravam o aniversário de seu casamento, Edith sempre contava aos amigos sobre o poema de Antenor, como era sensível e belamente escrito, como fizera ele sentir que estava nas pontas dos pés, que Antenor era o primeiro, quiçá o único homem que a via como ela gostaria de ser vista.
Antenor desconversava, sorria, jamais falava sobre o poema, mas enfim, não importava, Edith era feliz ao seu lado, e ela era feliz mantendo-a assim.
O que Edith nunca soube foi que aquele poema não era de Antentor, era um poema de Pablo Neruda que ele achava excelente e do qual trocou meia dúzia de palavras para parecer que era seu.
Antenor não era um poeta, ele não sabia apreciar amor à distância, não via beleza ou potencial criativo na solidão e no sofrimento, nem era capaz de expressar em palavras aquilo que via no mundo ao seu redor, mas amava Edith, só precisou emprestar as palavras do poeta chileno para convencê-la, e, como ela nunca soube da farsa, viveu feliz para sempre.

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Alice chamou seu namorado, Viktor de SanMartin (Pronuncia-se SanMartã), pois precisava discutir com ele os rumos que a relação de ambos estava tomando.
Ela não estava satisfeita, sabia que se conheciam a pouco mais de um mês, apenas, mas ela gostara dele, e, apesar de ele parecer algo reticente com relação a um compromisso sério, ela não estava disposta a deixar que aquilo fosse apenas uma aventura. Não se via mais como uma menina, não queria mais ficar saltando de um namoro relâmpago pro outro. Era hora de mudar, e ela estava disposta a dar o próximo passo.
Então o chamou, e, quando sentaram na casa dela para conversar, ela iniciou o diálogo:
-Olha, Viktor... A gente precisa decidir como a gente fica... Não dá pra gente ficar nesse vai não vai, eu preciso de uma definição tua. Tu é um homem adulto e eu espero que tu possa agir como adulto comigo e ser responsável pelo modo como as coisas vão ser, e assumir o que tu sente ou não sente, então... Honestamente, o que nós somos?
Viktor, olhando para ela com uma expressão séria mas com os olhos de cílios longos risonhos, respondeu:
-Como assim? "O que nós somos" em que sentido?
-Como em que sentido, Viktor? - Perguntou Alice, confusa...
-No sentido biológico? Filosófico? Religioso? - Ele inquiriu, tirando os cabelos negros desalinhados da testa.
-Não... Não. Nada disso. O que nós somos um pro outro. Somos o quê? Ficantes? Namorados? Amigos que fazem sexo? - Ela indagou, afastando as demais conjecturas dele com um gesto de repúdio.
-Gostei dessa última... Tá aí. Podemos ser amigos que fazem sexo? - Ele perguntou, erguendo brevemente as sobrancelhas bem desenhadas.
Alice não pôde esconder a raiva em sua voz:
-Tu pode ser o que tu quiser, Viktor... Mas eu não. Eu não quero ser a tua amiga que faz sexo.
-Ah... Tá vendo? É por isso que eu odeio essas conversas. As pessoas pedem honestidade e depois ficam bravas... - Ele resmungou, esticando as pernas compridas.
-Oh, não, Viktor. Essa conversa foi extremamente proveitosa. Eu descobri que tu não me respeita... - Disse Alice, com as narinas dilatando de ódio.
-Eu não te respeito? Alice, meu anjo, tu não te respeita. Qualquer mulher com o mínimo de amor-próprio teria saltado fora dessa canoa furada depois de três dias, mas tu, não. Tu continuou ali, mesmo depois da segunda semana quando eu, obviamente já não estava mais dando a menor bola pra essa pseudo-relação, tu continuou. - Ele acusou, mexendo as mãos de dedos finos. E continuou:
-Eu vou ser franco contigo, esse mês, pra mim, foi uma pesquisa antropológica, eu já sabia que nós, no sentido de tu e eu enquanto casal, não iríamos a lugar nenhum, ainda assim, resolvi ficar, não mais do que por curiosidade acadêmica, e testemunhar por quanto tempo tu sustentava essa farsa, e, depois dessas quatro semanas, só posso dizer que tu tens problemas sérios, moça. Fui.
E saiu, deixando atrás de si uma boquaiberta Alice, que nunca mais viu homem algum como digno de confiança.
Viktor, o calhorda, atacara novamente.

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TRADUÇÃO:

Ele disse:
-Nunca, meu amor. Prefiro mil vezes ir contigo até o shopping, te ajudar a escolher uma blusa e depois ver Comer, Rezar, Amar no cinema do que ir ao jogo, imagina...
Mas na verdade ele quis dizer:
-Ah, é. Tá louca que eu vou perder de ver o jogo pra ter que te aturar experimentando vinte e seis mil setecentas e oitenta e quatro blusas no shopping e depois ver um filme romântico rançoso com a Julia Roberts, que, diga-se de passagem, embarangou legal depois de velha, imagina...

Ele disse:
-Ah, não, eu acho maiô muito mais bonito, tem mais classe, valoriza mais o corpo da mulher, biquíni é meio revelador demais, tira um pouco da graça...
Mas na verdade ele quis dizer:
-Ah, tá, tu é louca se acha que eu vou querer a minha namorada praticamente de calcinha e sutiã na beira da praia no meio daquele monte de gavião. Se as outras querem parecer bife no açougue e os namorados cornos em potencial não se importam isso é entre eles, comigo, não. Aliás, digo mais, minha biza ainda deve ter o maiô dela, daqueles listrados com manga e pernas, eu acho que te serve...

2 comentários:

  1. hahahah qual poema será que foi do Neruda? Eu conheço gente que também começo a namorar por plagiar grandes poetas hein? Isso dá super certo rs.

    Cada vez que eu leio esses post teus de Tradução, faço o sinal da cruz - e olha que eu nem sei fazer o sinal da cruz hahahahaha - quanto ao filme, Comer Rezar Amar, fui assitir ontem, plena terça feira. Eu adorei mas é beeeeeeem filme de mulherzinha, só tinha tia na menopausa no cinema !!

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  2. Ah, poema bom de plagiar pra começar namoro é Teu Riso, do Neruda, aquele garante início saudável de namoro.
    E as traduções, pô, eu tô entregando as armas masculinas, trindo meu gênero, mas vá lá, meu gênero não vale muita coisa, mesmo, eheheheheh.

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